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A “nota de esclarecimento” de Renata Malkes

por Daniel Lopes (11/01/2009)

por Daniel Lopes – No último dia 9, Renata Malkes, correspondente do jornal O Globo no Oriente Médio, publicou uma “nota de esclarecimento” em seu blog a respeito dos “boatos” que circulavam na internet “acusando-me de ser parte do Exército de Israel e de manter um blog racista na internet”. (Como eu explico no final […]

por Daniel Lopes – No último dia 9, Renata Malkes, correspondente do jornal O Globo no Oriente Médio, publicou uma “nota de esclarecimento” em seu blog a respeito dos “boatos” que circulavam na internet “acusando-me de ser parte do Exército de Israel e de manter um blog racista na internet”. (Como eu explico no final deste post, a nobre jornalista confundiu os tempos verbais.)

O “boato” foi levantado pelo Cloaca News, reproduzido no Amálgama e repercutido em vários outros sites, como o Biscoito Fino. Usando o Wayback Machine, o Cloaca descobriu o conteúdo do antigo blog da Renata, Balangan, que, como ela mesma observa, foi um espaço pessoal, ativo entre 2001 e 2006, que manteve “antes de atuar como repórter de O Globo ou qualquer outro veículo de comunicação por aqui.” O Cloaca não diz o contrário.

“Desde 2005”, esclarece a jornalista, “venho sido [sic] vítima constante deste tipo de ataques. Quando trabalhei como produtora de uma tevê israelense cobrindo a editoria de política no Parlamento, acusaram-me de ‘trabalhar no governo israelense’”. Em 2007, acusaram-na de falsidade ideológica.

Este editor do Amálgama entende que existem na vida denúncias infundadas e denúncias fundadas. No específico caso do post do Cloaca News, consideramos que as denúncias de racismo são fundamentadíssimas. Depois de criticar indiretamente o anonimato do editor do Cloaca, Renata diz que trechos do antigo blog “foram cortados, manipulados e interpretados de maneira maldosa.”

Mas há trechos cortados e trechos cortados. Eis um trecho cortado de 14 de março de 2002: “Achei simplesmente patético ver o Fernando Henrique na TV defendendo um Estado palestino”. Eu estaria manipulando se o citasse como exemplo do pensamento da autora, sendo que a sentença seguinte fosse algo como: Fernando Henrique sempre foi um aliado incondicional de Israel, e o Estado palestino que ele imagina tem proporções irrisórias. Mas não, ao trecho acima se segue: “Neguinho não se enxerga mesmo… Tupiniquim tem mais é que cuidar de DENGUE, meu filho…”

Outro trecho cortado, do mesmo dia: “Vocês acreditam mesmo que a resolução da ONU, por 14 votos a 1, a favor da criação de um Estado palestino vai mudar alguma coisa no cenário do Oriente Médio?! Tolinhos…” Outro: “Eles [os árabes] mentem, falam à imprensa o que querem, quando querem e depois, eles mesmo se esquecem da mentira que contaram! Todas as fracassadas tentativas de acordo provam essa teoria.” E mais outro: “Árabes mentirosos – Entre tantas barbaridades que o mecanismo de hazbará árabe divulga para ganhar as páginas dos jornais, encontrei no site da Arutz Sheva uma pequena lista de mentiras contadas pelos ‘brimos’”. (Esses dois últimos estão no finalzinho da mesma página.)

Sigam os links e vejam as frases “dentro do contexto”. As páginas são meio bagunçadas, mas em pouco tempo você localizará as passagens, e certamente encontrará outras mais interessantes.

De qualquer forma, o Cloaca lincou seis posts do Balangan na íntegra! Ei-los, novamente:

 
Aqui, Renata Malkes exulta por ter seu blog reconhecido pelo jornal israelense Yediot Aharonot como um “warblog“, ou seja, de divulgação da propaganda sionista.

Aqui, ela ataca os palestinos, ridiculariza os árabes e, de quebra, esculhamba a virilidade dos brasileiros.

Aqui, Renatinha destila baba sobre o MST, pelo apoio dos sem-terra à causa palestina.

Aqui, diz que os árabes são mentirosos.

Aqui, sobrou para a Venezuela; segundo ela, são “amigos dos brimos”.

E aqui, cara leitora, caro leitor, você verá Renata Malkes exultante por realizar seu sonho de ser aceita no Exército de Israel. (…)

 
Qualquer um pode acessá-los e tirar suas próprias conclusões. Estranhamente, Renata não informou nenhum aos leitores de seu novo blog.

Na nota de esclarecimento, ela diz que “sempre admiti ter vergonha de determinadas posições que tive no passado”, e passa um link para um post do blog antigo, em que isso deveria estar claro. Mas é algo pálido, muito longe da firmeza das “determinadas posições” do passado. Trata-se de um post em que a escriba relata ter ficado indignada com a cena de um colono israelense agredindo verbalmente uma família palestina em Hebron, na Cisjordânia. Ora, mesmo Alan Dershowitz ficaria chocado se presenciasse uma cena dessas! Mas nenhuma palavra de Renata, por exemplo, sobre a irregularidade dos assentamentos de colonos judeus em Hebron – tão irregulares que em dezembro do ano passado a Justiça de Israel ordenou a evacuação de alguns deles. Parece que, para Renata, basta um colono não xingar um palestino para a coisa estar muito bem.

E, claro, nenhum arrependimento (pelo menos não expressado; pelo menos não que possa ser encontrado facilmente; pelo menos não substancioso o bastante para ela passar um link em seu novo blog) sobre as “historinhas” anti-árabe e o tom debochado sobre as goleadas de 14 a 1 na ONU que determinam a criação do Estado palestino (tolinhos…)

Sim, a repórter do Globo pode ter mudado bastante de opinião em relativamente pouco tempo – entre o tempo em que mantinha um blog de opinião e ingressou na redação de um grande jornal brasileiro para dar informações balanceadas direto do Oriente. Tudo é possível. Mas ainda assim seus atuais leitores, que pagam entre outras coisas por textos sobre as relações Israel-Palestina, têm o direito de saber o que ela achava das relações Israel-Palestina, não durante sua primeira infância, mas a até 3 anos atrás, no máximo.

A propósito, os leitores do jornal que acessam seu blog ao menos agora podem agradecer pela jornalista informar que se arrependeu de algumas de suas antigas opiniões, quando eu apostaria que antes eles sequer sabiam que elas existissem. Já é um progresso.

Outra coisa, o Cloaca não “acusou” Renata de “ser parte do Exército de Israel”, e sim afirmou que ela foi de tal exército. Baseado em quê? Nas próprias informações da jornalista. Ou não é isso que se infere do que ela escreveu em 11 de março de 2003? Está lá: “Servirei por um ano apenas! É um sonho que se torna realidade!” Isso depois de informar que passou em todos os testes e exames. Bem, leia a íntegra, o post está em fonte vermelha.

Renata afirma na nota que “nunca trabalhei no governo de Israel, tampouco servi no Exército israelense”, e que apenas teve vontade de ingressá-lo “para compreender melhor, por dentro, o funcionamento desta complexa máquina de guerra”. Quem mente? A Renata de 2003 ou a de 2009? Não há como as duas estarem falando a verdade.

Afirma ainda que a complicada situação do Oriente Médio não permite visões “maniqueístas”, em “preto e branco”, geralmente expressadas por pessoas que, “mesmo de longe”, “reagem com intensidade brutal” aos acontecimentos. Diz aí, Fisk.

Seria a “velha” Renata aflorando?

Quanto às “diversas facetas” do “conflito israelo-palestino”, em que sem dúvida está inserida a “complexa máquina de guerra” de Israel… bem, melhor deixá-las para os poderes de informação e análise de Renata Malkes. Os leitores do Globo que se virem.

 
[atualização, 12 de janeiro: nas últimas horas, todos os arquivos do ex-blog da jornalista desapareceram do Wayback Machine. não fomos nós! e é uma pena que os leitores do novo blog da Renata não possam mais acessar o único link para um post do blog antigo que ela passou em sua nota de esclarecimento. esta, a nota, no momento em que escrevo ainda não foi derrubada por hackers. mas é sempre bom fazer um print sreen…]

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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