Ode ao cós baixo ou Vruuummm e passa por mim a godiva voando na motocicleta azul
por Luiz Biajoni – De pequeno me falava a mãe que a altura ideal para as calças era o umbigo. As calças de elástico apertavam a barriga e incomodavam pra comer. Hoje só o deputado estadual Otoniel de Lima mantém o arcaico hábito de usar as calças altas — as dele um pouco mais acima do umbigo –, mas não com elástico; calças de bom corte com cinto importado. Tenho vista pra isso: meu avô é alfaiate.
O Otoniel é da Igreja Universal, e acho que nessa religião pregam as saias longas para mulheres. Sem pregas. As saias, não as mulheres.
Fui comprar uma calça uma vez. E não fazem mais calças de cós acima. Só cós baixo. Ou “cintura baixa”, como chamam os menos entendidos. Até para homens. Minha barriguinha de cerveja fica muito exposta nas calças desse corte. Fica aquele barrilzinho assim, sem piercing ou sino, sem estilo, só a pança mesmo, se bastando em seu tamanho.
Não comprei calça alguma depois do advento do tal cós. As calças velhas e rotas dão caldo e ainda sugerem uma resistência punk, o desgaste natural, usadas não acima do umbigo nem tão baixo — na medida do bom senso. Ali.
Pego a avenida a caminho do meu almoço no restaurante Tio Toni. Lá não pago. É meu tio. O nome dele não é Toni, entretanto.
Subindo a avenida, no meu velho Uno batido 88 a álcool, me encosta uma motocicleta com uma garota. Mulheres de moto são sexy, baby. Sempre achei. Olho pra ela, ela olha pra mim, está de capacete, mesmo assim vislumbro uma face doce, olhos negros, boca vermelha, cabelos castanhos longos esvoaçantes. Está de top azul. Calça azzzzuuuuuummmmm, de cós baixo. Pagando cofrinho.
Sai na minha frente — motos arrancam mais que carros, ainda mais que Unos batidos 88 a álcool. Os buracos no asfalto proporcionam àquele bumbum semi-à-mostra um balouçar maravilhoso — uma visão aterradora de tão bela. Ela vai à minha frente e meus olhos só podem mirar aquelas carnes búndicas chacoalhando adiante — visão proporcionada pela calça de cós baixo, esse grande novo invento da modernidade.
O rego está à vista, a carne tremelicente, como quando se transa com uma garota e ela está como uh, só as cachorras, uh, as preparadas!
Penso nela assim: quase em decúbito dorsal.
Meus olhos marejam de emoção voyeur.
O momento não existiria se ainda nos fossem impostas as calças sobrefundas, usadas na altura do cordão nascedouro.
Antes que alguém diga que “ninguém merece” só me resta replicar antecipado: eu mereço!
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