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Rubem Fonseca melhor do que vinha sendo

por Daniel Lopes (04/01/2010)

por Daniel Lopes – O seminarista não é um Agosto (1990), não é um Buffo & Spallanzani (1986), mas, dos romances que Rubem Fonseca publicou de 1994 até agora, é o melhor. Não se pode acusar o autor de patente falta de inspiração, como ocorreu com O doente Molière (2000), por exemplo. O personagem principal, […]

por Daniel Lopes – O seminarista não é um Agosto (1990), não é um Buffo & Spallanzani (1986), mas, dos romances que Rubem Fonseca publicou de 1994 até agora, é o melhor. Não se pode acusar o autor de patente falta de inspiração, como ocorreu com O doente Molière (2000), por exemplo. O personagem principal, José, é bem construído. O problema é que a partir de certo ponto os acontecimentos do enredo e os personagens secundários vêm e vão numa velocidade impressionante, às vezes de forma atabalhoada, e quando tudo acaba você diz: “É, até que começou bem…”

José é um ex-seminarista. Preenche sua narração com citações em latim aqui acolá, nem sempre com segurança, mas pomposo. É também cioso de sua suposta linhagem nobre:

(…) minha ascendência é longa, começa na batalha de Alcácer-Quibir, travada em 4 de agosto de 1538. Foi nessa batalha que D. Sebastião, o nosso rei, quer dizer, o rei dos meus bisas e tataras, desapareceu e Portugal se fodeu.

De sangue azul ou não, o fato é que 1)o ex-seminarista debandou para o ateísmo, diz que não perde mais tempo pensando nas coisas do céu e inferno, e quando está no balcão de uma delicatéssem esperando a futura namorada:

Sentei no balcão e coloquei no banco ao meu lado o livro que levava, “The God Delusion”, para que ninguém sentasse ali.

E 2)degenerou para o crime. Eficiente e discreto, mata por encomenda. Vai ao Despachante, que lhe passa nome e endereço da futura vítima, pega os dados sem querer saber o interessado na morte e pouco tempo depois o serviço está feito. Ganha muito bem, o que lhe permite manter uma vida folgada e sempre recheada de filmes em DVD, livros e mulheres, seus três vícios.

Mas tudo um dia chega ao fim, e quando o pé de meia já está bom o suficiente para lhe deixar o resto da vida na folga, resolve se aposentar. Vai ao Despachante, avisa que está caindo fora e adeus. Mas não. Mesmo de pijama, está sempre com uma paranoia por perto. Começa a suspeitar de tudo e todos, inclusive de sua nova namorada, a alemã Kistern. Algumas suspeitas se mostrarão uma ilusão, frutos de uma vida nas sombras, mas algo bastante real vai lhe perseguir até a última página: um crime mal resolvido no passado, o que deveria ter sido apenas mais um de seus muitos e corriqueiros crimes, mas ficou mal resolvido. É aí que aparecem personagens em profusão e a narrativa perde o tom mais cadenciado do início.

Vale a pena seguir José, contudo. O conhecido humor corrosivo do velho Rubem não deixa de aparecer, nem sua capacidade quase única na literatura brasileira de transmitir numa sucessão de frases curtas o impacto de golpes de classe e sempre acima da cintura. Se o livro fosse maior, mais bem trabalhado da metade para o final, acredito que poderia ter rendido algo mais próximo de A grande arte (1983) – já pensou?…

::: O seminarista ::: Rubem Fonseca ::: Agir, 2009, 184 páginas :::
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Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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