“A Entrevista” é farsa com boas piadas sujas
O filme é uma comédia farsesca para adultos, no estilo de "Borat". Quem não gostar, que espere pelo novo de Woody Allen.
Críticos adoram classificar produtos culturais, mas muitas vezes se embananam. Ainda mais quando falam em “comédia” e colocam sob a mesma tarjeta o último filme do Woody Allen, do Borat, ou Se Beber, não case e Uma Noite no Museu. A Entrevista é uma comédia farsesca, que encosta no burlesco e no pastelão. Vista assim, é ótima – e cumpre totalmente seu papel: fazer rir com personagens exagerados, piadas sujas, contexto contemporâneo, escracho com autoridades.
Não é uma paródia, como muitos escreveram, já que não se baseia num fato real – não houve a tal entrevista. Não é uma sátira, pois a sátira pede sutileza. Não é Chaplin fazendo O Grande Ditador. O crítico da Variety disse ter ficado constrangido com as “gags rudes” – ele tem 10 anos de idade? É uma comédia farsesca para adultos e, nesse sentido, vai mais ao encontro de Borat que de Se Beber, não case, já que se você conhecer um pouco sobre o mundo contemporâneo, sobre a Coréia do Norte e seu ditador insano, vai, certamente, se divertir mais.
E esqueça toda essa coisa do incidente internacional, hackers, o alerta nuclear e o Obama dizendo que vai invadir a Coréia do Norte. Esqueça o marketing. O filme se basta.
Ali, temos esse apresentador-celebridade de TV, Dave Skylark, interpretado por James Franco, histriônico, carismático e fashionista, que tenta arrancar revelações bombásticas de seus entrevistados. A cena inicial do filme é das melhores, com Eminem se revelando gay. O diretor do programa, Seth Rogen, está meio desconfortável com essas entrevistas “bombásticas”, e quer ser respeitado como jornalista-produtor. A dupla fica sabendo, então, que o ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-un, é fã do programa, e tenta um contato para a tal entrevista que dá nome ao filme.
Ao conseguir marcar a entrevista, a dupla divulga a notícia na TV e a CIA procura por ambos, com um plano para matar o ditador. Querem envenená-lo, como tentaram com Fidel Castro. Esse não é exatamente um filme positivo para os Estados Unidos.
A partir daí, as coisas degringolam para situações hilárias que envolvem codinomes improváveis, uma cápsula gigante enfiada num ânus, um general coreano que mastiga o veneno letal, uma general coreana linda e gostosa, e um ditador carente e inseguro. Aliás, de tudo o que se tem falado sobre o filme, pouco se falou sobre a extraordinária atuação de Randall Park no papel do ditador.
Depois das confusões do segundo terço, temos, enfim, a entrevista, que é o ápice do filme e é realmente sensacional. Dave Skylark vai usar sua sensibilidade (ele é meio sem noção) para revelar a faceta humana do ditador (que muitos acreditam tão divino ao ponto de não urinar ou defecar).
Depois da entrevista em si, o final do filme é mais do mesmo, com tiros e mortes e escapadas espetaculares mas, se até ali você não rachou de rir tanto das vulgaridades como por ver um personagem real e odioso como Kim ser constrangido numa peça farsesca, então você é muito sensível e o seu negócio é esperar o novo filme do Woody Allen para se descabelar de rir. Com classe.
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