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7/1 – Corram que lá vêm os especialistas

por Daniel Lopes (08/01/2015)

Lendo jornalistas e acadêmicos buscando as "causas raiz" do terrorismo na França, simpatizamos com o desabafo de Bertrand Russell

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Após mais de 24 horas vendo e lendo jornalistas-com-anos-de-experiência-na-área e acadêmicos-com-milhares-de-artigos-em-veículos-especializados tentarem justificar o massacre de Paris buscando as “causas raiz” da violência, acredito que já podemos simpatizar com aquela declaração de Bertrand Russell – “Nunca me classifiquei como um intelectual, e ninguém nunca ousou me chamar de um em minha presença”.

Tivemos as latufices de sempre. Tivemos uma professora na Globo News que, ainda ontem, tomou os telespectadores, bem como a maioria dos muçulmanos, como idiotas. Carlos Orsi fez referência a isso.

Tivemos, e ainda teremos às pencas, intelectuais dizendo que o entendimento do massacre passa pela questão do “acirramento dos ânimos”, da “ascensão da extrema-direita” na Europa.

Bem, certamente havia extremistas de direita em recentes protestos anti-islamistas na Alemanha e em outros países, mas havia também muita gente apenas, como dizer, anti-islamista – que não é o mesmo que anti-muçulmana; islamismo é o islã político, a ideia de que a política e a vida pessoal dos membros de uma comunidade devem ser baseadas nos preceitos do Alcorão, e para os islamistas na Europa essas comunidades são nações inteiras.

Seja como for, em quanto anda mesmo o número de muçulmanos mortos por extremistas de direita na Europa?

Por outro lado, por que ninguém nunca pergunta a esses escribas especializadíssimos por que, se as suas teorias estão corretas, as maiores vítimas do islamismo são muçulmanos cujo único pecado é não aceitar a visão de mundo totalitária dos fanáticos? E essa massa de muçulmanos assassinados está, claro, em países onde o “acirramento de ânimos” se dá em mão única – do islã contra o cristianismo e outras heresias.

Ou pegue uma matéria publicada na Folha. Título: “Edição do Charlie Hebdo’ destaca autor acusado de incitar a islamofobia”.

Parágrafo: “Não se pode dizer que essa edição específica tenha estimulado o atentado, dado o histórico provocativo do ‘Charlie Hebdo’ e o fato de que o ataque foi planejado com antecedência, mas não poderia haver coincidência mais soturna para o lançamento de
‘Soumission’, que pôs Houellebecq no centro de um acirrado debate nas últimas semanas.”

Primeiro, o Charlie sempre destacou autores que, pela régua de fanáticos, seriam “acusados de incitar” a judeofobia e a cristofobia – esse, a propósito, é seu verdadeiro “histórico provocativo”, que inclui ainda a sátira de todas as correntes políticas. Mas nem por isso seus chargistas haviam sido metralhados.

Segundo, jornalistas não deveriam se basear pela régua de fanáticos.

Terceiro, o “soturno” nesse episódio tem tudo a ver com a chacina promovida por um bando de religiosos totalitários, e nada a ver com o lançamento de uma obra de ficção.

Se seu especialista de cabeceira não deixar isso claro, caro leitor, fique certo de estar diante da mais legítima merde de taureau.

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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