Seu histórico mais favorável aos imigrantes pode ajudá-lo com os eleitores hispânicos na eleição geral.
Um jovem político, representante de minoria, venceu um forte desafiante de seu partido e obteve uma cadeira no Senado. Com apenas 40 e poucos anos, concorre à presidência dos Estados Unidos e é visto por muitos como a novidade que resolverá os problemas do partido e forjará uma vitória histórica. A história de Marco Rubio, senador republicano da Flórida, tem muito a ver com a de Barack Obama. Se terá o mesmo final, ainda é difícil saber.
Filho de imigrantes
Os pais de Marco Rubio imigraram de Cuba para os EUA em 1956, anos antes da revolução que levou Fidel Castro ao poder. Quando Rubio nasceu, em 1971, não eram ainda cidadãos americanos e só se naturalizaram alguns anos depois. Sua trajetória e sua plataforma política enfatizam a ideia dos Estados Unidos como o país da oportunidade, realização dos sonhos de milhões de pessoas. Seu histórico familiar tem a ver com isso.
Na sua infância, Rubio chegou a fazer parte da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como mórmons, enquanto a família viveu em Las Vegas, Nevada. Mas já aos treze anos Marco voltou à Igreja Católica, na qual permanece até hoje.
Seu caminho universitário foi similar ao de vários políticos: graduação em ciência política (na Universidade da Flórida) e direito (Universidade de Miami). No final de 1999, entrou na disputa por uma cadeira na Câmara de Deputados da Flórida por um distrito de Miami considerado fácil para os republicanos. Venceu as primárias com um discurso moderado e assumiu a cadeira em 2000.
O período na Câmara de Deputados da Flórida
Após ser eleito, Rubio precisou de um tempo para se aclimatar na Câmara da Flórida, um dos estados mais disputados na eleição geral. Isso faz com que republicanos e democratas tentem o possível para garantir a vantagem de controlar a máquina estadual, o que os leva a eleger líderes mais moderados. Rubio, à época, era considerado muito conservador.
Sua atuação, no entanto, acabou provando uma capacidade conciliatória dentro de seu partido. Tornou-se o mais jovem deputado estadual a ser presidente da Câmara em seu estado, de 2006 a 2008. Na época, Jeb Bush estava terminando seu mandato como governador da Flórida; hoje ambos são adversários na briga pela nomeação republicana.
O governador republicano seguinte, Charlie Crist, resolveu tentar o Senado em 2010. Rubio lançou uma campanha de contestação pela direita do partido, ganhando o apoio do movimento Tea Party e obteve a nomeação. Na eleição geral, enfrentou novamente Crist, líder moderado que havia se lançado de modo independente com apoio dos democratas. Rubio venceu e se tornou senador antes de completar 40 anos de idade.
A política no Senado
Após eleito, Rubio passou pelas dificuldades que todos os calouros esperam no Senado, incluindo Barack Obama: o tempo dedicado às leis de interesse do senador seria entrecortado pela necessidade de ampliar sua base de apoio dentro do próprio partido. Como representante do Tea Party, Rubio precisava emendar fraturas com os representantes mais tradicionais do Partido Republicano na casa, como Lindsey Graham (da Carolina do Sul) e John McCain (do Arizona).
Com esses dois senadores, Rubio participou de um grupo em 2013 conhecido como Gangue dos Oito, quatro senadores democratas e quatro republicanos unidos para fazer uma reforma do sistema de imigração americano e resolver o estado dos milhões de imigrantes ilegais que estão no país até hoje.
A reforma não foi bem sucedida e hoje Rubio sofre com as críticas por ter apoiado o que muitos republicanos veem como um projeto muito leniente com os imigrantes ilegais. No entanto, se isso prejudica suas chances nas primárias republicanas, por outro lado seu histórico mais favorável aos imigrantes pode ajudá-lo com os eleitores hispânicos na eleição geral mais do que seu sobrenome.
As chances para 2016
Marco Rubio não era um nome conhecido nacionalmente antes do início da campanha presidencial como seu rival Jeb Bush, mas alguns analistas viram o potencial de sua candidatura como um “Obama latino”, que poderia fazer os republicanos ampliarem sua base eleitoral e vencer os democratas na eleição geral. E o principal argumento da candidatura Rubio é combinar conservadorismo com elegibilidade.
A ascensão de Donald Trump e queda de candidatos tradicionais fez de Rubio um inesperado representante para o establishment. Apesar de ser um dos mais conservadores membros do partido no Senado, Rubio passou a ser visto como a esperança de um partido esfacelado e incapaz de produzir um candidato forte para derrotar a insurgência de Trump e Ted Cruz.
As pesquisas mostram que Rubio possui, de fato, maior elegibilidade contra Hillary Clinton do que seus rivais. O senador recebeu o apoio do maior jornal de Iowa e tem subido levemente nas pesquisas, consolidando-se como o terceiro colocado. Hoje, apostar em Marco Rubio está longe de ser um palpite arriscado. Ao contrário: a briga entre Rubio e Clinton parece a mais provável para acontecer em novembro, com resultado absolutamente imprevisível.
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publicado no The 58th Presidency
Vinícius Justo
Mestre em Teoria Literária pela USP.
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