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A patética resposta de Obama à Rússia

por Amálgama Traduções (07/01/2017)

Obama basicamente livrou Putin por seu ataque cibernético.

por Max Boot*, Commentary
trad. Daniel Lopes

Donald Trump tem o dom de consumir todo o oxigênio de uma sala. Foi assim que o debate público sobre o hackeamento do Comitê Democrata Nacional (CDN) evoluiu para uma história de Trump versus a comunidade de inteligência.

Os espias concluíram, com um grau incomum de certeza, que a Rússia esteve por trás do hackeamento e que ele teve como objetivo eleger Trump; Trump nega ambas as conclusões, denigre a comunidade de inteligência e pretende acreditar nas negativas de Julian Assange sobre os documentos terem vindo da inteligência russa.

Essa é evidentemente uma grande história. É difícil lembrar de um presidente anterior com uma relação abertamente contenciosa com a comunidade de inteligência ainda antes de assumir o cargo – Jimmy Carter é o único precedente remotamente comparável. Mas, em meio a toda a fanfarra trumpiana, é fácil esquecer que ele ainda não é presidente e que a operação russa ocorreu não sob sua guarda, mas sob a guarda de Barack Obama.

Já quase se está esquecendo da resposta pateticamente fraca do atual presidente à tentativa orquestrada pelos russos de interferir no funcionamento de nossa democracia. O New York Times documentou o quão vagarosa foi a resposta do FBI ao hackeamento do CDN tão logo ele foi descoberto, e o quanto Obama esteve indisposto a responder com força, por medo de parecer partidário e se ver envolvido em uma batalha de olho-por-olho com Moscou. O máximo que Obama fez para responder antes da eleição foi permitir que seus chefes de inteligência divulgassem uma declaração pública atribuindo os ataques à Rússia.

Obama esperou até 29 de dezembro para cobrar um preço pelas transgressões de Putin. E mesmo então, a retaliação foi mínima. Tudo que ele fez foi expulsar dos EUA 35 oficiais russos da inteligência operando sob cobertura diplomática, fechar duas casas de interior usadas por diplomatas russos nos EUA e impor sanções a quatro top oficiais do serviço de inteligência militar russo – a GRU –, que suspeita-se estar por trás do ataque ao CDN. No curso normal dos eventos, isso teria levado Moscou a expulsar 35 diplomatas americanos, em retaliação, mas Putin espertamente reverteu as expetativas ao se recusar a fazê-lo, claramente apostando suas fichas em que o presidente Trump lance uma política de détente.

Normalmente, Putin não é conhecido por sua magnanimidade. Sua disposição a fazer vista grossa às ações americanas mostra como elas foram ineficazes. As expulsões sem dúvida foram desagradáveis para os funcionários russos chutados; presume-se que eles tenham desmatriculado os filhos dos colégios, feito as malas às pressas e passado por outras inconveniências para deixar rapidamente os EUA. Mas, para Putin, o que interessa se a espionagem russa nos EUA é conduzida pelos 35 “diplomatas” ejetados ou por seus substitutos?

Se Obama realmente tivesse querido ferir Putin, ele teria respondido na mesma moeda, ordenando a comunidade de inteligência a divulgar comunicações embaraçosas entre o chefe no Kremlim e seus subordinados. Ou, ainda melhor, divulgando mais detalhes sobre como Putin rouba bilhões dos sofridos cidadãos da Rússia. Se a comunidade de inteligência tem informações das contas off-shore de Putin, poderia tê-las vazado.

Isso, claro, para falar apenas de duas opções em um menu certamente longo de etapas retaliatórias estabelecidas pelas agências. Pode-se imaginar outras etapas, indo de sanções financeiras mais mordazes a dar armas para os ucranianos se defenderem melhor contra a agressão russa, passando por fritar os sistemas de computadores russos. Mas Obama preferiu não fazer nada disso. É possível que ele tenha ordenado alguma ação encoberta que permaneça secreta para nós, mas, dado o histórico de vazamentos em Washington, isso parece improvável. Mesmo o uso do vírus Stuxnet contra computadores iranianos, umas das ações “compartimentadas” mais altamente secretas da história recente, foi revelado bem antes da ação. Como o senador Lindsey Graham disse na quinta-feira, Obama jogou “pedregulhos” na Rússia em retaliação, ao invés das “rochas” necessárias.

Em resumo, Obama basicamente livrou Putin por seu ataque cibernético, da mesma forma que basicamente o havia livrado pela invasão da Ucrânia, pelos crimes na guerra da Síria e por inúmeras outras transgressões contra as normas internacionais. E agora parece provável que Trump suspenda mesmo as sanções relativamente fracas impostas por Obama. Obama, para seu crédito, não elogiou Putin em público, como Trump tem o perturbador hábito de fazer. Mas pode haver mais continuidade do que os dois homens compreendem, em sua política bipartidária de fracasso em fazer frente à agressão russa.

* Max Boot nasceu em Moscou em 1969, e é mestre em história diplomática por Yale. Seu livro mais recente é Invisible armies.

Amálgama Traduções

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