A candidatura configura finalmente uma expressão política do conservadorismo popular brasileiro.
Era setembro de 2013, e o país vivia o rescaldo das manifestações de junho, quando este Amálgama recebeu o meu primeiro texto: “Um conservadorismo popular?”. Era o desenvolvimento de um insight: os pobres que experimentaram uma ascensão no período lulopetista estavam insatisfeitos, e começava a se desenvolver uma nova expressão política, popular e conservadora.
Passados cinco anos, temos uma expressão política consolidada deste conservadorismo popular. Seu nome é Jair Bolsonaro. Sua plataforma reflete os anseios concretos das periferias: segurança, ordem e moralidade. Bate de frente com o discurso identitário que a esquerda vem desenvolvendo há mais de uma década – e cujo caráter antipopular já denunciávamos no artigo de 2013.
A dificuldade de compreensão do conservadorismo popular brasileiro está no economicismo das análises. Imagina-se que o conservador é necessariamente liberal em temas econômicos, como os tories e os Republicanos no mundo anglo-saxão. Não por aqui. Fiel às raízes militaristas e corporativistas, o conservadorismo popular brasileiro é estatista e populista. Tal como Bolsonaro.
O povo brasileiro é religioso, paternalista, moralista e curte aventuras autoritárias em nome da ordem. Especialmente os mais pobres. Não tem nada a ver com manipulação midiática ou lavagem cerebral. Isso faz parte da experiência concreta do povão, que luta pela sobrevivência dia após dia. Por puro pragmatismo, confia sua vida ao demagogo da vez e a uma espiritualidade messiânica, sebastianista.
Lula surfou esse conservadorismo popular enquanto foi presidente. Ao mesmo tempo, o PT usou o discurso identitário para parecer radical sem desafiar as relações perniciosas com o alto capital, relações estas expostas na Lava Jato. Mas desde 2010, quando Dilma foi confrontada por suas posições ambíguas sobre o aborto, o identitarismo petista estava cobrando seu preço, levando à ruptura do lulismo com os pobres. Bolsonaro foi apenas a pessoa certa no lugar certo.
Agora, em 2018, tudo pode acontecer, inclusive nada. O desafio de Bolsonaro é transformar sua liderança em uma organização política. Se conseguir, pode marcar posição com uma bancada conservadora e bolsonarista no Congresso. Isso seria uma vitória mais expressiva que tornar-se presidente nesta eleição. Uma bancada bolsonarista expressiva, integrando policiais militares, católicos e evangélicos conservadores, pode ser o sinal de que o conservadorismo popular veio para ficar.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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