Joseph Campbell, o evolucionista das religiões


Joseph Campbellpor Luiz Biajoni – Mais do que Darwin, Joseph Campbell (1904-1987) investigou, ao longo de toda sua vida, não a evolução das espécies, mas a evolução das religiões. O resultado mais importante dessa investigação é a obra apropriadamente chamada As máscaras de Deus, dividida em 4 volumes: Mitologia primitiva, Mitologia oriental, Mitologia ocidental e Mitologia criativa. Nela, o pesquisador mostra como nasceram mitos que originaram religiões em todo o mundo, cruza dados e histórias, apontando semelhanças, mostrando onde estão os interesses por trás das religiões enquanto forças sociais e, até onde o vasto conhecimento lhe permite, desvela as metáforas das histórias mitológicas.

O mais importante desse trabalho, diz ele, é mostrar para as mentes estreitas que os mitos tendem a se tornar História – e isso é triste. Citando Alan Watts (Myth and ritual in Christianity): “O Cristianismo foi interpretado por uma hierarquia ortodoxa que degradou o mito até convertê-lo em ciência e história. […] Porque quando o mito é confundido com história, ele deixa de aplicar-se à vida interior do homem.”

Em uma de suas palestras memoráveis – várias reunidas em livros lançados no Brasil –, Campbell conta sobre um trecho do livro sagrado do budismo onde Buda estica uma das mãos e de cada dedo sai um tigre que ataca seus inimigos. Se esse trecho estivesse na Bíblia, com Jesus Cristo como protagonista, crentes iriam jurar de pés juntos que foi assim mesmo que aconteceu.

Segundo Campbell, em todo Oriente prevalece a idéia de que o último plano da existência é algo além do nosso pensamento e nosso entendimento. Sendo assim, podemos acreditar no mistério mas não racionalizar ou querer situá-lo histórica e geograficamente. De maneira que não há o culto como conhecemos no Ocidente. Linhas de pensamento religioso orientais são: “Saber é não saber, não saber é saber” (Upanishad), “Os que sabem permanecem quietos” (Tao Te King), “Isto és tu” (Vedas). Chegar ao outro lado da margem do pensamento para encontrar paz e bem-estar é a finalidade do mito oriental.

No mito ocidental existe sempre um criador e uma criatura e os dois não são o mesmo – estão sempre em conflito e sempre há alguém ou algo a atrapalhar, incomodar; um diabo, um extraviado da criação. Diante da pouca importância que o homem tem diante de um Deus tão exigente, ele deve se ajoelhar e servir e não questionar e obedecer a parâmetros sempre ditados por alguma instituição, uma igreja, uma denominação. É uma religião de subserviência, cuja gestão é o conflito e o terrorismo psicológico, imposto pelas lideranças religiosas ou auto-imposto pelos crentes.

Para Campbell, “o divisor geográfico entre as esferas oriental e ocidental do mito e do ritual é o planalto do Irã”. O terceiro volume de As máscaras de Deus, que trata da Mitologia Ocidental, escrito em 1964, conta o nascimento da religião muçulmana e como ela cresceu no Oriente Médio, tornando-se ameaçadora para o cristianismo; as tensões que abalavam a ordem cristã que era sustentada por uma mitologia de autoridade clerical.

Talvez esse quadro geral tenha gerado o fanatismo, alimentado pelas lideranças religiosas; e o dinheiro que estas têm pode ter influenciado na ordem social. Campbell, otimista e racional, escreveu:

Nenhum adulto hoje se voltaria para o Livro do Gênese com o propósito de saber sobre as origens da Terra, das plantas, dos animais, do homem. Não houve nenhum dilúvio, nenhuma Torre de Babel, nenhum primeiro casal no paraíso, e entre a primeira aparição do homem na Terra e as primeiras construções de cidades, não uma geração (de Adão para Caim), mas milhares delas devem ter vindo a esse mundo e passado a outro. Hoje nos voltamos para a ciência em busca de imagens do passado e da estrutura do mundo. O que os demônios rodopiantes do átomo e as galáxias a que nos aproximam telescópios revelam é uma maravilha que faz com que a Babel da Bíblia pareça uma fantasia do reino imaginário da querida infância de nosso cérebro.

Ele mal sabia que as religiões se fortaleceriam, ganhariam cada vez mais adeptos e fanáticos, se ramificariam e tomariam de assalto a educação, a ciência e mesmo a sanidade racional do homem.

*

As idéias de Campbell fizeram sucesso nos anos 70, ele se tornou um ícone para os hippies-paz-e-amor pregando (essa não é nem de longe a melhor palavra, mas vou deixar) o compromisso social geral pelo avanço irrestrito da sociedade, com tolerância e respeito ao outro, pela paz e pela metáfora religiosa como elemento de ligação entre o ser e o mistério. Não por acaso, Campbell é o autor que inspirou George Lucas na saga Guerra nas estrelas – e o ponto culminante do primeiro filme, quando Luke Skywalker vai destruir a Estrela da Morte e os equipamentos falham, é a “voz da consciência” do herói que pede que ele não acredite nos aparelhos (assim como não devemos acreditar nas histórias míticas ou no que diz qualquer pretenso salvador) e acredite em si mesmo.

As histórias mitológicas – assim como Guerra nas estrelas inaugou uma mitologia – deviam servir como metáforas para nossas vidas. O problema é que as pessoas não sabem o que é metáfora; acham que uma metáfora é uma mentira. As escrituras sagradas são todas metáforas, mas os religiosos conseguem entende-las apenas como Realidade, e acham que aqueles que não entendem que se trata de Realidade consideram o que está ali escrito, Mentiras.

Um radialista uma vez quis pegar Campbell ao vivo nesta encruzilhada e perguntou ao pesquisador o que era uma metáfora. Campbell devolveu a pergunta e o radialista deu um exemplo de metáfora: “Ele corre como um coelho”. Campbell disse que era justamente aí que estava o problema: metáfora seria se se dissesse “Ele é um coelho”. Na afirmação justa de uma realidade improvável, a condenação de um mundo.

As grandes metáforas das religiões não podem ser entendidas como realidade e não podem atrapalhar o avanço científico da sociedade; não podem interferir na paz entre países, nem em angústias para as pessoas; não podem restringir o direito de amar – ora vejam! –, nem provocar ódio. As grandes metáforas das religiões deveriam ser poesias para os ouvidos – mas ninguém quer saber de poesia!

“Alguns, talvez, queiram ainda curvar-se diante de uma máscara, por medo da natureza. Mas se não há divindade na natureza, a natureza que Deus criou, como poderia haver na idéia de Deus, que a natureza do homem criou?” – pergunta Campbell.

Pois qualquer um que não entenda que foi o homem quem criou Deus, talvez não possa discutir coisa alguma de maneira sensível e racional.

 
———-
P.S.: Além de Darwin, Campbell deveria ser estudado nas escolas, com a intenção de abrir os horizontes sobre a religião na cabeça dos jovens. Um livro de Campbell indicado para evangélicos é Isto és tu (Landy Editora, 2002). É um bom começo para quem se interessa pela visão metafórica – especialmente do cristianismo, no caso desse livro. Para quem conhece a obra de Campbell, porém, esse livro é algo deprimente, já que ele tenta vender a imagem do autor como católico, dizendo que Campbell, no fim da vida, num hospital em Honolulu, diante de uma imagem de Cristo, “experimentou profundamente o âmago do símbolo cristão”, como se tivesse “aceitado” alguma religião. Acredito que tenha acontecido a cena, mas quem a viu a interpretou – mais uma vez – de modo errado. Sua mulher, Jean Erdman, teria dito que Campbell ficou emocionado ao ver a imagem, já que se tratava do Cristo Triunfante, “símbolo do zelo da eternidade pela encarnação no tempo, que envolve a dissolvência do uno no múltiplo e a aceitação dos sofrimentos de uma maneira confiante e jubilosa”. Ele estava com câncer e muita dor. Algum fanático vai dizer que ele mereceu morrer assim.

Amálgama




Luiz Biajoni

Jornalista e escritor. Publicou em 2015 o romance A viagem de James Amaro.


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MAIS RECENTES


  • Tuma

    Biajoni, só tenho uma resalva a fazer ao seu texto, que é a mesma resalva que tenho para com a maioria dos textos que tratam desse assunto. Trata-se da generalização. Quando você diz “os religiosos isso” ou “os religiosos aquilo”, creditando a todos os religiosos a mesma atitude, age da mesma forma que alguém que diga “os evolucionistas não acreditam em Deus”, como se isso fosse uma regra.
    Ademais, é sempre bom resgatar Campbell.

    Um abraço,

    • Gian Pandolfo

      Perfeita colocação Tuma.
      O texto é excelente, porém, novamente, generalisa as “classes” religiosas e evolucionista. Isso é ruim.
      Ps.: Sou um religioso evolucionista. E devo isso à Campbell

  • Matheus Colen

    Joseph Campbell é de longe o meu autor preferido. Quando estudamos roteiro, técnicas para o desenvolvimento das histórias, técnicas de construção de personagem, não podemos deixar de ler Campbell. Atualmente estou lendo “O Poder do Mito”, livro baseado na entrevista que ele deu para o jornalista Bill Moyers. Esse cara é demais!

  • Luciano Bitencourt

    O pensamento evolucionista não é “a” resposta para a origem (ou sentido) da vida. Ele é “mais uma” resposta. Na minha opinião, quem discorda do Cristianismo e demais religiões, deveria se aprofundar agora nas teses ateísticas para refutá-las adiante. Se não, é tudo religião. Inclusive, o Darwinismo caminha para as seitas, vide web.

  • Álvaro

    Dado nosso conhecimento, tanto o ateísmo quanto a crença religiosa são questões de FÉ, pois não há entre nós alguém qualificado para provar uma coisa ou outra.

    O problema surge quando a religião comanda os valores morais do Estado (ex: Arábia Saudita) ou quando não há religião para representar as conseqüências da falta de apoio ao próximo (ex: China).

    Queiram ou não, o que a civilização precisa neste momento é de EQUILIBRIO. Nem um extremo, nem outro…

  • Eneraldo Carneiro

    Alvaro

    “Dado nosso conhecimento, tanto o ateísmo quanto a crença religiosa são questões de FÉ, pois não há entre nós alguém qualificado para provar uma coisa ou outra.”

    Ateus tem que provar O QUE?

  • Matheus Colen

    Eles não defendem a tese de que não existe uma entidade superior, criadora do todo? Então seria isso que eles deveriam provar.

    Na minha opinião, cada um acredtia no que quiser. Não interferindo na minha vida e não tentando me converter, cada um pensa o que bem entende.

    Aproveitando o comentário do Álvaro, Campbell diz no Poder do Mito, que a civilização atual carece de um mito global. Se todos aceitassem um mito que envolva o planeta e os povos como um todo e reconheca a importância do relacionamento NATUREZA – HOMEM, talvez tivéssemos menos guerras e menos destruição. Concordo com ele.

    Mas o grande problema continua na interpretação literal das metáforas existentes nos mitos antigos.

    • Assis Utsch

      Matheus Colen, Você menciona a necessidade de se entender as metáforas dos livros antigos.
      Bem, desses livros antigos, o Corão, por exemplo, que é um dos mais recentes, expressa na Sura 4:56: “Os que rejeitam Nossos sinais, breve jogá-los-emos no fogo. Cada vez que suas peles forem queimadas, substituí-las-emos por outras para que continuem a suportar o suplício”.
      Por mais complacente que seja um hermeneuta, um exegeta ou qualquer intérprete de livros santos, estes contorcionistas jamais conseguirão negar a mensagem, que é a intolerância, a ameaça, o terror. E esta é apenas uma Sura dentre as muitas dezenas ou centenas com idênticos flagelos.
      O Velho Testamento, mais antigo e mais volumoso, é ainda mais tenebroso, sem falar dos Evangelhos, que têm também suas ameaças, além de vários versículos depreciadores da família. (Bertrand Russel, em Por Que Não Sou Cristão, identificou muitos desses versículos)

      • Pedro Latro

        Vale lembrar que a versão atual de qualquer livro sagrado é extremamente distorcida em relação ao seu texto e ideia originais, e que, justamente por isso, é necessário saber distinguir o que foi adicionado a esse original por interesses de poder dos mitos ali contidos.

  • Eneraldo Carneiro

    Matheus

    “Eles não defendem a tese de que não existe uma entidade superior, criadora do todo?”

    Não. São os teístas e deístas que afirmam a existência de uma “entidade superior, criadora do todo”, o que quer que isto seja. Os ateus não defendem uma “tese contrária”, eles apenas pedem que os primeiros forneçam evidências da sua alegação. O que nunca foi feito de maneira satisfatória. Ateus apenas não veem razão para acreditar em qualquer alegação sem que haja evidência suficiente a favor dessa alegação.
    Quem afirma a existência é que tem o Ônus da Prova. Alegações extraordinárias pedem evidências extraordinárias, e aquilo que pode ser afirmado sem prova, pode ser descartado sem prova.

    []’s

  • Tuma

    Eneraldo,

    Na verdade a palavra ateu designa quem nega a existência de Deus sim, está no dicionário e tudo. A descrição do que vc fez é de outra coisa…

    Agora, quanto a “ter de provar”, ninguém TEM de provar nada. Como já foi dito, são questões de fé e expriência pessoal. O Biajoni diz “pois qualquer um que não ENTENDA que Deus foi criado pelo homem” como se isso fosse comprovado, e um crente diz “pois qualquer um que não ENTENDA que Deus existe” ou algo do gênero. Quem está certo? Ambos? Nenhum?

    Por isso, repito, o essencial é respeitar as crenças pessoais de cada um.

    Abraço,

    • Assis Utsch

      Tuma, As crenças – como tantas outras ideologias – não precisam ser respeitadas. Quem precisa ser respeitado é o crente, pois o ser humano é o alvo essencial de toda dignidade. Já as crenças, que na verdade são apenas superstições mais elaboradas, precisam ser fustigadas, tal como todas as ideologias. E os chamados livros santos, conforme Campbell e muitos outros autores, são peças mitológicas, fabulescas. São lendas que vieram sendo recontadas e recriadas ao longo de milênios; primeiro de forma oral, depois escritas sobre pedras, couros, tábuas, folhas. Tudo perpetuado pelos costumes, tradições, doutrinação, educação e também por conveniências dos dominadores, pois religião é submissão. Deus tem a mesma natureza dos deuses e outras divindades, como os fetiches, os totens, os xamães, etc. O Deus monoteístia é produto de uma convenção social, adotada pelos judeus num certo momento histórico. Para que as tribos de Israel resistissem a seus inimigos, os judeus resolveram se unificar em torno de um Deus. Por que o credo judaico evita a menção de seu Deus, o Jeová? É porque dessa forma tornava-se mais fácil contornar a rivalidade dos crentes em outros deuses.

  • Daniel

    Tuma, não acho que o texto seja desrespeitoso. Matheus, não acredito que a questão seja tão simples quanto “Não interferindo na minha vida e não tentando me converter, cada um pensa o que bem entende”.

    Obviamente, se se respeitar a liberdade alheia, já temos meio caminho andado. Mas raramente uma fé (ou uma não-fé) é apenas “pessoal”. Nós primeiro nos moldamos e, em seguida, tentamos moldar a sociedade mais ou menos de acordo com nossas crenças, mesmo se respeitando os “indivíduos” (como se aquela não fosse a soma destes).

    Por isso, quando um católico defende que o Estado brasileiro pode e deve assinar acordos com o Vaticano em relação ao ensino religioso nas escolas públicas, ele CRÊ que isso é normal. Respeitar essa opinião não significa que se deva abrir mão de abordá-la e criticá-la (se se acha que deva ser criticada). Isso não é desrespeito.

    Da mesma forma, criticar os jacobinos franceses que degolaram padres não é desrespeitar os ateus.

    Quanto à definição de “ateu”, é muito pano pra manga. Mas, já que estamos aqui, indico uma leitura a crentes, agnósticos e ateus — “O espírito do ateísmo”, de André Comte-Sponville. Parodiando o Dines, você nunca mais vai ler sobre a questão do mesmo jeito.

    Abs. a todos.

    • Assis Utsch

      Daniel, Eu li o Espírito do Ateísmo, fiz inclusive uma resenha sobre ele no Divina Magia – http://www.divinamagia.com.br –

  • Tuma

    Daniel, também não achei desrespeitoso, só comentei que ele, como ateu, fala de sua crença (ou não-crença) como certeza e verdade, assim como um crente fala da sua. Não critiquei essa atitude, só fiz um comentário. Talvez pelo tom tenha ficado meio confuso…

    Mas enfim, você está certo. Esse tipo de questão só deve extravasar o âmbito pessoal se for numa discussão saudável, como essa que estamos tendo aqui. E, mais uma vez, sem tentar ficar generalizando. Eu sou católico mas defendo o Estado laico e discordo do ensino religioso obrigatório, por exemplo. E não sou uma exceção. Claro que existem pessoas que pensam diferente de mim nesse sentido, mas daí a generalizar é um longo caminho.

    Por isso, novamente, digo que respeito mútuo e bom senso devem nortear esse tipo de discussão.

    Abraço,

  • Eneraldo Carneiro

    Tuma

    Como preliminar, já que se falou em dicionário, segundo o Aurélio Século XXI que eu tenho aqui do meu lado:
    Ateu. (do gr átheos, pelo lat. atheu) Adj. 1. Diz-se daquele que não crê em Deus ou nos deuses; ímpio. 2. Próprio de ateu
    Crer. (do lat. credere) V. t. d. 1. Ter por certo; dar como verdadeiro; acreditar; 2. Ter confiança em; aceitar como verdadeiras as palavras ou afirmações de; etc

    Logo, ateu é alguém que não tem por certo Deus ou deuses, que não acredita em Deus ou deuses, que não dá como verdadeiros Deus ou deuses. Ateu não é alguem que defende “…a tese de que não existe uma entidade superior, criadora do todo..”. Ateu é alguém que não tem fé.
    De novo o Aurélio:
    Fé. (do lat. fide) S. f. 1. Crença religiosa; 2. Conjunto de dogmas ou doutrinas que constituem um culto; 3. Rel. a primeira virtude teologal: adesão e anuencia pessoal a Deus, seus designios e manifestações.

    Portanto eu acho que é um tanto falacioso por as coisas em termos de “..tanto o ateísmo quanto a crença religiosa são questões de FÉ..” como se se tratassem de duas crenças equivalentes. Descrer da existência de alguma coisa NÃO É a mesma coisa que crer na inexistência dessa coisa.

    Aliás, não se tería que definir primeiro O QUE É essa coisa na qual se crê?
    O QUE É essa “…entidade superior, criadora do todo..”?
    Será que você, o Matheus, e o Alvaro conseguem chegar a uma definição unívoca? Tenho cá minhas dúvidas.
    Eu não defendo “a tese” de que tal “entidade” não existe, apenas não tenho evidências convincentes da sua existênca, nem de que suas características correspondem às inúmeras, distintas, conflitantes e incompatíveis alegações feitas pelas diferentes religiões.
    Agora, tão logo alguém me forneça tais evidências serei o primeiro a mudar de opinião, pois procuro basear minhas opiniões nos fatos e nas evidências, não na fé e no dogma.

    []’s

  • Tuma

    Eneraldo, realmente, você tem razão quanto à definição de ateísmo geral. Porém, convenhamos que ela se encaixa nos ateus “moderados”, que simplesmente descrêem de Deus. Mas há que se concordar que os mais radicais, Dawkins por exemplo, negam com todas as forças até a possibilidade de Deus existir, e atribuem qualquer tipo de experiência religiosa como ilusão, etc. Mesmo aí talvez não fosse correto falar em fé, mas descrença me soa demasiado suave para isso, também.

    Quanto à definição de Deus, rebato com a velha história da grade. Cada um tem a sua própria para enxergar esses assuntos. Um ateu enxerga nisso evidência de que Deus vem do indivíduo, enquanto um crente enxerga a multiplicidade da experiência divina/expiritual. E é por essas e outras que, como dizem os agnósticos, nunca se chegará a um consenso sobre esse assunto. Ao menos não nessa vida.

    Abraço,

  • Eneraldo Carneiro

    Tuma

    Continuo discordando de você no sentido de que, sejam “moderados” ou “radicais”, suas posições não são baseadas na FÉ.
    Não é verdade que Dawkins nega “…com todas as forças até a possibilidade de Deus existir…”. O que ele defende, e eu tendo a concordar, é que essa possibilidade é muito, mas muito, pequena, tanto que o capítulo do livro onde ele aborda a questão (Cap. 4) chama-se “Porque quase com certeza Deus não existe”. E é um argumento com o qual você pode concordar ou não, mas que é construido de modo racional, e não como resultado de um ato de fé.
    “Quanto à definição de Deus, rebato com a velha história da grade. Cada um tem a sua própria para enxergar esses assuntos”
    O problema é que nos últimos 2000 anos tem sido os teistas a empurrar suas “grades” goela abaixo dos outros.

    []’s

  • Matheus Colen

    Bom, eu gostaria de fazer duas considerações:

    – Ateu é quem nega a existência de Deus (e ponto). Os dicionários dizem isso e foi isso o que falei com a frase:

    “Eles não defendem a tese de que não existe uma entidade superior, criadora do todo?”. (isso possui tom de questão, não de afirmação)

    O Eneraldo pode ter caído em alguma ambiguidade na minha frase e me corrigiu completando o sentido do que eu havia dito. Falha de comunicação, se eu tivesse escrito de outra maneira isso não teria acontecido. Enfim…

    – Acho que o ponto principal a ser discutido sobre Campbell não é se ele é ateu ou não. Devemos valorizar o profundo estudo que ele realizou sobre mitologia. No Poder do Mito ele fala da existência de mitos muito parecidos em povos que nunca tiveram contato historicamente. Civilicações de épocas diferentes, de lugares diferentes, que nunca se encontraram, criaram as mesmas metáforas para explicar o inexplicável.

    O grande problema das religiões como um todo é acreditar nas metáforas como se fossem verdades. E é isso que Campbell quer dizer. Ele não questionada a veracidade das metáforas, ele só tem em mente que elas são apenas histórias que criamos para poder conviver com o desconhecido e desfrutar de uma noite de sono, por exemplo.

    Por isso eu acho que ninguém tem que provar nada! Todas as explicações para o que não tem explicação possuem o mesmo valor. Se acreditar que Jesus é o salvador do mundo te faz feliz e te conforta nos momentos ruins, vá em frente! Acredite nisso que você só tem a ganhar. Ou se o seu caso é não acreditar em nada e com isso ter a certeza de que pelo menos não está enganado a si próprio, bacana também!

    Termino com a frase do Tuma:
    “Por isso, repito, o essencial é respeitar as crenças pessoais de cada um.”

  • Tuma

    Matheus e Eneraldo,

    “O problema é que nos últimos 2000 anos tem sido os teistas a empurrar suas ‘grades’ goela abaixo dos outros.”

    “Por isso eu acho que ninguém tem que provar nada! Todas as explicações para o que não tem explicação possuem o mesmo valor. Se acreditar que Jesus é o salvador do mundo te faz feliz e te conforta nos momentos ruins, vá em frente! Acredite nisso que você só tem a ganhar. Ou se o seu caso é não acreditar em nada e com isso ter a certeza de que pelo menos não está enganado a si próprio, bacana também!”

    Acho que isso encerra a questão, essas duas colocações de vocês. Sim, é errado forçar uma crença em alguém, justamente pela religiosidade ser, em princípio uma experiência pessoal (que pode ganhar com a comunidade, mas nunca com a obrigação). Mas isso é um problema advindo da dificuldade do ser humano em conviver em harmonia com as diferenças, e não do “crer” em si.

    Assim, deixo aqui uma frase que se encaixa muito bem na questão, e me marcou mutio quando a li pela primeira vez, de modo que até coloquei-a no layout do meu blog.

    “Há verdades triviais e há grandes verdades.
    O oposto de uma verdade trivial é simplesmente falso;
    O oposto de uma grande verdade, também é verdadeiro.”
    – Niels Bohr

    Abraço a todos.

  • henrique

    Biajoni,
    Separei essa parte do seu texto:
    “As grandes metáforas das religiões não podem ser entendidas como realidade e não podem atrapalhar o avanço científico da sociedade; não podem interferir na paz entre países, nem em angústias para as pessoas; não podem restringir o direito de amar – ora vejam! –, nem provocar ódio. As grandes metáforas das religiões deveriam ser poesias para os ouvidos – mas ninguém quer saber de poesia!”

    Creio que o grande problema do excerto acima, é considerar as religiões apenas como fonte dos ódios e das angústias das pessoas, bem como um entrave para o desenvolvimento científico da sociedade. Por um acaso, se amanhã pudessemos acordar em um mundo “religion-free”, estaríamos livres de todos os males descritos acima? O ser humano não precisa de muito para exercer sua pequenez e seus ódios contra seu semelhante. É só pensar no ódio gerado pela xenofobia, pela violência entre torcidas de futebol, entre diferentes tribos (punks X emos X skinheads), na intolerâncias mesmo entre pessoas que teoricamente são parte do mesmo grupo (o preconceito do sul do Brasil contra o nordeste, ou de italianos do norte contra os do sul); na Europa, existem inúmeros exemplos disso, que se traduz inclusive no infindável número de dialetos existentes dentro de um mesmo país, onde os diferentes grupos se hostilizam ou ignoram uns aos outros. Na África, etnias diferentes se odeiam, e frequentemente vão à guerra (hutus e tutsis só pra citar um exemplo recente e conhecido, pra não falar no papel que as guerras entre diferentes etnias teve na escravidão). Ódio e violência acompanham a humanidade desde que surgimos nessa pobre Terra. Isso infelizmente faz parte da natureza humana, tanto quanto o amor, a tolerância e a capacidade de aceitar o diferente o fazem.
    Com tudo isso eu quero dizer que a religião nada tem a ver com fanatismo, intolerância e mais um monte de coisa negativas? Claro que não!
    Só quero dizer que se não existisse religião, exerceríamos o fanatismo e a intolerância de outras formas (nacionalismo, etnia, cultura, esportes…); aliás, nós JÁ os exercemos através dos exemplos descritos acima. Na religião existem grupos fanáticos tanto quanto nas agremiações políticas. “Ah!”, alguém poderia dizer, “mas sem a religião, pelo menos não haveria obstáculos ao desenvolvimento da ciência!” Será mesmo? Pois afirmar isso, seria supor que todos os valores morais (razão básica das brigas entre ciência e fé) repousam nas religiões, o que não é em absoluto verdade, pois se assim fosse os ateus seriam pessoas amorais. E isso não é verdade. Também não acho que o problema seja somente a religião organizada, pois é justamente o fato de termos uma certa hierarquia nas religiões que nos permite confrontar seus seguidores.
    Existem fanáticos que acreditam em cada palavra da Bíblia, do Corão, da Torá ,”ipsis literis”, que distorcem o significado de metáforas e mitos e com isso querem fazer valer sua visão de mundo? Sim, bem como existem corinthianos que espancam são-paulinos (e vice-versa), baseados num amor doentio ao seu clube. Até entre as religiões orientais, que vc aparentemente quer fazer crer são menos opressoras, pois seu objetivo último seria “a busca do bem-estar e da felicidade”, encontramos motivo para a discriminação e a opressão (vide o sistema de castas indiano, ou o papel do budismo dos Lamas na vida do povo do Tibete, por exemplo).
    Se para acabar com essas mazelas precisarmos acabar com suas “fontes” iremos ter de acabar não só com as religiões, mas com os esportes, as nacionalidades, o espectro político, os gostos culturais, as etnias… é, não ia sobrar muita coisa.
    Enfim, o raciocínio religião=atraso=intolerância=violência é pobre e estreito intelectualmente, pois desconsidera o fato de que os humanos usam qualquer coisa para justificar preconceitos e violências que fazem parte intrinsecamente da sua natureza. Isso considerando que as religiões só trazem mal a nós, o que evidentemente não é verdade e muito menos é a principal contribuição da religião ao mundo.
    Abraço

  • Biajoni

    Tuma,

    “Religiosos” são todos aqueles que acreditam em algo sobrenatural que atuou ou atua em nossas vidas. Nesse sentido, “evolucionista que acredita em Deus” é, antes de mais nada, um religioso. Sabemos como alguns cientistas se debatem com a questão: a razão diz que eles devem abandonar a religião, mas o sentimento os impede. Afinal, ter uma religião é também fazer parte de um grupo – e até ter onde ir aos domingos.
    ;>)
    Não apenas deus mas todas as histórias que algum dia já foram escritas sobre a Terra foram inventadas pelo homem – e as histórias são sempre muito parecidas – assim como as divindades também. O inconsciente coletivo do Jung diz que pode ser um certo sentido de orfandade latente na humanidade (já que não sabemos de onde viemos). E aí o homem cria deuses e passa a adorá-los.

  • Matheus Colen

    Pessoal.

    Gostaria de agradecer todos vocês. Ao Biajoni pelo temática, ao Tuma, Daniel e Eneraldo pelo sóbrio e sadio debate. Há tempos não vejo isso na interet! Parabéns galera!

    Abraço!

  • Tumaz

    Então Bia (posso te chamar assim?), mas enquanto isso que você acabou de falar parece perfeitamente natural para você, o oposto é o óbvio para muita gente. Assim, como saber quem está mais certo? Sendo objetivo, observando o Mundo? Mas o que existe nele que possa ser tomado como prova da existência ou não de Deus? Se é uma questão sobrenatural, as leis da natureza não são válidas nesse caso…

    Por isso digo que é uma questão de interpretação da realidade (e, sendo interpretação, é pessoal, subjetivo). Alguém pode ver a evolução como prova de que Deus não criou tudo pronto, como “diz” a Bí­blia. E outro acha perfeitamente natural que a evolução seja uma manifestação da vontade de Deus. Você vê as coincidências entre as religiões como manifestação do inconsciente coletivo, de um sentimento de orfandade latente, como evidência de que o homem criou os deuses. Mas por que não poderia ser que o que o homem criou foram expressões, metáforas justamente, da experiência divina/espiritual? E que as antropomorfizações não sejam projeções de “super-homens” a partir do homem falho, mas sim a maneira que o homem, a mente, o espírito encontrou de entender a experiência divina/espiritual a partir de seu ponto de vista?

    Não digo que seja alguma dessas coisas, mas todas são cabí­veis. Não vejo por que não seriam.

    Abraço.

  • Biajoni

    henrique,

    Eu disse que as metáforas NÃO PODEM etc…, etc… não disse que elas SEMPRE interferem, atrapalham, etc…, etc…

    Por isso, se acordássemos num mundo religion-free como você diz, não estaríamos livre de todos os males, mas bem PODERÍAMOS ESTAR LIVRES de uma boa parte deles. 50%?

    Certamente se acabássemos com os times de futebol profissionais e toda babaquice quen envolve o ATO DE TORCER a humanidade avançaria um passo. Não por acaso, tenho um texto sobre isso: http://www.verbeat.org/blogs/biajoni/2007/12/o-futebol-e-o-c.html

    Todos os outros ódios que você citou tem raíz na ignorância. Isso dá pra consertar com educação.

    O raciocínio religião=atraso=intolerância=violência pode até ser pobre e estreito intelectualmente. Mas quando abro os jornais ou pego os livros de história, vejo que boa parte da violência está ligada à intolerância, fruto do atraso e das maléficas raízes do fanatismo religioso.

    Ah, sim boa parte dos religiosos do bem não é intolerante. É verdade. Mas esse pessoal é quem dá sustentação para que as lideranças cresçam e prosperem fazendo a humanidade caminhar para trás.

  • Eneraldo Carneiro

    Matheus

    Não estou questionando se Campbell é ateu ou não.
    Meu primeiro comentário foi em cima do comentário do Alvaro:
    ” Dado nosso conhecimento, tanto o ateísmo quanto a crença religiosa são questões de FÉ, pois não há entre nós alguém qualificado para provar uma coisa ou outra”, do qual discordei, e discordo, pois não se tratam de duas “doutrinas” equivalentes, fazendo alegações positivas contrárias.
    Dai você disse:
    “Eles não defendem a tese de que não existe uma entidade superior, criadora do todo?”
    Eu entendi o tom de questão e não de afirmação, e respondi negativamente à sua questão, sendo aparteado pelo Tuma, a quem repliquei.
    Veja, essa definição de ateu não é um mero problema semantico, há uma divergencia conceitual aí, e talvez eu consiga esclarece-la melhor se tirar a palavra ‘deus’ da equação. Falemos então de Fadas (ou bicho-papão, saci-perere, cuca, etc.enfim substitua pelo que achar mais inacreditável).
    Pois há muitas pessoas que acreditam em Fadas, na existência delas. Se, contudo, eu alegar que não acredito em Fadas, acho razoavel supor que ninguém me dará um rótulo como “A-fadeu” ou “A-fadista”. Dificilmente alguém dirá que “tanto o a-fadismo quanto a crença fadistica são questões de Fé, pois não se pode provar nem uma coisa nem outra”. É pouquíssimo provável que alguém diga que os a-fadistas “defendem a tese” de que as Fadas não existem, ou que negam a existência das Fadas. É duvidoso que alguém peça a um a-fadeu que prove a inexistência das Fadas.
    Pelo menos para mim, parece evidente que propor que alguém prove que Fadas não existem não faz sentido, primeiro, porque é praticamente impossível provar que alguma coisa qualquer não existe em absoluto (aliás, exceto na Matemática, o conceito de ‘prova’ é inútil, pois taão pouco podemos ‘provar’ sequer a nossa existencia). Segundo porque, a falha em “provar a inexistência” não serve como “prova de existência”. Portanto, também me parece que fica mais claro aqui, que o Ônus da Prova é daquele que afirma positivamente a existência de Fadas, já que afirmações positivas exigem evidências positivas.
    O que eu quero chamar a atenção aqui, é que não é indiferente “acreditar” ou não “acreditar” em alguma coisa, já que nossas “crenças” definem a forma como nos comportamos. Se uma pessoa for levada a acreditar, por exemplo, que tem só algumas semanas de vida, ela certamente se comportará durante essas semanas de modo muito diferente do que se sua morte não fosse tão iminente, ou se ela não soubesse dessa iminência.
    A natureza, o conteúdo e a forma como nossas “crenças” são adquiridas, também não são indiferentes. Pois há sim, alegações que são verdadeiras, e outras que são falsas, e nós possuimos critérios que nos permitem avaliar sua veracidade ou falsidade. Há maneiras e métodos que nos permitem conhecer, ainda que de forma incompleta, e parcial, a Realidade. De outro modo não só não haveria Ciência, como não seriamos capazes de nos orientar no Mundo e agir com o mínimo de eficácia, pois não poderiamos distinguir a realidade da ilusão. Tanto que quando uma pessoa não é capaz de fazer essa distinção, isso é considerado uma patologia. Por exemplo, se um sujeito sai por aí matando pessoas, dizendo fazê-lo sob ordens diretas de Deus (ou das Fadas), nós não chamamos esse cara de ‘profeta’ e nos ajoelhamos a seus pés. Nós chamamos o sujeito de psicopata e o trancafiamos. Há uma razão para fazermos isso.
    Portanto não é verdade que todas as “crenças” sejam baseadas na fé, ou em uma subjetividade, sem lastro objetivo na realidade e portanto equivalentes. Acreditar em Fadas não está no mesmo nível de “acreditar” na existência de Urano (o planeta), ou de “crer” na Lei da Gravidade.
    “…Todas as explicações para o que não tem explicação possuem o mesmo valor…” Se, e somente se essas “explicações” não explicarem nada em absoluto, pois uma explicação só o é de fato quando ela explica, nos faz compreender o antes inexplicado, e o inexplicado deixa de se-lo no momento em que o compreendemos. Por no lugar do inexplicado algo ainda mais inexplicável, e chama-lo de “explicação”, não é um substitudo para a compreensão. É apenas ilusão. Dogma.

  • Vivien

    Bia, toda intolerância amarra o raciocínio, sem dúvida. Crer na Bíblia como algo literal é ingênuo e tolo; lê-la sem conhecer Filosofia, grego e semiótica, por exemplo, é apenas constatar que entendeu as palavras, mas, obviamente, não desvendou os significados metafóricos tão ricos.
    Acho completamente impossível “provar” a existência divina, entretanto ( meus alunos dizem que adoro falar “entretanto”…rs) há que se pensar que o culto a um deus ou deuses esteve/está presente em todas as culturas.
    O que não comprova sua existência, obviamente, mas não pode ser respondido com um dogma: “o homem inventou deus”. Um dogma não pode substituir outro e achar que está sendo reflexivo…rs….Posso pensar ” O homem pode ter inventado deus”…afinal, Nietzsche não detinha a “verdade absoluuuuuta”, certo?
    A “prova” científica me faz pensar em outro pólo de intolerância: no Positivismo, tão em voga no início do século passado. Ao deslocar o olhar e buscar comprovar cientificamente praticamente tudo, os positivistas cairam em um equívoco tão ingênuo quanto os religiosos ortodoxos: partiram do pressuposto que de estavam certos e que a Ciência poderia ratificar ou retificar tudo. A Ciência passa, então, ao status de infalível.
    Um erro tão grotesco quanto o cometido pelos que ela criticou….
    Vale a pena pensar nos marxistas ortodoxos também, como forma que se refletir sobre “verdades absolutas” e o quanto essa concepção se afasta da investigação intelectual.
    No frigir dos ovos, toda intolerância acaba sendo similar. E limitada.

  • Vieira

    Para os teimosos (provavelmente seus dicionários foram escritos por religiosos preconceituosos):

    TEÍSTA é aquele que crê. A + TÉISTA (ateu) é aquele que não crê, ou seja, a ausência da crença, e não a negação. Descrença não é igual a crença na ausência ou negação.

    É negação para vocês que crêem, e seguindo o raciocínio de vocês, nós “negamos” algo que existe (para vocês).

    *

    Nos dicionários daqui de casa têm o seguinte:

    No mini dicionário Luft:

    -a.teu adj. e s.m. 1. Que(m) professa o ateísmo;
    ateísta. 2. (fam.) Que(m) é discrente, irreligioso.
    Fem.: atéia.

    No mini dicionário Aurélio:

    -ateu sm. Que ou aquele que não crê em Deus.

    O que é estranho é que segundo o mesmo dicionário o verbete “ateísmo” “é uma doutrina de negação” como também tem o significado de “irreligião, descrença”

    Agora me veio uma dúvida: atéismo é o que afinal?

    Obs: no verbete “ateu” não há esse conflito.

    *

    No Wikipédia se encontra assim:

    O ateísmo ou ateía (não confundir com atéia, feminino de ateu[1]) em um sentido lato, refere-se à descrença em qualquer deus, deuses ou entidades divinas.

    No Wikicionário:

    a.teu masculino
    que não acredita na existência de deus ou deuses, que não crê, que não tem fé religiosa

    Sinônimos
    ateísta, ímpio, incrédulo

    a.te.ís.mo masculino
    Corrente daqueles que não acreditam na existência de Deus.

    O que tenho certeza é: eu não creio em divindades, mas não nego a possibilidade de existirem, ainda que essa possibilidade seja ínfima para mim.

  • Vieira

    Preconceito: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070825075414AAshmFj

    Se ser ateu é o que ela está afirmando ser, então eu prefiro me chamar de agnóstico ou cético… (lembrando: não creio, mas não nego a possibilidade)

  • Vieira

    Sobre o link acima, nada haver com a reportagem mas gostaria de discutir:

    “Realmente há vários motivos que levam as pessoas a estarem na condição de “ateus”. Só que acho interessante que em momentos difíceis (a maioria deles) lembra que Deus existe…”

    Quem é essa maioria? Ela conhece tantos ateus assim?

    Vejam bem: nada impede de alguém que não crer mudar de idéia, o mesmo ocorre com o outro lado (Dan Baker, ex-pastor e atualmente escritor ateísta, que tem idéias semelhantes a de Richard Dawkins com relação a religião).

    O problema é se apegar a verdades absolutas, e declarar que quem veio para o “seu lado”, veio porque descobriu a “verdade”.

    Correto estão os céticos e agnósticos que tem muito mais a mente aberta, ao contrário dos extremos do crer e do não-crer.

    Percebe-se que a senhora que levantou o tópico no link acima vê a posição de ateu como revolta ou frustação ou porque “ainda não teve a revelação de deus em sua vida.”

    O ser humano se apegou a idéia de deus justamente por isso: medos, frustações, dúvidas e mais dúvidas, e a “descoberta de que deus é real e fascinante, além de nos amar e de se importar pra c*r*lho com a gente”.

    deus não pode ser provado, mas a partir do momento que se prove que não somos os únicos no universo os deuses pessoais dos humanos da Terra tenham o seu fim merecido nos livros de mitologia.

  • Biajoni

    essa parte semântica irrita, não tem nada a ver com as palavras empregadas: é acredita em deus ou não acredita. e ponto.

    Vivien, se para tirar ALGUM PROVEITO da Bíblia temos que ter conhecimento em história antiga, semântica, grego ou qualquer outra coisa, eu digo: não deve compensar! Nietszche perdeu (ou ganhou) boa parte da sua vida pensando sobre isso tudo – e nem digo que ele estava certo, quem sou eu?

    Digo que encarar a Bíblia como um livro de aventuras (como Gilgamesh) e poesia pode ser mais ESTIMULANTE para nossa vida do que encarar como HISTÓRIA e/ou A PALAVRA DE DEUS VIVO.

    Com tantos problemas reais concretos como o aquecimento global (calor infernal, vai dizer?) ou a crise econômica, ficar discutindo religião é discutir o sexo dos anjos.

    Passa aqui nas manhãs de domingo umas senhoras pregando nas portas das casas e eu imagino o quanto melhor elas poderiam fazer se estivessem fazendo piqueniques com seus filhos.

    Simples assim.

  • Henrique

    Achei extremamente pertinente e bem articulado o comentário da Vivien sobre a intolerância e o dogmatismo que contaminam o outro lado do espectro em discussão nesse post. Impossível provar a existência de Deus, tanto quanto é impossível provar sua não-existência. Entender que a ciência não pode tudo, é o primeiro passo para evitarmos o fundamentalismo científico (ou positivista). Além do mais, acho muita pretensão do ser humano, com sua lógica tão limitada, querer decretar que o divino (ou algo além do tempo-espaço contido no Universo conhecido para os que assim preferirem) possa ou não existir. Uma visão filosófica é fundamental, para exercitarmos nosso raciocínio a respeito de questões como a origem da vida e do universo; querer responder a essas questões apenas com a biologia, a astrofísica, a matemática e matérias correlatas, é estreitar o campo do conhecimento. É só pensar na Grécia Clássica: não fosse o papel da filosofia e da metafísica, essa civilização não teria sido tão grandiosa, com profunda influência na humanidade ainda nos dias de hoje.
    Creio que certos setores do pensamento ateu, estão desgraçadamente caminhando para uma dureza e uma intransigência que quase os estão transformando em algo parecido com uma religião (espalhar outdoors com a mensagem “Seja ateu” não é muito diferente das mensagens tipo “Jesus Salva”) .

    • Assis Utsch

      Henrique, O filósofo cristão Dinesh D’Souza num debate com o jornalista ateu Christopher Hitchens disse: “Se eu não creio na existência de unicórnios, eu simplesmente ignoro os unicórnios, não preciso ficar provando a inexistência deles”. A alegação de D’Souza pareceu-me ingênua por duas razões: Primeiro, se Deus existe, por que então seus crentes precisam pregá-Lo 30 horas por dia? Por outro lado, o filósofo se esqueceu de um aspecto que todo bom filósofo precisa conhecer, é o “desejo de reconhecimento” ou a “luta pelo reconhecimento”, presente na consciência de todo indivíduo, em grau maior ou menor. Por exemplo, quando os religiosos nos abordam diariamente não é pelo nosso bem, mas por duas razões principais: uma, eles querem nos impor suas convições, seus valores, seu Deus; outra, eles querem também nossa colaboração pessoal ou financeira.
      Quanto a provar a inexistência de Deus, a melhor prova é a descoberta de que Ele foi inventado. Ele foi criado para nos proteger da morte, dos perigos, das angústias, do sofrimento, etc. Tudo começou lá em nosso passado remotíssimo, quando adquirimos a consciência da finitude da vida. Já a origem da vida, segundo os cosmólogos e biólogos mais prestigiados,só estamos aqui porque o arranjo cosmológico aleatoriamente estabelecido permitiu que na Terra moléculas pré-biológicas se tornassem biológicas.

  • Eneraldo Carneiro

    Henrique

    Não entendi o que você quis dizer com:
    “…acho muita pretensão do ser humano, com sua lógica tão limitada, querer decretar que o divino (ou algo além do tempo-espaço contido no Universo conhecido para os que assim preferirem) possa ou não existir….”
    Honestamente não faz o menor sentido.
    Pretencioso e arrogante, a meu ver, é quem afirma positivamente alguma coisa, sem fornecer qualquer fundamento ou evidência positiva daquela afirmação. Recusar-se a aceitar alegações quaisquer com pouca ou nenhuma base, não é pretensão, é bom senso.
    Nossa “lógica” (também não está muito claro o que você quer dizer com o termo), ou melhor dizendo nossas ferramentas de conhecimento, são limitadas por definição, contudo representam nossos melhores esforços para compreender não só o mundo ao nosso redor, bem como a nós mesmos.
    Eu inverteria um pouco a sua afirmação e diria que é muita pretenção e arrogência, desdenhar dessas ferramentas e esforços sem oferecer alternativa melhor.

  • Vivien

    Bia, qq um pode ler a Biblia e tirar proveito dela, comoé possível tirar proveito da maioria dos textos lidos, entretanto, uma compreensão sistemática desses textos entanto fonte, enquanto metáfora….bom, para se ter essa compreensão é necessário muito mais do que ser alfabetizado.
    Se isso vale a pena ou não, cabe ao leitor definir.
    Para se ler Marx é necessário um conhecimento muito mais aprofundado de filosofia e economia do que o trivial…para uma leitura de fôlego, é necessário esse conhecimento.
    Conheço várias figuras que militam na esquerda e acham que “não é preciso” ter esse arcabouço teórico…rs…mas qq estudioso do marxismo nem vai ouvir isso.
    Quanto às senhoras, acho que vc tendeu um pouco, enfocando esse lado mais ingênuo da religiosidade, mais tolinho. Tb acho perda de tempo, mas eu , particularmente, tenho contato com outro tipo de religiosos ( sejam eles protestantes, católicos ou do candomlé) cuja relação é mais questionadora do que tais senhoras.
    Não me atreveria, no entanto, a dizer como elas deveriam aproveitar “melhor” seu tempo, pois correrria o risco de ouvir o que já ouvi de alguns amigos: que “perco” meu tempo com blogs.;0)
    A Alteridade é um conceito realmente complexo.

  • Henrique

    Eneraldo,

    Podemos provar que Deus não existe? Não. Podemos provar sua existência? Tampouco. Simplesmente quis dizer que nosso conhecimento não dá conta de entender a grandeza do universo e, sendo assim, a idéia de algo que não esteja contido nos limites do Espaço-Tempo (estudado pela astronomia, a física, a matemática e outras ciências) possa ser um princípio criador, e “primeiro motor da criação” não é de todo estapafúrdio, mas para isso, devemos lançar mão de ferramentas como a Filosofia e a metafísica (ou seja, ter a liberdade de conjecturar). Li em alguns comentários (seus, se não me engano), que quem deve provar a existência de Deus é quem diz que ele existe. Isso se chama ônus da prova, e é uma ferramenta do Direito, parte do princípio chamado presunção da inocência, e ele não se aplica exatamente nessa discussão de Deus. Por exemplo, se eu afirmar que determinada partícula subatômica prevista em alguma teoria da física quântica não existe, eu tenho que provar isso, não posso dizer que porque não existe que tem que provar é quem afirma o contrário. Quando eu afirmo que Deus existe, em nenhum momento eu digo que que quem afirma o contrário esteja errado, pois para mim, as duas opções são plausíveis, e fazem sentido. Minha escolha pessoal é a de crer em Deus, pois para mim isso é o que me satisfaz e completa. Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” . Esse discurso é igualzinho ao dos fundamentalistas teístas, e se resume na maldita intolerância para com o pensamento alheio. É o discurso de quem não é capaz de aceitar a idéia e visão de mundo do outro (mesmo que isso se manifeste naquele sentimento interior e secreto de superioridade, como quem diz: “Coitados, tão ignorantes, tentando dar voltas e voltas para sustentar seus argumentos ridículos e absurdos”). No dia que for provado por A+B que não existe Deus, aí será uma verdade universal, e não mais a dos ateus, vamos combinar assim?

    “Eu inverteria um pouco a sua afirmação e diria que é muita pretenção e arrogência, desdenhar dessas ferramentas e esforços sem oferecer alternativa melhor.” Em nenhum momento no meu texto, eu “desdenhei” de alguma coisa, vc colocou essa palavra por sua conta. Leia de novo, eu disse que APENAS contar com “biologia, a astrofísica, a matemática e matérias correlatas, é estreitar o campo do conhecimento”, e que “Uma visão filosófica é fundamental, para exercitarmos nosso raciocínio a respeito de questões como a origem da vida e do universo”. É para isso que somos seres racionais, para pensar com todas as faculdades que possuímos e isso certamente é não se limitar as equações matemáticas. O conhecimento humano não se fez apenas dos Newtons, Einsteins, Galileus e Keplers da vida, mas também por Platãos, Sócrates e Agostinhos, que tinham a sensibilidade daquela parte das ciências que não só as exatas, mas as do livre pensamento e exercício de reflexão.

  • McFly

    Henrique,

    “Por exemplo, se eu afirmar que determinada partícula subatômica prevista em alguma teoria da física quântica não existe, eu tenho que provar isso, não posso dizer que porque não existe que tem que provar é quem afirma o contrário”

    Mais ou menos assim. Todo dia pelo menos 10 físicos teóricos diferentes prevêem a existência de 2, 4, 12 partículas novas diferentes. Os caras que propõem a existência dessas partículas – físicos teóricos, na grande maioria – não realizam os experimentos que verificam as existências das danadículas. Só que, ao mesmo tempo, um modelo desenvolvido por um desses caras só cola, só é validado, quando entre outras coisas, ele acomoda o conteúdo de partículas existente E faz novas previsões, confirmadas positivamente. Do contrário, bola pra frente e pensa-se em outro modelo.

    Esse ponto específico não se encaixa em todo seu argumento porque toda a física se baseia no experimento, verificação, comprovação, falseabilidade. Em direito, por acaso, pode haver assassinato sem corpo e sem arma, etc. etc.? O mesmo acontece com a física (traça o paralelo); a prova é necessária pra corroborar o caso. Obviamente, dizer “mas as árvores existem, mas isso existe, aquilo, aquiloutro” se encaixa na categoria das provas tanto quanto a certidão de nascimento prum assassinato sem corpo, sem arma do crime (enfim, sem vítimas). Isso significa que o assassinato de fato não aconteceu? De forma alguma, apenas que não se provou sua existência.

    Quanto aos Platões, Sócrates e Agostinhos, tenho claro que eles filosofaram mas – ao menos no que diz respeito aos céus – nunca foram cientistas. Conceitos diferentes de ciência, veja só: pra mim matemática não é ciência.

  • Henrique

    McFly,
    Espero que vc não seja amigo de nenhum matemático… 🙂
    Só p/ esclarecer o que quis dizer: me referi à ciência enquanto “conhecimento”, já que é isso o que “Scientia” significa em latim. Assim, a matemática seria a ciência (conhecimento) do raciocínio lógico e abstrato. A Filosofia por sua vez, consiste em pensar sobre o pensamento, em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático, sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), da justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e da conduta de vida a adotar (ética ou teoria dos valores).
    Não confundir isso com o método científico, que exige a comprovação das coisas, para corroborar determinado assunto; o método científico está dentro do grande conceito de ciência, mas não é toda ela (ou seja, falar de ciência não se resume a isso).
    Os cientistas nunca falam em conhecimento absoluto. Diferentemente da prova matemática, uma teoria científica “provada” está sempre aberta à falseabilidade se novas evidências forem apresentadas. Até as teorias mais básicas e fundamentais podem tornar-se imperfeitas se novas observações estiverem inconsistentes a elas. Por favor, não entenda isso como um ataque as teorias científicas (vai que algum criacionista esteja lendo isso aqui…), é apenas uma constatação que o próprio estuda da ciência nos dá.
    E também é bom sempre lembrar que em assuntos de Deus e coisas assim, sempre entra o elemento fé, que não pode ser excuído da questão; tentar enquadrar o divino apenas pela razão científica não dá, pois a crença na divindade tem toda uma questão sentimental, da conforto que a ideia de Deus nos dá, e isso é difícil de mensurar. É como querer falar de música apenas no tocante à teoria, esquecendo que ela também é emoção e sentimento. Dá para tentar convencer alguém que gosta de funk que a música clássica é melhor apenas se valendo do estudo musical? Acho difícil, pois pra álguem que não gosta da música erudita aquilo é apenas um bando de instrumentos chatos, com um cantor(a) se esgoelando em sons ainda mais chatos.
    Desculpa ter me extendido um pouco no comentário,
    abraço

  • Henrique

    quis dizer alguém, e não álguem…

  • Biajoni

    Não morro de amores por Nietszche, mas ele diz que O HOMEM É UMA CORDA ATADA ENTRE O ANIMAL E O ALÉM DO HOMEM: UMA CORDA SOBRE UM ABISMO.

    Esse abismo, vc pode chamar de deus, essa figura que o homem criou e que todos discutem a existência – como discutem a existência de sacis ou pés-grandes.

    Não vai fazer a mínima diferença na sua vida se deus existe ou não. Você tem que acordar todos os dias, trabalhar, fazer suas coisas, estudar, tentar melhorar de vida, etc…, e tudo isso depende de você. Não tem uma mão lá em cima, conduzindo você, ou um olho que tudo vê…

    Quando o homem se tocar que é assim e que somos todos irmãos no sentido natural da palavra e que estamos nessa encrenca do aquecimento global e precisamos fazer algo BEM MAIS PRÁTICO do que rezar ou atirar aviões em prédios talvez possamos dar um passo em direção à PAZ.

    Quem acha que eu estou PREGANDO o ateísmo, está enganado. Cito novamente Campbell para dizer que você não se deve preocupar com a religião. Não tem que entender, nem acreditar em nada do que nenhum líder religioso diz. Você pode ouvir as histórias, tomá-las como exemplo para sua vida, interiorizar mas… deve viver você mesmo a sua vida, a sua experiência.

  • Vieira

    “Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” .”

    O Henrique falou e disse tudo. =]

  • Vieira

    É difícil achar pessoas como o Henrique. Se todos os que crêem e os que não crêem respeitassem a opção dos outros o mundo seria melhor.

    Detestável essa onda crescente de ateus fundamentalistas. Ser ateu ou religioso deveria ser apenas uma opção pessoal, e não algo a impor às outras pessoas como se fosse a “verdade absoluta”. Seria melhor se pessoas como Dawkins se preocupassem apenas com a divulgação da ciência ou coisas do tipo, ou combatendo o preconceito contra os ateus, e aliás ele está a fazer o contrário: faz com que a imagem da pessoa que escolhe não crer em Deus seja a de um babaca, arrogante. Justamente essa imagem que causa o preconceito, e não se deve julgar ninguém antes de conhecer. Respeito é bom e todo mundo gosta.

    Bom saber que existem pessoas tolerantes e respeitosas. O Henrique é o “ônus da prova” disso (hehehe).

    • Assis Utsch

      Vieira, Você no entanto não estranha a onda crescente dos impostores religiosos! Lembre-se de que, conforme já disse acima, o que está atrás do teísmo e do ateísmo é o “desejo de reconhecimento” ou a “luta pelo reconhecimento”. Só que os líderes religiosos estão também atrás de dinheiro. Afinal, “Deus quer que você doe até doer. E depois da doação os doadores ficarão com Deus, enquanto os coletores estarão com o dinheiro.

  • McFly

    Henrique,

    “Espero que vc não seja amigo de nenhum matemático…
    Só p/ esclarecer o que quis dizer: me referi à ciência enquanto “conhecimento”, já que é isso o que “Scientia” significa em latim. Assim, a matemática seria a ciência (conhecimento) do raciocínio lógico e abstrato. A Filosofia por sua vez, consiste em pensar sobre o pensamento, em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático, sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), da justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e da conduta de vida a adotar (ética ou teoria dos valores).
    Não confundir isso com o método científico, que exige a comprovação das coisas, para corroborar determinado assunto; o método científico está dentro do grande conceito de ciência, mas não é toda ela (ou seja, falar de ciência não se resume a isso).”

    Não se trata de confusão. Temos conceitos diferentes de ciência, simples assim. É um problema em aberto, esse. Certamente você pode assumir que todo conhecimento é ciência, mas não preciso me prender a isso. Pode ser que não tenha ficado claro, antes, então reafirmo, aqui: nós conceitos diferentes de ciência.
    Conheci matemáticos que afirmam que matemática não é ciência, ela é uma ferramenta, uma linguagem, tautologia. Conheci geógrafos que afirmam que geografia também não é ciência. Procure por Popper e o problema da demarcação.

    Vieira,
    “e aliás ele está a fazer o contrário: faz com que a imagem da pessoa que escolhe não crer em Deus seja a de um babaca, arrogante.”

    Isso não é exclusividade dos ateus. É?

  • Luciano Bitencourt

    Ateus acreditem, pelo menos uma vez na vida, quem tem fé não acredita, uma vez só que seja na vida, em vocês.

  • Vieira

    McFly,

    Claro que não é exclusividade dos ateus. Eu mesmo sou ateu. Como eu havia dito:

    “Ser ateu ou religioso deveria ser apenas uma opção pessoal, e não algo a impor às outras pessoas como se fosse a “verdade absoluta”.”

    Eu estou “atacando” os fundamentalistas de ambos os lados.

    Luciano Bitencourt,

    “Ateus acreditem, pelo menos uma vez na vida, quem tem fé não acredita, uma vez só que seja na vida, em vocês.”

    ???

    “Ateus acreditem que quem tem fé não acredita em vocês.”

    ou

    “Ateus acreditem em vocês, (porque) quem tem fé não acredita.”

    Sobre a evolução das religiões e os comentários:

    É, provavelmente a prova da existência ou não de deus nunca será encontrada.
    Eu ainda suspeito que a crença em deuses seja apenas um comportamento vestigial (logo deus seria apenas criação humana?), ainda presente graças a fraqueza humana: Sabem quando usam um trecho da bíblia para dizer que num momento de fraqueza o homem se curvará diante de deus? seja lá quem escreveu isso, já compreendia isso (usando esse clichê, os mais fervorosos dizem: “não acredita em/ nega a/ duvida de deus? quando você passar por maus momentos/ estiver morrendo/ sofrer pra burro a primeira coisa que você vai fazer e chamar por ele/ irá se curvar diante do senhor / irá se arrepender diante do senhor!!) Ou ainda graças as grandes dúvidas da humanidade: Quem sou/ De onde vim?/ Para onde vou?/ Porque viver?/ Porque isso? Porque aquilo? E ainda: “Qual a resposta para tudo: deus!”

    Não destrono deuses para pôr a ciência no lugar.

    Como citaram, a ciência é mais um dos muitos instrumentos para achar a explicação das coisas, o problema é que há aquelas pessoas que querem que em pouco tempo de nossa existência exista resposta para tudo, nunca encontraremos resposta para tudo, é um sem número de coisas para fazer, e a maioria das respostas “comprovadas” que temos é temporário, até que se ache algo melhor.

    O sentido da minha vida não está na ciência, mas tenho grande fascinação, na mesma intensidade que tenho pela terra e os seres que o habitam, pelo universo e seus mistérios, pelas pequenas coisas, as simplicidades, peculiaridades e surpresas da vida, pelas artes, e uma sede insaciável pela descoberta e o saber, isso tudo me completa, e assim sou feliz (sem deus, o que é improvável para quem acha que crer é uma necessidade universal).
    Se deus existir ou existiu, suas criações já completam meu existir, desde já dou-lhe congratulações pela fantástica experiência.

    Eu acho que religiões ocidentais deveriam ser apenas filosofias de vida, como acontece com religiões pacíficas do oriente.

    Paz

    • Assis Utsch

      Vieira, você se diz ateu, embora emita conceitos não propriamente adequados ao ateísmo. No Divina Magia – http://www.divinamagia.com.br – estão muitas questões da mesma natureza.

  • Denise

    “Pois qualquer um que não entenda que foi o homem quem criou Deus, talvez não possa discutir coisa alguma de maneira sensível e racional.”

    De onde viemos, porque estamos aqui e para onde vamos?

    • Assis Utsch

      Denise, Mais uma vez: “Só estamos aqui porque o arranjo cosmológico aleatoriamente estabelecido permitiu que na Terra moléculas pré-biológicas se tornassem biológicas”.

  • Luciano Bitencourt

    Amigos da oivitiva metafísico-niilista, estou falando de vocês: http://overjobs.blogspot.com/2009/03/quem-quer-bacalhau.html

  • Eneraldo Carneiro

    Henrique

    “Podemos provar que Deus não existe? Não. Podemos provar sua existência? Tampouco.”
    Isto é uma falácia. Lamento mas não tem um modo mais polido de dizer isto com clareza. Para começar em nenhum momento você define minimamente em quê você acredita, ou o que é que está afirmando. Uma hora fala em “princípio criador”, ou “primeiro motor da criação”, depois fala em Deus. O que é esse “princípio criador”? Qual Deus? O Deus de Abraaão? Mas esse Deus não é só um “princípio criador”, ele é alegadamente: onisciente, onipotente, onipresente, intervem na realidade operando milagres, ouve preces, etc. E os outros deuses? Amon-rá, Osiris, Thor, Odin, Zeus, Apolo, Xangó, Yemanjá? Você pode provar que nenhum deles existe? Claro que não, mas nem por isso, me permito supor, você gasta seu tempo pondo oferendas em encruzilhadas, consulando pais-de-santo, ou sacrficando bois a Zeus, ou a Apolo. Estou errado? Ou você acredita em qualquer coisa, bastando que esta não possa ser desprovada?
    Eu em nenhum momento afirmo que alguma (ou todas) dessas ‘entidades’ não exista, não possa existir, nem nunca tenha existido. Só não creio na existência delas, mais do que creio na existência da Fada Sininho. E quando falo em ‘existência’, estou falando no mesmo sentido em que falo ‘a Lua existe’, ‘meu patinho de borracha existe’, está claro?
    Segundo você o ônus da prova“…é uma ferramenta do Direito, parte do princípio chamado presunção da inocência, e ele não se aplica exatamente nessa discussão de Deus….”, mas aí, lá no fim você aplica o ônus da prova, só que invertido: “No dia que for provado por A+B que não existe Deus, aí será uma verdade universal, e não mais a dos ateus, vamos combinar assim?”
    Bom, ou o ônus da prova é aplicável ou não é, certo? O “õnus da prova pertence a quem acusa”, ou de forma sintética o ônus da prova, é um princípio metodológico aplicável sim além da esfera do Diretio, sempre que houver uma afirmação positiva em jogo. ‘Acusar’ alguém de algo é uma afirmação positiva: se está dizendo que alguém fez algo. Afirmar a existência de alguma coisa qualquer É uma afirmação positiva. Portanto o princípio do ônus da prova, é aplicável, e cabe a quem afirma, cabe a quem faz a alegação de que “algo” existe. Quem afirma a existência (no sentido a que me referi acima) de “algo” é quem tem que primeiro definir esse “algo” e dai prover evidências da existência desse “algo”.
    Veja, quando eu digo “tem que”, não é como se estivéssemos num tribunal da Inquisição em que o infeliz “tem que” confessar. Você não “tem que” fazer coisa alguma que não queira, está claro? Só que eu também não “tenho que” levar a sério nada do que você diz, compreende?
    Seu exemplo da Física é que é inaplicável ao que você defende, pois quando uma candidata a Teoria, ou um conjunto de hipóteses, prevê alguma coisa, como a existência de algo, uma partícula digamos, o que se busca primeiro, é examinar se a candidata a Teoria, e/ou suas hipóteses fazem sentido (senão é descartada de cara), e daí o que se tenta é comprovar empíricamente essa previsão. Se essa comprovação não se realiza, a Teoria é falha nesse ponto, e se esse ponto for central, decisivo, para a validação da Teoria, ela desaba e é descartada. Isso é possível porque as proposições científicas são falsificaveis, isto é, passíveis de serem verificadas, e testadas empiricamente (isso no caso das Ciências Naturais, com exceção da Matemática como bem apontou o MacFly).
    Quando você diz: “nosso conhecimento não dá conta de entender a grandeza do universo e, sendo assim, a idéia de algo que não esteja contido nos limites do Espaço-Tempo (estudado pela astronomia, a física, a matemática e outras ciências) possa ser um princípio criador, e “primeiro motor da criação” não é de todo estapafúrdio, mas para isso, devemos lançar mão de ferramentas como a Filosofia e a metafísica (ou seja, ter a liberdade de conjecturar)…”, eu lamento dizer mas você está sofismando, pura e simplesmente. O que você está fazendo com essas referências um tanto obscuras e indevidas à Filosofia, é definindo para si mesmo por decreto uma confortável “Zona de Segurança Epistemológica”, onde vocâ fica imune aos argumentos racionais e a salvo de ter que dar explicações. O que você parece querer dizer é que há outros meios de conhecimento além do conhecimento científico, e é um desses outros meios de conhecimento que precisa ser empregado para conhecer a Deus, ou o “primeiro motor da criação”, ou o que quer que isso seja, e é aí que entram a Filosofia e a Metafísica. Duvido que os filósofos concordem com a inserção da Filosofia neste contexto, e penso que ela só aparece aqui como um recurso retórico para fornecer alguma legitimidade á sua argumentação.
    “Leia de novo, eu disse que APENAS contar com “biologia, a astrofísica, a matemática e matérias correlatas, é estreitar o campo do conhecimento”, e que “Uma visão filosófica é fundamental, para exercitarmos nosso raciocínio a respeito de questões como a origem da vida e do universo””
    Creio que questões sobre “a origem da vida e do Universo” são questões pertinentes à Ciência, na medida em que dizem respeito ao mundo Real, à Realidade exterior a nós, não vejo porque não o seriam.
    É claro que há questões que nos interessam, e nos dizem respeito enquanto seres humanos, seres de cultura, e que não se referem nem são tratadas pelas Ciências diretamente. Questões relativas à moral, à ética, ou ao sentido da vida. Se é a isso que você se refere com suas alusões à Filosofia, então estamos de acordo nisso, só que isso não tem nada a ver com a existência de Deus até onde eu entendo. E isso não tem nada a ver tampouco com ser mais “amplo” ou menos “limitado”. A Filosofia não é mais “ampla” que as Ciências, nem vice-versa. Essa conceituação não faz sentido. Ela tratam é de problemas diferentes, com escopos diferentes. E a Filosofia não é um mero exercício de “raciocínio” ou de “livre conjectura”. Os filósofos sérios gastam um bocado de tempo definindo as categorias e os conceitos que usam. Eles não conjecturam (conjectura: s.f. Juízo ou opinião com fundamento incerto; suposição, hipótese) simplesmente, não é um exercíco de especulação sem fundamento.
    “Quando eu afirmo que Deus existe, em nenhum momento eu digo que que quem afirma o contrário esteja errado, pois para mim, as duas opções são plausíveis, e fazem sentido”
    Henrique, o que não faz sentido é essa frase, pois ela é contraditória em vários níveis. Primeiro, se algo é afirmado especialmente enquanto ‘existente’, então nós estamos um pouco além do terreno do plausível. Você poderia dizer que ‘é possível’, ‘muito provável’, mas não que ‘é’. Segundo, duas opções contraditórias, portanto mutuamente excludentes, não podem ser ambas corretas simnultaneamente. E trocar “correta” por “plausível, disfarça mas não resolve a contradição.
    “Minha escolha pessoal é a de crer em Deus, pois para mim isso é o que me satisfaz e completa.”
    Longe de mim querer acabar com a satisfação e a completude de quem quer que seja, mas é óbvio que o fato dessa sua “escolha pessoal” ser o que te “satisfaz e completa”, não faz o objeto da sua crença ser mais verdadeiro, real, ou mesmo plausível. Eu posso fazer a “escolha pessoal” de “crer” que sou tão bonito quanto o Brad Pitt, que isso não vai fazer chover mulher na minha horta, nem vai me dar alguma chance com a Angelina Jolie.
    “Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” “
    Você confunde consistencia argumentativa com “certeza”, categoria que não usei em nenhum momento. Eu também não atribuí nenhum adjetivo a “qualquer um que crê”. Eu chamei de pretencioso e arrogante “quem afirma…alguma coisa sem fornecer…fundamento ou evidência dessa afirmação”, em resposta ao seu “…acho muita pretensão do ser humano, com sua lógica tão limitada, querer decretar que o divino….possa ou não existir….”. O que eu mantenho. O estranho é que agora você coloca as coisas em termos de “escolha pessoal” baseada em autosatisfação, o que é um parâmetro inteiramente subjetivo, que no entanto, para você parece estar além, acima, do conhecimento humano, com sua “lógica tão limitada”. Quer dizer que a lógica do ser humano é mais limitada do que a sua subjetividade? Bem, de fato a imaginação não conhece limites, se é isso o que você quer dizer.
    “Esse discurso é igualzinho ao dos fundamentalistas teístas, e se resume na maldita intolerância para com o pensamento alheio. É o discurso de quem não é capaz de aceitar a idéia e visão de mundo do outro”
    Henrique meu caro, você continua confundindo as coisas. Primeiro, o fundamentalismo teista se baseia numa interpretação literal e dogmatica dos textos ditos sagrados, que portanto não se submete à argumentação racional. Eu não me baseio em “certezas” ou “verdades”, eu tenho argumentos, e estou aberto a mudar de opinião na medida em que argumentos consistentes e evidências sólidas mostrem essa necessidade. Segundo, não sei o que você quer dizer com “intolerância”. Ninguém está propondo caçar relisosos a pedradas, como o defendem os textos ‘sagrados’ das 3 maiores religiões do planeta em relação aos ‘hereges’, ‘infieis’, ‘blasfemos’, ‘apóstatas’, e ‘ateus’. E como já o fizeram, e ainda fazem, onde e quando possível, os pios fiéis desses credos. Por fim, eu também não entendo o que seja “aceitar a idéia e visão de mundo do outro”. Eu tenho que aceitar que o outro tenha uma idéia e visão de mundo diferente da minha, o que é muito diferente. Se eu não concordo com uma “idéia e visão de mundo”, porque eu tenho outra, eu não tenho que “aceitar” a primeira sem discussão. Eu tenho o direito de questioná-la tanto quanto o outro de afirma-la. Eu não tenho que aceitar, por exemplo, a idéia e visão de mundo dos nazistas. Porque eu teria?

    []’s

    Eneraldo

  • Eneraldo Carneiro

    Denise

    “De onde viemos,…
    A resposta, até onde sabemos hoje, é meio longa e começa há uns 13 bilhões de anos……….

    porque estamos aqui…
    a. não tenho idéia
    b. nenhuma razão em particular
    c. cabe a nós definir
    d. todas as anteriores

    para onde vamos?”
    a. não tenho idéia
    b. nenhum lugar em especial
    c. cabe a nós definir
    d. depende…
    e. todas as anteriores

    []’s

  • Eneraldo Carneiro

    Vieira

    Defina “fundamentalista”.

  • Daniel

    Denise, apenas um exercício de pentelhice, pra descontrair, não leva a mau :-p

    De onde viemos? — são maiores as chances de sermos poeira de estrela do que pó de barro, metáforas à parte.

    Por que estamos aqui? — acho que você se refere aos seres humanos. até onde se sabe, por um acidente. a propósito, premita a propaganda: http://www.amalgama.blog.br/02/2009/evolucao-nao-e-progressao/

    Para onde vamos? — fico com a opção C do Eneraldo. eu, por exemplo, vou ser cremado.

    Abs. e obrigado pela visita.

  • Daniel

    P.S.: Desculpa, Denise. Vi agora que você já havia acessado e discordado do artigo que linquei.

  • Eneraldo Carneiro

    Para onde vamos?
    Já que ele foi citado, que tal Dawkins (deDeus: um delírio, pág. 16) citando Dawkins (de Unweaving the Rainbow):

    “Nós vamos morrer, e isso nos torna afortunados. A maioria das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai nascer. As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar, mas jamais verão a luz do dia, são mais numerosas que os grãos de areia da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos disso porque o conjunto das pessoas possíveis permitidaspelo nosso DNA excede em muito o conjunto de pessoas reais. Apesar dessas possibilidades assombosas, somos eu e você, com toda a nossa banalidade, que aqui estamos.”

  • Vieira

    Com prazer:

    Usei a palavra “fundamentalista” para definir pessoas com crença irracional e exagerada, uma posição dogmática ou até um certo fanatismo em relação a determinadas opiniões.

    Admito que eu tenha me expressado como tal em algumas partes de meu comentário mas eu tento evitar o máximo ser isso. Se bem que algumas vezes é necessário (ou não).

  • Vieira

    Concordei em dado momento com Henrique por achar que você exagerou um pouco no argumento, ou eu posso ter entendido errado, assim como o Henrique.

    Ah, e não o estou acusando de ser um fundamentalista.

  • Vieira

    Para ser mais claro:

    Concordei com o Henrique neste momento aqui:

    “Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” .”

    No qual eu disse:

    “O Henrique falou e disse tudo. =]”

    Chega a ser desanimador não achar ateus que não aderiram a moda das falácias, os tais argumentos sem sustentação ou absurdos, e ainda o ódio aos religiosos. Eu mesmo acredito que eu tenha sido falacioso diversas vezes. Seria hipocrisia afirmar que eu não concordo com a maioria das idéias de Dawkins ou Harris. Ainda assim, continuo firme em não baixar ao nível de certos crentes.

    Enfim, admiro 99% dos seus argumentos que, creio eu, sejam fortes e certeiros.

    Eu espero que John Lennon esteja certo sobre o fim do cristianismo. =P

  • Vieira

    Eneraldo Carneiro,

    “Só não creio na existência delas, mais do que creio na existência da Fada Sininho.”

    Filosofia Dawkiana (hehehe)

  • Vieira

    Eneraldo Carneiro,

    ” ‘Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” “Você confunde consistencia argumentativa com “certeza”, categoria que não usei em nenhum momento.”

    Realmente, cometi o mesmo erro de interpretação do Henrique. Minhas sinceras desculpas, colega.

  • Vieira

    Eneraldo Carneiro,

    ” ‘Segundo, não sei o que você quer dizer com “intolerância”. Ninguém está propondo caçar relisosos a pedradas, como o defendem os textos ’sagrados’ das 3 maiores religiões do planeta em relação aos ‘hereges’, ‘infieis’, ‘blasfemos’, ‘apóstatas’, e ‘ateus’. E como já o fizeram, e ainda fazem, onde e quando possível, os pios fiéis desses credos.’ ”

    Isso leva a discussão de “quem mata mais” em nome dos seus ideais. Quando se fala da Inquisição ou matanças geradas pela intolerância religiosa, há aqueles que vem argumentar que ateus como Hitler (cristão, como ele mesmo diz no seu livro Minha Luta), Stalin, Mao Tse Tung, Pol Pot, Che Guevara, e outros mataram mais gente num século que todas as religiões juntas desde sua existência.

    1º – Quem é que fez as contagens dos corpos?

    2º – Eles mataram em nome do ateísmo? “Grrr! Eu sou ateu e todos aqueles que tem crenças vão ser fuzilados!! O mundo seria melhor sem religião) Acho mais fácil eles terem feito “genocídios” em nome de suas convicções políticas.

    “Eu tenho que aceitar que o outro tenha uma idéia e visão de mundo diferente da minha, o que é muito diferente. Se eu não concordo com uma “idéia e visão de mundo”, porque eu tenho outra, eu não tenho que “aceitar” a primeira sem discussão. Eu tenho o direito de questioná-la tanto quanto o outro de afirma-la. Eu não tenho que aceitar, por exemplo, a idéia e visão de mundo dos nazistas. Porque eu teria?”

    Certeza, uma coisa é “aceitar a idéia do outro”, outra é “aceitar que outro tenha tal idéia”.

  • Eneraldo Carneiro

    Vieira

    “Para ser mais claro:
    Concordei com o Henrique neste momento aqui:
    “Você está tão apegado a sua certeza e a sua verdade, que p/ vc, qualquer um que crê “desdenha”, é “arrogante”, “pretencioso” .”
    No qual eu disse:
    “O Henrique falou e disse tudo. =]””

    Pois é. Eu já havia visto. Eu também respondi a esse trecho do comentário do Henrique na minha réplica.
    Eu defino fundamentalista de forma um pouco diferente. Acho que talvez dogmático seja um termo mais apropriado para o tipo de atitude a que você se refere. Só que, falando com toda a sinceridade, não acho que seja esse o meu caso, nem o do Dawkins ou do Harris. Não que eu esteja me pondo no mesmo nível que eles.
    Acho que ser firme e incisivo, até duro, numa argumentação, na defesa de uma posição, não é o mesmo que ser irracional ou dogmático. Ser dogmático é quando alguém não admite mudar de opinião mesmo diante de fatos que a contradigam. Isto é alguém que entre a versão e o fato fique com a versão, digamos. É o que os criacionistas fazem, por exemplo.

    “Enfim, admiro 99% dos seus argumentos que, creio eu, sejam fortes e certeiros”
    Ué, o que que tem de errado com o 1% restante??? 😀

    []’s

  • Henrique

    Eneraldo,
    Se dizer que a existência ou não de Deus não pode ser provada é uma falácia, é porque podemos provar. Me diga qual é a prova cabal e definitiva da não existência de Deus. E não vem com esse papo de que quem acredita é que deve provar, pois vc está tão certo de sua convicção, que ou vc tem alguma prova científica, ou vc somente acha que Deus não existe e projeta uma certeza quase cega nisso. Seu texto: “Qual Deus? O Deus de Abraaão? Mas esse Deus não é só um “princípio criador”, ele é alegadamente: onisciente, onipotente, onipresente, intervem na realidade operando milagres, ouve preces, etc. E os outros deuses? Amon-rá, Osiris, Thor, Odin, Zeus, Apolo, Xangó, Yemanjá? Você pode provar que nenhum deles existe? ” Eu não preciso definir em que eu acredito (p/ qual divindade eu rezo, como vc quer) para falar sobre esse assunto, pois oque estamos discutindo é o conceito da existência ou não de Deus, e não o conceito de Deus cristão, judeu, muçulmano budista, xavante, etc. Se vc quiser discutir incongruências e falhas na ação de Deus no mundo, podemos fazê-lo, mas o foco da discussão é a ideia da existência de Deus. Acho que devemos dar um passo de cada vez, se não a coisa perde o rumo. Em nenhum momento falei do Deus , que interfere em nossa vidas e nos faz Por isso falo em primeiro motor (ideia que não é minha, é de Santo Tomás de Aquino), no sentido de que algo ou alguém, conscientemente deu início a matéria e assim tudo foi evoluindo até chegar aqui, onde estamos (cerca de 13 bilhões de anos depois do início de tudo).
    Vc acha que “… o princípio do ônus da prova, é aplicável, e cabe a quem afirma, cabe a quem faz a alegação de que “algo” existe. Quem afirma a existência (no sentido a que me referi acima) de “algo” é quem tem que primeiro definir esse “algo” e dai prover evidências da existência desse “algo”. Vou dar o exemplo do bóson de Higgs, uma particula hipotética que explicaria muitos fenômenos físicos. Ela não foi ainda comprovada (já tem mais de 40 anos), mas, caso seja uma furada, alguma nova teoria terá de ser criada para responder as indagações que ela tenta responder. Ela não foi ainda respondida por não termos o conhecimento e a tecnologia suficientes para isso, mas isso não quer dizer que alguém possa afirmar que ela não existe, e dizer que os defensores da teoria de Higgs “tem o ônus de provar” a mesma, não é nesses termos que os cientista trabalham. Se algum físico teórico achar que o bóson não serve p/ explicar aquilo a que se propõem, ele tem que desenvolver um teoria que responda a todas as indagações, e a comunidade científica terá que avaliar sua veracidade, não adianta ele ficar esperneando que o bóson não existe, se ele não conseguir ocupar o vazio deixado por essa teoria não comprovada com uma que possa ser comprovada. É assim que se faz ciência, Quem afirma que Deus existe, afirma ser ele a origem da matéria. Portanto, se determinarmos que a hipótese de haver um criador está errada, temos que colocar algo no lugar, para responder a questão da origem do universo, e comprová-la, mas, com a tecnologia e o conhecimento atuais, não podemos provar nem a ideia de um criador, nem provar que o universo teve início sozinho, sem participação de algo externo. Nesse ponto, volto a afrimar que quem afirma que Deus não existe, possa estar tão certo quanto quem afirma que não, pois afinal, ainda não há prova definitivas em nehum dos dois lados.
    “Creio que questões sobre “a origem da vida e do Universo” são questões pertinentes à Ciência”. Disse tudo: sua crença, seus valores. Eu acho que a filosofia, a metafísica são sim importantes como forma de pensar, tentando ao menos pensar em respostas para coisas que a Física e a Biologia ainda não podem responder. Diga-me, qual teoria comprovada empiricamente responde a questão sobre o surgimento da primeira molécula de hidrogênio, que é a matéria-prima do universo? Como surgiu? Alguns defendem que a matéria pode ser criada do nada, mas e para provar isso? É quase tão difícil quanto provar a existência de Deus, afinal não é propriedade da matéria (ao menos no ponto atual de nosso conhecimento) gerar-se espontâneamente.
    Quanto ao conceito de ciência, realmente divergimos, pois não são só as ciências naturais que são consideradas como ciência, as ciências humanas também o são (antropologia, sociologia, filosofia são ciências também, ensinadas nas mesmas universidades que formam físicos, atrônomos e biólogos, sabia?) Pelo que entendi,p/ vc são matérias relativas ao campo da cultura e da moral. Não são: SÃO CIÊNCIA!!!
    “Eu também não atribuí nenhum adjetivo a “qualquer um que crê”, “Eu chamei de pretencioso e arrogante “quem afirma…alguma coisa sem fornecer…fundamento ou evidência dessa afirmação” Ué, e isso não é ser crente, meu Deus do céu????? Vc chamou o crente de pretensioso e arrogante, e ao tentar se justificar acabou reafirmando aquilo que disse, não adianta negar.
    “Você confunde consistência argumentativa com “certeza””. Sinceramente não sei aonde está essa consistência de que vc fala, pois vc fala,fala,fala, mas não apresentou um único paper, um único trabalho científico que satisfaça a teoria da origem do Universo sem a presença daquilo que chamamos Deus. Falo origem do Universo, pois origem da vida, inclusive, é diferente de origem do universo, pois o único lugar que sabemos haver vida até agora (a Terra) foi formada a partir de elementos já existentes no Universo, não há nada original em nosso sistema solar, ele é apenas consequência do desenvolvimento do mesmo. Sua “consistência argumentativa”, portanto, está na sua cabeça.
    “Eu não me baseio em “certezas” ou “verdades”, eu tenho argumentos, e estou aberto a mudar de opinião na medida em que argumentos consistentes e evidências sólidas mostrem essa necessidade.” Eu também. Na hora em que a comunidade científica provar, de maneira inconteste que a origem do universo, eu aceitarei, enquanto isso, acho lógico tanto quer em Deus quanto não crer, e isso não é nenhuma atitude sem sentido, como vc quer fazer parecer, é aí que entra a escolha pessoal, de que falei, cada um escolhe viver com a ideia que o agrade mais, até o dia em haverá a explicação convincente e definitiva a respeito da origem de tudo.
    “Por fim, eu também não entendo o que seja “aceitar a idéia e visão de mundo do outro”. “Eu tenho que aceitar que o outro tenha uma idéia e visão de mundo diferente da minha, o que é muito diferente.” Agora quem não entendeu fui eu. Meu querido, releia este seus dois parágrafos. São absolutamente IGUAIS, palavra por palavra, o que me leva à crer que vc concorda comigo que devemos respeitar as ideias e visões do outro, mas acho que você não quis dizer assim na lata essa nossa convergência de opiniões, e se saiu com essa verdadeira pérola argumentativa.
    “Se eu não concordo com uma “idéia e visão de mundo”, porque eu tenho outra, eu não tenho que “aceitar” a primeira sem discussão. Eu tenho o direito de questioná-la tanto quanto o outro de afirma-la. ” Concordo com vc em gênero, número e grau, mas, em que momento eu disse que vc não tem o direito de questioná-las? Tem todo o direito de questionar e de não aceitar, só não acho que por adjetivos depreciativos na pessoa de quem discorda seja respeito; se quiser adjetivar algo com uma conotação negativa, adjetiva a ideia, nunca a pessoa. Esse é o primeiro passo para o diálogo respeito e a troca de ideias franca, mesmo que usemos palavras duras e fortes para defender nosso ponto de vista. Mas isso é só o que eu acho.
    Abraço

    • Assis Utsch

      Henrique, Você jamais vai descobrir que Deus foi inventado. Até porque você está apegado às provas de Thomas de Aquino e de outros – a prova ontológica, a prova cosmológica e a prova físico-teológica – todas desmoralizadas, mas repetidas por força da cultura religiosa. (Ver http://www.divinamagia.com.br )

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  • Sandra

    Muito bom texto, Biajoni! Terminei de ler “O Poder do Mito” ontem e acho que é por aí mesmo. Campbell não invalida as religiões, mas nos leva a nos questionar sobre o que acreditamos.
    Bj.

  • Eneraldo Carneiro

    Henrique

    Você é divertido!
    “oque estamos discutindo é o conceito da existência ou não de Deus…”
    Não. Nós estamos empacados numa questão anterior de método.
    Antes de discutir “o conceito da existência”(sic)(?) do que quer que seja, é preciso definir: existência de quê? O que é esse ‘Deus’ que você diz que existe? Quais são as Suas características? Porque é que não “podemos provar” essa ‘existência’? Por que você não pode</b\\. fornecer evidências dela? O que é que impede? É uma situação muito estranha. Você diz que ‘algo’ existe, mas não nos diz o que é esse ‘algo’, nem nos fornece qualquer pista dele. Decreta que essa ‘existência’ talvez precisemos definir ‘existência’ também?) não pode ser provada(?), e alega que se não pudermos provar que esse ‘algo’, que não sabemos o que é, não existe, então temos que aceitar sua existência! Henrique você daria um bom teólogo!
    Minha menção aos outros deuses, sem esqueçer das fadas, foi apenas para ressaltar o absurdo do seu sofisma. Pois é praticamente impossível provar que alguma coisa qualquer não existe. Ninguém pode provar que Zeus, ou Vishnu, ou Yemanjá, não existem. Ninguém pode provar que a Fadinha do Dente não existe, mas nem por isso alguém em sã consciência alegaria seriamente que, então, porque não se pode provar a inexistência da Fadinha do Dente, então ela
    existe. Por essa sua lógica, então teriamos que aceitar qualquer alegação sobre a existência de alguma coisa, até que se prove o contrário. Não é assim que construimos nosso conhecimento Henrique, ninguém faz
    isso.
    “…falo em primeiro motor (ideia que não é minha, é de Santo Tomás de Aquino[que era católico, btw]), no sentido de que algo ou alguém, conscientemente deu início a matéria e assim tudo foi evoluindo até chegar aqui, onde estamos (cerca de 13 bilhões de anos depois do início de tudo)…”
    Bacana, já é um princípio de definição finalmente, só que tem que ser um pouquinho mais específico. Por exemplo, esse “algo” apenas deu “início a matéria”, e dai foi tratar de outros assuntos, ou ele continua a supervisionar Sua
    “obra”? Não é um detalhe pequeno não, pois a primeira opção exclui não só o Deus abraamico, como quase todos os outros de que já ouvimos falar. Então, além de dizer que “algo ou alguém, conscientemente deu início a matéria” e
    chamar isso de Deus, para que possa mesmo haver discussão você precisa nos dizer mais alguma coisa sobre as características desse “algo ou alguém”.
    Sua insistência em tentar usar a Física, logo a Física, para se eximir do ônus da prova, chega a ser comovente de tão profundamente equivocada. Acontece que, por acaso eu me formei em Física (bacharelado) há já algum tempo. Embora eu tenha me afastado da área desde então, eu aprendi e ainda sei o suficiente para saber quando alguém está falando bobagem.
    Físicos e cientistas em geral não ficam tentando “provar” que “coisas” não existem. Físicos elaboram modelos teóricos capazes de explicar os fenômenos naturais dando-lhes algum nível de previsibilidade. Modelos teóricos são baseados em hipóteses, que precisam ser comprovadas. Então um bom modelo teórico precisa, para ser levado em consideração, ter força explicativa e suas hipóteses tem que ser comprovadas. Mas além disso, um bom modelo vai além, e faz previsões, isto é, refere-se a fenômenos ou entidades que ainda não foram observadas. Daí que quando se verifica o acerto da previsão, o modelo é
    elevado à condição de Teoria. Então está claro que o que os físicos fazem é tentar comprovar as previsões dos modelos e hipóteses. Eles não ficam sentados esperando que alguém prove que eles estão errados, como você parece supor.
    Esse caso do Bóson de Higgs é paradigmático. O chamado Modelo Padrão prevê a existência do boson de Higgs. De fato essa existência é fundamental para o funcionamento e validação do modelo em si. Já existem algumas evidências da existência do Bóson, mas elas não são consideradas conclusivas. Portanto a busca continua. E este é o ponto que contraria totalmente o que você defende. O ônus da prova nesse caso é, evidentemente, dos defensores do Modelo Padrão. Eles precisam encontrar o Boson de Higgs para validar a teoria, e é isso o estão tentando fazer, gastando milhões de dólares e euros no processo. Ninguém está sentado esperando que se prove a não existência do Boson de Higgs, pois se ‘ninguém provar que o Boson de Higgs não existe, então ele existe’. Se algum cientista sugerisse algo do gênero: esperar alguem provar a não existência do Boson, este individuo seria motivo de escarnio na comunidade cientifica, e com justa razão. Os defensores do Modelo Padrão e portanto da existência do Bóson de Higgs tem sim o ônus da prova, o qual eles aceitam, trabalhando para comprovar
    a teoria, comprovando a existência do bóson de Higgs. Não encontrar ou não comprovar a existência do Bóson é um problema real.
    É assim que se faz Ciência de verdade.
    “Eu acho que a filosofia, a metafísica são sim importantes como forma de pensar, tentando ao menos pensar em respostas para coisas que a Física e a Biologia ainda não podem responder. Diga-me, qual teoria comprovada empiricamente responde a questão sobre o surgimento da primeira molécula de hidrogênio, que é a matéria-prima do universo? Como surgiu?…”
    Primeiro, você parece que ainda não entendeu que a Filosofia não substitui a Física ou a Biologia, ela não responde questões que essas ainda não podem responder. Ela responde questões diferentes.Segundo, agora parece que por trás da sua extrema dificuldade em definir o que seja esse ‘Deus’ que ‘existe’, o que se esconde afinal é um ‘Deus das Lacunas’. Desde milênios atrás, até tempos relativamente recentes, esse ‘deus’ se ocultava em erupções vulcanicas, trovões, terremotos, tempestades, etc., enfim, atrás de todos os fenômenos e questões que ainda não podiamos responder. Então que ele se esconda agora nas áreas de fronteira da Ciência, onde se encontram os limites do conhecimento humano, especificamente na Cosmologia, não chega a ser uma novidade. O que é notável é que alguém ainda lhe devote adoração, pois deve ser meio chato adorar alguma coisa que tem que se deslocar o tempo todo para cada vez mais longe, para os confins do conhecimento…
    “vc….não apresentou um único paper, um único trabalho científico que satisfaça a teoria da origem do Universo sem a presença daquilo que chamamos Deus…”
    Henrique, você tampouco apresentou qualquer paper ou teoria, você sequer definiu o que seja esse ‘Deus’. Você apenas decretou que na ausência de uma “teoria comprovada empiricamente” sobre a origem do universo, temos que colocar ‘Deus’, o que quer que isso seja, no lugar e chamar isso de conhecimento. Pois, para isso o que eu te deixo é a resposta que Laplace deu a Napoleão: “Je n’avais pas besoin de cette hypothèse-là” (eu não precisei fazer tal suposição). Acrescentando, à
    uma réplica de Lagrange (“Ah! c’est une belle hypothèse; ça explique beaucoup de choses” (Ah! essa é uma bela suposição; ela explica muitas coisas)): “Cette hypothèse, Sire, explique en effet tout, mais ne permet de prédire rien. En tant que savant, je me dois de vous fournir des travaux permettant des prédictions” (“Esta hipótese, Majestade, realmente explica tudo, mas não permite predizer nada. Como um estudioso, eu devo fornecer a você trabalhos que permitam predições.”)
    “Quanto ao conceito de ciência, realmente divergimos, pois não são só as ciências naturais que são consideradas como ciência, as ciências humanas também o são…”
    Eu não disse o contrário, eu nem me referi às Ciências Humanas em geral, fiz um comentário sobre a Filosofia e suas diferenças em relação às CIências em geral. Meu destaque às Ciências Naturais decorre de que estas e as Ciências Humanas tem diferenças importantes do ponto de vista epistemológico, do que é considerado um dado, uma evidência, do que significa objetividade, do que é verificavel, o que é uma teoria, etc. Os critérios de umas e outras são bem diferentes. As observações que eu fiz com respeito a método científico referenciam-se nas Ciências Naturais, e não são extensíveis necessáriamente às Humanas. Isso é trivial, apenas quis deixar claro para não haver confusão.
    ” “Eu chamei de pretencioso e arrogante “quem afirma…alguma coisa sem fornecer…fundamento ou evidência dessa afirmação” Ué, e isso não é ser crente, meu Deus do céu????? Vc chamou o crente de pretensioso e arrogante, e ao tentar se justificar acabou reafirmando aquilo que disse, não adianta negar…”
    Aqui você tem toda a razão. Se um crente é alguém que afirma sem fornecer fundamento ou evidência da sua afirmação, então ser crente é ser arrogante e pretencioso. Pelo menos em alguma coisa estamos de acordo.
    “Na hora em que a comunidade científica provar, de maneira inconteste que a origem do universo…” você deslocará o seu ‘deus das lacunas’ para o próximo ponto da fronteira do conhecimento e dirá: ‘..na hora em que a
    comunidade científica provar, de maneira inconteste, blá-blá-blá…”, e assim sucessivamente. Há uns 150 anos você provavelmente também diria que ‘…não apresentou um único trabalho científico que prove incontestavelmente que a
    vida na Terra evoluiu lentamente, à partir de formas simples, etc., blá-blá-blá..logo… Deus!’, o que, é claro, sempre ‘explicou tudo’..
    ““Por fim, eu também não entendo o que seja “aceitar a idéia e visão de mundo do outro”. “Eu tenho que aceitar que o outro tenha uma idéia e visão de mundo diferente da minha, o que é muito diferente.” Agora quem não entendeu
    fui eu. Meu querido, releia este seus dois parágrafos. São absolutamente IGUAIS, palavra por palavra,..”

    Henrique meu filho, eu usei exatamente as mesmas palavras de propósito, só mudando-lhes a ordem, o que altera o sentido da frase, para criar um efeito. O Vieira lá em cima entendeu, mas compreendo que você precise de alguma ajuda. Então tento explicar de novo. Eu não tenho que aceitar AS ideias estúpidas do ‘outro’, mas tenho que aceitar que O outro tenha ideias estúpidas.
    “.. o que me leva à crer que vc concorda comigo que devemos respeitar as ideias e visões do outro…”
    Como você não entendeu chegou à conclusão errada. Não eu não respeito AS “idéias e visões do outro” a priori. Ideias e visões existem para serem exibidas, debatidas, questionadas, distorcidas, analisadas, comentadas, vilipendiadas, escarnecidas, comprovadas, refutadas, argumentadas, e eu não sei o que é que “respeito” tem a ver com isto. No que me concerne, eu não preciso e nem quero que “respeitem” minhas ideias e opiniões. Pois acredito que elas devam se sustentar por si sós, pela razão e argumentação. Se elas não se sustentam, então elas não me servem, e devo me livrar delas da forma mais rapida e indolor possivel. Alguem que precisa proteger suas opiniões e ideias sob uma grossa blindagem de “respeito”, deveria ter o pudor de guardá-las para si, penso eu.

    []’s

  • Henrique

    Eneraldo,

    Eu não disse que os defensores de determinada teoria ficam ‘sentados’ esperando que alguém confirme/desminta sua teoria, disse que, quando alguém questiona determinado modelo, tem que apresentar um outro que sirva de explicação, e as duas ou mais teorias irão coexistir até que uma delas seja provada e aceita pela comunidade científica. Portanto, ambos tem que provar aquilo defendem. Usando o exemplo da existência de Deus: Um exemplo de afirmação primordial é: Deus existe. Pegamos um conceito existente, e atribuimos a ele um valor de verdade. Agora, o ônus da prova recai sobre a pessoa que afirmou que Deus existe (nesse ponto, vc está correto). Vamos supor que nesse momento, uma outra pessoa questiona essa afirmação, dizendo que “não há evidências que Deus exista”. A quem cabe o ônus da prova nessa situação? A resposta, o ônus, ainda cabe a pessoa que afirmou a existência da Deus. A segunda pessoa fez uma contra-afirmação.

    O ônus da prova só será transferido para a segunda pessoa a partir do momento em que a primeira afirmação for comprovada (até aqui, seu raciocínio procede). A questão aqui, é que o ônus da prova sempre recai em uma afirmação que faz um juízo de valor a respeito de um conceito (sendo ele verdadeiro ou falso). Uma afirmação que responde a outra afirmação, é apenas um raciocínio derivado dela, e portanto, depende do fato da afirmação primordial ser ou não provada (existência de Deus)

    Uma afirmação que também necessitaria de ônus da prova seria: Deus não existe. É um novo julgamento de valor a respeito do mesmo conceito, logo, deve ser provado assim como o primeiro. É importante relembrar que ainda que essa afirmação não seja provada verdadeira, isso não implica que a outra afirmação necessariamente o é. O ônus da prova continua existindo para ambas (aqui entra o que eu disse em comentários anteriores sobre o conceito de ônus: quem afirma que Deus não existe, tem que provar, pois precisa responder à pergunta sobre a origem das coisas). E se não forem provadas, ambas devem ser desconsideradas como argumentos. Acho que o nó górdio da questão, é que quem afirma que Deus não existe, considera isso contra-argumentação da afirmação de sua existência, e o contrário ocorre para quem afirma que ele existe. Era isso que quis dizer com meu comentário sobre quem não crê, ter também que apresentar comprovação para a teoria de universo sem Deus, mas talvez não tenha ficado claro na hora em que escrevi. No fundo, é uma questão de ponto de vista, sobre quem está fazendo a afirmação, e quem está na contra-argumentação. Nisso, o debate entra em círculos, e a coisa não anda.
    Lembremos que para qualquer religião (alguém me corrija caso haja alguma exceção), Deus não é matéria e, apesar de tê-la criado não é composto de algo que se possa mensurar, ver, ou detectar por qualquer instrumento que seja. Por isso, tentar provar ou não, cientificamente Deus, é algo que não podemos fazer, a não ser que alguma religião afirme ser Deus matéria. Eneraldo, eu não citei nenhum paper sobre a existência de Deus porque isso simplesmente não existe, bem como não há um paper no sentido contrário, assim, toda a certeza que vc destila em suas colocações, no fim, não tem ainda um embasamento definitivo da ciência, ou tem? Minha bronca é com a afirmação de que Deus não existe como se fosse algo certo e cabal, por parte da comunidade científica. Nenhum cientista sério acha que essa seja uma questão que algum dia possa ser respondida (claro que sempre há a exceção, e esses aparecem em reportagens do ‘Fantástico’).
    Quanto a sua afirmação sobre respeito às ideias, creio que ambos temos posições semelhantes, mas não compreendemos o que escrevemos. Primeiro, quando eu disse que devemos respeitar as ideias e visões de mundo do outro, tinha em mente que devemos discordar, podemos questionar tudo aquilo que não aceitamos, mas, o respeito a pessoa que tem essas ideias deve ser sempre, sempre mantido. Vc me replicou dizendo que não tem que aceitar as ideias, mas que tem que aceitar que o outro as tenha. Eu não percebi que vc me compreendeu mal, e fiz minha tréplica, que chegou na sua ‘réplica da tréplica’, mas, se olharmos tudo o que escrevemos com atenção, veremos que os dois respeitam quem pensa diferente. Mas reafirmo que chamar pessoas de idiotas ou questionar a capacidade intelectual de alguém é não ter nível num debate (pra não ter confusão, não estou dizendo que vc fez isso, ok?).
    Por fim, não tenho nenhum medo que minhas ideias sejam questionadas e debatidas, não necessito de uma suposta “blindagem do respeito”, pois se pensasse assim, não estaria até agora trocando pensamentos com vc. Não pode haver debate sem questionamento, sem um ambiente respeitoso para com o diverso, e sem o supremo direito de livremente expressá-las. É como diz a velha máxima de Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. E em uma coisa sempre poderemos concordar: em discordar.
    Abraço

  • McFly

    “Eu não disse que os defensores de determinada teoria ficam ’sentados’ esperando que alguém confirme/desminta sua teoria, disse que, quando alguém questiona determinado modelo, tem que apresentar um outro que sirva de explicação, e as duas ou mais teorias irão coexistir até que uma delas seja provada e aceita pela comunidade científica.”

    Henrique,

    isso não existe na comunidade científica. Ainda usamos a gravitação de Newton, não é? Entretanto ela não permite boas predições sobre o movimento de Mercúrio. Entretanto, e esse é o ponto, os físicos continuaram em busca de outro modelo, outra explicação. Dois modelos podem explicar perfeitamente os mesmos fenômenos; e daí? Os físicos não tem problemas em dizer “eu não sei a resposta. A que mais se aproxima é essa. E ela pode estar errada.”

    Pior: pra explicar a massa das partículas, existem dúzias de mecanismos e modelos diferentes da quebra espontânea de simetria – ou, se preferir, o bóson de Higgs -: tem os modelos technicolor, de dimensões extra, modelos supersimétricos, e modelos com um, dois, 15 bósons de Higgs. E há centenas de físicos tentando verificar a veracidade de cada um destes modelos, direta ou indiretamente.

    Se um modelo científico não é válido, não significa que ele é inútil; vira conhecimento, vira contra-exemplo, vira algo a ser modificado, explorado. Ele pode servir pra umas coisas, e não pra outras (e daí?). O próprio modelo padrão tem problemas outros que não o bóson de Higgs.

    Se alguém demonstra que um modelo não vale pra alguma coisa – a já citada gravitação de Newton, no caso da órbita de Mercúrio – não obriga quem demonstrou o problema a propôr um que o substitua. Ciência não é futebol.

  • Marok

    O problema não é com a existência ou não de Deus, o problema é com os modelos teóricos dos que defendem a existência. As únicas evidências são experiências pessoais “interpretadas” ou afirmações vazias, sem comprovação e nem sequer argumentação.
    Perder tempo com isso é o mesmo que perder tempo com o Papai Noel ou Saci Pererê, embora tenha um número de “adeptos” maior.
    E olha que estamos falando de algo ou alguém muito poderoso (onipotente…), não é qualquer particulazinha não.

  • Henrique

    McFly,

    Eu sei que existem teorias que não respondem plenamente a todas as perguntas, e que nem por isso elas perdem a validade, mas, no ponto onde elas falham, os cientistas irão propor algo que explique determinado fenômeno (o movimento orbital de Mercúrio, que vc citou, por ex), não é mesmo? O todo da lei de Newton sobre a gravitação não foi questionado, mas os cientistas agora tentarão encontrar uma resposta que satisfaça a questão específica sobre os movimentos celestes que não se enquadram na lei da gravitação. Neste caso em particular, ninguém questiona a teoria de Newton, mas um fato concreto observado os obriga a encontra outras respostas para cobrir o que a teoria não responde. Ora, se um cientista questiona uma teoria, se um fato empírico desmente uma teoria, se uma nova descoberta contradiz uma teoria (relatividade, lei da gravidade, qualquer coisa), em todos esses casos os cientistas procurarão dar uma resposta. O caso que vc citou é apenas uma das possibilidades que podem ocorrer (um fato que abre brechas numa teoria, mas nem por isso a invalida); outra possibilidade, é desenvolver uma teoria que complemente outra (“Dois modelos podem explicar perfeitamente os mesmos fenômenos; e daí?”); bem como podem ocorrer casos em que teorias são completamente opostas, e somente uma poderia estar correta. Todos esses casos ocorrem na ciência, só não sabe quem não faz. E gente, usei o Bóson pois foi o primeiro exemplo que me veio à cabeça, mais existem centenas de dezenas de milhares de casos e teorias em todos os campos da ciência que preenchem todas as possibilidades possíveis de desenrolamento de que falamos.
    “Os físicos não tem problemas em dizer “eu não sei a resposta. “. Eu sei que não, mas sempre vão trabalhar para encontrar uma, do contrário, não teriam o que pesquisar, não é?

    “Se alguém demonstra que um modelo não vale pra alguma coisa – a já citada gravitação de Newton, no caso da órbita de Mercúrio – não obriga quem demonstrou o problema a propôr um que o substitua.”
    Ninguém vai obrigá-lo a nada, mas, mesmo que o grupo responsável pela constatação em si não queira achar uma resposta para essa nova pergunta, algum outro grupo tomará essa tarefa para si, pois fazer ciência é basicamente buscar respostas para as coisas.

    Marok,
    Concordo com vc quando diz que criar modelos para provar a existência de deus são uma grande perda de tempo, afinal, quem crê em Deus afirma que ele não é matéria, assim sendo como mensurá-lo ou detectá-lo com algum instrumento? Deus estaria fora de tudo o que entendemos como ser o universo e a matéria que o contém. Nenhum grupo sério gasta seu tempo e seu dinheiro (aliás não conheço nenhuma agência de pesquisa que bancaria com verba uma bobagem dessas) tentando provar esse tipo de coisa. A ciência tem coisas mais urgentes e importantes a pesquisar.

  • Eneraldo Carneiro

    Henrique

    “Uma afirmação que também necessitaria de ônus da prova seria: Deus não existe. É um novo julgamento de valor a respeito do mesmo conceito, logo, deve ser provado assim como o primeiro..”

    Você continua equivocado, pois até mesmo para que ‘Deus não existe’ seja formulada, é necessário que ‘Deus existe’ tenha sido formulada antes. Não faz sentido dizer que ‘Deus não existe’ sem que antes alguém tenha dito que ‘Deus existe’ . Esta é a afirmação primária, primordial, e sobre quem recai o ônus da prova. Só haveria uma inversão legítima do ônus da prova nesse caso, se o formulador da afirmação houvesse fornecido evidências em seu favor. A existência de lacunas e limites no conhecimento humano, não é um evidência de que ‘Deus existe’.
    Continua o problema de definir o que é “Deus” como algo que “existe”.

    “quem crê em Deus afirma que ele não é matéria, assim sendo como mensurá-lo ou detectá-lo com algum instrumento? Deus estaria fora de tudo o que entendemos como ser o universo e a matéria que o contém.”

    Como é possível então falar qualquer coisa sobre ‘Deus’, e mesmo afirmar sua existência? Baseado em quê?

  • Henrique

    Baseado em convicção. Quem crê em Deus, não se baseia em nenhum fato científico para afirmar que ele existe, aliás, quem crê não está nem um pouco preocupado em provar através da ciência que ele existe. Ele escolhe crer por experiência pessoal, que é algo de foro muito íntimo, e só quem busca pensar com a mente um pouco mais aberta consegue isso.
    Vc não está entendendo o conceito de ônus da prova. O ônus da prova sempre recai em uma afirmação que faz um juízo de valor a respeito de um conceito. Dê uma olhada nesse conceito, e vc vai ver que para dizer que algo não existe, não é necessário dizer antes, que isso existe, o conceito de valor da não-existência já é um juízo afirmativo. Quem crê não precisa provar cientificamente para crer, sua fé já basta. Quem quer se apoiar na ciência para se referir à questão de Deus é quem tem o ônus. Eu te pergunto: de onde vem sua certeza de que Deus não existe? Ou é da ciência (aí, mais uma vez, vou pedir os artigos que comprovam isso), ou é por convicção. Gostem ou não os ateus, sem a prova da ciência, afirmam não haver Deus baseados no mesmo princípio dos crentes: convicção. Se me disser que não é convicção, vou querer as provas (alguém se habilita?)
    Recomendo que vc veja uma série chamada ‘Cosmos’, feita pelo famoso e saudoso astrônomo Carl Sagan; é em 13 episódios, e vc pode achar no youtube ou na mininova. Nela, ele faz alguns exercícios muito interessantes sobre a origem do universo (e o papel da religião na busca da resposta a essa questão). Muito bacana.
    Ademais, quero dizer que foi um prazer tecer esses comentários com vc (McFly e outros também), pois tive a oportunidade de questionar muitas coisas sob uma outra ótica (a do ateu), e quando me coloco a pensar da forma do outro, sempre entendo um pouco mais as posições que são diferentes das minhas.
    Abraço!

    • Assis Utsch

      Henrique, Você disse: “só quem busca pensar com a mente um pouco mais aberta consegue isso” – a compreensão de Deus. Pois bem, Henrique, embora tivesse muitas dúvidas desde criança, apesar da criação bem religiosa, depois dos 20 anos, já na Universidade, resolvi abrir a mente – conforme você recomendou – e comecei a ler alguns livros questionadores da fé. Foi justamente aí que meu ateísmo se sedimentou, e não mais saiu, apesar de anos de tentatativa de voltar ao Deus que recebi desde o colo da mãe.

  • Vieira

    Pessoas crêem em Deus porque outras pessoas lhe contaram que esse é quem deu origem a tudo e a todos, e os ama ou o que for.

    Primeiro a pessoa recebe essa idéia primária, depois resta à mesma levar isso adiante como uma verdade ou não, e isso vai se aprofundando durante toda a vida da pessoa.

    “Ele escolhe crer por experiência pessoal”

    Atribui quase tudo ao divino, especialmente coisas que te afetam muito, e depois vem e afirmar que teve experiências pessoais com Ele.

    De fato, é questão de convicção para ambos os lados, mas se a idéia primária que citei acima nunca chegasse a uma pessoa, duvido muito que atribuiria qualquer coisa a Deus. Melhor ainda: talvez fizesse como nos povos primitivos, atribuindo fenômenos à primeira coisa que ver pela frente.

    “e só quem busca pensar com a mente um pouco mais aberta consegue isso.”

    Se abrir a cabeça demais para certas coisas o cérebro cai. E um aleluia para o monstro de espaguete voador e outro para o deus-guerreiro galáctico do mau da cientologia.

    Uma possível prova da não-existência seriam os livros de Joseph Campbell. Se ele estiver correto, deuses e religiões não passam de invenções do ser humano. Me parece muito mais aceitável, e tenho convicção nisso. E outra coisa: se deus existe, quem criou deus? E quem criou o criador de deus? e quem criou o criador do criador de deus? e quem […]

    [ ]s

    • Assis Utsch

      Vieira, Alguns cientistas – o brasileiro Mario Novello, o luso-britânaco Joao Magueijo e outros – estão defendendo a Teoria do Universo Eterno. Sobretudo porque, segundo muitos, o Big Bang como começo de tudo não funciona.

  • Eneraldo Carneiro

    Bom, Henrique, o que você esta dizendo é mais ou menos o seguinte:

    ‘ Eu acredito na Fada Sininho. A Fada Sininho existe. Eu sei disso por convicção pessoal, fé. Quem crê na Fada Sininho não se baseia em nenhum fato científico para afirmar que Ela existe, aliás, quem crê não está nem um pouco preocupado em provar através da ciência que Ela existe. Ele escolhe crer por experiência pessoal, que é algo de foro muito íntimo, e só quem busca pensar com a mente um pouco mais aberta consegue isso. Já quem ousa dizer que a Fada Sininho não existe precisa apresentar todas as evidências e provas científicas, incluindo uma teoria completa e comprovada que explique a origem do Universo sem a Fada Sininho. Do contrário está claro que aqueles que negam a existência da Fada SIninho, o fazem por convicção, da mesma forma que os crentes.’

    E assim você dá a si mesmo uma licença para afirmar qualquer estuitície, sem ter que dar explicações. O Rei está nú, mas quem tem que dar explicações é quem diz que o Rei está nú.
    Sinceramente, falácia pouca é bobagem.
    ‘Experiência pessoal’? Engraçado que quando aparece um cara que mata mulheres porque teve uma ‘experiência pessoal’ em que Deus ordenou que assim o fizesse, nós chamamos esse cara de psicopata e o trancafiamos. Talvez estejamos enganados e devamos “abrir” nossas mentes, e reverenciar pessoas assim como profetas?
    Uma outra coisa que me ocorre é que, se o seu critério é o da ‘experiência pessoal’ não tem o menor sentido, e é inclusive desonesto intelectualmente, demandar ‘provas’ em contrário, já que você jamais as aceitaria em princípio, pois não precisou delas para formar sua ‘convicção’. Se esta foi formada por ‘experiência pessoal’ somente ‘experiência pessoal’ (o que quer que isto queira dizer) poderá muda-la, nenhum fato ou evidência exterior.
    Não é exatamente o que eu chamaria de ‘mente aberta’.

    []’s

  • Marok

    Isso tudo leva à seguinte conclusão: a existência de Deus não é mais válida do que a do Papai Noel. É apenas questão de acreditar ou não.
    Agora, uma coisa que gera muita confusão por parte dos crentes: ateus não crêem na não existência de algo, apenas não crêem na existência. Isso tem uma diferença enorme, embora sempre acabem se confundindo novamente. Entenda que se Deus existir e de uma hora pra outra resolver mostrar isso, não teremos problema nenhum em aceitá-lo. Nossas verdades não são absolutas. Isso é ter mente aberta, o resto é hipocrisia.

  • McFly

    Henrique,

    a comunidade científica, sim, vai procurar respostas quando uma hipótese é refutada. Você, entretanto, tentou fazer outra coisa em seu argumento, criando uma causalidade que, reafirmo – e você admitiu, sem querer admitir – não existe: só porque fulano refuta uma proposta ele (especificamente ele, ou seu grupo) não é obrigado a apresentar uma nova; ele pode fazê-lo, mas não existe obrigatoriedade.

    Em suas palavras, de novo,
    “Eu não disse que os defensores de determinada teoria ficam ’sentados’ esperando que alguém confirme/desminta sua teoria, disse que, quando alguém questiona determinado modelo, tem que apresentar um outro que sirva de explicação, e as duas ou mais teorias irão coexistir até que uma delas seja provada e aceita pela comunidade científica.”

  • Biajoni

    excelentes conclusões, maravilhoso diálogo, há tempos não via tanta gente inteligente e educada na internet discutindo algo sério.
    parabéns a todos.

  • Eneraldo Carneiro

    McFly

    Acho que é um pouco pior. O que o Henrique está fazendo é um jogo de dois pesos e duas medidas.
    Ele se exime de apresentar evidências científicas (ou quaisquer outras) para o que afirma, mas exige a apresentação dessas evidências científicas de quem discorda dele. Ou seja, ele quer que aqueles que discordam dele, se submetam ao rigor de um escrutínio que ele não aceita fazer sobre as próprias alegações.
    Assim é facinho, facinho, acreditar na Fada Sininho.

    []’s

  • Mônica Ribeiro

    Oi, Bia. Tá tudo jóia aí com você e com todo mundo? Espero que sim.

    Olha… Se não estou enganada – já que faz muito tempo e minha memória está cada vez pior (acho que é a idade) -, você me convidou pra escrever no Tiro & Queda quando comentei um texto que dizia “aí você encontrou Deus”. No meu comentário, eu fazia alusão a crianças abandonadas para morrer (ou mortas e depois abandonadas) nas sarjetas da China e dizia: “aí você desencontrou Deus”. Algo assim, pois nem sei se o português da frase tá lá essas coisas.

    Digo isso pra você ter uma idéia de que não estou defendendo divindade nenhuma. Eu sou mais pelo ateísmo com relação a tudo que o homem inventou e chamou de Deus, e pelo agnosticismo com relação à existência, ao universo. Pode até ser que exista um “Oh, Deus!”, mas ele certamente será diferente de tudo o que já pudemos imaginar. Nossos neurônios não dão conta do recado.

    Mas aí você diz: “Certamente se acabássemos com os times de futebol profissionais e toda babaquice que envolve o ATO DE TORCER a humanidade avançaria um passo.”

    Será? Eu acho que futebol é um tema escolhido pelos humanos para o ATO DE TORCER. Mas também são ATOS DE TORCER as listas de “os melhores discos” ou de “os melhores filmes” que você tanto aprecia. Torcer por algo tem a ver com concorrência, tem a ver com se sentir pertencente ao “lado mais bonito da coisa” (ou bem mais adaptado da coisa, se a gente pensar em Darwin).

    Esse é nosso lado bicho humanizado, ou humano animalizado, já que é tudo a mesma coisa, já que a gente é isso tudo ao mesmo tempo, bicho-homem, homem-bicho. A gente pega o canguru – que estufa o peito pra parecer maior que seus coleguinhas e assim ganhar a canguruzinha gostosa – como exemplo. Como temos a tal linguagem, a tal abstração, pegamos os bichinhos como exemplo (mesmo sem perceber). Ou criamos nossas formas de estufar o peito sem precisar dos bichos como exemplos, já que também somos bichos, só que uns bichos meio estranhos.

    E aí inventamos o futebol, a turma dos que gostam do Cinema Novo, a turma dos que gostam do Radiohead (eu queria muito estar nessa turma no dia do show), a turma dos católicos, a dos evangélicos, a dos ateus, a dos que gostam do Lou Reed, né? Não tem como fugir não.

    Você, por exemplo, é da turma dos que odeiam o futebol. Nesse caso, minha turma é outra. Eu sou daquela turma que nem sabe o que é a bola e que muda de canal quando o gramado aparece na TV. Tico e Teco entram em parafuso quando falam em “tiro de meta”, “zagueiro”, essas coisas. Mas ao mesmo tempo sou da turma que, mesmo sem entender nem que é a bola no jogo em questão, ficou encantada com as descrições das pendengas do Garrincha no campo que foram narradas em sua biografia.

    Eu lia e um tanto de coisa não entendia, pois não saco nada de futebol. Mas ficava encantada com aquele jogo de humano-bicho que era narrado no livro. Sabe por quê? Porque, seja religião, seja futebol, seja dominó, jogo de botão, porrinha, pôquer, truco, xadrez, preferência musical, jogo de conquista, concorrência profissional, somos todos torcedores, porque somos todos concorrentes. E isso porque somos todos bicho-gente ou gente-bicho. E Darwin, de quem você parece gostar muito, tem muito a ver com isso (pelo menos na minha específica cabeça de bicho-gente-gente-bicho).

    Aliás, essa minha cabeça animal e humana (melhor dizer animal-humana, pois é mais próximo do que acredito), o Campbell é um dos meus times preferidos, uma das minhas religiões, um dos meus ateísmos ou, pra resumir, uma das minhas torcidas.

    Beijos,

    Mônica.

  • Pingback: Coisas que nem todos sabem sobre Joseph Campbell()

  • John Lima

    “Follow You Bliss” – Joseph Campbell

    Sou um grande fan de Joseph Campbell, li seu livro o Poder do Mitos varias vezes a constantemente assisto seus videos. Foi inspirado no Campbell que eu e uns amigos ciramos o website YuBliss http://www.yubliss.com/user/hub/ que e’ uma rede-social voltada para auto-avaliacao – ajudar as pessoas a encontrarem e seguirem seu bliss.

    Parabens a Biajoni pelo excelente texto e todos voces pelo excelente blog aqui.

  • Barbara Brosch

    O ateísmo é uma questão de fé, ou seja é questão relacionada à fé, à crença. Portanto o ateísmo é a posição daquele q. Não têm fé, Não crê, Não acredita na existência de Deus. Se Deus não existe então não existe dogmas, leis religiosas a serem seguidas. Se Deus não existe, o homem é q. cria, acredita e segue seus próprios desígnios e vontades humanas, não dependendo da vontade de um suposto Ser Superior e Absoluto. Se Deus não existe o homem está livre p/ agir a seu bel prazer não tendo q. temer nenhuma consequência de seus atos. Se Deus não existe… o homem se desejar, tb. estará à vontade para ele mesmo criar um ‘deus’ em conformidade de seus ideais, sonhos e vida.
    Assim é a posição de um ateu, ele está livre, leve e solto no mundo, na vida…mas…tem um PORÉM… o ateu não espera NADA além desta vida, morreu acabou! O ateu não deve esperar por NADA, a não ser q. ele tenha criado com sua razão algum destino tb. ao seu modo e gosto, mas se ele é capaz de criar algo p/ seu ‘depois’ então deveria supor q. tb. é capaz de criar um corpo q. não morre e ele sabe q. isto está além de sua capacidade e sabe por isto q. é um ser limitado e incapaz de estar criando vida…se é incapaz de criar ‘vida’ quem é que a está ‘gerando???”.
    E então se este sujeito julgar q. deve haver ‘Algo’ depois, seja lá o q. for, ele estará admitindo q. esta sua vida q. anima este seu corpo mortal…é imortal! Se um ateu admitir então tal crença…ele já não será mais um ‘ateu’ pq. está desde este instante CRENDO! Se ele então crê, é um crente, portanto TÊM FÉ e não poderá mais ser denominado ateu, ou aquele q. ‘não tem fé’ . Pq.? Pq. só pode existir vida após esta vida se tb. existir a ‘IMORTALIDADE da ALMA” ou entendendo-se ALMA = substância incorpórea e imortal q. anima e vivifica o corpo biológico e mortal…ALMA + substância vivificada por um Espírito Eterno q. é o direto responsável pela sua natureza tb. imortal. Um ateu é aquele q. tb. tem uma Alma imortal vivificada por “Alguém”, só q. este homem q. lhe nega existência mesmo negando, continua tendo alma e portanto vive, com a diferença, q. vive negando q. possa haver quem o faça estar vivo. Aparentemente, não há diferença entre um ateu e um crente, pq. a diferença está ‘invisível’ aos olhos do corpo, q. não enxerga nem a sua própria ‘essência’, seu ‘ser’, sua ‘alma’ muito menos poderá então enxergar ‘Um Espírito Supremo’ doador de vida.
    Portanto meu querido Eneraldo Carneiro, o q. um ATEU têm q. PROVAR é:
    “DEUS NÃO EXISTE!”
    E o q. o crente têm q. provar é:
    “DEUS EXISTE!”
    Então…existe ou não existe?
    O q. dá p/ provar é q. existe VIDA! Desde antes do Big Bang…’alguma coisa’ sempre existiu, pq. nada existe do NADA, o NADA não produz existência, e então “QUEM ou QUE É ISTO QUE SEMPRE EXISTIU?” Não pode de modo nenhum ser ‘QUE É ISTO” pq. a todo Objeto Indireto se supõe um Objeto Direto, portanto o acertado é “QUEM É…?” EURÉKA!!!! Trata -se de uma PESSOA!!!
    Pq. a vida é CAUSA…não efeito! Portanto o Universo, o BIG BANG é o EFEITO da CAUSA PRIMEIRA, ou seja, tudo o q.existiu e existe e existirá é efeito …UAU!!!
    Portanto a esta CAUSA PRIMEIRA, ou seja a este “QUEM”, este “SUJEITO”, podemos se assim se desejar denominar: ” DEUS!”. “O ABSOLUTO!” ou “O MOTOR IMÓVEL!” AQUELE q. se move sem ser movido! AQUELE que gera vida sem ser gerado. Portanto eis aí ‘uma’ das PROVAS de que SIM!!! EXISTE “ALGUÉM”.que a razão e que a inteligência humana pode atestar existência, é simples caro “James’, a começar c/ a admissão da própria ciência q. vida existe e não se é possível ao homem criá-la. Se vier com as experiências de laboratório de fertilização, clone etc, pergunta-se: a ciência é capaz de criar um óvulo vivo? um espermatozóide vivo? ou se preferir, a ciência é capaz de criar um óvulo ou um espermatozóide morto? Não! A ciência se curva com sua racionalidade à certeza de q. existe “Alguém’ q. é responsável por tudo. Mesmo um cientista ateu, se olha a si mesmo e se pergunta: De q. sou feito? Q. é ‘isto’ em mim q. me dá vida? Por acaso sou apenas uma ‘reação química’ q . daqui a pouco explode e puf, e este eu q. sou já era? Mas se sou uma ‘mera reação de elementos químicos’ QUEM me ocasionou a mim mesmo?
    Isto sem contar com fatos inexplicáveis, q. nem adianta falar.
    AH…e falando em fadas, QUEM criou no homem a ‘fantasia’ a ‘imaginação’ ? Creio se quero crer, É VERDADE! Eneraldo, vc. têm toda razão! Tb. sei disso ou seja…creio em Deus, pq. sou eu q. quero acreditar q. ELE existe, é verdade, é questão de opção, de escolha pessoal. Assim como creio em fadas se desejo. Só q. tem estes ‘poréns’ aí encima! Fadas não se baseiam em argumentos científicos (talvez psicológicos), mas DEUS SIM!. A maior ‘prova’ da existência de ‘ALGO” é justamente tudo aquilo q. a ciência ‘não consegue explicar’, é tudo aquilo q. está além da racionalidade humana. Quem nunca experimentou em algum momento da vida alguma ‘coisa’ q. não tem o q. explique o porque, q. explique..: Mas o q. foi q. impediu q.tal acontecesse, ou o contrário …o q. foi q. aconteceu q. fez com q. estas coisas acontecessem? “QUEM” é o autor destas ??????? “QUEM?
    bjs.

    • Affirma

      Cara Barbara

      Inversão do onus da prova é uma coisa muito feia.
      “o q. um ATEU têm q. PROVAR é:
      “DEUS NÃO EXISTE!””

      O deus que você descreve não tem nada de científico. Você é só mais uma crentezinha tentando justificar o mundo e o universo com o seu deus das lacunas.

    • Assis Utsch

      Bárbara Brosch, Como tantos outros, continua investindo na Causa Primeira – fundada na prova Cosmológica e também na Ontológica e Físico-Teológica, todas desmoralizadas. Ademais, ateu não crê em alma, aliás estes conceitos – alma, espírito – nasceram ao tempo do animismo. Era então o tempo em que o homem acreditava que o sonho nosso de cada noite era uma entidade que saía e voltava ao corpo. Surgiu então o animismo, a crença na alma. Depois os cristãos investiram muito nessa crença. Para eles o espírito era o instrumento que garantia nossa eternidade em um céu, ou num inferno. Conforme diz Luc Ferry em Aprender a Viver, os gregos com sua filosofia estoica foram mais modestos, e mais sábios: para eles a eternidade viria pela nossa sobrevivência através de nossos descendentes; ou através de nossos feitos, desde que fossem narrados ao longo da história; e também através da circunstância de que, em qualquer caso, nós somos fragmentos de um Universo Eterno.

  • Marok

    “A maior ‘prova’ da existência de ‘ALGO” é justamente tudo aquilo q. a ciência ‘não consegue explicar’”
    Adorei essa prova de Deus. Na verdade, pode-se trocar a palavra “prova” por “esconderijo”, que fica mais no contexto. Afinal, Deus se esconde em coisas cada vez menores.
    E uma observação: para os ateus, já está provado que Deus (seja lá qual for, sequer existe consenso do que deveria ser) não existe. Não movemos nossas ações para esse fim, assim como não movemos para as tais fadas ou sacis-pererês ou Alás. Quanto aos crentes, apenas escolhem uma das crenças como verdade absoluta e descarta as outras como fantasias imaginárias. Se for analisar sob a sua lógica, o crente é quase um completo ateu também, pois descarta todas as incontáveis crenças, e aceita só uma.

  • Eneraldo Carneiro

    Quando dizemos que ‘A‘lgo existe, isto significa que há uma diferença entre o ‘existir’ e o ‘não existir’. Isto é:
    O estado de coisas ‘X’ (em que ‘A’ existe)
    é diferente do
    estado de coisas ‘Y’ (em que ‘A’ não existe).
    Não provar que ‘A’ não existe, não é a mesma coisa que provar que ‘A’ existe. Logo, cara Barbara, ateus não precisam provar que deus não existe, porque não provar sua inexistência não implica em provar sua existência. Isto não é um jogo que se ganhe por WO. Portanto cabe sim aos crentes, fornecer evidências de que o SEU deus (sim, tem que ser definido de antemão por razões que abordarei adiante) existe, e merece um ‘D’ maiúsculo. É SEU o ônus da prova
    Talvez ajude se limparmos um pouco a área estabelecendo o que não é evidência, no que o seu comentário é bem ilustrativo.
    Para começar, toda a sua peroração sobre ‘alma-que-vivifica-é-vificada-pelo-Espírito-Eterno…’ é nonsense puro. Que apenas demonstra um Raciocínio Circular, aquele em que as premissas são ou fazem parte daquilo que se quer comprovar. Pois coisas como ‘alma imortal’, ‘espirito eterno’ e ‘vida-pós-morte’ são do mesmo tipo que ‘deus’, isto é, elas próprias demandam evidências (independentes) a seu favor, logo não podem ser usadas como prova de que ‘deus’ existe. Aliás, mesmo que existisse algo como ‘alma’ e ‘espiritos’ isso não implica necessáriamente na existência de um deus qualquer.
    Barbara, você que acredita num deus-todo-poderoso, acha realmente que é possível ‘provar’ a existência de algo supostamente tão grandioso, com joguinhos lógicos, de palavras: “..a todo Objeto Indireto se supõe um Objeto Direto..” logo deus existe? Francamente, isso chega a ser constrangedor de tão ingênuo.
    Por outro lado quando você invoca lacunas ou limites do conhecimento, num argumento conhecido como o “Deus das Lacunas” (God of the gaps), misturado com o “Argumento Cosmológico” ou argumento da “Causa Primeira” trata-se de terreno mapeado, clássico. O que não quer dizer que seja menos fragil. Me parece que o primeiro a invocar o “Argumento Cosmológico”, na tradição cristã, foi Tomás de Aquino (eu disse que era clássico). Esse argumento padece de uma contradição interna (eu disse que era frágil), pois parte da premissa de que TUDO tem que ter uma CAUSA, o que leva a uma regressão infinita, a qual é ‘resolvida’ (arbitráriamente) invocando-se uma CAUSA-sem-CAUSA, a qual se chama ‘Deus’. Ora, ou bem TUDO tem CAUSA, ou bem ALGUMAS COISAS não tem CAUSA. Não dá para ter ambos. Mas, além disso, mesmo que essa forma arbitrária de resolver a regressão infinita fosse válida, isto é, mesmo que o “Argumento Cosmológico” fosse defensável, não há razão alguma para chamar essa causa-sem-causa de ‘Deus’. Porque o Universo Natural como um todo não pode ser uma CAUSA-sem-CAUSA? Porque ‘a todo objeto indireto se supõe um objeto direto’? Uma CAUSA-sem-CAUSA não tem que ser necessáriamente sobrenatural, muito pelo contrário, pois se o que queremos é explicar algo extraordinariamente vasto e complexo como o Universo, esta explicação não pode ser algo ainda mais vasto, complexo e portanto inexplicável. Estaríamos trocando uma incógnita por outra ainda maior.
    Por último o “Deus das Lacunas” consegue ser ainda mais frágil que o “Argumento Cosmológico”. Nas suas próprias palavras: “..A maior ‘prova’ da existência de ‘ALGO” é justamente tudo aquilo q. a ciência ‘não consegue explicar’..” Ou seja, atribui-se a ‘deus’ aquilo que não se consegue explicar, como se ‘deus’ fosse uma explicação. Teólogos contemporâneos e apologistas um pouco mais sofisticados (o que é uma contradição em termos, reconheço), evitam usar esse argumento, pela razão evidente de que com o tempo as Ciências vem fechando as velhas lacunas, obrigando o argumento (e ‘deus’ com ele) a migrar para cada vez mais para as franjas, as fronteiras limítrofes do conhecimento. Não é preciso esforço para imaginar, por exemplo, como esse argumento teria sido usado no passado:
    Há 3000 anos – “eu não sei o que causa os raios, logo deve ser um ‘deus’ que os lança do céu”;
    há 1000 anos – “eu não sei o que move os planetas, devem ser anjos que os empurram”;
    há 500 anos – “não sei o que causa as doenças, deve ser o castigo de Deus”;
    há 100 anos – “eu não sei como o UNiverso começou, deve ter sido Deus…”; e assim vai.
    De modo que hoje também não sabemos ainda, por exemplo, como a vida começou na Terra, nem somos ainda capazes de sintetiza-la em laboratório. O que não quer dizer que nunca saberemos, nem que não conseguiremos, tanto um quanto outro. Mas mesmo que essas empreitadas nunca se concluam, disso não deriva a conclusão preguiçosa de que “então foi ‘deus’ que feiz”.
    Por fim, uma pequena observação sobre a identidade desse ‘algo’ ou ‘alguém’, CAUSA-sem-CAUSA. POis, mesmo que houvesse alguma validade em algum desses argumentos falaciosos, mesmo que houvesse um caso aqui, que pudéssemos, por exemplo, engolir o “Argumento Cosmológico” de que existe uma CAUSA PRIMEIRA, que merece ser chamada de ‘Deus’, daí não derivam necessáriamente, nem a Bíblia, Jesus, a Virgem Maria e os Apóstolos, nem Maomé e o Corão for that matter.

    []’s

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  • Leonardo

    Campbell foi uma luz no mundo.
    Humanista e intelectual de primeira.
    Seus livros são minha maior referência no que tange ao estudo das religiões

  • Pingback: Biajoni()

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  • Blog de Um Brasileiro

    Fabuloso o texto. Aliás este blog foi a maior descoberta desde que comecei a escrever o meu blog e partilhar da blogosfera. Parabéns àqueles que tiveram a construtiva iniciativa.
    Um forte abraço

  • Rogério Serra

    .
    A ecologia pode estar assumindo uma identidade mítica global, se é que consegui me expressar bem…
    .

  • Alida C. Mazzoni

    Muito bom o artigo.
    Quanto a discussão entre teísmo e ateísmo, é perda de tempo, deus existe, no pensamento do que crê, e não há quem o convença do contrário, a mesma coisa nós, ateus, ninguém vai nos convencer da existência daquilo em que não cremos, o que interessa é sabermos viver em harmonia, em paz, cuidando do lugar em que vivemos, para podermos aproveitar cada instante de nossas curtas vidas, respirando um ar puro, admirando e usufruindo tudo o que há de belo no Universo. Sabedoria, discernimento, conhecimento, compreensão, tolerância, amor pela natureza, são as ferramentas que precisamos para termos uma vida boa aqui nesse pontinho minúsculo do Universo.
    Um forte abraço

    • Assis Utsch

      Lindo, Seu texto, Alida Mazzoni. Se compreendêssemos que a vida é terrena e única, nós certamente cuidaríamos muito mais de nossa existência. E talvez não ficássemos nos matando por causa de dogmas – religiosos, políticos, ou outros.

  • Assis Utsch

    John Searle

  • Assis Utsch

    Luiz Biajoni,
    Estou com uma grande dívida com você, pois apesar de estar ocupando seu espaço com meus comentários, até o momento não havia lhe cumprimentado pelo seu texto, onde você demonstra ser conhecedor profundo das obras do grande Joseph Campbell. Obrigado, Biajoni, e parabéns.
    Eneraldo Carneiro,
    Bravo rapaz, cumprimento-o também pela erudição, habilidade argumentativa e também por sua cortesia.
    Abraços, Assis Utsch (autor de O Garoto Que Queria Ser Deus)

    • Biajoni

      curioso pelo seu livro, assis.
      obrigado e grande abraço.
      :>)

  • Assis Utsch

    Biajoni,
    Obrigado pela curiosidade sobre o livro – O Garoto Que Queria Ser Deus. Há uma sinopse sobre ele em http://www.ogaroto.com.br – Já que você colheu tantas opiniões sobre essa questão do teísmo e o ateísmo, talvez você se veja provocado a escrever um livro sobre o assunto – o conflito entre crentes e não crentes – tal como ocorre em certo momento de Os Irmãos Karamasov ?

  • Silbrasil

    Gostei mto do que escreveu Josephe : Nenhum adulto hoje se voltaria para o Livro do Gênese com o propósito de saber sobre as origens da Terra, das plantas, dos animais, do homem. Não houve nenhum dilúvio, nenhuma Torre de Babel, nenhum primeiro casal no paraíso, e entre a primeira aparição do homem na Terra e as primeiras construções de cidades, não uma geração (de Adão para Caim), mas milhares delas devem ter vindo a esse mundo e passado a outro. Hoje nos voltamos para a ciência em busca de imagens do passado e da estrutura do mundo. O que os demônios rodopiantes do átomo e as galáxias a que nos aproximam telescópios revelam é uma maravilha que faz com que a Babel da Bíblia pareça uma fantasia do reino imaginário da querida infância de nosso cérebro. EXATAMENTE ISSO.MTO BOM

  • Paulo Alves

    Ser ATEU é rebelar-se contra Deus e seus valores!

    Hoje em dia há uma “rebelião” contra Deus! Nada mais é sagrado. Nada mais é respeitado! Segundo Robert, muitas pessoas escolhem o caminho do ateismo como forma de fugir da responsabilidade moral para seus atos.

    Em vez de admitir que houve um erro, muitas pessoas escolhem viver em seus circulos fechados onde alegam que o ateismo é uma nova forma de viver, onde recebem apoio imoral (isso mesmo, você leu certo) que fortalecem suas convicçoes em seus atos. Este é o motivo porque há mais gangues hoje. Na gangue, o adepto recebe apoio (imoral) e é encorajado a continuar assim. Mas de fato, o ateismo é uma rebelião contra Deus.

    • nill

      Por isso as cadeias estão cheias de ateus.

    • Assis Utsch

      O Drama do Ateu

      O drama do ateu é que ele precisa justificar-se, enquanto o crente está livre para acreditar em suas superstições religiosas, em divindades imaginárias, em demônios inexistentes, em suas bíblias mitológicas, pode acreditar que atrás de nossa consciência existe uma alma ou espírito para nos garantir a eternidade, que supostos milagres podem alterar as leis da natureza, pode acreditar que um Universo existente por suas próprias contingências imanentes teve um Criador, que sem a Divindade não há moral, quando a verdade é que a ética decorre da própria necessidade de se harmonizar a convivência humana.

      (Assis Utsch, autor de O Garoto Que Queria Ser Deus)