Ivan Prado Teixeira (1950-2013)
O Ivan Teixeira que ensinaria na USP e no Texas havia se forjado em sala de aula para não especializados.
Quem assistiu a uma aula de Ivan Teixeira tinha a certeza de estar diante de um professor que, ao mesmo tempo em que exalava conhecimento, conseguia se fazer compreender graças ao seu gestual, à sua retórica e à sua intenção de concluir um raciocínio, ainda que isso nem sempre acontecesse ao mesmo tempo: assim como certos autores gostam de notas de rodapé, Teixeira apreciava longas digressões em seu discurso.
Acima de tudo, no entanto, suas aulas primavam por uma clareza equivalente à do texto escrito, ou seja, o professor conseguia como poucos falar como escrevia – nesse caso, de forma elegante, refinada e inteligível, o que muitas vezes é difícil para um especialista. Transformava, assim, todo leitor em seu aluno.
Falar e escrever de forma clara talvez estivessem associados à própria trajetória de Ivan Prado Teixeira, que foi durante anos professor de cursos pré-vestibulares, antes destes caírem na esparrela das músicas e das estratégias para fazer com que os alunos assimilassem doses cavalares de conteúdo em pouco tempo para as provas – naquela época, o processo seletivo não tinha esse nome. Uma hipótese: o Ivan Teixeira que ensinaria na USP e na Universidade de Austin, no Texas, nas décadas de 1990 e 2000, além de assinar um sem número de ensaios e artigos sobre literatura em publicações como Revista Brasileira, Cult, Folha de S. Paulo, entre outras, havia se forjado anteriormente, em sala de aula para não especializados, tratando de um assunto, a literatura, que sempre foi sua paixão.
Entre as obras, vale a pena destacar Mecenato pombalino e poesia neoclássica, obra que rendeu ao autor o Lasa Book Prize, em 2000, e o prêmio Jabuti no mesmo ano. Na década de 1980, publicou um instrutivo Apresentação de Machado de Assis, abordando questões elementares da obra do escritor brasileiro. E, mais recentemente, O altar e o trono: A dinâmica do poder em O Alienista. Informações dão conta de que preparava uma obra sobre a história da literatura brasileira e seria, com efeito, interessante ler suas observações acerca de autores como Lima Barreto e Antônio Alcântara Machado, nomes subestimados ainda hoje pelo establishment acadêmico.
Na internet, os leitores têm a possibilidade de conferir uma das aulas de Ivan Teixeira. Não está no YouTube, ainda que exista um vídeo ali sobre Romantismo. No final da década de 1990, Teixeira publicou uma série de ensaios cujo título era Fortuna Crítica (que, na dedicatória, faz homenagem a outro mestre: “A Antônio Cândido, o Machado de Assis da crítica literária brasileira”). O objetivo era simples: conceber um panorama sobre as principais correntes da crítica literária e das correntes poéticas. Um texto que merecia estar em livro.
A morte aos 62 anos impediu ao professor Ivan Prado Teixeira de escrever, publicar e ensinar. Os leitores (e alunos) lamentamos.
-
Heloisa Arthur Maciel de Castro Gomes
-
Jose Comessu