Um impeachment neste momento poderia fortalecer e revitalizar o PT
Diante dos inúmeros casos de corrupção envolvendo o governo federal, a ideia do impeachment começa a permear a agenda política e ser cada vez mais levada a sério pela oposição e pela opinião pública. Nas redes sociais começa a crescer o movimento que conclama a população a se manifestar em massa pedindo a saída da presidente da República. No entanto, esta pode não ser a melhor estratégia.
Por volta da eleição de 2006, quando se evidenciou o caso do mensalão, houve um certo clamor que também pedia o impeachment de Lula, porém sem a mesma força com que surge o movimento atualmente. Naquela ocasião, a oposição partidária argumentava que o impeachment poderia comprometer a democracia e que o governo seria facilmente derrotado nas urnas. Os dois argumentos, entretanto, não correspondem à realidade.
O impeachment não é uma “ameaça à democracia”. Ao contrário, é um instrumento legítimo e necessário, que garante que o Estado não fique a mercê de um governo comprovadamente corrupto. Ao mesmo tempo, a experiência histórica e a entranhada lógica político-eleitoral demonstram que em muitos casos as urnas ficam simplesmente indiferentes à corrupção e à improbidade administrativa.
O caso agora é diferente. A última eleição demonstrou que podemos ter eleições acirradas em nossa jovem democracia e que o PT não consegue mais manter o discurso do monopólio da boa intenção. Talvez a votação expressiva da oposição tenha se devido mais ao desgaste do governo do que aos méritos do adversário.
O chamado “presidencialismo de coalizão”, que faz com que o governo tenha que criar alianças muito grandes e fazer muitas concessões para manter a “governabilidade”, começa a demonstrar fraquezas, afinal é impossível atender a todos o tempo todo. Diante disso, os sucessivos erros do governo em relação, principalmente, à política econômica, podem fazê-lo definhar, até que suas justificativas e seu costume de culpar “o outro” passem a não fazer mais sentido diante da opinião pública.
No entanto, um impeachment neste momento poderia fortalecer e revitalizar o PT. Todos sabem que se trata do partido que melhor se articula com a sociedade no Brasil, já que possui interlocução com os movimentos sociais, sindicais, estudantis, tem força entre uma grande parte da intelectualidade e tem uma militância ativa e consistente. Nenhum outro partido consegue ter essa chamada “base social”.
Enganam-se os que pensam que, caso ocorra o impeachment, o PT se transformará em um partido-zumbi. Contando com ampla base no Congresso, o partido pode começar a ser a oposição de sua antiga base aliada, que ocuparia o governo federal, e a atual oposição, que já não é forte, poderá perder o rumo. Além disso, todas as conseqüências da irresponsabilidade do governo nos últimos anos, acabariam por onerar o “novo” governo. Com isso, o discurso para 2018 já viria pronto: alegariam que sofreram um “golpe” e que os golpistas não conseguiram manter as “conquistas sociais” da Era Petista.
Por fim, devemos lembrar que as rupturas políticas e institucionais da República não foram nada lisonjeiras. Sempre encarnando o discurso do “novo” e do “contra tudo que está aí”, diversos regimes e governos mantiveram velhas práticas e velhas oligarquias se alternaram no poder.
Não precisamos somente de um novo governo, mas de uma nova cultura política, de uma reformulação do Estado, de um novo pacto federativo, de uma profunda reforma administrativa, de uma política econômica realmente nova e racional. Isso só pode ser conseguido com um movimento consistente, que construa ao longo de anos, talvez décadas, novas bases sociais pelo país. Não vai ser uma canetada nem muito menos uma romântica “manifestação de massas” que mudará nosso cenário político.
Caio Vioto
Mestre e Doutorando em História pela UNESP.
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