O partido perdeu o rumo

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Nesta sexta-feira o PT comemora 35 anos de fundação sob investigação de ter recebido US$ 200 milhões em propinas. Para quem, como eu, acompanha o partido desde sua origem nos anos 1980, nunca ele esteve tão distante do que chegou a representar para a sociedade.

Não se trata apenas de formar coalizões amplas demais, ou de abrir mão de um programa radical, como costuma-se criticar pela esquerda. Trata-se de desvirtuar e degenerar uma proposta bem sucedida de se fazer política de baixo para cima. Quando me filiei ao PT pela primeira vez, em 1996 (saí do partido em 1998, voltei em 2002 e saí novamente em 2010), impressionavam-me as reuniões em que pessoas simples discutiam um projeto político de país.

A corrupção é o corolário de um processo de burocratização e degeneração do PT. Ela se tornou possível porque os mecanismos de controle democrático do partido se enfraqueceram, especialmente após ter assumido o governo federal. Tem se mantido no poder pelo medo de parte da população de perder as poucas conquistas sociais. Mas mesmo isso o PT já não garante mais, veja a farsa da “pátria educadora”.

Fato é que o PT hoje faz mal à esquerda. A corrupção petista dissemina a percepção de que a esquerda tem uma “corrupção endógena”. Defender o PT de um suposto golpismo só coloca a esquerda como linha auxiliar do petismo degenerado. Nem o discurso de que ” não há outro jeito” cola mais, diante dos primeiros movimentos do Syriza grego. O PT acaba capitalizando um ativo que não é mais dele, mas do movimento social e democrático, instrumentalizado para o projeto de poder do partido.

O dever da esquerda democrática brasileira neste momento é relegar o PT ao lixo da História, e construir uma alternativa. O PSOL não é essa alternativa, pois está engessado nas lutas entre correntes internas. Mas no PSOL e no que restou da Rede estão os elementos que podem impulsionar uma reorganização institucional da esquerda democrática.

Ou isso ou o retrocesso. E o retrocesso se chama PT.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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