Venezuela: o regime não está desmoronando, está evoluindo
Com a popularidade no chão e dificuldades para a eleição que renovará a Assembleia, o regime tenta criar uma nova dinâmica política.
Como fazer a leitura da prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma? Seria o sinal de um governo que está desesperado? Em seus últimos suspiros? Ou seria uma mostra de força, uma exibição de seu poder de fazer o que está fazendo sem medo das consequências?
Não é nada disso. O regime não está desmoronando, mas está fraco. Ao escolher encarcerar Ledezma, ele mostra que está decidido a se adaptar a uma realidade política radicalmente nova, na qual não tem como garantir uma maioria eleitoral.
A matemática, afinal, é simples: com as taxas de aprovação de Maduro lá embaixo, seu partido PSVU não tem a menor chance de ganhar maioria na Assembleia Nacional por meio de algo como uma eleição limpa. O governo precisa, portanto, criar uma nova dinâmica política, onde possa, ou suspender indefinidamente o pleito, ou barrar a oposição de participar das eleições.
Pode ser que estejam planejando uma eleição ao estilo soviético, sem a presença da oposição nas cédulas, ou simplesmente dispensar eleições como um todo. Os detalhes não são assim tão importantes; o que importa é que a era em que o chavismo se submetia a significativa competição eleitoral agora claramente chegou ao fim.
O aprisionamento de líderes políticos de expressão é apenas um dos aspectos por meio dos quais o regime decidiu se adaptar a essa nova realidade: uma estratégia que abunda em conspiranoia e repressão, e carece de tolerância e normalidade democrática.
Nada disso deveria nos surpreender. O chavismo nunca realmente acreditou em eleições – não quando houve qualquer possibilidade de perdê-las. Mario Silva deixou isso claro, lembram?
É tudo muito triste, mas é o jogo que estamos jogando agora. Quanto maior for a convicção deles de que jamais cederão o poder se não for através de um golpe, maior será sua paranoia sobre a perspectiva de um golpe.
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texto do Caracas Chronicles. publicado no Amálgama com permissão do autor.
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