Hillary deve se consolidar. No outro lado, é hora do embate Trump vs Rubio.
Donald Trump venceu na Carolina do Sul, e venceu muito bem, com 10 pontos a mais que o segundo colocado. Hillary Clinton não foi tão bem sucedida, mas garantiu sua maioria de 5 pontos no caucus de Nevada. Isso significa que o favoritismo claro é de ambos? Sim e não. Apesar de os sinais para suas candidaturas terem sido bons, ainda há questionamentos válidos sobre sua resiliência agora que entramos na fase decisiva da campanha (na primeira quinzena de março, metade dos delegados para as convenções nacionais que estão em disputa serão definidos).
Democratas: o caucus de Nevada resgata Hillary Clinton
Nevada é um estado famoso pelos cassinos de Las Vegas e Reno. Recentemente, seus líderes partidários resolveram transformar as primárias do estado em caucus, uma escolha muito estranha. Muitos empregados do setor de entretenimento e hotelaria trabalham no horário das reuniões eleitorais (meio-dia local), o que contribui para a baixa participação no caucus.
Hillary construiu toda sua vantagem ontem em Clark County, condado no qual está localizada a cidade de Las Vegas e lar de 70% dos habitantes de Nevada. Sanders, por sua vez, foi muito bem em Washoe County, segundo condado mais povoado e com Reno em sua jurisdição. A combinação deu a Clinton uma vantagem de pouco mais de 5 pontos (52,7% contra 47,2%) e lhe garantiu provavelmente 20 delegados, contra 15 de Sanders.
A vitória em Nevada não significa grande coisa para Clinton em número de delegados ou mesmo como prova de superação dos problemas de sua candidatura. Segundo as pesquisas antes do caucus, Hillary continua perdendo feio para Sanders entre os mais jovens, e talvez os eleitores hispânicos não tenham apoiado suas propostas tão massivamente quanto o esperado.
Mas os eleitores negros o fizeram. A distância de Hillary para Sanders nesse grupo é de mais de 50 pontos percentuais, e conforme a campanha se encaminha para o sul americano, nas primárias da Carolina do Sul e na Super Tuesday de 1º de março, Clinton tende a obter resultados muito mais sólidos que Sanders, tanto no voto popular quanto no número de delegados. O risco de perder para o senador de Vermont ficou muito menor depois de Nevada e deve diminuir mais nas próximas semanas.
Republicanos: chega a hora do embate Trump vs Rubio
A imprensa está encantada com Donald Trump há oito meses, desde o anúncio de sua candidatura. Inicialmente acharam que era um golpe publicitário, e talvez tenha sido. Mas tudo deu certo, e apesar de inúmeros momentos em que Trump falou ou fez coisas que acabariam com uma candidatura tradicional, seus números cresceram e se estabilizaram como líder nas pesquisas no campo republicano.
Não poderia ser diferente depois de uma vitória por 10 pontos de diferença, em que Trump garantiu os 50 delegados da Carolina do Sul e se tornou, de uma vez por todas, o líder claro e inequívoco de uma campanha cheia de fortes candidatos. O ex-governador da Flórida, Jeb Bush, depois de gastar mais de 100 milhões de dólares e contar com o apoio do sobrenome e do establishment, abandonou ontem a disputa. O bilionário caricatural venceu algo facilmente o candidato provavelmente mais preparado para a presidência.
Donald Trump é a notícia e é justo que assim seja. Seu favoritismo para a nomeação também foi estabelecido por suas vitórias, e é aí que mora o perigo da aposta, pois as vitórias de Trump se deram em cenários de alta divisão dos votos por muitos candidatos. Conforme candidatos foram desistindo, Trump não ganhou mais apoiadores e parece ter um teto de um terço ou pouco mais de um terço dos eleitores. É suficiente para vencer cinco a dez oponentes, mas e se forem apenas três? Ou dois? Ou um?
E é a saída de Jeb Bush que torna inevitável a sagração de Marco Rubio como o candidato do establishment republicano. Rubio obteve um resultado muito bom, ficando em segundo lugar com distância pequena para Ted Cruz, que esperava muito mais de sua força entre eleitores conservadores e evangélicos. A estratégia inicial de Rubio foi chamada de “3-2-1”: ficar em terceiro em Iowa, em segundo em New Hampshire e então, após a desistência da maioria dos rivais, vencer a Carolina do Sul.
O mau desempenho no debate de New Hampshire pode ter custado a estratégia toda e atrasado a saída de Bush e Kasich, mas uma nova estratégia, que podemos chamar “3-5-2”, deu os frutos necessários. O ponto de interrogação colocado sobre a campanha de Cruz, que depende de ótimos desempenhos nos estados sulistas e falhou em obtê-los na Carolina do Sul, ajuda Rubio; a desistência de Bush e a falta de força da candidatura Kasich ajudam Rubio.
O grande problema do senador da Flórida é que a luta direta contra Trump é imprevisível. Estará Rubio pronto a derrotar Trump tanto retórica quanto eleitoralmente? Jeb Bush e Ben Carson pareciam ameaças a Trump e foram abatidos parcialmente pela capacidade do bilionário de comandar os ciclos de mídia e destruir a respeitabilidade de seus adversários. O truque funcionará novamente com Rubio, agora que está claro para todos quem é o maior oponente de Donald? E como será o debate no dia 25/02, em Houston?
O caucus de Nevada na terça-feira provavelmente não trará respostas definitivas a essas questões. O que parece certo é que a nomeação republicana está cada vez mais nas mãos de Trump ou Rubio, enquanto a nomeação democrata está ficando mais próxima de Hillary. Até a Super Tuesday, a conversa será nesses termos.
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publicado no The 58th Presidency