Jairo Nicolau oferece um guia didático sobre o sistema político brasileiro, derrubando mitos como o expresso neste título.
“Se 50% dos eleitores votarem nulo, teremos novas eleições”. “Os deputados não nos representam”. “Se tirarem o Temer, quem assume é o Tiririca”. Essas frases, típicas da ciência política de grupo de WhatsApp, são repetidas à exaustão por uma sociedade que desconhece os meandros do sistema político brasileiro. Nosso sistema é complexo, e gera representatividades distorcidas, mas o maior problema dele é que a sociedade desconhece como ele funciona.
O cientista político Jairo Nicolau, egresso do IUPERJ e professor da UFRJ, procurou oferecer uma espécie de guia do nosso complexo emaranhado institucional em seu livro Representantes de quem?. Focando especialmente no legislativo, o livro é apresentado como uma reação ao show de horrores que foi a votação do impeachment na Câmara dos Deputados em 16 de abril de 2016. Diante do mal estar da opinião pública, o autor diz ter escrito “pensando nas pessoas que querem saber mais sobre as regras eleitorais, os partidos e o comportamento dos deputados no Brasil, mas não estão interessados nos debates internos da corporação de estudiosos”.
De certa forma, Nicolau focou naquilo que estudou toda sua vida: partidos políticos e comportamento eleitoral. Com escopo fortemente didático, neste texto ele se concentra em explicar o processo legal, amparado em estatísticas que mostram como ele desemboca no Congresso que temos. Mas não há – e não foi por falta de procurar – direcionamento político ideológico em sua análise. Por exemplo, ao analisar as alternativas para eleições no legislativo, não há um viés a favor deste ou daquele modelo.
Há, isso sim, um direcionamento meio tecnicista. Ao apontar os problemas do nosso sistema, ele os faz com base na análise das distorções estatísticas. Se a fragmentação partidária é vista como um problema, é porque estatisticamente temos a maior fragmentação do mundo. As coligações são criticadas porque os partidos mais votados acabam elegendo uma bancada desproporcional ao seu peso eleitoral. Se é este o problema, ele merece no máximo um “e daí?”. Mas, se ele afeta algo realmente importante da nossa experiência democrática, isso precisa ser dito – e não é.
Mas isso é um detalhe. Na média, o livro tem méritos – não ser um manifesto em favor de uma narrativa talvez seja o maior deles, considerando os tempos em que vivemos. Eu diria que é um texto recomendável para ser utilizado como paradidático no Ensino Médio, ou mesmo para grupos de discussão nos WhatsApp da vida. Aliás, isso seria interessante: discutir um livro em grupos de WhatsApp, ao invés de repassar boato estúpido. Fica aqui a minha sugestão.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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