PESQUISA

AUTORES

  • Augusto Gaidukas
  • Bruna Frascolla
  • Carlos Orsi
  • Emmanuel Santiago
  • Fabrício de Moraes
  • Gustavo Melo Czekster
  • Lucas Baqueiro
  • Lúcio Carvalho
  • Luiz Ramiro
  • Martim Vasques da Cunha
  • Norival Silva Júnior
  • Paulo Roberto Silva
  • Pedro Almendra
  • Renata Ramos
  • Renata Nagamine
  • Rodrigo Cássio
  • Rodrigo de Lemos
  • Rodrigo Duarte Garcia
  • Sérgio Tavares
  • Sérgio Tavares
  • Tomás Adam
  • Wagner Schadeck

A retórica de Trump sobre a Rússia sacrifica os EUA

por Amálgama Traduções (08/02/2017)

Por que Trump insiste em tão absurda equivalência moral?

Jonah Goldberg, National Review
trad. Daniel Lopes

Mais uma vez, o presidente Trump saiu em defesa do presidente russo Vladimir Putin, sacrificando os Estados Unidos.

Em uma entrevista com Bill O’Reilly, da Fox News, divulgada no domingo do Super Bowl, pediu-se a Trump para explicar seu respeito por Putin.

“Ele é o líder de seu país”, disse Trump, adicionando a fala padrão de desejar ter boas relações e ajuda no combate ao Estado Islâmico.

O’Reilly interveio, “Putin é um assassino”. E um Trump irritado respondeu, “Existem muitos assassinos. Nós temos um bocado de assassinos. Você acha que nosso país é tão inocente assim?”

Isso não foi uma gafe. Uma conversa parecida ocorreu entre Trump e Joe Scarborough, da MSNBC, em dezembro de 2015. Scarborough perguntou sobre o relacionamento afetuoso de Trump com Putin, e Trump respondeu, “Quando alguém diz que você é brilhante, é sempre bom. Especialmente quando esse alguém chefia a Rússia.”

Putin “assassina jornalistas, opositores políticos e invade países”, Scarborough objetou. “Isso obviamente é uma preocupação, não?”

“Ele está no comando de seu país, e pelo menos é um líder, sabe, ao contrário do que temos neste país”, disse Trump, se referindo ao então presidente Obama.

“Mas, novamente, ele assassina jornalistas que não concordam com ele”, Scarborough protestou.

“Bem, eu acho que nosso país também comete um bocado de assassinato, Joe”, disse Trump.

Em julho, Trump disse algo parecido em resposta a perguntas do New York Times sobre as repressões sangrentas e prisões em massa do turco Recep Tayyip Erdogan. “Quando o mundo vê como os Estados Unidos estão mal, e mesmo assim ficamos falando de liberdades civis, não acho que sejamos um bom mensageiro.”

Espera-se ouvir esse tipo de lógica vinda de um quarto cheio de marxistas. E se Obama tivesse sugerido o mesmo, conservadores teriam saído para o ataque. É claro que os Estados Unidos não são livres de pecado. Mas, eticamente falando, os Estados Unidos têm superado a Rússia – inclusive a Rússia de Putin.

Por que Trump insiste em tão absurda equivalência moral?

Deixando de lado a teoria esquerdista do Candidato Manchuriano, há uma possibilidade perturbadora: Trump não reconhece a diferença entre o sistema de governo americano e aqueles de Rússia ou Turquia.

Outra possibilidade: Trump acha que não existe nada demais com comportamentos autocráticos. No verão de 2015, Trump explicou a uma audiência do Tea Party que ele não gosta de falar de “excepcionalismo americano” em parte porque acha o tema um “insulto” a outros países, mas também porque os encoraja a “comer nossa comida”. Como Stephen Wertheim colocou na revista Foreign Affairs, “Trump rejeita o excepcionalismo americano principalmente porque acha que ele paralisa os Estados Unidos: faz com que o país não jogue para ganhar.”

Mas concedamos a Trump o benefício da dúvida e suponhamos que tudo o que ele realmente quer é reparar as relações com a Rússia.

Ora, nesse caso ele tem que encontrar um novo jeito de falar sobre, e defender, sua política.

O incrível é que existem várias maneiras pelas quais Trump poderia repudiar as críticas à Rússia, sem anular os Estados Unidos ou comprometer seu aparente desejo por uma reaproximação.

Ele poderia dizer, por exemplo, “Veja, durante a Segunda Guerra nós nos aliamos com Stalin, que fez coisas muito piores do que acusam Putin.” Ele poderia citar a tese de George W. Bush sobre a guerra ao terror, “com a gente ou contra a gente”, e dizer que prefere ter a Rússia do nosso lado. Ele poderia mesmo observar que Obama e muito de seus apoiadores intelectuais clamavam por mais “realismo” em política externa, aceitando o mundo como ele é, etc.

É dever do presidente ajudar a moldar a retórica pública, porque a maneira como falamos de nossos ideais determina se os sustentaremos ou os corroeremos. Ora, como o falecido crítico literário Wayne Booth colocou, retórica é “a arte de sondar o que os homens acreditam que devam acreditar”. Pelo que ouvimos de Trump, os americanos deveriam acreditar em uma série de coisas desalentadoras: que nossas instituições públicas não são de confiança; que apenas ele pode consertar nossos problemas; que, na ausência dele, nossos melhores dias ficaram para trás; e, mais preocupante, que os ideais americanos têm sido parte do problema, não da solução.

Não me importo que Trump ache que estamos aquém dos nossos ideais – é claro que estamos, por isso os chamamos de ideais. O que me incomoda é que frequentemente ele soa como se tivesse desprezo por esses ideais.

Amálgama Traduções

Além de textos exclusivos, também publicamos artigos traduzidos.