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A contra-ofensiva de Kadafi

por Daniel Lopes (02/03/2011)

Se o ditador for bem-sucedido, os outros tiranos da região o imitarão

-- Kadafi discursando hoje em Trípoli --

por Daniel Lopes

Começou pra valer hoje. Parece cada vez mais difícil que o ditador seja derrubado apenas pelas mãos dos rebeldes líbios. As cidades de Gharyan e Sabratha, que estavam sob controle da oposição, foram retomadas pelo governo, que também luta para retomar Brega, 200 km ao sudoeste de Benghazi, a maior fortaleza dos manifestantes.

Kadafi falou hoje a partidários. Disse que há uma “verdadeira democracia” em seu país e que o sistema líbio “não é compreendido pelo mundo”. Enquanto isso, continua usando ataques aéreos contra civis. Um jornalista do Guardian que está em Brega informou via Twitter que “Large smoke plume billows from rebel position just bombed by ghaddafi jet.

Ontem, o primeiro-ministro britânico David Cameron, sugeriu a imposição de no-fly zones na Líbia, além do envio de armamentos aos rebeldes, mas Sarkozy e Obama ficaram com dois pés atrás. Será que chegaremos à situação dos anos 90, em que a Grã-Bretanha foi a principal responsável pela insistência na derrubada do carniceiro Milošević?

Líderes oposicionistas em Benghazi aparentemente não querem intervenção dos EUA ou da OTAN, mas pedem que a ONU bombardeie forças de Kadafi. No entanto, Rússia e China bloquearão qualquer resolução nesse sentido no Conselho de Segurança. A propósito: uma organização que fiscaliza a movimentação de armas informou que no dia 15 de fevereiro, pouco antes do embargo de armas da ONU a Kadafi, ele recebeu um avião carregado de equipamento militar vindo da Bielorrússia. Agora, quem acha que a Bielorrússia paga um gari sem a autorização da Rússia, levanta o braço.

E a Liga Árabe? A Liga Árabe rechaçou quaisquer planos de intervenção estrangeira na Líbia. Mas o que ela se propõe fazer além disso, para parar a matança? Ela mesmo montará uma força conjunta para apressar a derrubada do ditador? Improvável. Ela conseguirá convencer Kadafi a abandonar o poder e ajudará na transição para a democracia? Quem dera.

A Líbia não é o Egito, cujas forças armadas foram apoiadas por décadas pelos EUA, relação que provavelmente foi fundamental para que em 2011 não se derramasse sangue em proporções líbias no Egito. O exército líbio já não era da confiança sequer do próprio Kadafi, que já há algum tempo confia mais em mercenários do que nas forças regulares.

Uma coisa é clara: Kadafi não pode ter sucesso. Se começar a retomar cidades por cima de cadáveres, terá que ser derrubado por algum país ou organização; não é possível que se ache uma intervenção para liquidar bandos de mercenários que só são corajosos contra civis a pior coisa do mundo. Se Kadafi for bem-sucedido e a comunidade internacional simplesmente disser amém, estará dado o roteiro do sucesso para os outros tiranos da região permanecerem em seus tronos.

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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