Um pouco tarde, a esquerda brasileira percebeu que precisa se reinventar

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No Day After das manifestações do final de semana, em meio às várias tentativas de desqualificação do movimento que levou milhões de pessoas às ruas contra o PT, havia na esquerda sinais de ressaca de um modelo de atuação política que marcou a esquerda nos últimos 30 anos. Um artigo choroso de Eliane Brum e duas mesas redondas para discutir o futuro da esquerda, uma na USP esta sexta e outra na Unicamp em 9 de abril, buscam processar um tapa na cara histórico tomado no último dia 15 de março.

O processo mais recente de reinvenção da esquerda brasileira remonta aos anos 1970 e 1980, quando, após a fragmentação do PCB e o fracasso da luta armada, há uma profunda revisão estratégica que leva à formação da CUT e do PT. Desde então, a atuação política de qualquer movimento de esquerda está baseada no pilar eleição-sindicato-movimento estudantil. Como lembra o cientista político Álvaro Bianchi, a esquerda se resumiu a fazer política eleitoral e política sindical, entendida esta como militância não só no movimento sindical, mas também nos movimentos sociais.

Mesmo os grupos críticos ao PT, como as correntes do PSOL e o PSTU, atuavam nessas duas frentes – as primeiras mais bem-sucedidas nas eleições, o segundo no movimento sindical. As variações eram de forma, mais que de visão estratégica.

Contudo, os sinais de esgotamento deste modelo estão visíveis há anos. Já no início dos 2000, quando eu atuava no movimento estudantil, havia questionamentos tanto à “partidarização” do movimento quanto ao vício de suas estruturas, das assembleias de DCE ao Congresso da UNE. Parcela relevante do melhor da vanguarda estava envolvida em ONGs. A própria organização do Movimento Passe Livre foi uma resposta, incipiente, a esse esgotamento.

Entretanto, não foi suficiente para superar a miopia. PT e PCdoB se construíram por meio da máquina do estado, enquanto PSOL e PSTU insistiram no modelo “eleição e sindicatos”. O recente racha da corrente Ação Popular Socialista, do PSOL, se deu exatamente nesta dicotomia.

A esquerda deveria ter percebido em junho de 2013, quando não conseguiu se construir e crescer em meio às manifestações de rua. A ” apropriação pela mídia” e a invasão da direita não explicam o fracasso: o mesmo aconteceu no Fora Collor, e a esquerda havia crescido naquele momento. Havia um problema de comunicação. A postura professoral e soberba diante daquela massa de novos ativistas – “vocês precisam estudar História!” – afastou-os e os entregou de mão beijada a uma nova direita que se organizou de baixo para cima.

Agora o artigo de Eliane Brum aponta que uma nova vanguarda da juventude não é mais atraída pelo PT. Digo mais, nenhuma organização de esquerda os atrai. E a esquerda está descobrindo isso muito tarde.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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