Mistério agora é como a classe política reagirá. Fato é que está acuada
Sob qualquer ponto de vista, as manifestações de domingo foram maiores que as de sexta-feira. Mesmo sem o know how dos “movimentos sociais” em mobilização – que inclui de táticas legítimas como marcar assembléia da Apeoesp no mesmo dia até o pagamento a manifestantes – as estimativas mais conservadoras apontam perto de 2 milhões de pessoas nas ruas neste domingo, contra 175 mil nas contas mais generosas de sexta. Por isso, ignoremos qualquer tentativa de desqualificação dos sommeliers de passeata: as ruas deram seu recado e estão claramente insatisfeitas com o governo petista.
Com isto, muda-se o cenário da política palaciana a partir desta segunda-feira. As opções colocadas para as lideranças partidárias de governo e oposição até semana passada, como “deixar o PT sangrar até 2018” ou “todos contra Janot”, perdem força. Agora as opções são outras, se os políticos tradicionais não quiserem ser encurralados pelas urnas.
Avaliemos algumas opções disponíveis para a política palaciana dar uma resposta às ruas e sair da armadilha em que foi colocada.
A solução ideal para que todos se salvem
O ideal para todos os partidos seria a reconstrução de um pacto de governabilidade em torno do ajuste econômico e da recuperação da Petrobras. Este pacto evitaria um transbordo da situação por conta da Lava Jato, e asseguraria a estabilidade política necessária para a retomada econômica.
Para o PT, um pacto assim asseguraria a sobrevida. Para o PMDB, aumentaria seu espaço político, que o PT deveria ceder para viabilizar o pacto. Para o PSDB, daria o fôlego para 2018.
Este cenário, contudo, tem alguns problemas. O principal, para os políticos, é que não para a Lava Jato. E com a Lava Jato continuando, o cenário pode continuar instável e as mobilizações podem continuar.
Além disso, o PT não tem capital político para propôr um acordo. O pouco que tinha derreteu neste domingo. Um pacto envolveria um recuo considerável do PT, que o partido nunca esteve disposto a fazer.
Por isso, eu não consideraria esta hipótese viável.
Pacto de governabilidade sem o PT
Mais viável seria um pacto de governabilidade sem o PT. Seja por renúncia da presidente, seja por impeachment, o PMDB poderia articular um pacto de governabilidade com a oposição.
Sob a liderança de Michel Temer, que não poderia se candidatar em 2018, se construiria um governo de união nacional nos moldes do que foi o governo Itamar.
Além da Lava Jato e das ruas, este acordo esbarra na capacidade desestabilizadora do PT na oposição. Apeado do poder, acusaria o golpe e colocaria todas as suas forças na denúncia do novo governo.
As manifestações de sexta foram menores que as de domingo, mas não foram pequenas. Além disso, boa parte dos que foram às ruas no domingo não aceitaria Michel Temer.
Os fatores do imponderável
O que é certo é que a partir de segunda-feira a política palaciana está sujeita a três fatores do imponderável, sobre os quais a liderança partidária tem pouco ou nenhum controle:
1. A Operação Lava Jato vai continuar, e não há clima para afastarem Janot, ainda mais com as faixas favoráveis ao Ministério Público nas ruas de domingo.
2. A população saiu do sofá e foi às ruas. O PT foi o principal alvo, mas sobrou também para os outros partidos.
3. O PT mostrou que, embora minoritário, tem força para ocupar as ruas. E essa força pode aumentar se houver na militância o sentimento de que o PT paga sozinho.
Aguardemos os próximos capítulos.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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