Manifestação e democracia

É preciso deixar claro que faixas nostálgicas de 1964 não merecem espaço em 2015.


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Como tantos, compartilho uma enorme insatisfação com esse governo e estive na Avenida Paulista na manifestação de domingo. Vi gente que protestava sobre pautas específicas como a corrupção ou impostos; gente que criticava a incoerência das medidas tomadas por Dilma e a sua retórica de campanha; gente que só quer vê-la sangrar; gente que acha que existe base para um impeachment; gente que nem sabe o que quer mas não aguenta mais a situação de crise econômica, política e moral por que passa o Brasil.

Mas eu também vi grupos minoritários que defendiam uma ruptura democrática, o retorno das forças armadas e do militarismo, o fim dos partidos políticos, o flerte com o fascismo, preconceitos, ódios. Elementos que não deveriam ter espaço no Brasil de 2015. Extremistas que carregam bandeiras e faixas com estas mensagens causam vergonha e servem apenas para desqualificar uma manifestação democrática.

Os principais movimentos que organizam as manifestações se opuseram a esse tipo de discurso em diversas ocasiões. Nas redes sociais, salientaram a necessidade de honrar a democracia brasileira. Nas ruas, vimos grupos neofascistas sendo expulsos e a população vaiando oportunistas perigosos como Bolsonaro. Mas havia, sim, ilustres desconhecidos com mensagens aterradoras que caminhavam tranquilamente, na banalidade do mal. Ninguém lhes dizia que aquela manifestação não era lugar para discurso autoritário – nem que regime autoritário simplesmente não admite mobilização popular.

De forma geral, a manifestação nacional do dia 15 foi um sucesso. Ficou clara a insatisfação de muitos e a disposição para obter resultados concretos – embora a resposta do governo ainda se mostre fraca, quase inaudível. Fala-se agora de mais uma manifestação, em abril, para continuar a denunciar os desmandos do governo Dilma. Mais do que nunca, é essencial que o movimento valorize a democracia e se oponha a presença de reivindicações militaristas ou autoritárias.

É preciso deixar claro que faixas nostálgicas de 1964 não merecem espaço em 2015. Temos o dever de esclarecer essa questão nas redes sociais, a principal forma de comunicação para os protestos. Nas ruas, merecem vaias e repúdio claro e sonoro. Não é com esse tipo de apoio que os manifestantes podem gritar por um governo de qualidade e respeito.

Os mais recentes desdobramentos da Operação Lava Jato e as suspeitas sobre a base aliada, aliados ao risco de perda do grau de investimento como consequência do abandono do tripé econômico, são razões de sobra para se indignar. Sempre haverá, em qualquer movimento, debates e divergências políticas. No entanto, nunca serão razões para desistir da democracia e das liberdades fundamentais. Pelo bem das manifestações e da democracia no Brasil.

Amálgama




Luis Felipe Morgado

Economista com interesse nas áreas de desenvolvimento, política e cultura.


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