Manifestações cresceram em número e unidade de pauta, com foco no impeachment.
Nas manifestações de dezembro houve quem sinalizasse com o fim das manifestações contra o governo. Após o março multitudinário e o abril igualmente intenso, agosto e dezembro haviam mostrado movimentos minguantes e atravessando sérios impasses. Contudo, de dezembro a março às ruas não só cresceram como superaram março de 2015. O que houve?
Primeiro, houve um amadurecimento do movimento de rua, com a sua direção se consolidando no Vem Pra Rua e no Movimento Brasil Livre. Com isso, predominou a agenda liberal desses movimentos, sem espaço para agendas tortas e paralelas como intervenção militar. Segundo, esses movimentos construíram canais de interlocução com a política institucional, especialmente após seu envolvimento na articulação do pedido de impeachment assinado por Hélio Bicudo.
O resultado foi uma pauta mais clara, mais alinhada e mais factível. O movimento de rua se posicionou claramente como pró-impeachment, pró Lava Jato e anti-petista. Ao fazer isso, saiu da mera manifestação de uma insatisfação para se tornar o suporte de um processo político de mudança.
Contribuiu para esse processo o autodesgaste infligido a si mesmo pelo petismo. Dezembro havia sido um mês de esperança para o governo Dilma: manifestações minguantes, processo de impeachment travado, renúncia do ministro da Fazenda neoliberal. Parecia que haveria um suspiro. Pois bem, o que foi feito de lá para cá reverteu a pouca boa sorte do governo, ao reafirmar sua fraqueza e incapacidade de liderança.
Além disso, a Lava Jato parece ter chegado ao Fiat Elba de Lula, com as investigações sobre o Triplex no Guarujá e o sítio em Atibaia. Está cada vez mais difícil sustentar que Lula não se beneficiou da corrupção. Mesmo que os processos de condução coercitiva e a ordem de prisão do MP de São Paulo tenham levantado o alerta do petismo e unificado a militância.
Parece que estamos às portas dos estertores do petismo. Embora a crise política tenha ainda potencial de se prolongar, por um único fator: a classe C não está na rua.
Neste momento os mais pobres querem o fim do petismo, mas não estão na rua. Quando forem, será na forma de episódios como a greve dos garis de 2014, com uma nova direção e pautas mais próximas de suas necessidades. Quando isso vier – e há economistas prevendo conflitos sociais agudos já no segundo semestre – os desafiados já não serão o petismo, mas o seu legado e seus sucessores. Espero que os movimentos que estão na rua agora não vejam esses conflitos sociais como uma retomada do petismo, mas sim como parte de sua mesma luta.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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