Brasil

O fundo insubornável da crise: as três ameaças à Lava Jato

por Elton Flaubert (31/03/2016)

Há três ameaças à Lava Jato: bacharelismo, carreirismo e arrivismo.

Dilma-Cunha

A Lava Jato é um obituário. Obituário de um país de almas devastadas. Na superfície, pode ser vista como o desmonte de uma quadrilha que assaltou o Estado, porém o seu coração não reside nessa trivialidade, antes na revelação do Ser que governa o país.

A crise não mora no PT ou no governo, mas naquilo que originou e possibilitou a ascensão desta escumalha de incapacitados ou do regime da alma degradada.

O “eu profundo” dessa crise é a negação. Negação de qualquer valor que a vida tenha para além das aparências. Negação que se traduz como desprezo absoluto pela verdade, pelo conhecimento, pelos bons sentimentos, pela realidade concreta. Negação que se traduz como obsessão pela matéria ou pelas vantagens humanas. Ou seja, obsessão por dinheiro, prestígio e poder.

A Lava Jato é a revelação da queda da alma nacional, entregue a um olhar que visa apenas a coisa aparente, insensível à ordem do Ser. Essa queda é fruto de sucessivas ordens sem substância e iníquas, comandadas por indivíduos que vão encarnando (e aprofundando) a deformidade moral.

A Lava Jato começa com os dois tipos mais comuns de materialistas: o empresário e o político. Aquele empresário que está sempre usando de má fé com seus clientes, procurando proteção do governo, amante dos cartéis e inimigo da livre iniciativa. Aquele político que, apaixonado por si mesmo, está sempre procurando uma fórmula para ampliar o seu poder sobre a sociedade. Disso, estende-se para outros nacos das elites progressistas.

Há três ameaças à Lava Jato, três filhos desse espírito de degradação: bacharelismo, carreirismo e arrivismo.

1. Bacharelismo

Bacharelismo é quando não ligamos para a realidade imediata que se torna evidente para nós a partir dos fatos, mas antes para os procedimentos internos do próprio sistema. Você presencia a realidade, toma conhecimento desta, mas ela nada vale perante a maquinaria do sistema, que se torna autônomo diante daquilo que imita.

As leis são feitas a partir de um contrato acertado por uma espécie de moral pública a respeito da verdade e da justiça, mas logo se torna um sistema que se coloca acima destas. A busca sincera pela verdade, pelos fatos das coisas transcorridas, é trocada pelos elementos formais da justiça.

Não importa se a presidente confessa numa gravação um crime de responsabilidade, a verdade expressa é logo descartada em nome de algum artifício jurídico, como se a realidade pudesse ser apagada. Através dessa astúcia, o direito torna-se o seu duplo: retira-se a substância e se investe no seu próprio sistema.

Assim, o bacharelismo é uma manifestação do materialismo. Um desprezo pela busca sincera da verdade, uma negação da realidade concreta, em prol do fetiche pelo maquinário criado pelos homens (Estado de direito).

Quando o homem dá mais importância ao seu sistema do que à realidade concreta diante de seus olhos, está escolhendo (ilusoriamente) por mais poder sobre outros homens. Ou seja, pelo alargamento do seu arbítrio.

2. Carreirismo

Carreirismo é quando o sujeito não se move mais pelo amor à verdade, mas pelas vantagens humanas. O carreirista quer dinheiro, mas, acima de tudo, prestígio. Ele vai ultrapassando as fases no lugar que parasita só para dele obter um medalhão. Com este medalhão, pode cultivar sua autoimagem, arrotar importância e desprezar qualquer empatia por causa de sua ambição.

O carreirismo consiste em amar o mundo e o prestígio que dele provém. A sua carreira – e o medalhão disso decorrente – é o sentido da sua vida, ao invés da busca sincera pela verdade ou da humildade que reside na esperança de misericórdia.

Políticos gostam de dinheiro, mas o seu verdadeiro poder reside no prestígio. Um indivíduo num alto cargo de poder obtém o que precisa mesmo com a carteira vazia. O carreirismo ameaça a Lava Jato, seja com Dilma ou Temer.

3. Arrivismo

Arrivismo é a ambição por dinheiro pura e simplesmente. É o tipo mais baixo de degradação. Para o arrivista, não importa poder e prestígio, mas tão somente o seu rico dinheirinho. Geralmente, são os “novos ricos” e seus agregados, deslumbrados com cada novo feitiço da técnica moderna, cada novo brinquedinho ou propriedade que lhe possa oferecer algum gozo ou prazer fácil e descartável. O arrivista é escravo da aparência e o sentido da sua vida é a entrega da sua alma ao que o dinheiro pode comprar.

O arrivismo pode ser percebido em longas doses no antipetismo débil. Aquele antipetismo tardio, que entoava aos quatro ventos a “moderação” lulista quando o dinheiro abundava e a nação se enganava em sua própria soberba de ser grande sem Ser.

Para esse tipo de antipetista, o problema do PT não é moral, mas econômico. Ele está irritado apenas com a grana roubada. O antipetista arrivista está nas ruas porque o dinheiro diminuiu e todo o trabalho destrutivo do petismo lhe é apenas nota de rodapé.

A partir do sacrifício simbólico, o arrivista irá querer recuperação econômica a qualquer custo e mostrará aquilo que é: mais uma face do materialismo.

Elton Flaubert

Doutor em História pela UnB.