Ainda rastejamos os caminhos imorais de uma fétida República.
Quando distante da Verdade e da Justiça, a política institucionaliza a crueldade. Para se ter uma ideia – e com este caráter cinicamente cruel – até as torneiras e vasos sanitários do palácio do ditador romeno Nicolae Ceauşescu eram de ouro. Enquanto os populares morriam de inanição, a ex-primeira-dama das Filipinas, Imelda Marcos, ostentava seus 3.000 pares de sapatos. O autoproclamado rei do Haiti, Henri Cristophe, construiria oito palácios, seis castelos e a tombada Citadelle Laferrière, que demoraria 15 anos para ser finalizada com o sacrifício de 20.000 homens.
Atualmente – em pleno século XXI – com uma taxa de 8,4 milhões de desempregados e 45,5 homicídios por 100 mil habitantes, 13,2 milhões de analfabetos, 10,4 milhões de miseráveis, o Brasil se assemelha em tudo à Romênia de Ceauşescu, às Filipinas de Imelda Marcos e ao Haiti de Henri Cristophe. Não pelas torneiras e vasos de ouro, os pares de sapato da primeira-dama ou os nababescos castelos do rei. No Brasil, como nos países citados, uns padecem a realidade de fome: à míngua; enquanto outros, enxovalham a Verdade e a Justiça em benefício próprio, acumpliciados com as benesses do cinismo.
Se o Brasil já é a face pauperizada de uma outra Romênia, de qualquer Haiti e de Filipinas nenhures, nesta quarta o país ultrapassou a fronteira do bom-senso e do decoro, no instante em que um cínico bandido se sagrou Ministro. Enquanto profetas anunciam, esperançosos, o triunfo da Terceira Roma, como se a História rumasse para a Redenção, ainda rastejamos os caminhos imorais de uma fétida República. Quinze séculos se passaram, ó Salviano, mas ainda ouço os teus murmúrios quando os bárbaros saquearam a cidadela: “O Império Romano está repleto de miséria. Morre, e no entanto, ri.”