Rico que rouba vira ministro

Convenhamos, alçar Lula a um ministério é um delírio. Aprofundaria a crise política, aceleraria o processo de impeachment e deflagraria uma revolta da sociedade contra o governo.


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“No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia;
quando um rico rouba, vira ministro”
Lula, 1988

A lembrança dessa citação de Lula é pertinente. Dilma já teria concordado em nomeá-lo ministro, o que tiraria as investigações que o envolvem do MPF e Sérgio Moro, transferindo-as para o Procurador-Geral da República e para o Supremo Tribunal Federal. Justamente Dilma, que não cansa de repetir a lorota de que em seu governo as instituições possuem autonomia e independência para investigar e punir quem quer que seja.

Convenhamos, alçar Lula a um ministério é um delírio. Aprofundaria a crise política, aceleraria o processo de impeachment e deflagraria uma revolta da sociedade contra o governo, cujos desdobramentos seriam imprevisíveis. Caindo o governo, cairia o Ministério e as investigações e processos voltariam à força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que talvez deixasse de ser tão complacente e paciente com o ex-mandatário.

Ademais, a condição de ministro pode postergar a prisão de Lula, mas seus filhos e esposa continuarão sob a jurisdição de Moro. Tenho lá dúvidas de que isso seja algum empecilho. Em troca de alguma liberdade política de atuação e organização sindical, Lula nunca hesitou em delatar seus companheiros para os militares durante a ditadura. Na cleptocracia, permitiu que seus aliados e amigos mais próximos fossem fritados em nome da autopreservação: Dirceu, Bumlai, Genoino, Vaccari e Odebrecht, condenado ontem a quase 20 anos de prisão, são só alguns exemplos.

Independentemente do desfecho, só o fato de Dilma cogitar nomear Lula ministro é mais um escândalo de proporções homéricas, que evidencia o quão premente é a necessidade de depor o atual governo.

A bem da verdade, um eventual governo Temer também estaria contaminado. Grande parte do PMDB é sócia de tudo que estamos vendo. O que não podemos perder de vista e de foco, e que é mais importante e relevante, é a capacidade da sociedade de reagir e dar uma resposta à classe política. Se isso se esvair, o que nos restará?

Amálgama




Guilherme Arnoldi

Advogado, pesquisador de direito e relações internacionais.


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