Arte ao avesso
por Manoela Bowles – A arte das ruas invadiu as galerias com o grafite, e recentemente, na Bienal de São Paulo, a prisão da pichadora Caroline Pivetta gerou muita polêmica. A pichação é uma manifestação artística, mesmo que anti-estética. Uma forma comum de contestação da arte como mercadoria no pós-modernismo.
A arte das ruas invadiu o espaço da Bienal para demonstrar a tendência atual de que arte é vida. Ela existe na realidade comum, saltando aos olhos de transeuntes, assim como também está nas mídias e objetos do cotidiano.
Hoje, com a explosão estética, não é mais possível impor limites para o que é arte. A pichação surge como uma contestação aos padrões estéticos tradicionais e por isso é considerada um ato de transgressão. Assim como toda a Arte desde o Modernismo.
Quem está certo? O curador da Bienal, Ivo Mesquita, que deixou um espaço vazio numa instituição que diz o que é arte e o que não é? Ou Caroline, que se aproveitou disto para tentar legitimar a sua, como Marcel Duchamp fez quando colocou um urinol no museu?
O ato de pichar o terceiro pavimento da Bienal foi uma contestação contra o próprio sistema em que se tornou a instituição. Essa situação de inconsistência abriu espaço para uma arte que está fora dos padrões legitimados pela crítica. Toda uma arte real, existente fora dessa esfera conceitual delimitada pela curadoria, surgiu do nada. Entrou pela porta da frente para ocupar o vazio, trazendo para dentro das instituições de Arte as manifestações artísticas das ruas. Isso serviu para expor o momento histórico-social em que estamos, aonde o próprio estatuto da arte é questionado. Porque hoje não existe suporte ou técnica específica, qualquer expressão artística é uma necessidade, pois é uma forma de nos vermos no mundo.
Ao levantar a questão do que é arte acabamos extrapolando seus limites. Por isso hoje a arte não se separa da vida. E a pichação faz parte disso tudo, mesmo que toda a estrutura conceitual que legitima o que é arte não a considere. A arte está espalhada por aí e ela precisou invadir a Bienal para ser vista e considerada como tal.
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