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Um debate abortado

por Daniel Lopes (24/04/2010)

por Daniel Lopes – Esse livro agora traduzido no Brasil foi publicado no segundo semestre de 2008 nos EUA. Reúne correspondências trocadas entre Douglas Wilson, filósofo, teólogo e pastor, e Christopher Hitchens, jornalista, escritor e ateu militante. O embate foi proposto por e publicado nas páginas da revista Christianity Today. Até por ser ateu, achei […]

por Daniel Lopes – Esse livro agora traduzido no Brasil foi publicado no segundo semestre de 2008 nos EUA. Reúne correspondências trocadas entre Douglas Wilson, filósofo, teólogo e pastor, e Christopher Hitchens, jornalista, escritor e ateu militante. O embate foi proposto por e publicado nas páginas da revista Christianity Today.

Até por ser ateu, achei que Hitchens se saiu melhor nesse curto debate. Wilson está muito preso a definições e, ou os fatos arrumam uma definição-guarda-chuva, ou contentem-se com sua irrelevância. Por exemplo, Hitchens nota que descrentes praticam boas ações, que boas ações não necessitam de crenças sobrenaturais, com o que Wilson (e felizmente muitos outros religiosos) concorda. No entanto, o oponente de Hitchens quer que o escritor ateu dê uma definição rígida de Bem e Mal segundo o ateísmo, tal como existe o Bem e o Mal para os cristãos.

Hitchens lembra da “solidariedade humana inata”, que sem dúvida convive lado a lado com a maldade da espécie; dá as razões evolutivas para boas ações (que não existem apenas entre nossa espécie); e nota que o fato de o cristianismo ter uma noção clara de Bem e Mal não faz com que os cristãos pratiquem apenas o Bem – estão aí as carnificinas ao longo da história.

Wilson acha que “solidariedade humana inata” é um termo que não diz nada; reafirma que a bondade só faz sentido em um contexto mais amplo de atenção a preceitos divinos (cristãos ocidentais); é da opinião de que a bondade dos ateus é irracional, já que eles (personificados na figura de Hitchens) não conseguem dar uma explicação racional para o fato de serem bons sem acreditarem no sobrenatural ou mesmo, em alguns casos, nas lições morais de Jesus. Acontece que Hitchens deu explicações naturais perfeitamente racionais para atos de bondade, que Wilson não aceitou ou não achou convincentes – o que ele queria, uma explicação atéia para atos de bondade que não fosse uma explicação de ordem natural?

Hitchens lança seu famoso desafio:

(…) você consegue mencionar uma ação ou declaração moral praticada ou proferida por um cristão que também não tenha sido praticada ou proferida por um ateu?

Em sua última correspondência, Wilson responde:

Seu convite para que tentemos mencionar uma ação moral que não tenha sido praticada ou proferida por um ateu demonstra que você continua sem entender do que estamos falando. Temos todos os motivos para acreditar que esses ateus, praticando tais atos, serão incapazes, tanto quanto você tem sido, de explicar o PORQUÊ de uma ação ser considerada BOA e outra, MÁ.

Graças a essa recorrente e tola exigência, por parte de Wilson, de conceitos perfeitamente definidos (mas que não venham do inferior mundo natural!), grande parte do potencial do debate foi desperdiçado. Ainda assim, é um bom livro, para ser lido de uma lapada só, e o leitor (crente ou não) sairá razoavelmente satisfeito, desde que não se deixe levar ao caixa apenas pela promessa do título.

Douglas Wilson encerra com um chatíssimo tom condescendente – como Hitchens foi batizado, nosso amigo cristão o chama “de volta aos termos do batismo”; lembra que “Christopher” significa “portador de Cristo”; e por fim avisa que “a porta está aberta, e vou deixar a luz acesa para você”. Pfff…

Como exemplo do grande debate que esse entre Hitchens e Wilson poderia ter sido, ver o debate “A Igreja Católica é uma força para o bem no mundo”, exibido pela BBC, estrelando John Onaiyekan e Ann Widdecombe, a favor da afirmação, e Stephen Fry e Christopher Hitchens, contra.

::: O cristianismo é bom para o mundo? – Um debate ::: Christopher Hitchens e Douglas Wilson :::
::: Garimpo Editorial, 2010, 80 páginas ::: compre na Livraria Cultura :::

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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