Nazismo e religião
[ o que segue é parte da introdução do recém-lançado Nazismo e religião: Entre a aliança e o conflito. há uma resenha do livro no Bule Voador ]
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por André Tadeu de Oliveira
O nacional-socialismo pode ser considerado um dos maiores fenômenos políticos do século passado. Essa ideologia sociopolítica de extrema direita foi a principal força catalisadora de sentimentos profundos até então não externados de forma clara pelo povo alemão. De acordo com Richard Steigmann-Gall, a luta empreendida pelos nazistas foi considerada, por parcela significativa do povo germânico, como real e derradeira batalha entre o bem, representado pelo ariano típico, e o mal, encarnado em personalidades tão díspares como o judeu, o social-democrata, o homossexual, o cigano e qualquer opositor do Terceiro Reich.
O regime nacional-socialista implantado na Alemanha em 1933 deve ser encarado como um movimento claramente político cuja principal finalidade residia em recolocar a Alemanha no seu devido lugar, isto é, a de líder natural na complexa geopolítica mundial. Com este movimento de viés político, vários fenômenos sociais, econômicos e históricos foram determinantes em seu sucesso. Não obstante, outro fator deve ser considerado para melhor compreensão do que realmente se passou na nação alemã durante as décadas de trinta e quarenta do século passado: o aspecto religioso.
Para Pablo Jiménez Cores, parte do sucesso da ideologia nazista deu-se em razão da característica mítico-religiosa esboçada pelo movimento que, se estudada de forma séria, revelará um caráter religioso plural dentro do movimento nazista, jamais se atendo de forma exclusiva em apenas uma tradição confessional. A importância da cosmovisão religiosa era parte integrante da ideologia nacional-socialista. Para os líderes do futuro Reich, em uma Alemanha reconstruída, realmente consciente da pretensa superioridade de sua raça, o ateísmo, por exemplo, seria inconcebível, já que minaria todas as forças necessárias para a manutenção do Volk. Richard-Steigmann-Gall afirma que os nazistas enxergavam a revolução como um verdadeiro expurgo de qualquer tipo de ideologia perniciosa, dentre elas o ateísmo. Assim, a importância de determinadas crenças na ascensão e na consolidação do nacional-socialismo alemão não pode ser desconsiderada.
Quais seriam essas crenças? É impossível saber quais eram as intimas convicções religiosas que norteavam os principais líderes do movimento. Neste trabalho, serão analisadas as religiões que manifestaram algum grau de interação com o nacional-socialismo, tanto teórica quanto prática. Enquadram-se neste perfil o cristianismo, o paganismo de origem nórdica, o esoterismo, o hinduísmo, o budismo e o islamismo. Uma vez feita esta necessária delimitação, urge responder a pertinente questão: até que ponto tais crenças contribuíram com a implantação e a consolidação do poderio fascista em solo alemão? Houve resistência por parte destas crenças?
Respostas para essas indagações não podem ser generalizadas, pois cada tradição religiosa demonstrou uma relação diferenciada com o regime hitlerista. No que se refere ao cristianismo, deve ser feita uma clara separação entre protestantismo e catolicismo. Fenômeno religioso originalmente germânico, o protestantismo, principalmente luterano, sempre teve clara ligação com a nacionalidade teuta. Adolf Von Harnack, historiador renomado e um dos principais expoentes da teologia liberal, afirmou que o cristianismo da reforma protestante pode ser descrito como basicamente germânico. Essa idéia de germanidade existente no protestantismo alemão contribuiu para uma real identificação com qualquer movimento voltado à reconstrução da “grande Alemanha”. Assim, o nacional-socialismo foi acolhido positivamente por um segmento significativo do protestantismo alemão. Diferente era a posição do catolicismo-romano.
Considerada mero satélite de um poder estrangeiro, a Igreja Católica Alemã nunca gozou de elevado prestígio junto ao alto escalão nazista. A despeito dessa desconfiança, logo após a ascensão de Hitler ao poder, os principais quadros da Igreja Romana em solo alemão manifestaram seu apoio incondicional ao novo regime. Paul Johnson narra que já em 1933, início da era nacional-socialista, os bispos alemães determinaram de forma oficial a proibição de atividades opositoras ao regime por parte dos católicos alemães. Portanto, mesmo reservando momentos de contínua tensão, os dois grandes ramos do cristianismo ocidental manifestaram, principalmente após a ascensão de Hitler, uma postura absolutamente favorável ao regime. Todavia, o mesmo Johnson afirma categoricamente que, a despeito do elevado grau de apoio por parte das confissões cristãs, foram as igrejas que desempenharam a mais organizada oposição ao regime nazista. Dentro do protestantismo, essa postura opositora seria manifestada pela Igreja Confessante, uma união entre reformados, luteranos e unidos que se posicionou de forma contrária á ingerência do estado em questões dogmáticas. Já a simbiose existente entre as várias correntes esotéricas é verificada claramente nas próprias origens do movimento nacional-socialista. Paul Roland demonstra de forma incontestável a posterior ligação entre proeminentes membros de ordens político-ocultistas – como a Ordem Germânica e suas idéias – e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Como movimento que buscava o retorno das grandes tradições teutônicas, é natural que as antigas crenças denominadas “pagãs” despertassem o interesse por parte de alguns nacional-socialistas. Ao contrário do que é difundido por determinadas obras não acadêmicas, o regime nazista não buscava a criação de uma nova religião nacional baseada no antigo paganismo tribal. Apesar desta afirmativa, não pode ser negada a existência de um forte segmento pagão dentro do movimento nacional-socialista. Nomes influentes como os de Rosenberg, Ludendorff e outros, possuíam uma visão própria para a questão religiosa na nova Alemanha a ser construída.
A relação existente entre o nacional-socialismo e as duas principais tradições espirituais do Oriente – hinduísmo e budismo- é claramente notada na questão simbólica, na apropriação e na deturpação de determinados conceitos doutrinários por parte do nazismo. Por fim, há uma breve e pequena convergência entre o Islã, paradoxalmente uma crença de origem semita, e o nacional-socialismo. Essa convergência mostrou-se factual, localizada e histórica, mas não pode passar despercebida.
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