Nazismo e religião

[ o que segue é parte da introdução do recém-lançado Nazismo e religião: Entre a aliança e o conflito. há uma resenha do livro no Bule Voador ]

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-- Autoridades políticas e religiosas em uma igreja alemã --

por André Tadeu de Oliveira

O nacional-socialismo pode ser considerado um dos maiores fenômenos políticos do século passado. Essa ideologia sociopolítica de extrema direita foi a principal força catalisadora de sentimentos profundos até então não externados de forma clara pelo povo alemão. De acordo com Richard Steigmann-Gall, a luta empreendida pelos nazistas foi considerada, por parcela significativa do povo germânico, como real e derradeira batalha entre o bem, representado pelo ariano típico, e o mal, encarnado em personalidades tão díspares como o judeu, o social-democrata, o homossexual, o cigano e qualquer opositor do Terceiro Reich.

O regime nacional-socialista implantado na Alemanha em 1933 deve ser encarado como um movimento claramente político cuja principal finalidade residia em recolocar a Alemanha no seu devido lugar, isto é, a de líder natural na complexa geopolítica mundial. Com este movimento de viés político, vários fenômenos sociais, econômicos e históricos foram determinantes em seu sucesso. Não obstante, outro fator deve ser considerado para melhor compreensão do que realmente se passou na nação alemã durante as décadas de trinta e quarenta do século passado: o aspecto religioso.

Para Pablo Jiménez Cores, parte do sucesso da ideologia nazista deu-se em razão da característica mítico-religiosa esboçada pelo movimento que, se estudada de forma séria, revelará um caráter religioso plural dentro do movimento nazista, jamais se atendo de forma exclusiva em apenas uma tradição confessional. A importância da cosmovisão religiosa era parte integrante da ideologia nacional-socialista. Para os líderes do futuro Reich, em uma Alemanha reconstruída, realmente consciente da pretensa superioridade de sua raça, o ateísmo, por exemplo, seria inconcebível, já que minaria todas as forças necessárias para a manutenção do Volk. Richard-Steigmann-Gall afirma que os nazistas enxergavam a revolução como um verdadeiro expurgo de qualquer tipo de ideologia perniciosa, dentre elas o ateísmo. Assim, a importância de determinadas crenças na ascensão e na consolidação do nacional-socialismo alemão não pode ser desconsiderada.

Quais seriam essas crenças? É impossível saber quais eram as intimas convicções religiosas que norteavam os principais líderes do movimento. Neste trabalho, serão analisadas as religiões que manifestaram algum grau de interação com o nacional-socialismo, tanto teórica quanto prática. Enquadram-se neste perfil o cristianismo, o paganismo de origem nórdica, o esoterismo, o hinduísmo, o budismo e o islamismo. Uma vez feita esta necessária delimitação, urge responder a pertinente questão: até que ponto tais crenças contribuíram com a implantação e a consolidação do poderio fascista em solo alemão? Houve resistência por parte destas crenças?

Respostas para essas indagações não podem ser generalizadas, pois cada tradição religiosa demonstrou uma relação diferenciada com o regime hitlerista. No que se refere ao cristianismo, deve ser feita uma clara separação entre protestantismo e catolicismo. Fenômeno religioso originalmente germânico, o protestantismo, principalmente luterano, sempre teve clara ligação com a nacionalidade teuta. Adolf Von Harnack, historiador renomado e um dos principais expoentes da teologia liberal, afirmou que o cristianismo da reforma protestante pode ser descrito como basicamente germânico. Essa idéia de germanidade existente no protestantismo alemão contribuiu para uma real identificação com qualquer movimento voltado à reconstrução da “grande Alemanha”. Assim, o nacional-socialismo foi acolhido positivamente por um segmento significativo do protestantismo alemão. Diferente era a posição do catolicismo-romano.

Considerada mero satélite de um poder estrangeiro, a Igreja Católica Alemã nunca gozou de elevado prestígio junto ao alto escalão nazista. A despeito dessa desconfiança, logo após a ascensão de Hitler ao poder, os principais quadros da Igreja Romana em solo alemão manifestaram seu apoio incondicional ao novo regime. Paul Johnson narra que já em 1933, início da era nacional-socialista, os bispos alemães determinaram de forma oficial a proibição de atividades opositoras ao regime por parte dos católicos alemães. Portanto, mesmo reservando momentos de contínua tensão, os dois grandes ramos do cristianismo ocidental manifestaram, principalmente após a ascensão de Hitler, uma postura absolutamente favorável ao regime. Todavia, o mesmo Johnson afirma categoricamente que, a despeito do elevado grau de apoio por parte das confissões cristãs, foram as igrejas que desempenharam a mais organizada oposição ao regime nazista. Dentro do protestantismo, essa postura opositora seria manifestada pela Igreja Confessante, uma união entre reformados, luteranos e unidos que se posicionou de forma contrária á ingerência do estado em questões dogmáticas. Já a simbiose existente entre as várias correntes esotéricas é verificada claramente nas próprias origens do movimento nacional-socialista. Paul Roland demonstra de forma incontestável a posterior ligação entre proeminentes membros de ordens político-ocultistas – como a Ordem Germânica e suas idéias – e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Como movimento que buscava o retorno das grandes tradições teutônicas, é natural que as antigas crenças denominadas “pagãs” despertassem o interesse por parte de alguns nacional-socialistas. Ao contrário do que é difundido por determinadas obras não acadêmicas, o regime nazista não buscava a criação de uma nova religião nacional baseada no antigo paganismo tribal. Apesar desta afirmativa, não pode ser negada a existência de um forte segmento pagão dentro do movimento nacional-socialista. Nomes influentes como os de Rosenberg, Ludendorff e outros, possuíam uma visão própria para a questão religiosa na nova Alemanha a ser construída.

A relação existente entre o nacional-socialismo e as duas principais tradições espirituais do Oriente – hinduísmo e budismo- é claramente notada na questão simbólica, na apropriação e na deturpação de determinados conceitos doutrinários por parte do nazismo. Por fim, há uma breve e pequena convergência entre o Islã, paradoxalmente uma crença de origem semita, e o nacional-socialismo. Essa convergência mostrou-se factual, localizada e histórica, mas não pode passar despercebida.

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::: Nazismo e religião: Entre a aliança e o conflito ::: André Tadeu de Oliveira :::
::: Editora Reflexão, 2011, 174 páginas ::: comprar :::



  • Marcelo

    Procurem o vídeo Triângulos Roxos, que mostra a resistência religiosa, mesmo diante da intimidação da SS e dos campos de concentração.
    http://www.youtube.com/watch?v=w4t9zdHx9H0

  • http://wwwcristianismolibertas.blogspot.com/ André Tadeu de Oliveira

    Muito bem lembrado ! Infelizmente, não abordei a oposição das TJ ao nazismo. Fica para uma próxima.

    Abraços

    André Tadeu de Oliveira

  • Felipe Costa

    A Igreja católica não apoiou o regime. Existem vários documentos denunciando o perigo da ascenção de Hitler na Alemanha. Texto fraco.

  • André Tadeu de Oliveira

    Caro Felipe;

    A tese central do livro, dentro da análise referente ao cristianismo, é que o principal apoio ao nazismo foi concedido pela Igreja Evangélica Alemã. O protestantismo teve uma ligação ideológica com o nacional-socialismo. Obviamente, setores dentro do protestantismo tomaram uma posição contrária ao regime de Hitler. Mas foram minoritários. Tudo isto está claro no meu livro.

    A respeito da Igreja Católica Romana, a ligação ideológica com o regime fascista foi bem menor, se comparada ao protestantismo. No entanto, após ascensão de Hitler, a cúpula romana apoiou, sim, o regime nazista ! Claro que há documentos denunciando o nazismo, tanto antes, como após a consolidação do regime. Mas tudo de forma minoritária. Mostro tudo isto em meu livro.

    Finalizando, vc já leu o livro ? Só assim vc poderá falar que o texto é fraco.

    Att

    André

  • Eline

    Caro André,

    li em uma resenha sobre seu livro que você “supreendeu a banca” com seu trabalho. Gostaria de saber se este livro é fruto de uma pesquisa em nível acadêmico.

    Att.
    Eine

  • http://wwwcristianismolibertas.blogspot.com André Tadeu de Oliveira

    Cara Eline.

    Sim, este livro é fruto de minha tese, visando a graduação em teologia na Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo-SP

  • Tayroni Alves

    No entanto, após ascensão de Hitler, a cúpula romana apoiou, sim, o regime nazista !

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    Além do texto ser fraco ainda é errado. Historiadores JUDEUS lhe desmentem. A cúpula romana foi contra o regime desde o começo. O que apoiou o regime foram elementos isolados do clero alemão.

    Leia por exemplo http://www.columbia.edu/cu/augustine/arch/dalin.html

  • http://google lucio de andrade

    A tese do comprometimento e associaçao do vaticano com os nazistas sao claras e nao nos impoem a menor inquietaçao ou duvidas sobre a sua veracidade historica , temos na ITALIA e na ALEMANHA , açoes firmes , pensadas e pragmaticas do seus envolvimentos , senao vejamos ; o papa PACELLI e seu irmao FRANCESCO , nos bastidores das tratativas diplomaticas , aliavaram e costuraram seus objetivos permanentes , a igreja catolica passou a ser a religiao oficial do estado , tendo recebido do ditador MUSSOLINI 86 milhoes de dolares , fora as compensaçoes em propriedades , como em castel gandolfo, o palacio de verao , no lago albano e etc … já , com HITLER , o escopo fora a assinatura da concordata com reich , o vaticano , sempre se posicionou como estado laico, em que pese ,a roupagem liturgica em suas exteriorizaçoes , par sedar os desavisados ” crentes” ,a igreja foi e é a primeira empresa transnacional dos ultimos milenios , seu poder repousa no ouro acumulado ou amealhado dos povos a serem conquistados , sob a falacia da cristianizaçao , vide a africa . ao contrario, do eles praticam o proprio cristo , dissera que o reino dele nao era deste mundo , aproveitando o tema , porque o papa nao abole o celibato e socializa os seus bens, entre os pobres ? voltando , o nazismo, serviu aos interesses do papado , eliminando inimigos figadais , como os socialistas e comunistas , tanto na italia como na alemanha, vendeu seu poder de representar os oprimidos e os injustiçados ,com base no evangelho de cristo e curvou-se ao deus do ouro, MAMON . é evidente que mtos cristaos isoladamente em ambos os paises nao aceitaram esta parceria espuria e anticrista , mas no geral a liderança eclesial catolica e protestante , foram cooptadas venalmente pelos nazistas . triste capitulo da historia dos cristaos .

  • http://logosbiblios.blogspot.com.br Anderson Souza

    As perversidades do nazismo foram expostas
    NOS anos 20, enquanto a Alemanha lutava para se recuperar da derrota na Primeira Guerra Mundial, as Testemunhas de Jeová distribuíam ativamente tremendas quantidades de publicações bíblicas. Isto não só oferecia consolo e esperança ao povo alemão, mas também o alertava ao crescente poder do militarismo. De 1919 a 1933, as Testemunhas distribuíram em média oito livros, folhetos e revistas a cada uma dos cerca de 15 milhões de famílias na Alemanha.
    A revista A Idade de Ouro, depois Consolação, muitas vezes chamou atenção ao ressurgimento militarista na Alemanha. Em 1929, mais de três anos antes de Hitler chegar ao poder, a edição em alemão de A Idade de Ouro destemidamente declarou: “O Nacional-Socialismo é . . . um movimento . . . diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo.”
    Pouco antes de Hitler tomar o poder, A Idade de Ouro de 4 de janeiro de 1933 disse: “Está emergindo o rochedo ameaçador do movimento Nacional-Socialista. Parece inacreditável que um partido político de origem tão insignificante, de diretrizes tão heterodoxas, possa, em apenas alguns anos, assumir proporções que ofuscam a estrutura de um governo nacional. No entanto, Adolf Hitler e seu partido nacional-socialista (os nazistas) conseguiram realizar essa rara proeza.”
    Apelo à compreensão
    Hitler tornou-se primeiro-ministro da Alemanha em 30 de janeiro de 1933, e, dois meses depois, em 4 de abril de 1933, a sede nacional das Testemunhas de Jeová, em Magdeburgo, foi confiscada. Mas, o confisco foi anulado em 28 de abril de 1933, e a propriedade foi devolvida. O que aconteceria a seguir?
    Apesar da evidente hostilidade do regime de Hitler, as Testemunhas de Jeová programaram um congresso para 25 de junho de 1933, em Berlim, Alemanha. Cerca de 7.000 compareceram. As Testemunhas publicamente tornaram claras as suas intenções: “A nossa organização não é política em nenhum sentido. Insistimos apenas em poder ensinar a Palavra de Jeová Deus ao povo, sem impedimento.”
    Assim, as Testemunhas de Jeová fizeram um bem-intencionado esforço de esclarecer a sua posição. Com que resultados?
    Começam os ataques
    A inabalável neutralidade das Testemunhas de Jeová e sua lealdade ao Reino de Deus eram inaceitáveis ao governo de Hitler. Os nazistas não pretendiam tolerar qualquer recusa de apoio à sua ideologia.
    Logo depois do congresso em Berlim, os nazistas voltaram a confiscar a sede em Magdeburgo, em 28 de junho de 1933. Dissolviam reuniões de Testemunhas de Jeová e faziam prisões. Logo as Testemunhas passaram a ser despedidas do emprego. Sofreram buscas em suas casas, espancamentos e prisões. No começo de 1934, os nazistas já haviam confiscado das Testemunhas 65 toneladas de literatura bíblica e as haviam queimado fora de Magdeburgo.
    A posição resoluta das Testemunhas
    Apesar desses ataques iniciais, as Testemunhas de Jeová mantiveram-se firmes e denunciaram publicamente a opressão e a injustiça. A Sentinela de 1.° de novembro de 1933 (em inglês), trazia o artigo “Não os temais”. Foi escrito especialmente para as Testemunhas alemãs, exortando-as a terem coragem em face de crescente pressão.
    Em 9 de fevereiro de 1934, J. F. Rutherford, presidente da Sociedade Torre de Vigia, dos EUA, enviou uma carta de protesto a Hitler, declarando: “O senhor poderá ter êxito em resistir a qualquer e a todos os homens, mas não poderá ter êxito em resistir a Jeová Deus. . . . Em nome de Jeová Deus e de Seu Rei ungido, Cristo Jesus, exijo que ordene a todas as autoridades e servidores de seu governo que as Testemunhas de Jeová na Alemanha tenham permissão de reunir-se pacificamente e adorar a Deus sem impedimento.”
    Rutherford deu como prazo a data de 24 de março de 1934. Ele disse que se até então não viesse alívio para as Testemunhas alemãs, os fatos sobre a perseguição seriam publicados por toda a Alemanha e o resto do mundo. Os nazistas reagiram à exigência de Rutherford com mais abusos, enviando muitas Testemunhas de Jeová a recém-construídos campos de concentração. Assim, elas estavam entre os primeiros prisioneiros nestes campos.
    As Testemunhas expõem as atrocidades nazistas
    Conforme haviam avisado, as Testemunhas de Jeová passaram a expor as atrocidades que ocorriam na Alemanha. As Testemunhas ao redor do globo enviavam repetidos protestos ao governo de Hitler.
    Em 7 de outubro de 1934, todas as congregações das Testemunhas de Jeová na Alemanha se reuniram para ouvir a leitura de uma carta que estava sendo enviada às autoridades do governo de Hitler. Dizia: “Há um conflito direto entre a sua lei e a lei de Deus . . . Por conseguinte, esta tem por fim avisá-los de que, a todo custo, obedeceremos aos mandamentos de Deus, vamos reunir-nos para o estudo de sua Palavra, e iremos adorá-lo e servi-lo conforme Ele ordenou.”
    No mesmo dia, Testemunhas de Jeová de 49 outros países realizaram uma reunião especial e enviaram o seguinte telegrama a Hitler: “Seus maus-tratos para com as Testemunhas de Jeová chocam a todas as pessoas boas da Terra e desonram o nome de Deus. Refreie-se de continuar perseguindo as Testemunhas de Jeová; de outra forma, Deus o destruirá, bem como a seu partido nacional.”
    Os nazistas reagiram quase que de imediato, incrementando a perseguição. O próprio Hitler esbravejou: “Esta raça será exterminada da Alemanha!” Mas, na mesma medida em que aumentava a oposição, aumentava a determinação das Testemunhas de Jeová.
    Em 1935, A Idade de Ouro expôs os métodos de tortura inquisitoriais do regime nazista e o seu sistema de espionagem. Revelou também que a organização Juventude Hitlerista visava expurgar dos jovens da Alemanha a crença em Deus. No ano seguinte, uma campanha da Gestapo, de âmbito nacional, resultou na prisão de milhares de Testemunhas. Pouco depois, em 12 de dezembro de 1936, as Testemunhas responderam com a sua própria campanha, cobrindo a Alemanha com dezenas de milhares de cópias de uma resolução de protesto contra a perseguição às Testemunhas de Jeová.
    Em 20 de junho de 1937, as Testemunhas que ainda estavam livres distribuíram outra mensagem minuciosa a respeito da perseguição. Dava o nome das autoridades, as datas e os lugares. A Gestapo ficou estarrecida com essa exposição e com a capacidade das Testemunhas de realizá-la.
    O amor ao próximo é o que compelia as Testemunhas de Jeová a alertar o povo da Alemanha a não se deixar enganar pela grandiosa miragem de um glorioso reinado de mil anos do Terceiro Reich. “Temos de dizer a verdade e dar o alerta”, disse o folheto Encare os Factos, publicado em 1938. “Reconhecemos o governo totalitário . . . como produto de Satanás apresentado como substituto do reino de Deus.” As Testemunhas de Jeová foram os primeiros alvos dos abusos nazistas, mas elas também denunciaram com veemência as atrocidades contra os judeus, os poloneses, os deficientes físicos e outros.
    A resolução “Aviso!”, adotada em 1938 num congresso das Testemunhas de Jeová em Seattle, Washington, EUA, dizia: “Os fascistas e nazistas, organizações políticas radicais, indevidamente assumiram o controle de muitos países da Europa . . . Todas as pessoas serão arregimentadas, serão privadas de suas liberdades e serão compelidas a submeter-se ao domínio de um ditador arbitrário, e, daí, a antiga Inquisição estará plenamente revitalizada.”
    Rutherford usava regularmente as ondas de rádio, proferindo discursos vigorosos a respeito da natureza satânica do nazismo. Os discursos eram retransmitidos globalmente e impressos para distribuição aos milhões de exemplares. Em 2 de outubro de 1938, ele proferiu o discurso “Fascismo ou Liberdade”, em que denunciou Hitler em termos nada incertos.
    “Na Alemanha, o povo em geral ama a paz”, disse Rutherford. “O Diabo colocou seu representante, Hitler, no controle, um homem demente, cruel, maligno e implacável . . . Ele persegue cruelmente os judeus porque eles eram outrora o povo pactuado de Jeová e levavam o nome de Jeová, e porque Cristo Jesus era judeu.”
    À medida que a fúria nazista contra as Testemunhas de Jeová atingia novos picos, as denúncias das Testemunhas tornavam-se ainda mais contundentes. A edição de 15 de maio de 1940 de Consolação declarou: “Hitler é um filho tão perfeito do Diabo que esses discursos e decisões [de Hitler] fluem através dele como água através de um bem construído esgoto.”
    Expostos os horrores dos campos
    Embora o público em geral desconhecesse a existência dos campos de concentração até 1945, descrições detalhadas deles apareceram muitas vezes nas publicações da Torre de Vigia, nos anos 30. Em 1937, por exemplo, Consolação falou a respeito de experiências com gás venenoso em Dachau. Por volta de 1940, as publicações das Testemunhas de Jeová já haviam mencionado por nome 20 diferentes campos e apresentado informações sobre suas indescritíveis condições.
    Por que as Testemunhas de Jeová conheciam tão bem os campos de concentração? Quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939, já havia 6.000 Testemunhas confinadas em campos e em prisões. O historiador alemão Detlef Garbe calcula que, naquele tempo, de 5% a 10% dos presos nos campos de concentração eram Testemunhas de Jeová!
    Num seminário sobre as Testemunhas de Jeová e o Holocausto, Garbe declarou: “Das 25.000 pessoas que admitiam ser Testemunhas de Jeová no começo do Terceiro Reich, cerca de 10.000 passaram pelo menos algum tempo na prisão. Destas, mais de 2.000 foram enviadas a campos de concentração. Isto significa que, com exceção dos judeus, as Testemunhas de Jeová constituíam o grupo religioso mais perseguido pela SS.”
    Em junho de 1940, Consolação disse: “Havia 3.500.000 judeus na Polônia quando a Alemanha começou a sua Blitzkrieg . . . , e, se as informações que chegam ao mundo Ocidental forem corretas, a destruição deles parece estar em franco progresso.” Em 1943, Consolação observava: “Nações inteiras, como os gregos, os poloneses e os sérvios, estão sendo exterminados sistematicamente.” Por volta de 1946, A Idade de Ouro e Consolação haviam identificado 60 diferentes prisões e campos de concentração.
    As Testemunhas frustraram os nazistas
    Embora os nazistas tentassem cortar o fluxo de publicações da Torre de Vigia, certa autoridade de Berlim admitiu: “É difícil encontrar os lugares secretos na Alemanha que ainda imprimem as publicações dos Estudantes da Bíblia; elas não trazem nomes nem endereços, e nenhum deles trai o outro.”
    Apesar de seus esforços frenéticos, a Gestapo jamais conseguiu capturar mais do que a metade do total das Testemunhas na Alemanha numa determinada época. Imagine a frustração do sofisticado sistema de espionagem nazista — não conseguia encurralar e silenciar este pequeno exército nem cortar o fluxo de publicações. As publicações chegavam às pessoas nas ruas e atravessavam até mesmo as cercas de arame farpado dos campos de concentração!
    Triunfo sobre o barbarismo
    Os nazistas, que eram considerados mestres em quebrar a fibra moral das pessoas, tentaram desesperadamente fazer com que as Testemunhas de Jeová violassem a sua neutralidade cristã, mas eles falharam fragorosamente. O livro The Theory and Practice of Hell (A Teoria e a Prática do Inferno) diz: “Não se pode deixar de ter a impressão de que, falando-se psicologicamente, as SS jamais estavam bem à altura do desafio que as Testemunhas de Jeová representavam para elas.”
    De fato, as Testemunhas de Jeová, com apoio do espírito de Deus, ganharam a batalha. A historiadora Christine King, reitora da Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, descreveu assim os oponentes nesse conflito: “Um deles [os nazistas] enorme, poderoso, aparentemente invencível. O outro [as Testemunhas] bem, bem pequeno . . . com apenas a sua fé, nenhuma outra arma . . . moralmente as Testemunhas de Jeová puseram de joelhos o poder dessa potência, a Gestapo.”
    As Testemunhas de Jeová constituíam um pequeno e pacífico enclave no domínio nazista. No entanto, elas travaram e ganharam a batalha a seu modo — uma batalha pelo direito de adorar o seu Deus, uma batalha pelo amor ao próximo e uma batalha para poder dizer a verdade.

    As Testemunhas de Jeová expuseram a existência dos campos
    EMBORA nomes tais como Auschwitz, Buchenwald, Dachau e Sachsenhausen só se tornassem conhecidos à maioria das pessoas depois da Segunda Guerra Mundial, eles eram bem conhecidos aos leitores de A Idade de Ouro e Consolação. Os relatos das Testemunhas de Jeová, que vazavam dos campos sob grande risco e eram publicados pela Torre de Vigia, expunham as intenções assassinas do Terceiro Reich.
    Em 1933, A Idade de Ouro publicou o primeiro de muitos informes sobre a existência de campos de concentração na Alemanha. Em 1938, as Testemunhas de Jeová publicaram o livro Cruzada Contra o Cristianismo em alemão, francês e polonês. Ele documentava em detalhes os perversos ataques nazistas contra as Testemunhas e incluía diagramas dos campos de concentração de Sachsenhausen e Esterwegen.
    O Dr. Thomas Mann, ganhador do prêmio Nobel, escreveu: “Li o seu livro e as aterradoras provas documentais com a mais profunda emoção. Não consigo descrever os sentimentos de repugnância e aversão que encheram meu coração ao ler detidamente esses registros de degradação humana e abominável crueldade. . . . Ficar calado favoreceria apenas a indiferença moral do mundo . . . Os senhores cumpriram com o seu dever por publicarem esse livro e trazerem esses fatos à tona.” — O grifo é nosso.

    As Testemunhas de Jeová estavam entre os primeiros detentos
    A SENHORA Geneviève de Gaulle, sobrinha do ex-presidente da França, Charles de Gaulle, era membro da Resistência francesa. Na sua captura e posterior prisão no campo de concentração de Ravensbrück, em 1944, ela conheceu as Testemunhas de Jeová. Depois da Segunda Guerra Mundial, a senhora de Gaulle proferiu palestras por toda a Suíça e muitas vezes falou a respeito da integridade e coragem das Testemunhas de Jeová. Numa entrevista em 20 de maio de 1994, ela disse a respeito delas:
    “Elas estavam entre os primeiros deportados no campo. Muitas já haviam morrido . . . Nós as reconhecíamos pelo seu distintivo. . . . Estavam absolutamente proibidas de falar sobre suas crenças ou de possuir qualquer livro religioso, em especial a Bíblia, que era tida como supremo livro da sedição. . . . Sei de uma [Testemunha de Jeová], e fui informada de que houve outras, que foram executadas por possuírem algumas páginas de textos bíblicos. . . .
    “O que eu admirava muito nelas é que poderiam ter saído de lá quando quisessem, se simplesmente assinassem uma renúncia de sua fé. No fim, essas mulheres, que pareciam tão fracas e esgotadas, eram mais fortes do que as SS, que tinham poder e todos os recursos à sua disposição. [As Testemunhas de Jeová] tinham força, e era a sua força de vontade que ninguém conseguia quebrar.”

    A conduta das Testemunhas nos campos
    POR amor ao próximo — companheiro de cela, companheiro de alojamento, companheiro de campo — as Testemunhas de Jeová partilhavam não só seu alimento espiritual, mas também qualquer alimento material que tivessem.
    Um judeu, sobrevivente do campo de concentração de Buchenwald, explicou: “Conheci ali os Bibelforscher [Testemunhas de Jeová].” Eles sempre falavam sobre as suas crenças. De fato, nada os impedia de falar sobre seu Deus. Eram muito prestimosos com outros prisioneiros. Quando o pogrom fez uma remessa em massa de judeus ao campo, em 10 de novembro de 1938, os ‘porcos de Jeová’, como os guardas chamavam as Testemunhas de Jeová, partilharam sua ração de pão com os judeus idosos e famintos, ficando elas mesmas sem pão por quatro dias.”
    Similarmente, uma prisioneira judia, no campo de Lichtenburg, disse a respeito das Testemunhas: “Era uma gente brava, que suportava seu destino com paciência. Embora os prisioneiros gentios fossem proibidos de falar conosco, essas mulheres jamais observavam esse regulamento. Oravam por nós como se fôssemos da mesma família, e rogavam-nos que não desanimássemos.”

  • marcia jurema

    Anderson Souza mostrou-se mais habilitado para falar sobre o assunto do que o próprio autor do livro. As TJs salvaram a honra da humanidade.

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