O Muro de Berlim ao redor da USP: 20 anos de política mocoronga

Entre vaias ensandecidas de plateias incapazes de admitir sequer ouvir um discurso que não seja 100% de acordo com seus preconceitos, a chapa Reação chamou a atenção do país inteiro.

[ nota do editor: o Flavio, colaborador do nosso site, fez parte da chapa Reação, que ficou em segundo lugar na disputa pelo DCE da USP. ]

-- Marxistas contra a PM (USP, 2011) --

Há tradições universitárias tão arraigadas que aparentam ser naturais. Durante as últimas décadas, a maior e mais assustadora delas parecia ser o trote. Humilhantes e violentíssimos, tinham o fito de deixar marcas na personalidade e até no físico de quem ousasse ter sua primeira grande vitória na vida. Apesar das regras contrárias ao trote, era praticamente impossível imaginar que uma universidade conseguisse viver sem eles, como mostra Glauco Mattoso em seu ensaio O calvário dos carecas. A entrada na universidade era um rito de passagem envolto em medo.

Os trotes atemorizavam com razão, mas mal sabiam os não-iniciados o que é o comunismo.

Tal como o trote, outra constante numa universidade é o famoso “movimento estudantil”. Embora o termo remeta à consciência política jovem, quem já travou contato com o tal movimento sabe que o idealismo romântico pouco se coaduna com a realidade. Desde a ditadura militar, as universidades, sobretudo em seus cursos de Humanidades, são infectadas por radicais de extrema-esquerda – pessoas que subtraem suas leituras a Marx e marxistas, e ainda acreditam em socialismo, em luta de classes e em uma possível revanche da Guerra Fria.

Para piorar o quadro, universidades públicas costumam fornecer um sem número de benesses para estudantes (ignorando qualquer distinção entre aqueles que estudam e os que apenas se matriculam), que vão de comida semi-gratuita a habitação totalmente gratuita. Podem ser mequetrefes, mas não exigem esforço algum além de enfrentar a burocracia. Com este cenário, há pasto e circunstância para o agrupamento de “alunos profissionais”, ou seja, pessoas pouco interessadas em se formar e contribuir com conhecimento e riqueza à sociedade, e sim a se organizar em partidecos políticos que mal lotam um Fusca. Sua função, ao invés de estudar, se torna ser o braço “jovem” do partido em agitações contra o governo e forças “poderosas”, o que inclui qualquer grupo com mais cabeças do que a quantidade de assentos numa Kombi.

As eleições para o DCE

Na USP, o “movimento estudantil” sofreu a maior sacudida de sua história nos últimos meses. Os fatos são sobejantemente conhecidos: o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24, no estacionamento da FEA (Faculdade de Economia e Administração); o convênio com a PM para aumentar a segurança no campus; a prisão de alunos portando maconha; o quebra-quebra tentando expulsar a PM do campus; a invasão da administração da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e da reitoria; a reintegração de posse; o golpe que adiou as eleições para o DCE (Diretório Central dos Estudantes).

Apesar dos pesares, estas últimas eleições, definidas na sexta-feira (30/03), tiraram o sono de um movimento em letargia há mais de duas décadas. Há mais de duas décadas, facções extremistas lutam pelo controle do DCE. As eleições são verdadeiras disputas entre a extrema-esquerda, a extrema-extrema-esquerda e a extrema-extrema-extrema-esquerda. Os alunos, então, dividem-se entre dois grupos rigidamente delimitados: os que acreditam haver diferenças substanciais entre PSTU e PCO e os que ignoram de todo o pleito, visto que é difícil pensar em alguma coisa que o DCE já tenha feito (andando pelo campus, a maioria absoluta das unidades sequer sabia que havia eleições para o DCE, e geralmente mal se lembravam do que era o órgão).

Desta vez foi bem diferente. Uma chapa tinha propostas claramente não-esquerdistas para o DCE. Ao invés de assembleias organizadas a toque de caixa e palavras de ordem vazias de sentido como “Fora PM!”, a chapa pretendia usar os meios tecnológicos mais óbvios para atingir mais alunos interessados em ter a sua opinião ouvida: votações eletrônicas através do número USP, pelo próprio sistema online por onde são feitas as matrículas. Era um meio genial, de tão óbvio, de se democratizar as decisões que dizem respeito aos alunos, fazendo com que a maioria da USP fosse consultada, ao invés de ter assembleias repetidas ad nauseam apenas para se obter o resultado que a mesa já espera obter à força.

A chapa, como muitos no Brasil já sabem, é a chapa Reação. Apesar de não obter o primeiro lugar, foi o assunto das eleições. As verdadeiras estrelas de todos os debates. Até agora, é difícil até entre a maioria dos alunos da USP lembrar qual o nome da chapa vencedora das eleições.

Entre vaias ensandecidas de plateias incapazes de admitir sequer ouvir um discurso que não seja 100% de acordo com seus preconceitos, a chapa Reação chamou a atenção do país inteiro. O programa de praticamente todas as chapas concorrentes, não tendo elas proposta alguma além dos chavões mela-cuecas de sempre, usualmente continham diversas referências à chapa Reação. Iniciou-se uma campanha difamatória violentíssima (incluindo calúnias pesadas) baseada no medo reginaduartístico. Segundo se propagava, a chapa Reação era fascista, burguesa, neoliberal, malufista, privatizante e reacionária, e caso ganhasse, iria privatizar a Universidade, aumentar o preço do Bandejão, emparedar a favela da São Remo do lado da Cidade Universitária, usar ônibus para expulsar os pobres da Universidade e envenenar a maçã da Branca de Neve.

Foi uma batalha extremamente desproporcional. Antes de mais nada, em nível físico: foram pouco mais de 40 alunos da Universidade enfrentando quatro outras chapas ajudadas por uma estrutura partidária milionária, cada qual com décadas de expertise em fazer política nos níveis em que acredita ser possível obter uma vitória (com a provável exceção do PCO, que dificilmente ganha eleições sequer pra mascote de sindicato).

Os membros e apoiadores da chapa Reação distribuíram pequenos panfletos e tentaram, no boca a boca durante pouco mais de uma semana, avisar a Universidade que eles existiam e que, afinal, pela primeira vez, havia pessoas interessadas em modificar o modelo de assembleísmo e de brincar de Tchecoslováquia que impera não apenas na USP. Algumas raras faixas mostravam a chapa para algumas unidades menos violentas, enquanto seus cartazes foram arrancados em menos de 45 minutos das paredes da FFLCH, a faculdade com os cursos de extrema-Humanas.

Contra isto, havia panfletos, cartazes por toda a Cidade Universitária com mais detalhe para “a chapa do Rodas” do que para qual chapa concorrente havia os colado ali, camisetas, faixas ocupando dois pavimentos, jornaizinhos diários, um pessoal que chegou de ônibus para panfletar nas unidades do interior (curiosamente lembradas nessas épocas, mas não quando uma assembleia na principal unidade da capital decide “em nome da USP”, se lixando para a opinião dos campi do interior), fora a turma que interrompia aulas para “passar um recado” aos alunos, pedindo pelamordedeus que votassem em qualquer uma, menos na Reação. Uma estrutura tão exorbitante que fica difícil acreditar que tenha sido respeitado o teto mandatório de R$5 mil gastos em campanha. Isso sem falar em esquisitices, como urnas da FEA e da Poli “misteriosamente” com falta de cédulas (por que bem lá?), além de relatos no interior de pessoas “deixando” votos para mesários entregarem quando as urnas chegarem. Ainda assim, a chapa marcou um honrado segundo lugar.

A novilíngua e a revolução dos porcos (no mau sentido)

Mas também foi uma disputa desigual no campo ético. Além da campanha apelando a um medo primitivo e irracional, a chapa nadou contra a maré enfrentando um difícil paradoxo: como mostrar a mais pessoas que é possível mudar o DCE, se cada estudante que nunca precisou dessa entidade (em verdade, ela mais atrapalha os estudantes do que os ajuda) sente um calafrio na espinha só de ler tal sigla? A proposta da chapa também exibia uma retidão difícil de ser “vendida”: ao invés de impor suas opiniões goela abaixo dos seus possíveis eleitores (entendo que, se alguém vota na chapa, é por querer que a USP inteira se curve a seus interesses mesquinhos e passageiros), procurou tratar as questões fundamentais da USP (mormente a presença da PM no campus) através de plebiscitos consultando mais estudantes, para antes de tudo respeitar a opinião de todos os USPianos.

A USP, além de um Muro de Berlim que separa sobretudo a Cidade Universitária do restante da realidade, tem também uma novilíngua toda sua: todas as chapas diziam lutar pela “democratização” da Universidade, quando na prática (e mesmo na teoria, já na frase seguinte) propunham um modelo de assembleias e reuniões políticas feitas para exigirem tanto esforço que apenas alunos com carreira política em algum partido podem acompanhá-las. Para se ter uma ideia, vide os “resultados” de uma assembleia apregoados pelo jornalzinho do PCO como uma enorme vitória, onde se “deliberou” o seguinte:

– indicar a discussão de uma próxima paralisação às assembleias dos cursos;
– adesão ao ato convocado pelo Comitê Unificado contra a Repressão que ocorrerá no dia 22/03 às 17h em frente à Reitoria;
– contra o adiamento das eleições para o DCE-Livre;
– indicativo de assembleias de cursos entre os dias 09 a 14/04;
– ato-debate no dia 12/04, no prédio dos cursos de História e Geografia, em memória ao Prof. Aziz Ab’Saber e aos mortos pela Ditadura Militar, pela democratização da universidade, contra a militarização do campus e a repressão;
– próxima reunião do Comando Geral de Mobilização no dia 13/04 às 18h no prédio dos cursos de História e Geografia;
– próxima Assembleia Geral dos Estudantes da USP será realizada no dia 19/04 às 18h no prédio dos cursos de História e Geografia da FFLCH.

Traduzindo da novilíngua, “deliberaram” (adoram esse verbo) uma “paralisação às assembleias” (seja lá o que tal sintaxe queira dizer), aderir a um comitê, não adiar as eleições (dar outro golpe por medo, como o que já havia sido realizado em uma assembleia de mentirinha) e propor… duas assembleias, um ato e uma reunião. Ou seja, fizeram uma assembleia para “decidir” por quatro assembleias e por medidas simbólicas (visto que uma assembleia não decide as datas das eleições do DCE). É mais ou menos como “deliberar” que o Estado é laico propondo nova reunião no fim da próxima sessão de descarrego na pentecostal mais próxima.

A isso chamam “democracia”. Uma atitude típica de gente que não trepa. As propostas de uma chapa que pretendia que as pessoas fizessem algo mais útil com seu tempo livre (como, sei lá, sexo) foram chamadas de “ditadura”. Em entrevista ao Estadão, um aluno de uma das chapas concorrentes criticou a ideia de ouvir mais estudantes: para ele, seria dar voz a estudantes “desmobilizados”. O tal “movimento estudantil”, após ajudar na derrubada da ditadura e no impeachment de Collor, dá suas caras e cores fascistas, e agora divide os estudantes em castas: os que podem ter opinião e os que não podem.

A Reação também veio trazer algo mais do que verdadeira democracia. O companheiro anti-“desmobilizados” acima não é um caso único. Na própria invasão da reitoria no ano passado, até mesmo a assembleia convocada (à qual só compareceram os “mobilizados”) votou contra a invasão. Indignados, alunos “democráticos” (a maioria depois formou a chapa 27 de Outubro, com afiliados do PCO) esperaram a assembleia se esvaziar e, após a meia-noite, decidiram “revotar”, ganhando assim de levada o voto pela invasão. Ora, quem ficaria na USP até uma da manhã? Alguém que tem trabalho no dia seguinte, ou alguém que vai invadir a reitoria, não importa o que digam?

Nitidamente, se vê que o resultado “deliberativo” da assembleia já estava decidido antes de ela começar. Todas elas são apenas um teatrinho para dar ares de “decisão dos estudantes” a medidas autoritárias que acabam agredindo os estudantes com piquetes, greves forçadas e até a “comissão de segurança” da invasão da reitoria – ou seja, alguns leões de chácara de altura, peso, diâmetro e densidade próximas às de um diplodoco prontos a te espancar caso você invente de entrar na reitoria ou tirar fotos do que vir. A causalidade está completamente invertida. A Reação apareceu para trazer aos alunos “críticos da sociedade” a noção elementar de que os resultados vêm depois da votação.

Num ponto raríssimo em que Marx e Tocqueville concordam em algo, a política como teatro e farsa é o mecanismo de legitimação de um poder indesejável e nocivo ao governado. É o mecanismo que qualquer ditadura usa para se manter no poder – de Hitler a Saddam Hussein, de Stalin a Pinochet, todos convocaram eleições entre os seus para se manter no poder oprimindo à mão de ferro aqueles que governavam. O que falta para a USP se tornar uma ditadura feroz é apenas maior quantidade de sangue, porque um pouco já teve. Afinal, qual o medo de se convocar um plebiscito para saber a opinião de todos os estudantes da USP sobre a presença da PM, por exemplo? Apenas isso: saber que defendem uma bandeira ilegítima e que, afinal, já causou morte dentro do campus. Também é a isso que chamam “democratização”.

O que vem pela frente

Os números não mentem: ainda nem 20% da USP compareceu às urnas. Como a extrema-esquerda apenas floresce em cursos extremamente “mobilizados” (na verdade, os que mais se cegam da verdade, em uma real autonomia da realidade através de livros feitos para se ter menos noção de mundo, e não mais), é praticamente óbvio que, quanto mais pessoas votarem longe dos currais de votos manipulados, menos votos a velha extrema-esquerda terá. Por isso, o surgimento de uma chapa com risco de ganhar, mesmo sem estrutura com décadas de profissionalização por trás, causa tanto medo nos companheiros. É curioso que pessoas tão “democratizantes” e contrárias à “privatização” sintam horror à ideia de que uma maioria democrática pode não os querer no poder. E agora, o recado é claro: basta tempo para outros institutos ficarem sabendo das eleições para o DCE e a festinha do pseudo-proletariado acabou.

Mais do que isso, é bom entender que a Reação, muito mais do que uma chapa, é um movimento. E não é restrito à USP: chapas que, sem muito dinheiro e estrutura, arrancaram a dentadas o Muro de Berlim já ganharam o pleito na UFMG e na UnB, além de já terem sofrido fraudes na UFRGS parecidas com as que a Reconquista, que tinha membros e ideais parecidos com a Reação, sofrera em 2009.

A Reação é o saco cheio. É uma reação contra uma canalha mocoronga que está há 20 anos trocando de lugar no poder com o partido rival sem ter feito nada além de greves, piquetes e convocado assembleias. É um paradoxo ter de se organizar politicamente pelo direito de ter aulas em paz sem politicagem, por isso o movimento demorou tanto para aparecer. Mas, se é só assim que se consegue jogar o jogo, assim jogaremos.

A Reação modificou o movimento estudantil de cima abaixo. É quase inconcebível imaginar que haverá alguma eleição para o DCE nos moldes como elas eram antes de a Reação existir – mesmo que nenhum de seus atuais membros faça mais parte da USP. E que fique o recado para todas as universidades do país: mesmo sem muito esforço, basta dar aos estudantes o direito de voto e os partidos nanicos serão imediatamente lembrados de que, somados, não juntam 1% dos votos da população. E não é com esse elitismo que podem ser “a voz da democracia”.

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  • Ludmilla

    Parabéns REAÇÃO. Vocês estão no caminho certo. Não desistam.
    Esses pilantras comunistas estão com os dias contados no Brasil INTEIRO. É só questão de tempo.
    O Brasil é um país de paz. Vermelhos aqui só servem de desprezo, ainda mais entre os estudantes de verdade da USP.
    Não se preocupem com eles.
    A indiferença é o destino desses vermelhos imprestáveis.

    • Luís

      “O Brasil é um país de paz.”

      Só faltou você dizer que o Brasil é um país de gente boazinha e que não faz mal a ninguém.

  • http://www.menestreis.campogeralcom.br André George

    Concordo em gênero, número e grau com o conteúdo do texto.

    Já graduei, to no mestrado e como já fui presidente do CA da Eng Elétrica ca POLI, pude, por um tempo ter contato direto com toda sorte de esquerdinhas e vermelhimos que orbitam o mov estudantil da USP.

    Descobri com o tempo que é um cancer, que uma galera super corajosa começa a estirpar da USP. Parabéns REAÇAO.

  • Carlos

    Bom texto. Sou meio a favor da extrema-esquerda nas disputas contra a extrema-extrema-esquerda e a extrema-extrema-extrema esquerda, mas acho que a chapa de vocês e bem necessária. Faltou você citar o Lula, embora eu entenda os motivos – não se pode confundir o próprio eleitorado. Aquela, sabe?

    “O problema de quem não gosta de política é que é sempre é governado por quem gosta.”

    Boa luta por aí!

  • Pedro

    Flávio,

    Permita-me discordar da sua análise.

    Vamos aos números: as eleições desse ano mobilizaram a incrível marca de 13.500 estudantes, algo como 15% de todos os estudantes da USP. Desses, mais da metade, 51%, votou na chapa vencedora, NVMA. A chapa reação recebeu metade dos votos da NVMA. Em todos os aspectos, essa foi sim uma eleição recorde: número de votos, repercussão nacional, polêmica e euforia nos debates.

    No entanto, a chapa Reação usou das mesmas armas que as outras chapas vem usando ao longo dos muitos anos de domínio do DCE. Foram muitos os panfletos digitais no facebook, taxando os ditos de extrema esquerda como preguiçosos, pseudo-revolucionários, baderneiros e etc. Eu cheguei a ler, inclusive, vários comentários de membros da chapa que eram contra o direito de greve, um direito primordial à uma sociedade democrática, cuja negação só é defendida por extratos da extrema direita mundial. Foi, na minha opnião, uma eleição caricata, em que um lado defendia a USP com livros de Marx e o outro declamava apaixonado discursos de Thatcher e Reagan.

    É difíci acreditar que partidos nanicos, PSTU, PCO, PSOL, tenham disponíveis recursos milionários para fazer campanha de DCE; ou uma grande experiência e aparato político. Se os alunos daquelas chapas estão mais acostumados a discutir e a lidar com política, isso não deixa de ser uma vantagem. Em uma república, a alienação política não é uma qualidade. A maioria silenciosa, como alguns membros citaram e muitos veículos de informação alinhados com a Reação definiu, não apareceu. Talvez porque ela não exista; talvez porque ela não dê a mínima para as eleições do DCE. É fato, no entanto, que a eleição teve ampla cobertura da mídia nacional e que, possivelmente, muito mais do que 15% dos alunos da USP sabia que ela aconteceria. Há aí uma interessante inferência lógica: as assembléias ditas anti-democráticas mobilizam, em média, de dois a três mil alunos, quando muito, é bem verdade, mas será que o baixo quorum não se deve à simples falta de interesse?

    Existem algumas frases usadas em seu texto que desmontam a sua argumentação e levam ao rídiculo que é o extremismo caricato. Por exemplo: “[…] brincar de Tchecoslováquia.” Por essa frase, percebe-se, primeiro, que você não conhece a história da Tchecoslováquia ou das atuais República Tcheca e Eslováquia, que foram, na maior parte século passado, países dominados por grandes potências de direita e esquerda (Império Austro-Húngaro, Nazistas, USSR); e segundo, a generalização medíocre em relação à ideias socialistas e comunistas. Marx é um dos pais da sociologia, assim como Weber e Durkeheim, e seu Das Kapital foi um dos maiores avanços atingidos em ciências econômicas, desde Adam Smith e David Ricardo. Ele serve, sim, para entender melhor o mundo em que vivemos (é interessante lembrar que em cursos de economia e administração de Uni. Americanas, ele ainda é estudado). E a tal luta de classes ainda é fonte de interpretação histórica na Inglaterra, vide Eric Hobsbawn e seus discípulos.

    A USP definitivamente não é uma ditadura e está muito longe disso. Quem estivesse insatisfeito com os rumos do DCE poderia ter manifestado sua insatisfação na semana passada, livremente. Vale sempre lembrar, entretanto, que a USP é um instituição extremamente elitista. Dos 200.000 candidatos anuais, apenas 10.000 são aceitos e, desses, a maioria vem de escolas privadas. Ao mesmo tempo, a USP é uma instituição pública que, por definição, é voltada para atender a sociedade a sua volta. Como ampliar o atendimento a sociedade, como deselitizar as suas faculdades, esse deveria ser um tema central do debate; e não o direito a estudar em detrimento de greve. Convenhamos, a maior parte dos brasileiros tem um ensino de péssima qualidade e a esses é realmente negado o direito ao estudo.

    Democratizar a universidade é muito mais do que dar o direito de voto a todos (voto eletrônico) ou fazer um plebscito para definir se a PM deve ou não ficar na USP ou apresentar uma chapa “apartidária”. Democratizar a universidade é fazer com que todas as vozes sejam ouvidas, as extremas direita e esquerda, como a Reação e NVMA, e todas as outras. É um trabalho de mobilização política, fazendo sim assembléias (mais organizadas, periódicas, com representantes), discutindo decisões e, sobretudo, com grande mobilização. Democracia não é participação anual em uma eleição (ou de 4 em 4 anos); democracia é um sistema muito mais complexo. E requer a real participação das pessoas.

    No mais, boa sorte ao movimento que se cria.

    Pedro

    • http://vilarnovo.wordpress.com Pablo Vilarnovo

      “Das Kapital foi um dos maiores avanços atingidos em ciências econômicas, desde Adam Smith e David Ricardo. Ele serve, sim, para entender melhor o mundo em que vivemos (é interessante lembrar que em cursos de economia e administração de Uni. Americanas, ele ainda é estudado). E a tal luta de classes ainda é fonte de interpretação histórica na Inglaterra, vide Eric Hobsbawn e seus discípulos.”

      Ui…

    • Crotalus

      “É difíci acreditar que partidos nanicos, PSTU, PCO, PSOL, tenham disponíveis recursos milionários para fazer campanha de DCE; ou uma grande experiência e aparato político.”

      Eles tem sim de esquema de fraude em sindicato.

  • http://www.colbertreport.com Gabriel Gabbardo

    Peraí.

    “pessoas que subtraem suas leituras a Marx e marxistas, e ainda acreditam em socialismo, em luta de classes e em uma possível revanche da Guerra Fria.”

    Me parece que o autor comete dois erros homéricos aí.

    Primeiro, faz uma equivalência mesquinha entre “socialismo” e “comunismo”. Léon Blum era socialista, e não tinha muita coisa boa para falar sobre os comunistas. Todo social-democrata é socialista (ou, como Tony Blair, mente descaradamente dizendo que é um). Menos trogloditismo intelectual, por favor.
    Segundo: Acreditar em luta de classes é falso? Morgenstern, ao que parece, subtraiu de suas leituras nãao apenas Marx, mas tamb´[em Aristóteles. Grupos sociais possuem interesses diversos, sim, e possivelmente antagônicos.

  • Bosco

    O tiozinho fazendo escola.

  • Bosco

    Não é que eu adivinhei! É o tiozinho mesmo.
    http://www.revistaforum.com.br/blog/2012/03/31/blogueiro-da-veja-nao-vou-me-adaptar/

  • http://andreegg.opsblog.org André Egg

    Deixa eu ver se entendi: o PSTU e o PCO são mais ricos que o PSDB, a Veja é o bastião da democracia e os alunos da FFLCH são mais ricos e desocupados que os da POLI e da FEA.

    Os estudantes mobilizados são vagabundos que não estudam e vivem às custas do restaurante universitário e dos alojamentos estudantis.

    Bem, então deve ser que os caras tem milhões para fazer campanha por que economizam comendo no bandejão e morando no pombal…

    • Luís

      Liga não, cara.

      Esse cara só fala merda. É só ver as bostejações dele no Implicante (um broguinho de oposição) e no Instiputo Millenium (que dispensa apresentações).

  • Luís

    Pois é. A chapa reação perdeu.

    Chora agora.

    PS: Quantos 10 votos será que a chapa conseguiu? Gostaria de saber.