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O governo Temer: mais que uma ponte

por Heloisa Pait (04/04/2016)

Como deve agir uma verdadeira oposição a favor do Brasil.

michel-temer

O futuro governo de Michel Temer deve ser, a partir de hoje, legitimado e apoiado pela oposição que votará a favor do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. O pedido de impeachment do atual vice-presidente, os chamados da Folha de S. Paulo por sua renúncia e a indignação tardia de Marina Silva são um último recurso para evitar o impeachment que o Brasil precisa para sair dessa situação insólita em que se meteu, onde uma funcionária desprestigiada de uma organização criminosa dirige o país.

Mas a oposição também tem agido de modo dúbio com relação ao futuro governo Temer, reduzindo assim tanto as chances de aprovação do pedido de impeachment na Câmara (e agora no Senado, por determinação inconstitucional) como as perspectivas de sucesso do futuro governo, o que poderá nos levar a uma crise ainda mais séria do que a que enfrentamos. Agentes políticos, assim como os econômicos, olham para o horizonte. E hoje eles comparam o quanto a liderança de Temer pode oferecer com o quanto a de Dilma pode fazê-lo. Essa é a conta. O Partido da Social Democracia Brasileira, coerente com a inação que o marcou no ano de 2015, está fazendo pender a balança para a atual presidente e seus colaboradores, a maioria investigados pela Lava Jato.

Por que fazem isso? Por que Aécio Neves exige que Temer realize um governo “apartidário”, sendo que é o presidente do maior partido brasileiro e um exímio negociador com larga experiência legislativa? Por que pedem que Temer abra mão de uma possível candidatura à presidência da República em 2018, um direito não só seu mas também do eleitor, que merece ter opções na cédula eleitoral? Por que excluir da corrida presidencial o candidato natural de um partido que é o que mais eleitores alcança nesse vasto país? Ora, não faz sentido algum, de todos os ângulos que se olhe. Parece que veem como “risco” a possibilidade de que Temer faça um bom governo, como fez Itamar Franco; entretanto, hoje esse é o risco que a esmagadora maioria dos brasileiros quer correr — incluindo petistas que se dão conta da incapacidade generalizada de seu partido em governar e querem voltar aos anos 1980 onde criticavam “tudo o que está aí”.

Se o PSDB se colocar a favor deste novo governo, estará ao lado do povo brasileiro. Se hesitar e inventar condições a cada passo, não estará. Não são apenas os votos na Câmara que esperamos do partido que nós botamos no segundo turno de todas as eleições desde 1994! Esperamos dignidade e coerência nesse momento crítico brasileiro.

O PSDB tem atraído, desde sua fundação, eleitores que prezam a racionalidade no trato da coisa pública e também colaboradores com propostas e experiência em políticas públicas nas mais várias áreas: meio ambiente, educação, economia, gestão e políticas sociais. Essa tem sido a marca do partido, mais que grandes vitórias eleitorais que, olhando para trás, não ocorreram. Em 1989, Mario Covas perdeu a eleição presidencial para três abjetos líderes políticos. O próprio Fernando Henrique se define como um presidente acidental, ganhando peso eleitoral por sua gestão eficiente no Ministério da Fazenda. A passagem de Serra no Ministério da Saúde é muito bem lembrada, mas também suas derrotas para Lula, Dilma e Haddad. Os tucanos acreditam que, alijando o PT do poder, será a sua vez. Mas seu histórico eleitoral não permite concluir isso. É fácil imaginar Aécio ou Serra perdendo para a neo-petista Marina Silva num segundo turno em 2018, ou nem chegando a ele.

A razão pela qual tucanos acreditam que a alternância do poder se dá entre eles e o PT é misteriosa. Misturam-se vaidades pessoais que cegam seus líderes; o histórico imbricado dos dois partidos na resistência ao regime militar na Grande São Paulo; e principalmente uma cultura patrimonialista que divide a sociedade entre “donos do poder” incrustados no Estado que definem os desígnios da nação e essa própria nação que lhes serve. Ao que tudo indica, a oposição teve nos 12 anos até a reeleição de Dilma Rousseff inúmeras oportunidades de barrar o Petrolão, que não utilizou por respeito a essa alternância patrimonialista, esse café com leite azedado, esse torno mecânico com Sorbonne. Alguns provavelmente se dão conta disso agora. Mas outros ainda colocam condições a Temer, como se 2018 fosse “deles”.

Ora, Temer tem excelentes condições de ser um bom presidente! É um hábil negociador e conhece as leis do país; manteve-se no mínimo afastado do escabroso Petrolão, ainda que dele tivesse ciência – como o tinha Brasília toda; e tem dado sinais de compreender a grave crise econômica em que estamos e as soluções que os especialistas propõem. Comanda o maior partido no congresso nacional e, hoje, é o líder que mais tem condições de dar alguma coerência às demandas pulverizadas dos congressistas. Se oferecer ao PMDB um horizonte eleitoral, poderá convencer sua voraz base de apoio de que a cenoura está um pouco mais adiante, ajudando o país a atravessar os próximos anos com mais tranquilidade. Sobre a futura oposição, a presença de um conciliador no Planalto reduzirá o temor de retaliação dos petistas, que não se comportarão com maior integridade do que agora. O PSDB deve portanto apoiar seu governo, usando sua influência no congresso para conferir maior racionalidade às políticas públicas, e não para obter privilégios eleitorais.

E vou além. Os tucanos têm ainda, apesar da dupla derrota do parlamentarismo em 1963 e trinta anos depois, vontade de implementar esse sistema de governo. Têm razão numa coisa: nossos presidentes voluntaristas não trouxeram estabilidade política. A ideia de que o governante vai “chegar lá e resolver tudo” — presente no desenvolvimentismo de José Serra e no autoritarismo de Rousseff e, olhando para trás, dos 50 anos em 5 de JK e no suicídio de Getúlio Vargas — não nos trouxe a tranquilidade democrática que precisamos. Foi boa mesmo a administração de Fernando Henrique Cardoso, deixando os ministros se engalfinharem na esfera pública enquanto tomava decisões salomônicas, emulando o poder moderador de D. Pedro II. Provavelmente teria sido também boa a administração de Tancredo Neves, pelas mesmas exatas razões.

Talvez esse presidencialismo de coalizão, ou parlamentarismo às avessas, deva ser apenas aprimorado, e não combatido pela ciência política que vê nele um equívoco. Ao invés de bradarmos contra a “falta de ideologia dos partidos”, devemos celebrar aquilo que no passado deu certo entre nós e apenas trazê-lo para os novos tempos que exigem transparência do Estado e eficiência de políticas públicas. Fernando Henrique não era ele mesmo um fã do mercado e das privatizações; gerindo o Estado, soube ouvir, avaliar, compor, delegar. Não é bom de voto, mas fez o serviço direito. Collor e Lula sim eram bons de voto, falando diretamente aos nossos desejos de que alguém resolva tudo de modo coerente.

Temer pode ser um desses presidentes-parlamentaristas, compondo um ministério com nomes técnicos e, com sua moderação, em diálogo com forças sociais importantes e bancadas do congresso relevantes. Acredito que todos, com exceção dos mais aguerridos serristas, sabem que o senador é mais útil em um ministério importante que em mais uma corrida eleitoral. Aécio tem, é verdade, o perfil de presidente-parlamentarista, mais por sua dificuldade em manter ritmo de trabalho compatível com cargos executivos que por sua habilidade política sem resultados. E Alckmin nunca sairá vitorioso de uma eleição presidencial. Os tucanos foram rejeitados nas urnas nas últimas quatro eleições presidenciais e devem repensar seriamente o papel de seu partido na construção de um país justo e democrático.

Talvez lhes caiba propor, apoiar e executar políticas públicas racionais e modernas para essa gigantesca economia, aglutinando quadros competentes e equilibrando a balança política contra o eterno fisiologismo brasileiro e o autoritarismo que vai ressurgir em novos partidos depois do enterro do Partido dos Trabalhadores. A esperança de reeditar os 8 anos de FHC é vã. O partido não soube aglutinar os jovens, as mulheres e as minorias e também não soube incorporar bandeiras liberais de redução do Estado e maior transparência, isolando-se do presente político: é um futuro do pretérito. Por fim ainda se encalacrou nas prévias paulistanas, perdendo o partido para Alckmin exatamente como havia acontecido com Quércia. Mas não é um pequeno partido, e sua voz ainda encarna a voz da razão e do planejamento de longo prazo entre muitos eleitores.

Essa voz deve se colocar a favor do governo de coalização de Michel Temer sem temor de que esse governo seja bem sucedido e lance o atual vice-presidente na campanha de 2018. O apoio a Temer agora aumenta as chances de aprovação do impeachment de Dilma Rousseff na medida em que aponta para os indecisos que o governo Temer é viável para o país e portanto eles mesmos. O apoio a Temer depois do impeachment reduzirá as demandas imediatas da base de apoio e aumentará a margem de manobra do governo em negociações no congresso durante os próximos difíceis anos. As eleições de 2018 devem ser deixadas para o eleitor, e não negociadas agora na surdina, em meio a uma recessão assustadora. A oposição não fez oposição durante 12 anos. Não é hora de começar.

Heloisa Pait

Professora da UNESP e membro do conselho consultivo da Open Knowledge Brasil. Colabora com o Digestivo Cultural, revista Panoramas e outros veículos.

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Articzewski
Articzewski

Amalgama descendo ladeira abaixo. Q artigo ruim! Agenda disfarçada de artigo.

Rafael
Rafael

Isso aqui já foi bom, tinha um pensamento plural, com temas diversos, agora só esses chatos ai.

João Paulo Rodrigues
João Paulo Rodrigues
E repare dizer do editor para leitores: vão pastar. Um exemplo de jornalismo e de respeito aos que, afinal, dão sentido ao blog. O site abandonou o debate sobre política, para ser majoritariamente uma competição para saber quem é mais anti-petista ou mais anti-esquerda. Daí, um dos resultados é esse artiguete que tem a cara de pau de chamar a Dilma de chefe de quadrilha e silenciar sobre as grandes qualidades morais, éticas e políticas do chefete do PMDB (um sujeito que sai miraculosamente limpo apesar de ter estado sob a aba de Quércia, ter presidido o congresso na época… Leia mais »
daniel lopes
daniel lopes

merde de taureau. quando 99% dos nossos textos de política eram de petistas ou não-sou-petista-mas, nenhum leitor esquerdista vinha reclamar de ausência de debate. sim, os leitores que não aceitam que tenhamos mudado para publicar gente da direita e da esquerda antipetista, gente que vê o petismo, pelo menos até o afastamento de Dilma, como o principal mal político do país – esses leitores fariam melhor a si mesmos se fossem pastar.

João Paulo Rodrigues
João Paulo Rodrigues

Não conheço os benefícios ou o gosto de ficar de quatro e comer herbáceas, arbustos, gramíneas ou forragem, mas, apesar de confiar nos amplos conhecimentos empíricos do editor sobre o assunto, non, merci.

Esther Torinho
Esther Torinho

Se vc diz a seus leitores
para irem pastar
essa revistinha oca merece fechar.

daniel lopes
daniel lopes

sim, ultimamente estamos priorizando o tema do governo corrupto, mentiroso e incompetente no poder há anos e à beira de um impeachment. mas entendemos que não seja um tema e uma abordagem que agrade a todos. sugerimos que vocês passem os próximos dias e semanas em algum site que aproveite o momento para abordar coisas mais amenas e que tenha visões plurais sobre a corrupção, a mentira e a incompetência do governo federal.

Esther Torinho
Esther Torinho

Desculpem a sinceridade, não conhecia a revista e vou passar a desconhecer. Porque apresenta um artigo que não é artigo, é defesa de algo indefensável. Tendencioso, é o mínimo que posso dizer.

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