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Por que os intelectuais?

por Nelson Ascher (01/04/2016)

A imensa maioria dessa gente se sente rejeitada e vive frustrada alimentando seu rancor.

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Se você é o 50º melhor cardiologista se São Paulo, você é realmente bom, pertence a uma verdadeira elite, não lhe faltam pacientes nem admiradores e você deve ou deveria estar faturando uma nota.

Se você é a 50ª melhor cantora-compositora da MPB atual, e isso no Brasil inteiro, nem sua mulher vai a seus shows e você se dá por feliz quando a contratam para cantar num casório no interior de Rondônia com ida e volta pagas na boleia do caminhão.

No primeiro caso você é alguém; no segundo, nem ninguém você é. E isso vale seja para o 30º melhor jovem cineasta brasileiro com menos de 60 anos, seja para a 20ª maior especialista na interpretação lacaniana da obra de Clarice Lispector.

Nem por isso o ego desses artistas/intelectuais é necessariamente menor que o de Chico, Caetano, Gil, Marlon Brando, Coppola, Eisenstein etc. E, como eles jamais admitirão nem a própria falta de talento nem que escolheram pessimamente mal seus respectivos ramos, a imensa maioria dessa gente se sente rejeitada e vive frustrada alimentando seu rancor. Contra quem? Contra aqueles a cujo reconhecimento e grana eles acham que têm um direito natural, de nascença: a classe média.

Aí, quando a esquerda dá as caras com seu bando de losers invejosos xingando e zombando justamente da classe média e dizendo aos artistas e intelectuais que não são eles os medíocres, os tolos e os chatos, é a classe média que é burra, tapada, reacionária — é ela que, com sua falta de refinamento e com sua mentalidade estreita, não consegue perceber a grandeza das dezenas de milhares de grandes pensadores e criadores que a rodeiam –, aí estes todos se sentem reivindicados e vingados, pois isso, claro, é música para seus ouvidos famintos de apologias e elogios.

Associem a essa música mais alguns tostões extraídos à força e com fórceps da ingrata classe média, e essa gente devotará à esquerda, especialmente a um governo esquerdista, uma lealdade e um apego em nada inferior ao que as lombrigas têm pelos intestinos humanos.

Nelson Ascher

Poeta, tradutor e crítico literário. Autor, entre outros, de Parte Alguma: poesia (Cia das Letras).

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