Pílulas sobre o Day After da votação no Congresso.
O dia após a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados foi de desopilar o fígado. Para favoráveis e contrários, houve um freio de arrumação e retomada de posições. A maioria, porém, ficou desnorteada.
Esse texto não se pretende uma análise política nem a expressão de uma opinião, embora tenha um pouco das duas coisas. Antes, é uma crônica informal das reações no Day After, quando os diversos setores da sociedade se recuperavam da ressaca do impeachment.
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Muita gente ficou surpresa com a tosquice do Congresso. As reações variaram entre o “não sabia que era assim” e o “sempre foi assim”. Bobagem. O Congresso não é essa maravilha toda, mas aquilo que vimos na noite de domingo não era o Congresso, e sim sua versão Big Brother.
O programa Big Brother já demonstrou que o ser humano se comporta de forma mais ridícula que o normal quando exposto a câmeras. Deputados não são diferentes. Para a maioria deles, jamais haveria outra chance de exposição televisiva nacional, ainda que por dez segundos. Por isso aproveitaram para saudar eleitores e a família. A coisa saiu tanto do controle que Eduardo Cunha teve que interromper um deputado que pretendia colocar o filho para pronunciar o voto.
É nesse contexto também que podem ser lidos a saudação a Brilhante Ustra e o cuspe de Wylys. Tanto Bolsonaro quanto Jean são deputados midiáticos, versão política de subcelebridade. Aproveitaram a oportunidade para fazer o que sabem mais: comportar-se como palhaço.
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De certa forma, a votação e sua repercussão foi o triunfo do olavismo. Seja no plenário, onde muito se falou do Foro de São Paulo, da destruição da família, da conspiração bolivariana e das crianças que trocam de sexo nas escolas. Seja nas redes sociais onde essas invocações tiveram respaldo.
Mesmo a esquerda hipster escolheu o olavismo como seu principal inimigo. E com isso ajudou a promovê-lo pela negativa, como os taxistas fazem com o Uber. Para uns e outros, foi como se todo o Congresso fosse olavista. Nada mais falso.
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A claque petista usou o discurso olavista de muitos deputados e a tosquice da maioria para alimentar sua narrativa de golpe. Foi como se ignorasse o balcão fisiológico fracassado de Lula no hotel Golden Tulip, e atribuísse a aprovação do impeachment única e exclusivamente ao perfil medíocre e conservador do Congresso.
Interessante é que esse Congresso, agora acusado de medíocre e conservador, apoiou os governos petistas por quatorze anos. Ao invés de construir uma coalizão programática, o PT optou por montar uma maquina de corrupção para comprar apoio parlamentar. Esse é o resultado. As bancadas da Bíblia, Bala e Boi se fortaleceram, pasme, com dinheiro de esquemas similares ao petrolão. É essa a Revolução que você quer construir?
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Em 1992, o impeachment do Collor foi sucedido pelo escândalo dos Anões do Orçamento e vários parlamentares que derrubaram o presidente acabaram cassados. Em 2016 a coisa parece seguir o mesmo caminho. A verificar.
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Perdi a esperança de que a internet ficaria menos insuportável.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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