Não se pode tratar alunos e professores das universidades públicas como um bloco de zumbis socialistas.
Entrei na faculdade de jornalismo da Universidade de Brasília no ano de 2005. Era o auge da popularidade de Lula e do PT, ainda antes do mensalão vir à tona. Por isso, posso falar com alguma propriedade sobre o aparelhamento partidário nas faculdade de jornalismo de universidades públicas.
Eu já era o que se pode chamar, genericamente, de conservador (defesa do estado mínimo + a devoção ao Nosso Senhor Jesus Cristo). E nunca escondi isso.
O leitor pode imaginar o que passei.
Trago três exemplos dentre muitos.
No meu segundo ano, decidi participar da eleição para o comando do Centro Acadêmico. Quando descobriram que eu integrava uma das chapas, a reação foi tão grande que nem mesmo pudemos participar do debate.
Mais adiante, aprofundei-me em uma informação divulgada por Olavo de Carvalho e investiguei a ligação do PSOL com um assassino que matou dois garotos queimados na Itália – Achille Lollo, um terrorista de esquerda. Tentei publicar o artigo no jornal do Centro Acadêmico, do qual eu era repórter. Fui censurado pela dupla ousadia de citar Olavo e denunciar companheiros da esquerda.
Isso só não foi pior do que quando resolvi fazer uma reportagem, no jornal oficial da faculdade, sobre a tolerância descabida com o consumo de drogas dentro do campus. A matéria nunca foi publicada e acabei banido do jornal.
Estes eram os tempos de PT em uma universidade federal. Quem não era petista ou psolista estava excluído do convívio dos colegas.
Exceto por um detalhe: isso aí em cima é pura ficção.
Fui, sim, vice-presidente do Centro Acadêmico de Comunicação, que engloba os cursos de Publicidade, Jornalismo e Audiovisual. Como a presidente era aluna da Publicidade, eu era a maior autoridade estudantil do Jornalismo na universidade. Jamais ouvi uma palavra torta dos meus colegas a respeito, até porque nenhuma outra chapa havia entrado na disputa pelo cargo.
O artigo sobre Achile Lollo e suas ligações com o PSOL foi publicado com amplo destaque pelo jornal mantido pelo Centro Acadêmico. A repercussão foi tanta que o próprio Olavo me elogiou – “o valente Gabriel Castro” – em um artigo no Diário do Comércio.
Minha matéria sobre as drogas, salvo uma ou outra queixa natural, foi publicada com o destaque devido, tratando como crime o que é crime.
É claro que havia, numericamente, poucos liberais e conservadores entre os alunos e professores. Mas seria exagero dizer que a Faculdade de Jornalismo era um bloco homogêneo de admiradores de Che Guevara e fumadores da droga maconha (que, aliás, jamais me ofereceram).
Por exemplo: em 2007, o curso de jornalismo firmou uma parceria com a editora Abril, cujo carro-chefe, a Veja, foi o maior foco de resistência aos governos petistas. A colaboração incluía palestras de jornalistas da revista. Um deles foi o autor da reportagem que mostrava como as FARC haviam enviado dinheiro ao PT. (Sim, a Veja denunciou o caso em matéria de capa, e se você não sabe disso é porque está ligeiramente mal informado.)
Roberto Civita em pessoa esteve na UnB para oficializar o acordo. Apareceu meia-dúzia de petistas para protestar. Mas isso é bem diferente de dizer que o PT, o PSOL ou os socialistas detêm todo o poder em todas as universidades públicas brasileiras.
Aliás, dois anos depois de me formar em Jornalismo (e conseguir emplacar a música do conservador Rocky Balboa na formatura), voltei para a UnB para cursar Filosofia. Logo no primeiro semestre, na disciplina filosofia medieval, tive como professor um padre americano nada progressista – Scott Randall Paine, doutor pela Universidade Pontifícia de Tomás de Aquino, em Roma.
Os conservadores não foram banidos da universidade. Eles sempre estiveram por lá, mais ou menos desarticulados.
Por isso, meus dois conselhos finais. O primeiro: cuidado ao tratar alunos e professores das universidades públicas como um bloco homogêneo de zumbis socialistas. Eles existem, mas, pela minha estimativa altamente precisa, são 18,54% do total. O resto inclui, além esquerdistas moderados, centristas e direitistas, o grupo mais populoso – o dos que não estão ligando muito para essas coisas.
O segundo conselho, destinado ao jovem liberal ou conservador que se prepara para frequentar uma universidade pública, é mais objetivo e pode ser expressado em termos bíblicos: esforça-te e tem bom ânimo. Não temas nem te espantes.
Gabriel de Arruda Castro
Jornalista, mestre em Política e em Administração Pública.
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