A onda recente de manifestações tem maior eco entre aqueles com até 34 anos

Esperei pouco mais de uma semana para comentar os resultados da última pesquisa Datafolha com os paulistanos sobre a onda de manifestações que varre o país desde junho. Isso porque no dia em que o jornal Folha de S. Paulo divulgou, com alarde, que o apoio às manifestações havia caído a 52% da população, os dados detalhados da pesquisa ainda não estavam disponíveis ao público.

Abertos os dados, expõe-se o fato de que este baixo apoio não é linear na população paulistana. Pelo contrário. o apoio entre os mais jovens chega a 64% entre os entrevistados que têm entre 18 e 24 anos, reduzindo para 57% na faixa entre 25 e 34 anos e para 53% entre 35 e 44 anos. Ou seja, pelo menos em São Paulo a revolta é jovem.

A mesma curva pode ser identificada em outras perguntas feitas pela pesquisa sobre o mesmo tema. A faixa entre 18 e 24 anos, especificamente, é a que concentra a maior parte de respostas favoráveis às manifestações: 33% acreditam que elas trazem mais benefícios que prejuízos (22% no total), 46% é favorável a manifestações durante a Copa (32% no total), e 20% diz ter participado nos protestos que acontecem desde junho (10% no total).

O detalhamento revela muito mais do que os headlines do dia em que a pesquisa foi divulgada. Se colocar toda a população no mesmo saco, pode-se dizer que “o paulistano deixa de apoiar as manifestações”, mas ao detalhar este número, percebemos que esta resistência está concentrada principalmente naqueles que tem mais de 40 anos. Ou seja, a base de apoio dos movimentos está naquela faixa etária que cresceu depois da ditadura, e viu ao mesmo tempo o avanço da democracia quanto suas limitações. Limitações que vão desde a corrupção endêmica na política até a permanência da violência policial, que atinge de forma especial os mais jovens e pobres.

Talvez seja a hora de olharmos os mais jovens com um pouco mais de atenção. A geração que chega à idade adulta agora foi obrigada a estudar mais para receber a mesma renda de seus pais que sequer concluíram o Ensino Médio, é obrigada a se deslocar mais entre moradia e trabalho, e sente na pele a baixa qualidade dos serviços públicos. Por outro lado, não se sente representada por nenhum dos grupos no poder, do governo à oposição, da política institucional aos movimentos sociais. E se articulam diretamente, em rede, facilitado pelas tecnologias com as quais eles têm mais intimidade que seus pais e avós.

Por isso mesmo, seus movimentos começam de baixo, eclodem rapidamente, transbordam os estreitos limites do sindicalismo e do oficialismo dos movimentos sociais. Talvez seja a hora de a democracia brasileira incorporar a linguagem e as demandas da juventude, sob pena de se tornar um regime envelhecido e sem representatividade.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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