George W. Bush não criou o Estado Islâmico. Foi o islã

A jihad atual é uma extensão da jihad antiga, e nossas escolhas são as mesmas dos grandes poderes não-muçulmanos que vieram antes de nós: conversão, submissão, morte ou luta.


David French, na National Review

isis

Existem poucas coisas que a esquerda gosta mais do que um universitário “falando a verdade” para um poder conservador. Dias atrás, uma estudante de 19 anos da Universidade de Nevada, Ivy Ziedrich, aparentemente passou por um momento desses e “fez manchetes pelo mundo” quando confrontou Jeb Bush sobre o Estado Islâmico. A senhorita Ziedrich teve a iniciativa de confrontar Bush em meio a uma conferência com repórteres e recitar confiantemente a sabedoria esquerdista convencional sobre a atual crise no Oriente Médio, declarando: “Seu irmão criou o ISIS!”. Afinal de contas, de acordo com a bem aceita sabedoria acadêmica convencional, a guerra no Iraque é a fonte de todo o (recente) mal jihadista.

Após essa fala, o relógio começou a contar os 15 minutos de fama – não, 15 minutos de adulação pública. Foram entrevistas com a ABC News, o New York Times e outros veículos, com repórteres ansiosos para ouvir os pensamentos da senhorita sobre o Oriente Médio. E, se é verdade que ela não é especialista, há algo que disse que é absolutamente verdadeiro: “É frustrante ver os políticos ignorarem as origens de nossos conflitos no exterior”.

Sim, certamente é. E se você está na esquerda ou em alguns setores da direita, tem a tarefa não apenas de “entender” aquelas origens, mas de alguma forma ligá-las aos erros de políticas americanas, israelenses ou do imperialismo europeu. Eis a mágica atual: o Estado Islâmico é culpa de George W. Bush. A al-Qaeda e o Talibã existem devido a Ronald Reagan e George H. W. Bush (via guerra afegã contra os soviéticos, e depois, claro, com a presença de tropas americanas na Arábia Saudita), e as diversas franquias da al-Qaeda na Síria, Iêmen e norte da África são meros frutos da mesma árvore venenosa reaganiana. A destruição jihadista de patrimônios mundiais antigos (pré-muçulmanos)? Isso é apenas dano colateral na guerra contra Reagan e os Bushes. Hamas, Hezbollah e OLP são fáceis de classificar – criações israelenses, todos eles, existindo apenas por causa dos “Territórios Ocupados”. Quanto à Líbia, nós pusemos os jihadistas no poder. Mas e o Boko Haram? Tenho certeza que qualquer professor decente poderá me dizer como somos responsáveis por suas atrocidades.

Mas isso é apenas as últimas poucas décadas. Que tal levar o traçado ainda mais para trás? Para a fundação da Irmandade Muçulmana ou para o Ikhwan na Península Arábica? O Ikhwan – tão selvagem quanto o Estado Islâmico – marca sua origem lá em 1913, antes dos europeus dominarem o Oriente Médio. E os séculos de conflitos entre a Europa cristã e o Império Otomano? Viena com certeza mereceu o cerco. Afinal de contas, os europeus lançaram as Cruzadas, certo?

E antes das Cruzadas, quando exércitos jihadistas muçulmanos invadiram e conquistaram terras cristãs no Oriente Médio e norte da África, capturando a Península Ibérica e ameaçando o que hoje é a França, há poucas dúvidas de que eles estavam apenas reagindo a… alguma coisa que os cristãos fizeram.

Não, senhorita Ziedrich, George W. Bush não criou o Estado Islâmico. Foi o islã que o criou. Arraigado nesta fé está um conceito chamado “jihad”, e, não importa quantos professores digam o contrário, há incontáveis milhões de muçulmanos ao longo de séculos de história que interpretaram “jihad” não como um mandamento para autoajuda e melhoramento pessoal, mas como um mandamento de guerra e conquista, um mandamento de purificação e disseminação da fé na ponta da espada. A influência militarista dos jihadistas vem e vai, mas está lá, sempre.

Acreditar que ações americanas criaram a jihad é dar aos EUA uma influência sobre o coração muçulmano maior que a exercida por Alá. A jihad atual é uma extensão da jihad antiga. Os inimigos mudaram (os Habsburgos não existem mais, e a Liga Santa culminou em Lepanto, no ano de 1571), mas a motivação é a mesma. Por que Osama bin Laden mencionou “a tragédia de Andaluzia” (a reconquista da Espanha muçulmana, que tem mais de 500 anos) em sua declaração pós-11 de Setembro? Porque, para o jihadista, tudo isso é uma só guerra.

Então, definitivamente, não ignoremos “as origens dos nossos conflitos no exterior”. No que diz respeito a nosso conflito com terroristas islâmicos, as origens residem em um imperativo religioso, que precede a fundação dos Estados Unidos em mais de dez séculos. E, ao confrontar esse inimigo, nossas escolhas são as mesmas dos grandes poderes não-muçulmanos que vieram antes de nós: conversão, submissão, morte ou luta.

Dadas as opções, não há mais do que uma escolha válida para um povo livre. É uma pena que a senhorita Ziedrich, seus pares e sua torcida na mídia não possam enxergar além da política partidária para entender a verdade problemática. Afinal de contas, em breve será a vez de sua geração estar contra a parede. Aceitará ela o desafio?

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