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Venezuela à beira da ditadura?

por Amálgama Traduções (16/05/2016)

Com o absurdo decreto de “estado de exceção”, Nicolás Maduro mutilou de vez a Constituição Nacional.

Elizabeth Araujo, TalCual
tradução: Daniel Lopes

Chamou-me a atenção no Whatsapp uma mensagem que se tornou viral. Mostra em 30 segundos uma cena de horror que é de tirar o sono. Um guarda nacional golpeia com um capacete um jovem de camisa azul, com tal fúria que este cai fulminado, como se tivesse levado um tiro na cabeça. Os militares deixam o rapaz estendido na rua, e se ocupam de disparar contra uma marcha que se dispersava. Apenas um transeunte, numa mistura de solidariedade com seu próprio medo, pega no braço da vítima, como se quisesse tirá-lo do “cenário de guerra” ou para comprovar se ainda tinha vida.

Esse curto vídeo nos faz mergulhar ainda mais na tragédia que aflige atualmente a Venezuela, onde um bando de governantes depravados e incompetentes – tão ruins que há entre eles mesmo quem defenda a renúncia – se aferra ao poder com comportamentos repressivos. Não entendo como a situação não faz o simpático Pepe Mujica relembrar episódios da crueldade militar vivida por Uruguai, Argentina e Chile durantes as décadas de 70 e 80.

“Que diabos, isso é ditadura!”, digo a mim mesmo ao ver outra vez o vídeo, como se alguém tivesse se atrevido a colocar o fato em dúvida. Não foi um ato isolado. Foi uma pequena adição a essa soma de tragédias quem vem sendo o mandato de Nicolás Maduro e do sinistro Diosdado Cabello, em cumplicidade com a vergonhosa – não sei quão grande ou pequena – colaboração de generais e coronéis, bem como de dirigentes do Partido Socialista Unido e do Partido Comunista da Venezuela, e que vem deixando o país em ruínas, nem mais no plano econômico, o que as intermináveis filas deixam claro, mas nos campos político e constitucional, para não mencionar o dano moral que está provocando na autoestima dos venezuelanos.

Mas existe algo contraditório. Vemos que este drama percorre o mundo e recebe, pelo estupor dos depoimentos, a firme condenação de parlamentos e governos, mas o mesmo não ocorre nos países latino-americanos, cujos presidentes, do colombiano Juan Manuel Santos à chilena Michelle Bachelet, cultivam um silêncio indecente, talvez por interesses econômicos ou por temor de que algum deles também possa ser vítima nessa loteria dos protestos e da turbulência social.

O absurdo decreto de “estado de exceção” anunciado agora por Maduro, em uma nova tentativa de continuar fugindo para frente, coloca o país no rumo de novos ultrajes, incluindo a chamada “desqualificação” da Assembleia Nacional, com o que se mutila de vez a Constituição Nacional.

Junto a essa cumplicidade de juízes, fiscais e advogados a serviço do Miraflores, aflora uma verdade quase óbvia: as ditaduras combinam-se com as violências física e institucional, e agem sempre com a obsessão de querer eliminar a integridade do povo. Mas sobre isso Walter Benjamin já disse algo, quando observou que a memória das humilhações recebidas devolve ao homem todo seu potencial transformador da realidade, talvez o fazendo perdoar, mas jamais esquecer.

Amálgama Traduções

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