De modo irresponsável e criminoso, o governo propicia um enfrentamento entre as forças armadas e a sociedade.
Roberto Patiño*, TalCual
trad. Daniel Lopes
O regime madurista declarou guerra ao país. O discurso de violência e ódio que dirigia a seus adversários políticos, a países estrangeiros que supostamente tentavam derrubá-lo e deter sua “revolução”, e a todos aqueles que ousavam questionar desastrosas e danosas iniciativas suas como as OLPs e os CLAPs, acabou de transbordar e se converteu em ações bélicas de morte e extermínio contra todos os venezuelanos.
Esta realidade tem sua expressão mais dolorosa na escalada de violência repressiva que vem se sucedendo contras as manifestações pacíficas desta última semana. Apenas em Caracas, três jovens foram atropelados por minitanques da Guarda Nacional, e o menor de idade Armando Cañizales foi assassinado após ser atingido no pescoço. São vários os testemunhos de como os efetivos da Guarda Nacional ameaçam os manifestantes de morte e tortura.
Já é evidente a todos que as ações dos organismos de segurança não são de contenção ou prevenção, mas de ataque. Nos protestos da última quarta-feira, 3 de maio, empregou-se técnicas que impediam a fuga de manifestantes, ao mesmo tempo em que se bombardeava ambos os extremos de uma marcha, em ação clara de emboscada. Já não se está impedindo o acesso a pontos da cidade – por si só uma violação dos direitos constitucionais –; se está atacando as pessoas antes que as marchas se iniciem, utilizando-se de emboscadas e agressões, com o objetivo de gerar a maior quantidade possível de feridos. Os insultos e ameaças proferidos pelos repressores refletem um treinamento de desumanização e criminalização do “inimigo”, característico do condicionamento de soldados para a frente de guerra.
O regime madurista está levando a cabo um ataque armado contra a população civil, utilizando inclusive grupos paramilitares ilegais, os chamados coletivos. Na mesma quarta, 3, alguns destes grupos entraram em residências, ao que também se sucederam atos de violência, nos quais se refiram inclusive militares, como um agente da polícia de Sucre.
A escalada da violência em um país como o nosso – que já tem altos índices em matéria de criminalidade e homicídios, com alto número de armamento ilegal nas ruas e com instituições do Estado sem prestígio e sequestradas pelo regime – só pode levar a situações de anarquia e conflito, com alto custo em vidas humanas. De modo irresponsável e criminoso, para se manter no poder, o regime propicia um enfrentamento entre as forças armadas (militares e paramilitares) e a sociedade civil venezuelana.
Os venezuelanos temos agora o enorme e dificílimo desafio de continuarmos nas ruas, buscando novas formas de protestar, buscando evitar que manifestações degenerem em violência, diante de uma força militar e policial armada. Temos também o desafio de apoiar vozes de descontentamento e dissidência como as emitidas pela Procuradora-Geral da República e mesmo por figuras públicas como o maestro Gustavo Dudamel, vozes que podem propiciar a tomada de consciência por parte dos que estão no interior do regime e que contribuam para impedir a consolidação da ditadura.
* Roberto Patiño é coordenador movimento Mi Convive e membro do Primero Justicia
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