O custo da irresponsabilidade dos “movimentos sociais”

por Lucas Baqueiro (01/05/2018)

Quando o incêndio começou, as lideranças que tomavam conta do lugar pegaram os seus carros e fugiram.

De boas intenções o inferno está cheio, diz o velho ditado. Calcados nessas supostas boas intenções estão alguns irresponsáveis movimentos sociais, como o tal Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM) responsável pela ocupação do edifício Wilton Paes de Andrade, em São Paulo, que foi consumido pelas chamas neste feriado do 1º de maio, vitimando inúmeras famílias. Graças às boas intenções de apelar inescrupulosamente para o desespero de famílias em situação de vulnerabilidade, é que vimos um cenário tão aterrador durante a madrugada.

À sequência do incêndio, mais informações reveladoras foram chegando a respeito da prática e conduta desses movimentos sociais por moradia, que muito dirimem essas boas intenções. No prédio incendiado, que pertencia à União e foi invadido por ordem de crápulas-militantes, os moradores tinham de pagar R$ 400,00 de aluguel para viverem ali, em condições de completa falta de segurança, como comprovou-se. A contrapartida de pagar esse aluguel? Ficar em cárcere privado, uma vez que a entrada do prédio era trancada com correntes a partir das sete da noite, e receber água apenas pela madrugada, uma vez que a transmissão era trancada durante o resto do dia. Quem não pagasse em dia, era sumariamente despejado no ato – uma bela forma, digamos, de lutar por moradia para cidadãos sem-teto.

A assistência prestada por esse movimento de sem-tetos durante o desastre mostrou como, afinal, o seu trabalho é sério. Quando o incêndio começou, as lideranças que tomavam conta do lugar pegaram os seus carros e fugiram. Ninguém se preocupou em ligar para o Corpo de Bombeiros. Ninguém pensou em ligar a transmissão de água. Ninguém sequer se importou em destrancar as grades do prédio: que os moradores tivessem seus fornos crematórios ali mesmo, para se tornarem mártires úteis na retórica das boas intenções do movimento social. Que fossem sacrificados para que por suas mortes fossem culpados o governo, o grande capital, os banqueiros, a direita, e não os verdadeiros criminosos, que são as lideranças.

Como esse movimento social, existem inúmeros outros no Brasil promovendo ocupações irregulares, em condições insalubres, pelo mero lucro financeiro e político. É valendo-se de plataformas canalhas como essas que se constroem carreiras como a de Guilherme Boulos, chefe do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto: invadem lugares, usam gente de massa de manobra, cobram aluguel de quem não pode, transformam essa gente em bandeira para interesses inescrupulosos, e culpam os outros quando algo dá errado, quando pessoas morrem, quando desastres acontecem.

O problema de falta de moradia nas grandes cidades é grave. Existe muita gente sem um teto sobre a cabeça por falta de condições de custear um aluguel. Mas, é mais grave deixar a responsabilidade de administrar o problema em mãos de bandidos e canalhas como esses que, sem qualquer vergonha, colocam sob risco de morte milhares de vidas humanas, e fogem na primeira oportunidade. Vidas de gente, aliás, de quem tinham a obrigação, por discurso e até por contrato de boca – já que as vítimas pagavam pelo aluguel irregular! – de proteger.

O que as lideranças, afinal, podiam fazer? Ora, se recolhiam aluguel, podiam administrar melhor a invasão. Podiam, sabendo que havia imenso risco de incêndio, não promover instalações elétricas irregulares. Podiam exigir – já que tinham o condão de expulsar quem não pagava em dia – que material combustível não ficasse em rotas de fuga. Mas, não o fizeram, porque a responsabilidade com a vida humana era zero. Bastava ocupar um imóvel que não era seu, cobrar aluguel da família vulnerável que ali vai residir por falta de opção, e deixar tudo ao deus-dará.

A moral da história é uma só: às vezes, você deve desconfiar muito do movimento social que se põe como provedor de toda a justiça em nome de uma minoria vulnerável. Nem sempre o objetivo, como no caso dessa triste história de São Paulo, é ajudá-los a superar a situação de risco que se encontram. Tristemente, pode ser que a intenção seja meramente a de se dar bem.

Que descansem em paz as vítimas desse crime.

Lucas Baqueiro

Bacharel em Humanidades pela UFBA. Editor de política e atualidades da Amálgama.

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