Em defesa da música clássica contra Leonardo Martinelli

Comentário sobre um texto do crítico da revista Concerto a respeito da turnê de André Rieu no Brasil.

-- André Rieu --

Leonardo Martinelli é um bom crítico musical – um dos principais em atividade no Brasil. Talvez por isso ele tenha achado que tinha o dever de defender a música clássica do que considera uma ameaça: o kitsch que arrebata grandes plateias e amealha fortunas.

Já aviso de antemão que não conheço a música de André Rieu, não preciso e nem quero conhecer. Faço uma vaga ideia do que seja, pelo que vejo em comerciais ou mesmo pelo texto de Leonardo Martinelli. Entendo que ela não seja o tipo de música que deva preocupar nosso diligente crítico. Não me parece sequer que ela ofereça qualquer ameaça à música clássica.

A música clássica já está, aliás, severamente ameaçada por ela mesma, e não há Rieus que possam piorar a situação. Talvez seja a hora de tentarmos aqui uma definição do que seja música clássica, para sabermos o que se quer (ou não) defender: imagino que Martinelli tenha em mente o grande repertório da tradição oitocentista europeia, levando em conta a temática recorrente dos textos do crítico e da própria revista em que ele escreve, a Concerto.

Talvez o conceito de música clássica pudesse ser um pouco ampliado para incluir a produção do século XX, mas aí começamos a encontrar problemas, porque há uma série de correntes de vanguarda que trabalharam para ameaçar e solapar as bases da tradição clássica, rompendo com o ideal de beleza que ainda está a nortear a pena de Martinelli. Talvez, se a música clássica não estivesse tão preocupada em excluir os compositores contemporâneos da cena musical e repetir ad nauseam o mesmo repertório, não precisaria se preocupar com o exagero apelativo.

Neste sentido, apesar das diferenças no tipo de público e no detalhe com que muitos músicos se especializaram em minúcias interpretativas, o mercado de música clássica não está tão além de André Rieu – e talvez por isso se sinta tão ameaçado. Afinal, que sentido faz continuarmos indo a salas de concerto para ouvir orquestras caríssimas de se manter, se elas não nos trazem nada de novo, nada de significativo para o século XXI? Quem precisa ouvir a trocentésima interpretação daquela sinfonia de Mozart, Beethoven ou Tchaikovski?

Ninguém precisa, muitos ainda querem. Martinelli parece querer nos dizer que todos devem – que o acervo do passado é uma coisa que deve ser preservada com cuidado. É fato que deve, e esse acervo não está sob ameaça, basta ver a miríade de gravações notáveis, edições de partituras, trabalhos musicológicos, biografias e histórias da música – somando-se isso aí à absoluta dominância da música que se ouve “de cor” em salas de concerto por este mundão afora. Salas onde desconfio que tenhamos mais gente preocupada em parecer importante (nesse sentido a comparação com André Rieu é mesmo absolutamente necessária) do que exatamente em fruir a música.

André Rieu é inofensivo, exatamente como Michel Teló, cujo sucesso internacional foi amplamente comentado no último verão (mas duvido que o será no próximo). Leonardo Martinelli parece preocupado com o gosto massivo, com o grande público. No dizer do crítico, todos deveriam ouvir os clássicos em interpretações autênticas, não em uma imitação barata e brega. Que Rieu lote plateias seria símbolo de um atraso, duma falta de intelectualidade, etc.

Que o raciocínio de Martinelli está todo errado ficamos sabendo exatamente na hora em que ele tenta comparar Rieu com o fenômeno literário de Harry Potter. Não li os livros, apenas vi os filmes com minhas crianças, mas desconfio que, em termos de valor estético, haja oceanos de distância entre J. K. Rowling e André Rieu. De modo que não dá muito certo atirar numa coisa tentando acertar em outra. O raciocínio de Martinelli é que ler Harry Potter não levou uma geração a procurar a alta literatura – do mesmo modo, ouvir André Rieu não levaria ninguém a procurar música clássica de verdade.

O problema com esse raciocínio é que ele pressupõe que as pessoas de hoje precisam ouvir música clássica. Não é bem assim. Cada um ouve o que gostar. Não é o homem do século XXI que precisa ouvir música clássica para que as coisas façam sentido. É a música clássica que está precisando achar um jeito de fazer sentido para o século XXI. Desconfio que não será com o repertório do século XIX que isso vá acontecer. E estou certo de que o texto de Martinelli não contribui – não é por remorso que alguém irá se aproximar dos clássicos.

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  • Clarisse Goldberg

    Excelente análise. O mais curioso é que os que atacam Rieu, criticos ou não, são de uma agressividade impressionante. Não gosta? Não vá, simples assim.
    Quanto à tentativa da comparação com a série Harry Potter, segue um dado: os livros criaram, sim, uma nova geração de leitores. Esses dados são estatísticos e têm movimentado o mercado editorial. Essa leitura não leva aos grandes clássicos? E por que deveria?
    Rieu sempre afirmou que não é seu papel levar as pessoas à música erudita. O que ele pretende – e consegue, pude confirmar em seus shows – é proporcionar momentos de emoção e felicidade às pessoas.

  • http://euterpe.blog.br/ Leonardo

    O texto do Martinelli me pareceu pressupor coisas mais óbvias do que esse conservadorismo ou essa apologia enfezada dos clássicos, que quisesse empurrar à força no mundo música considerada autêntica sob o crivo da crítica.

    Primeiro, creio que escapou vermos aqui que a acusação do Rieu “ameaçar” a noção de música clássica se refere não a um reacionarismo, mas a algo concreto: embora ele execute arranjos pop, ele anuncia as músicas simplesmente como “Beethoven”, “Vivaldi”, etc. Mas a intervenção dos arranjos é radical demais pra que pudesse haver essa identificação, são arranjos que achatam e mutilam o repertório para o universo pop. E as pessoas pensam estar ouvindo “música clássica” – i.e. interpretação da partitura clássica. Prova disso é a presença massiva do artista nas estantes de música clássica nas lojas de CD, nas reportagens que o tratam com um inovador contra nós, os chatos, etc. Aqui, portanto, a noção de Rieu “vilipendiar” a partitura é uma aferição apenas crua do que ele faz mesmo em uma escala de intervenção simplificadora e mal anunciada, e não me parece que identificar os clichês feitos com uma arte seja invadir o terreno pessoal daqueles que querem ouvir o Rieu em paz, mas apenas o exercício da aplicação de critérios a quem se interessar por esse plano da crítica para explorar os valores na arte.

    Depois, quanto à comparação com Harry Potter, o Martinelli estava apenas tratando do argumento de muitos de que André Rieu faz bem à música clássica porque no mínimo leva as pessoas a conhecerem os clássicos depois de terem sido apresentadas a eles nas alusões digeridas pelo Rieu. O argumento não funciona, e é essa a comparação, não uma exigência do Martinelli.

    Enfim, é um assunto tão bobo que parece exagerado, mas me preocupa que acusemos nele a crítica de dizer o que ela não disse: aplicar critérios e reconhecer desonestidade em termos de proposta e realização musical não significa condenar o que as pessoas fazem das suas vidas e dos seus ouvidos, é apenas o plano das ideias e dos critérios na arte, e aprende com ele quem quer de bom grado (decidindo mudar seus hábitos OU não igualmente!). É a velha liberdade saudável entre o plano pessoal (a conduta de cada um) e o plano das ideias (campo de atuação da crítica).

    Abraços!

  • Gabriel Araújo

    Parabéns por provar que não sabe nada de música erudita, literatura e arte.

    • nina

      WOOOOOOOOOOOOW WHAAAAAAAAAAAAAAAT? Quem provou o que mesmo, minha gente? O autor do livro ou o Gabriel Araújo? Porque pelo que conheço de -UUUU- música erudita (porque obviamente o autor desse comentário deve se achar muito original por pensar ‘dã, música clássica é do período clássico’, mas obviamente – também – entende lhufas de sociedade e sobre discussões sobre qual seria – inclusive – o termo correto por haver controvérsias até para “música erudita”), literatura (aposto que nasceu lendo kafka, nunca passou a infância e pré-adolescência lendo nada senão kant) e arte (tudo aquilo que provavelmente não sabe definir mas que não pode ser vendável, né?). LOL LOL LOL LOL LOL LOL

  • Juliana

    Na minha opinião, seu texto releva um fato importantíssimo para a compreensão do que Martinelli quis dizer com sua crítica: o próprio crítico é um compositor de música contemporânea, caindo assim por terra a sua hipótese de que o século XIX é o ideal de beleza que o norteia.

  • Catatau

    Parabéns pelo texto André!

    É sempre bom atacar esses extremismos, que não à toa sempre conduzem historicamente no Brasil à figura do intelectual ornamental de sarais, cheio de si e bebendo seu Black Label enquanto aprecia o mar e abstrai as favelas.

    Mas acho importante notar que valeria sim uma crítica ao popular, tanto quanto ao eruditismo Black Label. Eu gostaria muito de poder ouvir mais trozentésimas interpretações de Bach em orquestras caras multiplicadas mundo afora (e vejo que isso seria uma espécie de necessidade cultural sim, caso pressuponhamos que vivemos atravessados pela dita “cultura ocidental”), pelo simples fato de não ter acesso a elas, ou “meu” acesso ser infinitamente mais comprometido do que o acesso aos hits do Faustão. Mas somos privados desse direito (ou dessa necessidade, quem sabe) pelo mesmo fenômeno de massa que dispõe mais Michel Teló e menos, sei lá, Jordi Savall (150 milhões diriam: quem?). Digo: o mesmo mecanismo que torna Teló uma espécie de necessidade populacional (pois é um mecanismo de “moda” e não propriamente de gosto) é o que enfraquece outras manifestações (inclusive manifestações locais de cultura popular, Boi Mamão e Fandango por ex. suplantados em muitos lugares por forró e tchu tchá), não por escolha de cidadãos conscientes ou eventualmente algum princípio de mercado (como se as pessoas acessassem por simples livre de escolha e não a partir de um leque limitado de escolhas previamente oferecidas), mas por pressão de massa.
    Mais Teló e menos Mozart significa nem tanto que a música se diversifica, mas que a falta de criação e variabilidade produz empobrecimento musical e essa disposição eterna de Telós sob o primado não de novas criações, mas do jabá.

    Enfim, não entendo de música mas seu texto trouxe uma pergunta: não estaria a criação musical confinada entre a cultura de massa e o eruditismo inútil?

    abraço,

  • Allan Olimpio

    Críticas:
    1) “Talvez o conceito de música clássica pudesse ser um pouco ampliado para incluir a produção do século XX, mas aí começamos a encontrar problemas, porque há uma série de correntes de vanguarda que trabalharam para ameaçar e solapar as bases da tradição clássica, rompendo com o ideal de beleza que ainda está a nortear a pena de Martinelli.” – Você deveria conhecer um pouco mais o trabalho do Leonardo como compositor, e aí você verá que a linha estética de composição dele não tem nada a ver com esse ideal de tradicionalista e anti-contemporâneo. Você atribui a ele adjetivos que ele não possui e posso dizer isso categoricamente porque sou aluno de História da Música do Leonardo e vejo ele batalhando para quebrar as imagens estereotipadas que há sobre a maneira como vemos a música “erudita” e sobre o estudo da historiografia musical.
    2) ” Quem precisa ouvir a trocentésima interpretação daquela sinfonia de Mozart, Beethoven ou Tchaikovski? Ninguém precisa, muitos ainda querem. Martinelli parece querer nos dizer que todos devem” – Executar bem as peças destes e de outros compositores da música erudita é muito importante pra qualquer músico erudito, desde a sua formação até o fim de sua carreira. Partindo do princípio de que em alguns pontos a interpretação pode ser subjetiva, há uma grande variação de nuances, cores, variações de andamento e etc que variam de uma execução pra outra. Afirmar que não é mais necessário gravar mais Tchaikovsky ou Beethoven porque há n gravações é querer limitar a atuação do regente, do instrumentista e do cantor. Além do mais com os grandes trabalhos dos musicólogos e historiadores em descobrir e rever coisas e perceber que há pequenos detalhes que se perderam na interpretação da música e que podem sim dar uma outra abordagem à execução. E mais, partindo da sua premissa de que o homem do século XXI é livre pra escutar o que quer, nem todo mundo gosta da música de concerto contemporânea. Tem que se respeitar todos os gostos. Eu gosto de Ligeti e Varèse, mas há vários amigos meus que não gostam. Eu não só respeito isso, como eu também acho que eles tem o direito de ouvir a música “tradicional” nas salas de concerto da mesma maneira como eu tenho de ouvir Stockhausen.
    3) “A música clássica já está, aliás, severamente ameaçada por ela mesma” – Explique-se melhor. Não acho que a especialização dos músicos no repertório seja um dos fatores que levem o mercado da música” erudita” ao colapso. Você deveria todos os fatores e explicar o porquê da nocividade deles.
    4) Falta de conhecimento sobre a pessoa Leonardo Martinelli e sobre seu trabalho – Você tem TODO o direito de discordar deste crítico musical, mas não pode fazer uma leitura tão simplória dos textos dele e querer atrelar a ele ideais e pensamentos que ele não tem. Reitero: Se você conhecesse o trabalho do Leonardo como compositor saberia muito bem que ele não tem esse olhar”romântico” e “tradicionalista” sobre a música “erudita”, e que ele é um compositor de música contemporânea, portanto completamente ciente das linhas estetico-composicionais dos séculos XX e XXI, de Bartok e Stravinsky até Pierre Boulez; e se você conhecesse o professor Leonardo (tanto na Faculdade Santa Marcelina quanto na Escola Municipal de Música) saberia que ele é firme em mostrar aos alunos as várias construções idealistas e os vários sensos-comuns falsos a respeito da música que hoje vemos como “de concerto. Crítico tem que se informar muito bem sobre o que e especialmente sobre quem está escrevendo para não cometer gafes deste nível.

    Pontos em que concordo com você:
    1) “Talvez, se a música clássica não estivesse tão preocupada em excluir os compositores contemporâneos da cena musical e repetir ad nauseam o mesmo repertório, não precisaria se preocupar com o exagero apelativo.” Concordo plenamente! E se você conhecesse o Martinelli melhor saberia que ele diz exatamente a mesma coisa e faz críticas severas em relação a isso (mas é como eu disse antes, os que não gostam tem direito de não gostar, mas que deveria haver mais espaço nas salas de concerto, deveriam).
    2) Metáfora sobre André Rieu e Harry Potter – Concordo que a escuta de André Rieu e a leitura de Crepúsculo e Harry Potter não necessariamente devem levar uma pessoa a ouvir Puccini e ler Dante. E não teria vergonha nenhuma de discordar dele frente a frente em uma aula (afinal, eu o vejo toda a semana). Mas no caso do André Rieu acontece uma coisa no mínimo muito triste. Muitas vezes há a descaracterização total de trechos de óperas onde se passa por cima de muitas coisas escritas originalmente pelo compositor. Descaracterizações que chegam a ser absurdas. Uma coisa é fazer um arranjo facilitado da 9ª de Beethoven para um grupo de iniciantes tocar em uma audição de escolinha de música, outra é montar todo um espetáculo, vender ingressos a R$500,00 e descaracterizar toda a música do compositor. (Sem querer levar para o lado pessoal, mas você certamente não gostaria de ter um livro seu (ou crítica sua) mal interpretado e completamente desmanchado de seu sentido real sendo usado por outra pessoa que ganharia milhões propagando algo que você nunca significou. Não é só porque o compositor está morto que a obra dele pode ser desmanchada e vendida por um espertalhão como um verdadeiro espetáculo circense para obter muita grana e privar as pessoas que o assistem de saber que há muito mais coisas por trás de uma armação simplória feita apenas para “o deleite do ouvido e do cérebro”).
    3) “É a música clássica que está precisando achar um jeito de fazer sentido para o século XXI”. Concordo em gênero, número e grau com você.

  • Marcos

    Sinto discordar da sua análise. O Leonardo Martinelli além de jornalista é compositor, e faz justamente a música do século XXI a que você se refere. E as apresentações do Sr. Rieu no Brasil, com ingressos a 600 reais, são muito mais caras que os concertos de música clássica, que em grande parte são mais baratos que ir ao cinema, e tantos outros têm entrada franca.
    Outro dado é que em grandes temporadas, como a da Osesp, há sempre encomendas de novas obras a compositores e um número considerável de peças dos séculos XX e XXI.
    Concordo que a música clássica precisa achar novas formas de chegar aos jovens e outros públicos, mas não para perpetuar um repertório antigo, e sim para mostrar a essas pessoas que ouvem coisas tão pavorosas que há músicas lindíssimas e interessantíssimas que elas poderiam ouvir e gostar.

    • nina

      Lembrando que música do séc.XXI não é exatamente música feita no séc.XXI.

  • Leandro Pires

    Pelo que entendi, você não conhece André Rieu, não conhece o trabalho do Martinelli e não leu os livros do Harry Potter. Então qual é o seu ponto de partida? Leonardo Martinelli não defende uma única vez em seu texto o repertório tradicional que ouvimos em sala de concerto, ele fala da música de forma geral.Que há pessoas que vão por status a salas de concerto, isso é verdade, mas não é sobre isso que estamos falando, são problemas que existem, mas não é o teor da crítica de Martinelli.
    Para artistas autênticos, que querem se expressar através da arte, que lutam diariamente com horas e mais horas de estudo, disciplina, investimento e objetivos honestos perante o público, André Rieu e outros inumeros do mesmo gênero, não merecem respeito.
    Sugiro que você percorra as boas escolas de Música do país, os festivais de música erudita, e tente conhecer o esforço dos que estudam essa arte, que a cada dia cresce mais, e tem um notável salto de qualidade. Não é mera questão de não ir ao show, como diz o nosso amigo no comentário acima, não é possível fingir não enxergar alguém que distorce a imagem de uma classe. Aí vão me dizer: “ah, tá com inveja, por que ele ganha muito dinheiro e tem a mídia a seu serviço”, e eu respondo: sim, porque não?Por que o que é de qualidade fica escondido e não se torna conhecido? Acreditar que a massa será para sempre incapaz de apreciar o que é bom é desistir do ser humano.

  • Marcel Oliveira

    “Já aviso de antemão que não conheço a música de André Rieu, não preciso e nem quero conhecer.”
    “Não li os livros [do Harry Potter], apenas vi os filmes com minhas crianças, mas desconfio que…”
    “…o ideal de beleza que ainda está a nortear a pena de Martinelli.”

    Prontinho, já perdeu a oportunidade de ficar quietinho e refletir um pouquinho mais. Abraços!

    • luis

      Talvez ele nem tenha lido o artigo do Martinelli…

  • http://euterpe.blog.br/ Leonardo

    Creio que além de tudo o André partiu do conteúdo geral da Revista Concerto para supor que a tal defesa da música clássica que o Martinelli estaria fazendo era algo reacionário, ignorante da própria música erudita contemporânea e suas próprias transgressões a qualquer paradigmatismo conservador. A partir disso o André engaja uma crítica que é de fato pertinente com a aituação geral da música clássica, com uma petição de princípio em favor da música contemporânea. Mas o grande problema é que o Martinelli não foi defensor de paradigmatismo nenhum, pois ele próprio é compositor moderno, e tudo o que fez na crítica ao Rieu foi identificar o uso de clichês na música clássica por parte desse crossover que, bem ou mal intencionadamente, se faz confundir com música clássica nela mesma, embora faça coisa diferente (os tais arranjos e excertos estilizados e ajustados ao pop). Então mesmo o que o texto do André tem de pertinente, não tem nada a ver com o que a crítica do Martinelli diz.

  • Leandro

    “Já aviso de antemão que não conheço a música de André Rieu, não preciso e nem quero conhecer. Faço uma vaga ideia do que seja…”
    “Talvez seja a hora de tentarmos aqui uma definição do que seja música clássica…”
    “Talvez o conceito de música clássica pudesse ser um pouco ampliado…”
    “Talvez, se a música clássica não estivesse tão preocupada em excluir os compositores contemporâneos da cena musical e repetir ad nauseam o mesmo repertório…” (absurdo!!!)
    Meu caro, acho que você deveria ir assistir algumas aulas do, no mínimo muito competente (pra não parecer puxa-saco) músico, compositor, crítico e jornalista Leonardo Martinelli (sim, é sério!). Isto iria ampliar muito os seus conceitos (ou eu deveria dizer ajudar a formar conceitos?) sobre várias coisas…

  • silvia Cristina Machado

    Nunca vi nenhuma estátua de críticos. Eu fui no show de André Rieu e ele interage com o público. Tenho muitos CDs de música clássica tradicional, no entanto Rieu está totalmente no contexto atual, trazendo a música classica com um repertório musical e teatral. Chega de canções onde os maestros dão as costas para o público. O passado só será aceito nos dias atuais sendo contextualizado com a realidade de hoje, ou seja, relacionamento com o público.

  • http://www.fabiocaramuru.com.br Fábio Caramuru

    É muito saudável debater essas questões. Entendo as duas colocações. Estou com o Leonardo Martinelli, pois esses fenômenos de mídia (André Rieu, Michel Teló e congêneres) que explodem na mídia e no mundo do entretenimento, atraindo espantosas audiências, são produtos comerciais que se afastam da verdadeira poética artística, distorcendo a essência da criação em arte. São meras “facilitações” com apelos imagéticos e mirabolantes para atrair as massas e fazer dinheiro. São desprovidos de conteúdo artístico, de refinamento… Por outo lado, esses soit disant “artistas”, embora atraiam a atenção das multidões, não ameaçam os verdadeiros, pois ainda acredito que haverá sempre espaço, mesmo que restrito, para a contemplação da arte genuina.

  • Eveline Bouteiller

    Perguntaram-me por que eu não gostava de André Rieu, ao que eu respondi falando do que eu gostava. Também disse do que tanto que eu aprendia ouvindo aqueles de que gostava, por exemplo Harnoncourt… Isso levou um tempinho de explicações. No final, disse que eu respeitava aquilo de que outros gostavam de modo diferente… Só isso. Mesmo porque os eletrônicos tem botão de Off e de troca de canal ou estação. E ingressos não são obrigatórios de serem comprados. Sem debate, sem desgastes…

  • Cilda Gandy

    André Rieu existe a muito tempo ! Porque essa tempestade num copo d’agua agora ?

  • Jose

    O, Catatau! Que é, Zé Colméia?… Tem certeza de que você não entende de música? Fluência é tudo, e você tem de sobra. Experimente assistir a um concerto da Sinfônica do Paraná ou da Camerata em Curitiba; ou da OSESP em SP, ou no Teatro Municipal, os concertos da Sala Cecília Meireles no Rio, ou no Palacio das Artes em BH etc, onde você estiver; e você vai perceber logo que o universo “erudito” é cheio de convenções que encontram equivalência no universo POP. Daí a discussão entre arte superior e inferior, ser, para mim, sinônimo de ciúme e mesquinharia. É certo que a arte “erudita” demanda alguns esforços extra, por estar tão afastada do dia-a-dia, e merecia ganhar algumas “cotas” nos programas dos governos para deixar de ser a filha rica chatonilda que toma chá com biscoitos e ri das gafes das classes menos abastadas, entrar na vida do brasileiro comum que gosta de futebol e também pode ser capaz de discutir sobre a performance de um coral, um tenor ou de uma bailarina. Saindo do assunto dos mercados e entrando nas idéias, não há quem me conveça que Rieu, Mozart e Teló tão tenham, cada um no seu quadrado, seu próprio valor. Abçs.

    • Catatau

      Oi Jose!

      Creio que seja esse o problema que coloquei, você escreveu: “Saindo do assunto dos mercados e entrando nas idéias, não há quem me conveça que Rieu, Mozart e Teló tão tenham, cada um no seu quadrado, seu próprio valor”. Concordo com tudo o q vc escreveu, só que minha questão é que Mozart e Teló costumam NÃO TER o mesmo valor, pois de duas uma: ou é o eruditista falando mal da “baixa música”, ou é o mercado popular (movido a jabá) desconsiderando totalmente o erudito. Ou é quem tem MUITO acesso querendo fazer floreios conceituais, ou é um mercado de inacessibilidades que investe na redundância de “músicas chiclet” (se o mercado de massa preza a criação?) para reinvestir certa AUSÊNCIA DE ACESSIBILIDADE.

      Tanto num quanto no outro lado imagina-se uma série de homens livres, cidadãos, com a vida feita e repletos de garantias, que 1) escolhem ser burros (é o erudito acusando a “baixa” música) ou 2) escolheram ignorar o erudito (que deveria “conquistar” o gosto do povão, disputar com o Teló no Faustão). Mas historicamente em nosso país o erudito sempre teve sua posição de ornamento inútil (não muito mais que isso, visto quase o Brasil inteiro NÃO TER acesso a um teatro ou orquestra até hoje), enquanto a criação popular, depois de ser fagocitada pelo mercado, em boa parte começou a operar sob as regras deste: é muito mais a busca instrumental da “música que pega” do que atividade criativa. É o que me parece, daí ter colocado minha questão no final.

  • Priscila

    Nem vou escrever muito. Simplesmente quero deixar registrado que a música clássica faz TODO o sentido para mim, ontem, hoje e sempre. Mas, o que esperar de um crítico que nema ao menos escreve o nome do compositor corretamente?Tchaikovsky.Acho bom você assistir alguns concertos para consertar sua maneira de escrever…

    • http://andreegg.opsblog.org André Egg

      Nada disso, o nome certo é assim:

      http://ru.wikipedia.org/wiki/%D0%A7%D0%B0%D0%B9%D0%BA%D0%BE%D0%B2%D1%81%D0%BA%D0%B8%D0%B9,_%D0%9F%D1%91%D1%82%D1%80_%D0%98%D0%BB%D1%8C%D0%B8%D1%87

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  • Leandro

    “Quem precisa ouvir a trocentésima interpretação daquela sinfonia de Mozart, Beethoven ou Tchaikovski?”

    Eu, meu caro crítico do crítico.
    E ouvirei até mais, com muito gosto.

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  • Mariana Cunha

    Li o texto do Martinelli, e ele só está defendendo a área dele, embora eu não concorde com tudo o que ele escreva. Uma coisa é falar do seu ponto de vista, pois você ” não conhece a música de André Rieu, não precisa e nem que conhecer”. Outra coisa é estar nessa área e ser prejudicado por isso. Rieu só faz sucesso porque sua orquestra usa o esquema da Disney: fantasias, roupas lindas, cenários junto com a música. Músicos profissionais não gostam dele. Ele usa um repertório batido que quem vive de música não aguenta mais ouvir, tudo isso contribui para os estereótipos que estão nos comentários abaixo: é coisa de gente chata, rica, cri-cri, etc.Os ingressos chegam a custar R$400 reais! Isso é para o povo? Jura que ele quer atingir as massas? Ele quer é juntar montes de dinheiro enganando os outros. Sou professora em uma banda que se vira com os míseros R$2.000 da prefeitura ( ou 4 ingressos pro Rieu) para pagar regente professor, palheta e conserto de instrumentos. Nós estamos divulgando a música, não ele. Aqui ninguém é mandado tocar nada, temos músicos que tocam eruditos, jazz, mpb. rock, muitos ouvem e tocam vários estilos sem preconceito, pois os professores aqui não colocam minhoca na cabeça dos alunos. Ele não é inofensivo, o Michel Teló menos ainda. São produtos comerciais que deterioram quem entende do assunto. É como o sambô. Escreveu tudo isso porque não é a sua área, garanto que quando vê pessoas pseudo entendidas na sua área também fica indignado.