Christian Ingrao destrincha como jovens brilhantes acabaram aderindo de corpo e alma ao nazismo.
Muito se diz da importância de se estudar a História para que os erros do passado não se repitam. Entretanto, apenas saber dos acontecimentos e datas não são suficientes para isso. É necessário um conhecimento mais profundo para entender os fatos históricos. É preciso pensar sobre o pensamento. Como diria Sigmund Freud “o pensamento é o ensaio da ação”.
Entendendo o pensamento entendemos melhor a ação, e é isso que Christian Ingrao, diretor do Institut d’Historie du Temps Présent, faz em seu livro Crer e destruir, onde ele analisa uma das mais aterradoras passagens da nossa história, o Nazismo.
O livro com quase 500 páginas investiga a fundo os intelectuais SS e o ambiente intelectual das universidades alemãs desde o fim da Primeira Guerra, destrinchando todos os mecanismos de cooptação política, científica e ideológica de jovens brilhantes, porém engajados numa ideologia de morte.
Fugindo de esteriótipos na análise dessa época, o livro é um estudo do pensamento nazista que adentra nas entranhas intelectuais dos militantes do Terceiro Reich. Sua finalidade, como conta o autor, é estudar “um grupo de oitenta indivíduos com formação universitária, economistas, advogados, linguistas, filósofos, historiadores e geógrafos” na esfera de repressão desse infeliz período.
Período que não se estuda isoladamente, o autor dá o sentimento depressivo da Alemanha no fim da Primeira Guerra (derrota que não era admitida) e como isso influenciou o clima dos jovens que seriam a nata do pensamento da Alemanha Nazista nas universidades. Angústia, fervor, suicídio, crueldade e utopia. Todo clima apocalíptico misturado a uma “dimensão milenarista, seminal e matricial”. O nazismo visto como um sistema de crenças que se alimenta tanto de um eixo utópico quanto defensivo. E que justifica o genocídio como uma condição sine qua non, tanto como um elemento necessário à própria sobrevivência cultural da germanidade quanto para consolidar sua promessa de grandiosidade histórica.
O livro esmiúça o sentimento apocalíptico e escatológico de uma religião estatal, selo de uma “ferida narcisa coletiva”, que leva os atores a uma epopeia de terror e morte, nos prevenido de repetir os mesmos erros.