O pior argumento contra o Brexit foi qualquer tipo de pregação sobre as virtudes morais da integração europeia.
John Podhoretz, Commentary
trad. Daniel Lopes
Por mais de 40 anos, desde que o Reino Unido iniciou sua integração na Europa com a entrada no que era então chamado Mercado Comum, os britânicos nunca deixaram de ficar incomodados com o entrelaçamento de seu destino político com aquele do continente.
A ideia é simples: a Grã-Bretanha é uma nação à parte. Ela é melhor. É a fundadora do mundo moderno, progenitora da liberdade política moderna, e por duas vezes no século 20 foi chamada para ajudar a salvar a Europa de si mesma. O Reino Unido se tornar uma nação entre um bocado de outras em uma Europa frouxamente confederada é uma traição a sua própria identidade nacional – como, aliás, a própria ideia de uma Europa unida é um ataque propositado à noção mesma de identidade nacional.
Não estou dizendo que esse ataque é sempre errado, como uma regra geral – no que diz respeito à União Europeia, estamos falando, afinal de contas, principalmente da Alemanha. Mas britânicos orgulhosos, que acreditam ter um papel a cumprir na promoção da independência, liberdade e da ordem mundial, há muito acreditam que o entrelaçamento de sua nação com o continente reflete uma recusa generosa mas culturalmente suicida de traçar distinções entre o orgulho nacional britânico, que tem tido um efeito em rede positivo para a civilização, e o orgulho nacional alemão ou francês, que historicamente tem tido um efeito negativo para a mesma civilização.
O melhor argumento contra o Brexit foi que ele levaria a exatamente o que aconteceu hoje – incerteza nos mercados e pânico global diante de uma mudança cujas consequências na verdade não se tem como saber. Durante meses, os que queriam a permanência do Reino Unido alertaram os britânicos sobre isso.
O pior argumento contra o Brexit foi qualquer tipo de pregação sobre as virtudes morais da integração europeia, motivo pelo qual ele não rendeu muito nos últimos meses – não com a crise financeira do sul europeu demandando recursos do norte europeu para sustentar insustentáveis estados de bem-estar e a espantosamente mal aconselhada decisão alemã de abrir o continente para imigração massiva provinda da Síria e outros locais, com pouca ou nenhuma capacidade de ao mesmo tempo proteger o continente de perigos terroristas.
Adicione a isso a insistência arrogante de que qualquer exercício de nacionalismo britânico não era diferente de racismo e xenofobia, e você tem uma população a que se diz que seu desconforto com a União Europeia está além das fronteiras do debate apropriado. Isso não é jeito de fazer um povo lhe dar um voto.
Na política, muitas vezes um argumento modesto é um bom argumento – por exemplo, que uma enorme mudança é algo muito perigoso e é melhor manter o curso. Mas, no caso presente, havia o pequeno detalhe daqueles mais de 40 anos de desconforto com a Europa e o fato de que tanta gente por tanto tempo havia alertado para as consequências da integração – e o comportamento dos mandarins da central da União Europeia em Bruxelas, o colapso grego e a crise migratória provaram que eles estavam corretos em suas previsões.
O que houve foi uma história, uma longa e permanente história de argumentos e reflexões feitas por homens e mulheres brilhantes que amam seu país. E esses argumentos venceram.
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