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Não, a Grã-Bretanha não ficou maluca

por Amálgama Traduções (24/06/2016)

O pior argumento contra o Brexit foi qualquer tipo de pregação sobre as virtudes morais da integração europeia.

John Podhoretz, Commentary
trad. Daniel Lopes

Homenagem em Asnelles, França, em aniversário do desembarque aliado na Normandia

Por mais de 40 anos, desde que o Reino Unido iniciou sua integração na Europa com a entrada no que era então chamado Mercado Comum, os britânicos nunca deixaram de ficar incomodados com o entrelaçamento de seu destino político com aquele do continente.

A ideia é simples: a Grã-Bretanha é uma nação à parte. Ela é melhor. É a fundadora do mundo moderno, progenitora da liberdade política moderna, e por duas vezes no século 20 foi chamada para ajudar a salvar a Europa de si mesma. O Reino Unido se tornar uma nação entre um bocado de outras em uma Europa frouxamente confederada é uma traição a sua própria identidade nacional – como, aliás, a própria ideia de uma Europa unida é um ataque propositado à noção mesma de identidade nacional.

Não estou dizendo que esse ataque é sempre errado, como uma regra geral – no que diz respeito à União Europeia, estamos falando, afinal de contas, principalmente da Alemanha. Mas britânicos orgulhosos, que acreditam ter um papel a cumprir na promoção da independência, liberdade e da ordem mundial, há muito acreditam que o entrelaçamento de sua nação com o continente reflete uma recusa generosa mas culturalmente suicida de traçar distinções entre o orgulho nacional britânico, que tem tido um efeito em rede positivo para a civilização, e o orgulho nacional alemão ou francês, que historicamente tem tido um efeito negativo para a mesma civilização.

O melhor argumento contra o Brexit foi que ele levaria a exatamente o que aconteceu hoje – incerteza nos mercados e pânico global diante de uma mudança cujas consequências na verdade não se tem como saber. Durante meses, os que queriam a permanência do Reino Unido alertaram os britânicos sobre isso.

O pior argumento contra o Brexit foi qualquer tipo de pregação sobre as virtudes morais da integração europeia, motivo pelo qual ele não rendeu muito nos últimos meses – não com a crise financeira do sul europeu demandando recursos do norte europeu para sustentar insustentáveis estados de bem-estar e a espantosamente mal aconselhada decisão alemã de abrir o continente para imigração massiva provinda da Síria e outros locais, com pouca ou nenhuma capacidade de ao mesmo tempo proteger o continente de perigos terroristas.

Adicione a isso a insistência arrogante de que qualquer exercício de nacionalismo britânico não era diferente de racismo e xenofobia, e você tem uma população a que se diz que seu desconforto com a União Europeia está além das fronteiras do debate apropriado. Isso não é jeito de fazer um povo lhe dar um voto.

Na política, muitas vezes um argumento modesto é um bom argumento – por exemplo, que uma enorme mudança é algo muito perigoso e é melhor manter o curso. Mas, no caso presente, havia o pequeno detalhe daqueles mais de 40 anos de desconforto com a Europa e o fato de que tanta gente por tanto tempo havia alertado para as consequências da integração – e o comportamento dos mandarins da central da União Europeia em Bruxelas, o colapso grego e a crise migratória provaram que eles estavam corretos em suas previsões.

O que houve foi uma história, uma longa e permanente história de argumentos e reflexões feitas por homens e mulheres brilhantes que amam seu país. E esses argumentos venceram.

Amálgama Traduções

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