A derrota da nova classe média

por Paulo Roberto Silva (13/06/2016)

Três anos depois de junho de 2013, tragédia na Serra do Mar expõe o retrocesso da ascensão social.

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Em junho de 2013 jovens que experimentavam as dores da ascensão social impulsionaram a luta contra o alto custo do transporte público. Em junho de 2016 18 jovens que buscavam este mesmo caminho morreram no trajeto entre uma universidade privada precária e suas casas igualmente pobres. Não houve uma hashtag #PrayforSãoSebastião. Não houve textão de Facebook (exceto um excelente de Martim Vasques da Cunha, sobre a finitude da vida).

Fato é que junho de 2013 marcou a ruptura da chamada “nova classe média” com o lulopetismo. Houve uma tentativa de reatamento nas eleições de 2014, mas que se mostrou frágil. Os pobres que tiveram uma degustação de ascensão social (a melhor descrição desse processo veio da literatura, com Luxúria, de Fernando Bonassi) foram em definitivo para a oposição, e foram eles a base social para o impeachment. Eles e não uma suposta elite branca cisgênero inimiga do proletariado.

E contudo essa categoria segue sem uma expressão política que a represente – como tem sido desde a origem do Estado brasileiro. Se o lulopetismo foi um ensaio disso, foi de forma inconsciente e não planejada. Tanto que as pautas reais desta categoria – empreendedorismo, educação e serviços públicos de qualidade – foram atendidas mal e porcamente por políticas públicas contrárias ao ideário da esquerda:

* Ideb: a esquerda sempre foi contra a avaliação institucional da educação. Contudo, foi o Ideb que gerou uma busca por qualidade da educação municipal, mobilizando inclusive o setor privado, que se tornou fornecedor das apostilas tão criticadas pela esquerda;

* Microempreendedor individual: este processo que formalizou milhares de pequenos empreendedores em situação de subemprego, como pipoqueiros e diaristas, foi liderado por um político de direita – Guilherme Afif Domingos. A esquerda preferiu apostar nos campeões nacionais, ou seja, na grande burguesia nacional.

No contexto atual, as expressões políticas organizadas ignoram de forma definitiva o lugar dessa camada social. A esquerda repactuou sua relação com a classe média, dando origem a fenômenos de esquerda hipster como o haddadismo em São Paulo ou o freixismo no Rio. A nova direita igualmente não compreende as demandas dos mais pobres. Eu mesmo testemunhei pessoalmente a dificuldade de um movimento autodeclarado liberal de ver um aliado no pobre que quer empreender.

Enquanto isso, escolas sem merenda são ocupadas e desocupadas, e estudantes morrem nas estradas. E tudo o que as lideranças políticas têm a oferecer é capitalizar o movimento de forma oportunista ou reforçar o ódio aos pobres.

Paulo Roberto Silva

Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.

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