Obama acreditava que uma cortesia entre EUA e Cuba relaxaria o punho do regime. Isso não aconteceu.
Editorial, National Review
trad. Daniel Lopes e Fabrício de Moraes
O modo de Barack Obama lidar com tiranos poderia ter sido descrito como “amor duro”, exceto que nunca houve nada de duro. Ele tentou bancar o legal com os mulás em Teerã, dando-lhes caixas de dinheiro em troca de promessas inexequíveis sobre seu programa nuclear. Mas foi em ser próprio hemisfério que ele fez as concessões mais gratuitas. No final de 2014, o governo Obama normalizou relações com Cuba e suspendeu as restrições de viagem e econômicas à ilha, algumas das quais existiam desde o governo Kennedy. Na primavera de 2016, o presidente Obama visitou Cuba, onde participou de um jogo de baseball com o “presidente” cubano Raúl Castro.
A única coisa que faltou no espetáculo grotesco foi um mojito.
Cuba é uma ditadura de partido único com um sistema gulag, e é assim desde que Fidel Castro derrubou o governo Batista em 1959. Quando de sua aposentadoria em 2011, “El Jefe” era, excluídos os membros de famílias reais, o chefe de estado com mais anos de poder do século 20, no topo de uma lista com nomes como Kim, Kadafi e Hoxha. Castro não foi menos brutal do que qualquer deles, mas conseguiu, de alguma forma, ser mais popular. Entres intelectuais esquerdistas na Europa e nos Estados Unidos, Castro era uma espécie de papa, e Havana, um destino de peregrinações. Esquerdistas americanos, incluindo Bernie Sanders, continuam a insistir nas supostas glórias dos sistemas de saúde e educação de Cuba.
Não havia qualquer razão urgente para Obama normalizar relações com Cuba – não era algo necessário, ou mesmo aconselhável –, mas o presidente parecia indicar que uma cortesia entre EUA e Cuba, e um maior tráfego de bens e pessoas, ajudaria a relaxar o punho do regime. Mais de dois anos depois, está claro que isso não é verdade. Enquanto americanos se esbaldam em rum e charutos cubanos, o regime intensificou suas atividades de repressão desde que o “degelo” foi anunciado. Durante os primeiros seis meses de 2016, houve uma média de 1.095 detenções políticas de curto prazo, de acordo com a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional; em 2015, foram cerca de 718.
Dissidentes como as Damas de Branco têm sido cada vez mais alvo de perseguição. Recentemente, as autoridades vêm intimidando empreendedores bem sucedidos; um restaurador em Havana foi preso simplesmente por não conseguir subornar os oficiais corretos. (O vice-presidente do legislativo de mentirinha da ilha declarou recentemente que Cuba “não permitirá a concentração de propriedade e riqueza”.)
Na sexta, o presidente Trump anunciou que pretende reverter parte das políticas para Cuba de seu predecessor. No centro do plano do presidente está a proibição do comércio com qualquer empresa administrada pelo exército ou serviços de inteligência cubanos. Essa é uma mudança significativa: tais empreendimentos abarcam mais de metade da economia cubana. Visto que nem sempre é fácil saber de quais empresas o regime participa, tal política provavelmente gerará bastante cautela em compradores e investidores. Trump, que anunciou sua política em um discurso em Miami, está coberto de razão sobre os efeitos econômicos das políticas de Obama: “O alívio das restrições de viagem e comércio por parte do governo passado não ajuda o povo cubano. Ele apenas enriquece o regime cubano”. O governo também está encerrando as viagens individuais pessoa-para-pessoa, que permitiam que americanos driblassem o banimento legal de turismo cubano. Outras regulações serão redigidas e implementadas nos próximos meses pelos ministérios relevantes.
O Presidente Trump também adotou uma linha retoricamente dura contra o regime, denunciando seus abusos dos direitos humanos: “Para o governo cubano, eu digo, acabe com a violação de dissidentes, liberte os presos políticos, pare de prender pessoas inocentes, abra-se a liberdades políticas e econômicas, devolva os fugitivos da justiça americana, incluindo a assassina de policial Joanne Chesimard”. O último ponto é uma referência a Assata Shakur, que matou um policial de Nova Jersey em 1973; desde 1984 ela é protegida pelos Castros e atualmente está na lista de mais procurados do FBI. Donald Trump dificilmente tem se mostrado um genuíno defensor dos direitos humanos, mas suas observações são uma mudança muito bem-vinda. Funcionários da administração dizem que as reformas políticas serão um pré-requisito para futuras negociações; esperamos que a administração permaneça fiel a essa intenção.
O presidente enfrenta crítica de vários lados: do regime e seus apologistas, dos oponentes do regime que, no entanto, são a favor de um degelo, e também dos oponentes que creem que o presidente foi longe demais. Somos os últimos sobreviventes. Há mais coisas do que a administração Trump pode fazer, seja publicamente ou nos bastidores. A administração deveria pensar seriamente a respeito da reimplementação da política “pés secos, pés molhados” que protegia os refugiados cubanos que alcançavam as costas americanas. E deveria considerar como restringir a contínua disposição de Cuba em apoiar o terror internacional, especialmente a Coreia do Norte. (O governo Obama removeu a apropriada designação de Cuba como um Estado patrocinador do terror.) O governo deveria também repensar a arbitrária latitude em relação às linhas de cruzeiro, as quais permitem que os americanos divirtam-se nas costas cubanas enquanto os dissidentes são espancados a apenas algumas milhas de distância.
Contudo, o governo Trump levou a cabo uma importante revogação de sentença. A ditadura Castro não era, de modo nenhum é, e jamais será uma aliada da América, e é preciso uma espécie rara de ingenuidade para se pensar que os capatazes dos campos de concentração tropicais deporiam suas armas por causa da chegada da Liga Principal de Beisebol na ilha. Barack Obama concedeu ao regime uma dádiva especial, não exigindo nada em troca, e, ao agir assim, somente conseguiu facilitar uma repressão ainda mais brutal dos democratas entrincheirados de Cuba. Donald Trump, porém, está traçando um curso diferente. É uma rota mais apropriada para uma verdadeira Cuba libre – e não uma caricatura que os irmãos Castro fazem dela.
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