Os atos desses terroristas são uma opção existencial, que é a repugnância em si.
Paul Berman, Tablet. 5 de junho
trad. Fabrício de Moraes
Os ataques terroristas expressam ódio, e seria desumano, seria tolo, seria insensato, seria uma espécie de autoengano responder com algo que não seja o nosso próprio ódio – não um ódio cego e louco, nem com insanidade, mas com ódio, não obstante.
Não me importo com o que as histórias de vida dos vários terroristas londrinos revelar-se-ão ser, assim como não me importo com a história de vida do terrorista de Manchester. Ora, o terrorista de Manchester teve que sofrer as indignidades de ser um muçulmano vivendo numa sociedade não-muçulmana que foi suficientemente generosa a ponto de oferecê-lo uma vida decente? Os sofrimentos dele não me interessam. Estou escrevendo imediatamente após os ataques de Londres, e não sei absolutamente nada sobre esses novos terroristas – nem mesmo seus nomes, por ora. Não me importo com o nome deles. Será o caso de que também essas pessoas, os terroristas de Londres, sofreram as indignidades da vida cotidiana? Será o caso de que os terroristas eram pessoas que foram mal na escola, ou que talvez foram presos por dirigirem embriagados? Ou será que eram pessoas que foram bem na escola e jamais foram presas? É-me indiferente.
Não creio que os atos terroristas sejam expressão de angústia psicológica, nem o subproduto maléfico do imperialismo britânico, ou do sionismo. Os atos desses terroristas são expressões de sua própria doutrina, e nada mais. São uma opção existencial, que é a repugnância em si. Jamais existiu um movimento mais horrendo do que o terrorismo islamista. Existiram movimentos mais poderosos. Mais horrendos, não. O terror islamista é definitivo em sua torpeza.
Cada novo relatório de uma atrocidade terrorista traz consigo notícias de pessoas que responderam nobremente. No show em Manchester, dois moradores de rua, segundo o relato, se prontificaram imediatamente. Esses indigentes estavam no nível mais baixo da camada baixa, contudo eram homens de espírito e com um senso moral, e se dispuseram na ocasião. Estou escrevendo uma ou duas horas depois dos relatos dos attentats de Londres terem sido noticiados, e não sei quem serão as pessoas que responderam bem e de modo nobre aos ataques.
Entretanto, o The New York Times já publicou uma foto da agência Reuters, tirada por Hannah McKay, mostrando sete policiais e abaixo a legenda: “Policiais responderam ao ataque na London Bridge, na noite de sábado”. Responderam? Há sete policiais na foto, um dos quais possivelmente é uma mulher, e eles estão correndo a toda velocidade, os pés pairando sobre o asfalto. A visão dessa foto me faz inspirar profundamente. Esses policiais estão correndo em direção ao perigo, em direção ao seu dever, em direção à responsabilidade que a sociedade colocou sobre seus ombros, em direção a um grau de violência que não se pode conhecer. Eis aqui a nobreza.
A foto me faz parar por um momento a fim de refletir sobre o presidente dos Estados Unidos. Eu o imagino correndo para outra direção – para longe da responsabilidade da América para com o mundo, para longe da obrigação da América em liderar, para longe do destino histórico da América de convocar o mundo com vistas a objetivos superiores. Mas esqueçamos o presidente.
A visão dos policiais me comove. Eles estão avançando com um plano bem concebido? Estão suficientemente bem treinados? Terminarão, acidentalmente, fazendo a coisa errada? Estão se expondo a um risco excessivo? Eles não sabem, e eu não sei. Sei somente que, até que novas informações cheguem, meu coração e alma estão com eles.
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Paul Berman é autor, entre outros, de Terror and liberalism e The flight of the intellectuals.
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