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Os evangélicos e a homofobia

por Daniel Lopes (21/07/2008)

por Daniel Lopes – O Brasil é um dos países que mais matam homossexuais. Apenas entre os homens, no ano passado foram 122 mortos nessa modalidade de “crime de ódio”. Um crescimento de 30% em relação a 2006. A discriminação está nas ruas, nas casas e nas instituições. No entanto, ouvindo os líderes evangélicos que não querem a […]

Evangélicos protestam no Congresso [foto: Ed Ferreira/AE]por Daniel Lopes – O Brasil é um dos países que mais matam homossexuais. Apenas entre os homens, no ano passado foram 122 mortos nessa modalidade de “crime de ódio”. Um crescimento de 30% em relação a 2006. A discriminação está nas ruas, nas casas e nas instituições. No entanto, ouvindo os líderes evangélicos que não querem a criminalização da homofobia, você pode ficar com a impressão de que tudo isso não passa de uma mentira, propagada por quem quer roubar o País das mãos de Deus.

O Projeto de Lei Complementar nº 122/2006, de autoria da ex-deputada pelo PT de São Paulo, Iara Bernardi, tipifica de vez a homofobia como crime. Há dois anos foi aprovado pela Câmara e agora espera a votação do Senado. No último dia 25 de junho, lideranças de diversas igrejas organizaram um ato na capital federal contra o projeto.

Como sempre acontece com os demagogos de qualquer estirpe, o preconceito mais rasteiro vem embalado num discurso fraudulento. Vejam o que disse o deputado Robson Rodovalho (DEM-DF), membro da Igreja Sara Nossa Terra, no protesto que reuniu cerca de mil evangélicos:

“Achamos que o problema da discriminação não atinge só os homossexuais, mas também os negros, as mulheres, até mesmo nós evangélicos. O projeto de lei dá poderes ditatoriais a uma minoria. Se um funcionário for dispensado de uma empresa, por exemplo, pode alegar homofobia e o dono da empresa vai ser preso por crime hediondo, inafiançável. Queremos trazer um projeto para proteger todas as minorias”.

Assim, longe de preconceituosos, o que os nobres pastores querem é o fim de toda e qualquer discriminação. Lembram os racistas que são contra cotas para negros em instituições de ensino superior, “porque o problema não atinge só os negros”. Ou seja, se não for para resolver tudo, não vale querer resolver só uma parte.

E lembrou a mim de um amigo que, certa vez, discutindo a questão do homossexualismo, perguntou: “Se os gays e as lésbicas podem organizar suas passeatas de orgulho, por que os heterossexuais não podem marchar para mostrar orgulho sem serem classificados de preconceituosos?” Eu lhe disse que não tenho nada contra nós heteros organizarmos nossa marcha, embora não teremos o que exigir em termos de direitos, de qualquer modo não a quantidade de direitos de que os homo ainda carecem. A não ser, eu disse, que queiramos reconquistar o direito de poder espancar as esposas.

*

Mais sincero e avesso à lenga-lenga do deputado Rodovalho é o pastor Jabes de Alencar, da Assembléia de Deus, que, também por ocasião do protesto em Brasília, rogou: “Senhor, sabemos que há uma maquinação para que esse país seja transformado numa Sodoma e Gomorra. Um projeto desses vai abrir as portas do inferno.”

Eu sou jovem, apenas li a respeito, mas se o caro leitor já tiver algumas décadas nas costas, me desminta: não lembra, essa ladainha evangélica, aquela ladainha católica dos anos 80, segundo a qual a regulamentação do divórcio iria pôr o Brasil a perder?

Faça uma pesquisa rápida pela internet ou puxe na memória por casos recentes. A homofobia é um câncer presente nas Forças Armadas, na universidade, nas feiras populares… até nas academias de letras! – a propósito, leia este artigo de Lorenzo Falcão, um dos editores do Diário de Cuiabá.

Eu conheço pessoas evangélicas, e algumas são amigas (eu espero). Quase nenhuma, pelo menos em particular, se diz contra a criminalização da homofobia. O fato é que, 24 de junho, portanto um dia antes do fuzuê no Congresso, o DataSenado divulgou pesquisa na qual 70% dos entrevistados apóia o projeto de Iara Bernardi.

Os próprios crentes de elite, quando obrigados pelas circunstâncias a agradar pessoas além do seu séquito, encaram a realidade com outros olhos. O senador Marcelo Crivella, cria da Igreja Universal e candidato à prefeitura do Rio, já se posicionou contra a intolerância e a homofobia.

Então, esperamos ver em breve se os senadores optam por abrir ou não as portas do inferno, transformando o Brasil numa Sodoma e Gomorra. Todos concordamos que será uma decisão nada irrelevante, a que eles tomarem.

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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