por Daniel Lopes – O universo numa casca de noz, clássico da divulgação científica de autoria do físico teórico britânico Stephen Hawking, ganha uma nova edição brasileira neste Ano Internacional da Astronomia. Em um volume com cerca de 200 páginas, com glossário, gráficos, fotos legendadas e boxes coloridos, Hawking explora nesse livro originalmente publicado em […]
por Daniel Lopes – O universo numa casca de noz, clássico da divulgação científica de autoria do físico teórico britânico Stephen Hawking, ganha uma nova edição brasileira neste Ano Internacional da Astronomia. Em um volume com cerca de 200 páginas, com glossário, gráficos, fotos legendadas e boxes coloridos, Hawking explora nesse livro originalmente publicado em 2001 as maravilhosas fronteiras do universo, reais ou (ainda) imaginárias.
Partindo das bases lançadas pela teoria da relatividade, o livro prossegue pelas múltiplas histórias do universo, pela associação da forma do tempo com a teoria quântica, até que finalmente chega ao capítulo sobre as P-branas.
Enquanto que os textos sobre a física dos assustadores e ao mesmo tempo encantadores buracos negros e sobre as P-branas demandam certo esforço e nível de conhecimento do leitor leigo, outras partes, como aquelas sobre os “buracos de minhoca” no espaço-tempo e a possibilidade de um dia a humanidade conseguir viajar no tempo são de prender o fôlego.
Outro capítulo interessantíssimo é o penúltimo, “Nosso futuro? Jornada nas estrelas”, em que Hawking alia à observação do espaço e à natureza da computação o que sabemos sobre o passado e o presente da biologia humana, para fazer suas apostas sobre como será a humanidade em um futuro não muito distante. É desse capítulo que extraímos a passagem abaixo.
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(…) nos encontramos agora no começo de uma nova era, em que poderemos aumentar a complexidade de nosso registro interno, o DNA, sem ter que esperar pelo lento processo da evolução biológica. Nos últimos dez mil anos, não houve mudanças significativas no DNA humano, porém é provável que possamos reprojetá-lo completamente nos próximos mil anos. Naturalmente, muitas pessoas dirão que a engenharia genética com humanos deveria ser proibida, mas dificilmente conseguiremos impedi-la. A engenharia genética de plantas e animais será permitida por razões econômicas, e inevitavelmente alguém a experimentará com humanos. A menos que tenhamos uma ordem totalitária mundial, alguém, em algum lugar, projetará seres humanos aprimorados.
Claramente, a criação de seres humanos aprimorados acarretará grandes problemas sociais e políticos em relação aos humanos não-aprimorados. Não é minha intenção defender a engenharia genética humana como um desenvolvimento desejável, mas apenas dizer que é provável que ela ocorra, queiramos ou não. Esse é o motivo por que não acredito numa ficção científica como Jornada nas Estrelas, em que pessoas vivendo 400 anos no futuro são essencialmente as mesmas que somos hoje. Acredito que a humanidade e seu DNA aumentarão em complexidade muito rapidamente. Deveríamos admitir que isso provavelmente vai acontecer e refletir sobre como lidar com essa situação.
De certo modo, a humanidade precisa aprimorar suas qualidades mentais e físicas para lidar com o mundo de complexidade crescente ao seu redor e enfrentar novos desafios, como as viagens espaciais. Os humanos também precisam aumentar sua complexidade se quisermos que os sistemas biológicos mantenham a dianteira em relação aos eletrônicos. Atualmente, os computadores têm a vantagem da rapidez, mas não mostram sinais de inteligência. Isso não é surpreendente, já que os computadores atuais são menos complicados do que o cérebro de uma minhoca, uma espécie que não se destaca por seus dotes intelectuais.
Mas os computadores obedecem ao que se conhece como a lei de Moore: sua velocidade e complexidade dobram a cada dezoito meses. Esse é um dos crescimentos exponenciais que claramente não pode continuar indefinidamente. Contudo, provavelmente, ele continuará até que os computadores atinjam uma complexidade comparável à do cérebro humano. Alguns afirmam que os computadores nunca poderão apresentar uma inteligência real, seja lá o que isso for. Todavia, parece-me que, se moléculas químicas muito complicadas podem agir nos seres humanos para torná-los inteligentes, então circuitos eletrônicos igualmente complicados também podem fazer com que os computadores ajam de maneira inteligente. E, se chegarem a ser inteligentes, poderão presumivelmente projetar computadores que tenham complexidade e inteligência ainda maiores.
Esse aumento de complexidade biológica e eletrônica prosseguirá para sempre, ou existe algum limite natural? Do lado biológico, o limite da inteligência humana foi fixado, até agora, pelo tamanho do cérebro que passará através do canal do parto. Como vi o nascimento dos meus três filhos, sei como é difícil sair a cabeça. Mas acredito que, nos próximos cem anos, conseguiremos desenvolver bebês fora do corpo humano, e assim essa limitação será superada. Contudo, o crescimento do tamanho do cérebro humano através da engenharia genética acabará se deparando com o problema de que os mensageiros químicos do corpo responsáveis por nossa atividade mental são relativamente lentos. Isso significa que aumentos posteriores na complexidade do cérebro se realizarão à custa de sua velocidade. Podemos ser muito espertos ou muito inteligentes, mas não ambas as coisas ao mesmo tempo. Mesmo assim, acredito que podemos nos tornar muito mais inteligentes do que a maioria dos personagens de Jornada nas Estrelas, não que isso seja muito difícil.
::: O universo numa casca de noz ::: Stephen Hawking ::: Ediouro, 2009, 216 páginas :::
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Daniel Lopes
Editor da Amálgama.
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