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Os demônios da Igreja Universal

por Daniel Lopes (08/07/2009)

por Daniel Lopes – Onde a minha rua começa, lá na avenida, há um templo da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi aberto não faz muito. No local funcionava um lava-rápido, antes da igreja de Edir Macedo adquirir a área, erguer quatro imensos muros, um teto de metal em forma de A e buracos […]

por Daniel Lopes – Onde a minha rua começa, lá na avenida, há um templo da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi aberto não faz muito. No local funcionava um lava-rápido, antes da igreja de Edir Macedo adquirir a área, erguer quatro imensos muros, um teto de metal em forma de A e buracos nas laterais para auxiliar os ventiladores no arejamento. Na verdade, não fosse o enorme letreiro da IURD na frente, você poderia tomar o estabelecimento como um grande depósito – de material de construção, por exemplo. Do outro lado das duas faixas da avenida, há uma igreja católica. Histórica. De fato, o meu bairro e os vizinhos nasceram em parte em função das atividades dessa paróquia.

Mais para dentro da rua há três bares, com mesas de sinuca e muitos cachorros vira-latas perambulando ao redor, à espera de algum resto de espetinho atirado ao chão, de preferência ainda com alguma carne. Quando, nos dias de meio de semana à noite, os fiéis da Universal começam a gritar para espantar seus males, espantam junto, talvez antes, os cachorros, que latem muito e alto, enervando os bêbados. Os cachorros também latem quando, nas noites de sábado, há briga e quebradeira de garrafas em algum dos bares e nos dias em que há procissão com foguetes em homenagem ao santo católico. Em sua ignorância, os cachorros não sabem diferenciar uma bagunça da outra.

O fato da Igreja Universal ter aberto uma franquia nessa avenida nos últimos anos com crescente movimento de carros e pedestres, desta franquia estar situada bem próxima a uma igreja católica e, por fim, ter a aparência de depósito que tem, está bem explicado em A Igreja Universal e seus demônios: Um estudo etnográfico, pesquisa de mestrado de Ronaldo de Almeira que a editora Terceiro Nome, em parceria com a FAPESP, lança agora em sua coleção Antropologia Hoje. Nos seus primórdios ocupando o espaço que cinemas e teatros iam deixando no rastro de falências, a Universal enfim passou, na segunda metade dos anos 90, a construir seus chamativos templos, como a Catedral do Brás, inaugurada em 2000 em São Paulo. Sem esquecer os templos-depósitos em vários locais do país, invariavelmente próximos a avenidas, pontos de ônibus e outras áreas com grande fluxo de pessoas (trabalhadores humildes, se bem que já há algum tempo a igreja vem partindo para a conquista de fatias das classes média e alta). As localizações próximas a estabelecimentos da igreja Católica, com sua “velha” teologia tão distante dos problemas do homem comum, também estão longe de serem obras do acaso. Nos últimos tempos, aquele que Ronaldo de Almeida considera o tripé que sustenta a Igreja Universal – cura, exorcismo e prosperidade financeira – tem se provado uma isca infalível para milhões de cristãos Brasil afora. Segundo o bispo Macedo, sua igreja é um “pronto-socorro espiritual”.

Roberto Augusto, Edir Macedo e Romildo Soares foram os três cavalheiros que fundaram a IURD. Todos pertenciam, antes, à Igreja Nova Vida, de onde abriram uma dissidência. Edir e Romildo, cunhados, já haviam tentado êxito com certo Salão da Fé (também conhecido, nos informa Ronaldo de Almeira, como Cruzada do Caminho Eterno). No início da década de 80, Romildo (o R. R. Soares) desgostou Edir e acabou se desligando da Igreja Universal do Reino de Deus, fundando a Igreja Internacional da Graça de Deus. No final da década de 80, foi a vez de Roberto Augusto voltar para a Nova Vida. Esse processo consolidou a hegemonia de Edir Macedo, que, ainda no final da década de 80, mudou a sede nacional de sua igreja do Rio de Janeiro (em cujas favelas ela havia nascido) para São Paulo. Baseada em um centralismo financeiro que, ironicamente, lembra mais o Vaticano que outras denominações protestantes e mesmo neopentecostais, a expansão da igreja ia começar pra valer.

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Entre as curas prometidas pelos pastores da Universal, encontram-se as dos mais variados tipos de câncer. Se você achar pouco, saiba que um folheto da instituição analisado por Ronaldo de Almeida trazia o depoimento de uma fiel que dizia se ter curado da Aids só com o poder da fé. Enquanto os crentes da Universal não duvidam que Aids se pega, entre outros meios, através de relação sexual, esta relação, por sua vez, tenha sido voluntária ou por ofício (prostituição), só pode ter sido obra do demônio.

Obviamente, você não precisa ter câncer ou Aids para buscar cura no templo mais próximo; seria restringir demais o raio de ação.

Para a Igreja Universal não existe meio-termo: o mundo está dividido entre pessoas “libertas” e “não-libertas”, sendo que nestas há a constante atuação do diabo. É ele o causador de todos os males. Uma pessoa que sofre de alguma doença, por exemplo, está possivelmente sendo atingida por algo de outra ordem, um mal diferente daquele tratado pela medicina ou qualquer conhecimento humano – a saber, o diabo (…)

Com a finalidade de diagnosticar a possessão, a Igreja Universal elencou os sintomas mais frequentes que denunciam algum tipo de possessão demoníaca. São eles: insônia, medo, nervosismo, constantes dores de cabeça, desmaios frequentes, visão de vultos, audição de vozes estranhas, vontade de suicídio, vícios, perturbações, dores não diagnosticadas pela medicina e depressão. [págs. 81/2]

É verdade, as informações dessa citação dificilmente ainda serão novidades para alguém, mas o grande mérito de Ronaldo de Almeida está em fazer ligações e tirar conclusões que ainda passam batidas a muita gente (passavam a este resenhista, por exemplo). Ademais, às vezes o livro é muito útil ao desfazer mitos. Uma amostra, e ainda sobre doenças-possessões-curas:

(…) é no mínimo insuficiente o argumento de que as pessoas procuram a igreja simplesmente por não terem à sua disposição serviços de saúde oferecidos pelo Estado. A Igreja Universal promete mais do que o Estado e a medicina podem proporcionar. A cura milagrosa da aids, a cura do câncer sem sofrimento e a cura de outros males são respostas oferecidas à aflição do fiel diante da dor e da morte. Tudo isso é alardeado de forma espetacular nos jornais, templos, rádios e televisão. [p. 131]

Devido a própria natureza do livro, Ronaldo de Almeida não vai além, não passa da análise para a emissão de juízos. Nada impede, no entanto, que nós leitores paremos para pensar que esse tipo de desinformação em massa praticado pela IURD e inúmeras outras denominações é diariamente varrida para debaixo do tapete no discurso dos grupos “democráticos” e “pluralistas”. Tudo em nome da defesa da liberdade de crença religiosa. Nossos respeitáveis veículos de jornalismo raramente lembram o sofrimento causado pela desinformação travestida de salvação – seria descortesia. É impossível levantar a questão de crianças que sofrem por seus pais não permitirem transplantes ou transfusão sanguínea sem passar por “fundamentalista ateu”. Talvez, se seus pais objetassem baseados na crença de que em 2012 o mundo será atingido por um meteoro e apenas os, digamos, “puros de sangue”, vivos ou mortos, serão salvos, talvez então o Estado pudesse interceder para melhorar sua condição, e de quebra mandar os pais para alguma clínica de repouso. Mas, para infelicidade dos filhos, a crença de seus pais é de que a cura como a doença são mandatos divinos, nos quais não se pode interferir; assim, seu sofrimento geralmente é um não-assunto.

*

“ (…) a Igreja Universal”, escreve Ronaldo de Almeida, “constituiu-se em relação ao universo simbólico de seus adversários, ficando parecida com as religiões combatidas”. Estas são as religiões afro-brasileiras – que atraem grande número de pessoas de baixa renda, exatamente a fatia do mercado cobiçado pela IURD.

Como vimos, o exorcismo é um dos suportes da Igreja Universal. Uma obsessão. Ela “apresenta acentuada ênfase, mesmo para uma igreja pentecostal, no sobrenatural e nos malefícios resultantes da vivência equivocada em outros tipos de religiosidade, em particular nas religiões afro-brasileiras”. Nunca perdeu tempo tentando constituir uma doutrina religiosa – que é expressamente condenada por Edir Macedo em seu livro Libertação da teologia.

Ronaldo frequentou diversos cultos em várias cidades e notou um padrão no exorcismo: sempre que o pastor pergunta ao endemoniado “Qual é o teu nome?”, “tem sempre como respostas as entidades das religiões afro-brasileiras, em particular da Umbanda”. Se nos terreiros a possessão é o ponto alto da cerimônia, nos templos a expulsão ocupa lugar de destaque. Não a mera expulsão, entretanto. Antes de deixar o corpo do possuído, as entidades sofrem uma longa entrevista e são humilhadas pelo pastor-exorcista, que, supunha-se, deveria ter mais com o que gastar seu tempo.

As diretrizes foram traçadas, mais uma vez, por Edir Macedo, desta feita em Orixás, caboclos e guias: deuses ou demônios?

Claro que nossos ilustres colunistas não se meterão a dar uma opinião sobre essa infâmia. Desde que um pastor maluco não se meta a chutar uma imagem de Nossa Senhora, tudo bem. Eu não morro de amores por nenhuma religião, incluídas as afro-brasileiras (como diz um amigo meu, espere só até os umbandistas começarem a comprar rádios e tevês), mas não consigo evitar as perguntas: a “liberdade religiosa” exime até a detração de crenças? Uma eventual Guerra Santa – a liberdade religiosa gozada ao máximo? – estaria livre da interferência do poder público?

Mas, retornando, por que Ronaldo de Almeida julgou que a IURD, ao atacar os afro-brasileiros, ficou-lhes parecida? Ora, talvez tenha sido um processo inevitável. Três passagens de A Igreja Universal e seus demônios listam algumas semelhanças:

– Segundo um renomado pastor explica na tevê (e Ronaldo viu, gravou e reviu um sem número de programas de tevê veiculados pela Universal, para detectar melhor seus padrões), o “óleo ungido” que é passado nos pés, mãos e cabeças dos participantes das “sessões de descarrego” é para o “fechamento do corpo”, expressão de uso corrente em terreiros de Umbanda e Candomblé. [p. 70]

– Durante a entrevista com a entidade de posse do corpo: “Da mesma maneira como ocorre nos terreiros – onde há um estado de semiconsciência e é a entidade que fala –, no tempo o endemoninhado perde a consciência, dando voz ao demônios.” [p. 88]

– “A ideia de imanência do sagrado não é tão estranha ao pentecostalismo. (…) Mas a Igreja Universal vai além, pois, se o pentecostalismo reintroduziu a imanência somente nos corpos dos fiéis, a Universal estende esse fenômeno aos objetos [óleos, sais], tal qual o fazem as religiões mágicas, como as afro-brasileiras. Dessa forma, como na Umbanda, a Igreja Universal pode agora utilizar-se de qualquer coisa para a transmissão de suas bençãos ou contrafeitiços.” [p. 108]

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Além de um exemplar trabalho de campo antropológico (e jornalístico! – vocês precisam ler as descrições de cultos de exorcismo, especificamente páginas 74 a 98), A Igreja Universal e seus demônios é, principalmente em seus primeiros capítulos, um ótimo trabalho histórico. Sim, tudo em apenas 140 páginas. (E, em tempo: a bibliografia consultada e citada por Ronaldo de Almeida vale ouro para quem quer aprofundar as leituras sobre o protestantismo, pentecostalismo e neopentecostalismo no Brasil. Pena que muitas obras sejam difíceis de achar mesmo em sebos.)

No capítulo “Expansão Pentecostal”, Ronaldo explica que o pentecostalismo no país teve início com a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil, em princípios do século 20. Os fundadores dessas duas denominações saíram, respectivamente, da Igreja Presbiteriana e da Igreja Batista, embora o autor esclareça que “foi no catolicismo popular que os pentecostais realizaram inicialmente com maior afinco seu proselitismo”. O “pai” da CCB foi o italiano Luigi Francescon, que já havia ajudado na criação, nos EUA, da Igreja Presbiteriana Italiana. Já a Assembleia tem sua gênese na Missão Pentecostal Sueca no estado do Pará, obra dos batistas Gunnar Vingren e Daniel Berg. A partir da década de 50 os pentecostais começaram se expandir, graças em grande parte à chegada do missionário estadunidense Harold Williams, que veio instalar sua Igreja do Evangelho Quadrangular.

Ronaldo de Almeida passa apenas muito rapidamente pelo começo do pentecostalismo no Brasil, mas seria interessante desfazer nesta resenha uma falsa associação por muitos feita: entre “(neo)pentecostalismo” e “fundamentalismo”. É verdade que nas últimas décadas as plataformas sociais (contra aborto, união de homossexuais etc.) de um pentecostal e de um batista são bastante semelhantes – e semelhantes mesmo a setores da igreja Católica, particularmente a Renovação Carismática, que Ronaldo vê como a pentecostalização do catolicismo. Mas a forte semelhança embaça uma diferença não desprezível do passado fundamentalista e pentecostal. Precisamos ir aos Estados Unidos do início do século passado, com um parágrafo do monumental livro de Karen Armstrong* sobre os começos do moderno radicalismo religioso no cristianismo, islamismo e judaísmo:

Ao mesmo tempo que os fundamentalistas desenvolviam sua fé moderna, os pentecostais criavam uma visão “pós-moderna” que representou uma rejeição de base à modernidade racional do Iluminismo. Onde os fundamentalistas retornavam ao que consideravam a base doutrinária do cristianismo, os pentecostais, que não tinham qualquer interesse no dogma, retornavam a um nível ainda mais fundamental: o centro de religiosidade pura que existe sob as formulações do credo de uma fé. Enquanto os fundamentalistas sustentavam sua fé na Palavra das escrituras, os pentecostais evitavam a linguagem escrita, que, como os místicos sempre haviam insistido, não poderia expressar adequadamente a Realidade que se situa além dos conceitos e da razão. (…) Os pentecostais falavam em “línguas”, convencidos de que o Espírito Santo descera sobre eles da mesma forma que havia descido sobre os apóstolos de Jesus durante a festa judaica de Pentecostes, quando a presença divina (…) dera aos apóstolos a habilidade de falar em línguas estranhas. [p. 179]

Isso é importante, inclusive, para situar a constatação de Ronaldo de Almeida sobre como a Igreja Universal – que em muitos sentidos está na ponta do processo analisado por Armstrong na passagem acima – esquece o estudo bíblico. Em “inúmeros sermões assistidos”, notou “a pouca preocupação com uma exegese mais profunda sobre o texto bíblico; o estudo da Bíblia parece não constituir um elemento tão central para a vida religiosa. O conhecimento dele por parte dos fiéis é muito limitado, e as pregações não contribuem para aprimorá-lo. (…) Por mais que os pastores afirmem a importância do texto sagrado, o fato é que, em todos os cultos presenciados, o tempo destinado ao sermão foi sempre muito curto.”

Segundo a crença sociológica das décadas 60 e 70, o pentecostalismo encontrou nos nordestinos em São Paulo, que haviam sofrido “desordenamento de valores”, um campo ideal para plantar sua palavra. Ronaldo de Almeida considera essa teoria, mas acredita que a explicação não pára aí. Baseado em teorias mais recentes, o autor vê como determinante para o grande impulso inicial do pentecostalismo a maneira como ele sobrepôs as esferas familiares e religiosas:

As redes evangélicas trabalham em favor da valorização da pessoa e das relações pessoais, gerando o aumento da autoestima e o impulso empreendedor, além de ajuda mútua como o estabelecimento de laços de confiança e fidelidade. (…) Não se trata de programas filantrópicos, como fazem católicos e kardecistas, mas de reciprocidade entre os próprios fiéis moradores da favela (entre os quais, os próprios pastores), simbolizada no princípio bíblico de ajudar primeiro os “irmãos de fé” (frequentadores do mesmo templo). [p. 45]

Assim, os evangélicos tendem a se fechar em si mesmos. Aqueles da favela de Paraisópolis, São Paulo, que o autor estudou, “pouco participam de outros níveis associativos, tais como partidos, sindicatos, união de moradores e lazer. Os cultos competem com outras atividades no uso do tempo livre, além de as próprias denominações suprirem seus fiéis com entretenimento como, por exemplo, a formação de grupos de música, teatro, esportes etc., sempre relacionados à religião.”

Esse fechamento em muitos momentos levou as igrejas evangélicas a uma postura de passividade política, de aceitação do status quo. Enquanto o incipiente pentecostalismo estadunidense contou com duas correntes bem distintas, ainda que em vários momentos unidas por causas “maiores” – os grupos majoritariamente negros, com ativismo político, e os de brancos, com foco na espiritualidade –, o pentecostalismo brasileiro é descendente direto desta corrente mais afastada da política – de onde saíram os suecos fundadores da Assembleia de Deus, por exemplo. “Maior expressão dessa postura política”, escreve Ronaldo, “foi a posição adotada pela quase totalidade dos pentecostais durante o regime militar pós-1964”:

Valendo-se do ensinamento paulino que exorta os fiéis a obedecer às autoridades constituídas, os pregadores pentecostais não fizeram nenhum tipo de oposição ao golpe, nem à ditadura militar. A omissão em relação ao regime, por vezes o apoio a este, caracterizou a posição política pentecostal. Como contrapartida, os pentecostais, e mesmo os protestantes históricos, acabaram recebendo o apoio explícito do regime militar. [p. 28]

Tal apolitismo não poderia estar ausente das pregações na Igreja Universal, hoje em dia. O desemprego e a miséria são sempre associados a trabalhos do demônio. Em Libertação da teologia, Edir Macedo (aliás, bastante querido por alguns setores da esquerda, por conta do enfrentamento com a Rede Globo) põe o desemprego expressamente na conta das entidades afro Traca-Rua e Sete-Encruzilhadas.

*

A esta altura, o leitor esperto já se empertigou na cadeira, franzindo os cenhos: Os evangélicos, apolíticos? E a bancada deles no Congresso? E as investidas nas telecomunicações? Não parecem ações de quem quer se manter fechado em seu círculo de fé.

A contradição é apenas aparente. Os evangélicos, com raras exceções (como a ex-governadora do Rio Benedita da Silva), não entram no jogo político para mudar as regras, mas para aprofundá-las – por meio de atitudes conservadoras nos campos social e moral – e lucrar em cima delas, expandindo seu rebanho – por meio das telecomunicações.

Nota-se com interesse que, enquanto em 1982 os evangélicos elegeram apenas 2 candidatos, em 1986 esse número subiu para 18. Junto a outros 16 deputados eleitos pelos protestantes históricos, o grupo formou uma bancada que conseguiu de José Sarney concessões de rádio e tevê para suas igrejas, em troca de apoio na votação que lhe garantiu um mandato de cinco anos.

Ronaldo lembra que em 1994, ao visitar um templo da Universal na cidade de São Paulo viu afixada na parede interna uma faixa com nome e número (sem indicação de partido) de um candidato a deputado estadual e uma a federal, adornada com a frase bíblica “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”. No mesmo ano, em Osasco, outro templo e outra faixa, com mais dois nomes e números de candidatos ao legislativo estadual e federal. “O que poderia parecer uma divisão interna nada mais era do que uma estratégia eleitoral para a eleição de um número maior de representantes. Segundo Freston*, a Igreja Universal distribui equitativamente entre seus candidatos os votos que cada templo é capaz de gerar.”

Em 2002, o bispo Marcelo Crivela, sobrinho de Edir Macedo, foi eleito com uma estrondosa votação e apoio da Universal. No mesmo ano, Anthony Garotinho concorreu à presidência; não teve êxito, mas em muitos momentos da corrida eleitoral ameaçou assumir a liderança das intenções de voto. Baseou seu discurso no populismo religioso, pregando contra o aborto, a descriminação das drogas e a união entre homossexuais. Ainda que nas eleições de 2006 os evangélicos tenham perdido cadeiras no Parlamento, ainda formam um grupo bastante significativo e renhido. Atualmente, uma de suas bandeiras é uma anti-bandeira: a oposição ao Projeto de Lei Complementar 122/06, que criminaliza a homofobia.

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* ARMSTRONG, Karen. The battle for God. New York: Alfred A. Knopf, 2000.
** FRESTON, Paul. Protestantes e política no Brasil: da Constituinte ao impeachment. Campinas: IFCH, Unicamp, 1993.

Daniel Lopes

Editor da Amálgama.

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