Um olhar sobre a educação em Caminho das Índias

por Gerusa Silva * – A autora de telenovelas globais Glória Peres é conhecida pelo público e mídia como aquela que aborda temas diversificados em suas tramas, com os quais pretende chamar a atenção da sociedade brasileira para problemas e realidades até então não exploradas, e suscitar, segundo a própria, a devida discussão em torno destes. Porém, a simples ação de colocar o assunto em pauta é insuficiente quando não se cria o tom necessário ao problema. E desta forma o resultado pode ser outro, muitas vezes insatisfatório.

Digo isso, pois tenho acompanhado na atual trama da autora, Caminho das Índias, as dificuldades enfrentadas por uma professora, interpretada por Silvia Buarque, em lidar com estudantes indisciplinados de uma escola privada. E até aí tudo certo, afinal questões deste tipo são extremamente comuns em escolas, e geram discussões das mais variadas sobre qual é o papel do professor perante tal situação, levando para muito além a pauta sobre o que compreendemos do termo disciplina e a sua aplicação dentro do universo educacional. Algo que realmente deve ser desmistificado, já que a maioria das pessoas ainda liga o termo a situações onde se obedece cegamente, e onde o estudante deve ser o único a se enquadrar, não podendo jamais questionar as ações do professor.

Na novela mostra-se realmente a indisciplina que preocupa, e com a força da licença poética da autora podemos assistir a situações onde um aluno joga um objeto no rosto da professora. O que, em uma situação real, em escolas reais, sejam estas públicas ou privadas, não renderia menos que uma expulsão deste por parte da instituição, mas que na novela rendeu apenas uma advertência. Com o agravante da cena que envolve os pais do aluno, onde afirmam categoricamente que não deveriam ser incomodados por situações deste tipo, já que pagam a escola para que justamente esta cuide da educação do seu filho. Afirmação que embrulha o estômago de qualquer educador, e que poderia ser bem aproveitada em vários aspectos, como para discutir a falsa ideia de que a escola é a única responsável por resolver os problemas da sociedade, e para isso precisa se armar de todos os profissionais possíveis, e fazer da figura do professor, não a de um educador, mas sim de uma babá que deve vigiar todos os passos dos seus alunos. Ou ainda, poderia ser discutida a desvalorização do profissional docente, do detrimento do exercício do magistério em relação às outras profissões. Mas ao invés disto, passamos para a outra cena, que mostra uma Juliana Paes luxuosa, em uma Índia que também possui várias licenças poéticas.

Só que atuações como estas não deveriam ser uma surpresa para minha pessoa, e realmente não são. Pois não podemos esperar mais de uma emissora que põe no ar sua programação educativa aos sábados, em um horário que a maioria dos estudantes está dormindo. E que vende os seus módulos de Telecurso por milhões, para que governos e empresas substituam professores por uma televisão, e por facilitadores que não estão habilitados a tirar as dúvidas dos estudantes. Sem falar no programa “Amigos da Escola”, que no incentivo da sociedade civil ao voluntariado, desvia a atenção destes no que diz respeito a cobrar do Estado medidas necessárias à melhoria efetiva da educação, que vão muito além dos métodos paliativos propostos pelo programa, e prejudica, mesmo que de forma indireta, a contratação de profissionais capacitados para realizar as ações feitas pelos voluntários.

O problema é que situações como a lembrada aqui, jogadas entre uma cena e outra da novela, conseguem um alcance nacional, mas resultam em olhares embaçados sobre um problema tão sério, que não trazem bons frutos a não ser pra Globo, que usa de tais cenas para produzir a propaganda de emissora com responsabilidade social. E nestas horas, professores alertando estudantes a terem um olhar crítico sobre tudo o que é mostrado na mídia brasileira, fazem muita falta.

* Gerusa Silva está se formando em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão. Blog: overboestar.blogspot.com



  • Alba Tengnom

    Achei surpreendente a ingenuidade contida neste texto. Parece que a autora está se formando para trabalhar em um mundo ideal, que obviamente não existe, quando deveria estar se preparando para oferecer soluções aos desafios que os educadores enfrentam hoje. Sou educadora há mais de dez anos, trabalhei com alunos e comunidades extremamente problemáticos e também com alunos mais abastados, como é o caso retratado na novela, e observo problemas na argumentação da autora-educadora. Em primeiro lugar, a novela é uma peça de ficção que não dá para ser ou não deveria ser simplesmente “consertada”, porque ela reflete de alguma maneira uma realidade. Se não é a realidade da autora do texto, posso garantir que em algum lugar alguém se sentiu representado naquelas cenas. É estranho quando diz que “questões deste tipo são extremamente comuns em escolas”, e depois afirma que “O que, em uma situação real, em escolas reais, sejam estas públicas ou privadas, não renderia menos que uma expulsão deste por parte da instituição, mas que na novela rendeu apenas uma advertência.”. Me parece que a autora nunca pisou de fato em escolas “reais”, pois sejam elas públicas ou privadas, a situação retratada é bastante verossímil. A autora parece também ter o estômago fraco, o que pode ser um impedimento para exercer sua profissão, porque vai precisar de um estômago de aço, inclusive para engolir o cinismo da própria direção das escolas (especialmente se forem particulares) em esconder os problemas, em vez de discuti-los abertamente (por exemplo, a gravidez de uma aluna de 11 anos foi considerada um assunto proibido de ser abordado pelos professores em qualquer situação, em uma escola particular em minha cidade – em pleno século XXI). Ah, e você será vista pelos alunos e pais como “empregada” deles sim, especialmente se estiverem pagando caro por isso. Mas, por favor, não vomite antes do tempo, porque perderia o mais interessante: a escola ideal não existe, nem aquela de Portugal é ideal, pois só dá certo lá. Aqui, os educadores fariam um melhor papel se parassem de se enganar e de enganar a todos sonhando com uma escola do passado, que é melhor que nunca volte. O que tens que fazer é olhar de frente para os problemas que são gravíssimos e pensar em soluções para o futuro, e não fingir que os problemas não existem. Acredite, as pessoas não formam suas opiniões apenas assistindo a novelas, pois elas vivem a escola e sabem o que se passa lá, coisa que parece que a autora é a única a ignorar.

  • http://www.overboestar.blogspot.com gerusa

    Alba,

    Obrigado pro ter lido o texto, e por ter compartilhado conosco a sua experiência de dez anos enquanto educadora. E me desculpe se estou me formando agora, e posso parecer a seu ver que não tenho experiência nenhuma pra falar sobre qualquer tema referente a educação.

    Não disse, em momento algum, que o problema da indisciplina escolar retratado na novela era algo ficticio, pois não é, e ainda afirmei que problemas como este são extremamente comuns em escolas. E ainda digo que a indisciplina dos alunos, e postura de pais mostradas em algumas cenas da novela é algo que preocupa e indigna. Você, não se sente indignada com situações como esta? Acho que sentir revolta perante certas situações não é, em nenhum momento, ter o estômago fraco. É um exercicio diário para que a certas práticas não tirem, em nenhum momento, o senso de qualquer pessoa sobre o que é etico, não achas?

    E quando eu digo “em escolas reais não renderiam menos que uma expulsão” não estou idealizando em nada, pois afinal agressão física é crime, e conheço varios professores que já deixaram de denunciar alunos por agressão sim, mas não conheço nenhuma escola, seja pública ou privada, que tenha permitido que um aluno, ou professor, ficasse em suas dependências após cometer situações deste tipo.

    Sei que é obrigação da escola fazer de tudo para manter os alunos dentro dela, mas mesmo assim existem normas e regras dentro destas instituições que todos devem seguir. Por exemplo, a poucos meses um aluno do ensino médio de uma escola da rede estadual agrediu o vigia e feriu o seu braço. A diretora chamou os responsáveis e comunicou que o aluno não poderia mais ficar ali. Em escolas privadas, por mais que a diretoria tente abafar a maioria dos casos, como por exemplo o de um garoto que foi molestado sexualmente no vestiário da maior escola privada de São Luis, os próprios pais de alunos não permitiram que o caso de agressão grave ficasse impune. Afinal é a integridade física dos seus filhos que está em jogo.

    É certo que professores são desrespeitados todos os dias, e desacreditados mesmo antes de estarem formados. E que principalmente em escolas privadas, somos tratados como babás e até escravos de horários exaustivos, mas isto não significa que sempre haja impunidade perante agressões feitas a nossa pessoa. E muito pior, que devemos nos conformar com esta situação, por que isso é que nos faz ter estômago de aço. Me desculpe, mas antes de prófissional eu me considero pessoa, e creio que em ambos os aspectos mereço respeito a minha integridade.

    Sei que a escola ideal não existe, e profissionais da educação ideiais muito menos. Desculpe, mas não sou inguenua em acreditar nisso em nenhum momento. Os problemas existem sim, e não fecho os olhos para eles. Penso neles a todo o momento. E também não acredito que os educadores que estão se formando, ou que já estão em campo, sonhem com a escola do passado. Uma escola elitista, cheia de dogmas de determinada classe realmente não é o nosso sonho. Na verdade é a nossa realidade, e só olhamos pra trás na tentativa de refletir sempre, pra não cometer os mesmos erros de deixar que as engrenagens que se movem a séculos acabem por engolir a nossa meta de uma escola melhor, que realmente atenda as necessidades de todos os nossos alunos, de todas as classes.

    Voltando um pouco para o texto, eu o escrevi pra tentar dizer que a maneira como a autora vem mostrando a situação que se vive diariamente nas escolas, não vêm contribuindo em nada para que a discussão sobre o tema caminhe, pois ela não dá abertura, assim como a emissora aonde trabalha, para que o tema relacionado a educação cresca. Como faz, por exemplo, em relação a esquizofrenia.

    Sei que a opinião de muita gente, como eu, você e muitos que acessam este coletivo, não é formada pelas novelas. Mas a de grande parte dos brasileiros sim, pois estes brasileiros, ao contrário do que você diz, não vivem a escola e muitos nem chegaram a frequentá-la. E os que frequentam não adquirem dentro dela noções criticas para não se deixarem influenciar por tudo o que vêem na tv.

    Deficiência da educação e do sistema? Sim, e dos professores também. Deficiência de todas as partes envolvidas. Mas cabe a nós, educadores, o inicio da busca por soluções, e creio que se conformar com a situação “porque é assim, e assim vai ser” realmente não é a via. Não vamos salvar o mundo, só temos que fazer o nosso trabalho.

    Por fim, respeito muito a sua prática e os seus anos de docência, e acho pertinente tudo o que você disse, pois contibuiu para uma discussão edificante. Mas me desculpe se não concordo quando afirma que a dureza de sentimentos é a melhor via para lidar com certas situações.

    Enfim, cada um tem a sua prática.

    Abraço.

  • http://laranjeiraprateada.wordpress.com Taiguara

    Crítica em novela da Glória Perez é algo fraco e que levanta algum poeira no máximo por alguns meses. Esse núcleo da novela, então… nada de mt bom tem gerado.

    No mais, como filho, neto, sobrinho e amigo de professores da rede pública, é impossível concordar com “(…)O que, em uma situação real, em escolas reais, sejam estas públicas ou privadas, não renderia menos que uma expulsão deste por parte da instituição, mas que na novela rendeu apenas uma advertência.”

    É só um ponto do texto e talz, mas chama atenção pq passa beeem longe da realidade.

  • http://www.overboestar.blogspot.com gerusa

    “Na novela mostra-se realmente a indisciplina que preocupa, e com a força da licença poética da autora podemos assistir a situações onde um aluno joga um objeto no rosto da professora. O que, em uma situação real, em escolas reais, sejam estas públicas ou privadas, não renderia menos que uma expulsão deste por parte da instituição, mas que na novela rendeu apenas uma advertência.”

    O engraçado é que estão copiando este trecho pela metade. E para melhor compreensão da gravidade da cena, o objeto jogado não me pareceu uma bola de papel. E mesmo se fosse, não teria a sua gravidade ponderada, já que a figura do professor, como de qualquer pessoa da escola, merece respeito. E uma advertência é muito pouco para o personagem de um aluno reincidente em agressões, como é o caso mostrado na novela. Ou seja, não é de hoje que ele apronta.

    Taiguara, não posso me responsabilizar sobre todos os casos que acontecem. Sei que em São Paulo, por exemplo, a rede pública de ensino vem passando por uma seria crise de violência nas escolas, principalmente contra professores e diretores, e que pouco tem sido feito para mudar este quadro. Muitos alunos agressores foram retirados das escolas, mas ficam rondando a instituição, perseguem e ameaçam os professores. Um problema que envolve outras questões que devem ser levadas mais a fundo, pois esses garotos não podem ser simplesmente expulsos, precisam ser encaminhados a programas de reabilitação serios. Mas também não podem ser tolerados dentro do ambiente escolar.
    Eu trabalhei dois anos em uma pesquisa sobre violência sexual infanto-juvenil. O que a priori não tem muito a ver com o tema do texto. Mas durante estes dois anos tive contato direto com escolas da rede municipal e estadual daqui de São Luis, preferencialmente da periferia, e ouvi relatos das proprios professores e diretores de varios casos de violência dentro da escola, onde alunos com este perfil, depois de todo um esforço por parte da escola para mante-lo lá dentro, são encaminhados para outros programas, como ProJovem por exemplo, para que não percam os seus estudos. Mas que não podem permanecer na escola que estudavam, devido as agressões que cometeram.
    E as principais escolas privadas daqui, por mais dinheiro que recebam, não toleram alunos indisciplinados, pela pressão exercida por outros pais, que ameaçam mudar os filhos de escola caso alguma providencia não seja tomada. Então, quando falo em escolas reais me refiro as que possuam algum compromisso, seja com a integridade dos que a frequentam, ou seja com o dinheiro da maioria dos “consumidores” que pagam por uma educação para seus filhos.

    E realmente as críticas em novelas são sempre muito rasas, e nem deveriam ter o merito de chamar a nossa atenção quanto a sua pobreza. Mas infelizmente essa pobreza em critica é tida como uma das melhores ações no que diz respeito a responsabilidade social. E isso sim, deve chamar a nossa atenção.

  • Rogerio

    Acredito que a solução de problemas como estes, está numa visão futuristica e bem fundada de pessoas como esta autora (Gerusa Silva), onde enchergam amplamente problemas como tais, e buscam por melhorias! Ideias “retrogradas” ficam para tras, por serem chamadas assim… e muitas das criticas de terceiros, me desculpem, são contras a etica de uma boa escola ou ate mesmo sem fundamentos relacionando com o tema proposto!
    Você estar de parabens, por tal feito!

    Abraço

  • http://www.overboestar.blogspot.com gerusa

    Rogerio,

    agradeço pelo elogio e por ter gostado do tema abordado no texto. A sua opinião, assim como as outras, vem no intuito de contribuir para o debate.

    Na verdade, a minha visão não é tão futuristica assim. Só tento ao maximo me fundamentar nos bons e velhos autores, que por serem bons continuam sempre atuais. E, assim como você, eu também gostaria que o debate a cerca do tema, não só sobre a novela, mas também sobre o problema da indisciplina nas escolas fosse mais a fundo, e que pudessemos discutir aqui não só “ah, na minha escola é assim e assado”, como também quais as raizes do problema, que possiveis soluções, qual a nossa responsabilidade enquanto pais, professores, governo e sociedade (não necessariamente nesta ordem) perante este problema.

    Desde o início coloquei aqui que não sei de tudo, e que fiz este texto partindo de minhas experiências e do que sei, justamente para dar um ponto de partida no debate.

    Então, toda contribuição é bem vinda.

    Abraço.

  • http://blogdorevisor.blogspot.com/ stela

    A Gloria Peres acaba fazendo um deserviço a sociedade com a forma que ela aborda temas sérios de forma tão superficial e banal.
    Parece que a novela toda é uma reedição de capítulos anteriores. Os personagens passam a novela toda falando as mesmas coisas. Nada acontece.
    Aliás, essa novela é uma agressão ao bom senso e inteligência das pessoas.

  • Alba

    Caríssima Gerusa,
    Obrigada pela resposta.
    Penso que os melhores presentes que podemos receber durante a nossa vida são as críticas, e não os elogios. Os últimos nos estacionam em algum lugar e não acrescentam muito. As críticas, essas sim vêm de pessoas realmente interessadas em somar. Não me refiro a críticas sem fundamento ou ofensivas (o que espero que você não tenha interpretado a partir do meu comentário anterior). Quem quer somar, como é o meu caso, está preocupado sim com a Educação, assim como você. Mas, temos pontos de vista diferentes, o que pode ser muito bom para o diálogo. No entanto, veja que ao citar ‘estômago de aço’ eu não quis dizer que os educadores teriam que simplesmente aceitar a situação ruim. Sou e sempre fui uma educadora combativa e engajada e me orgulho disso, pois não virei refém de nenhuma escola em que trabalhei. Mas, veja que antes de se propor soluções reais, não se pode ignorar o que de fato está ocorrendo.
    Tenho certeza da existência de várias escolas e instituições que têm realmente o mérito de educar e respeitar alunos e professores. Entretando, há uma situação terrível sim acontecendo, como você menciona exemplos também, e hoje simplesmente retirar o aluno da sala ou da escola não é mais uma solução; talvez fosse há alguns anos. Agora, há um desrespeito generalizado (tenho acompanhado vários casos que envolvem colegas, amigos e educadores que conheço). O aluno sério, os pais participantes, etc., reconhecem a iniciativa das boas escolas, mas não é tão simples a solução (veja que com isso NÃO estou propondo uma desistência, Gerusa, apenas precisamos ser MAIS realistas e MENOS ingênuos – espero que me desculpe por ter usado esse termo no comentário anterior, não foi minha intenção ofender), e é sobre isso que comentei, e não sobre você, educadora.
    A sua visão de mundo é de alguém que se importa com a educação, e isso me parece excelente. Mas, para que possamos de fato mudar uma realidade tão brutal, há que se pensar diferente, não adianta falar mais em disciplina, expulsão, sermão, essas bobagens que para os alunos deste século nada significam, e isso não é necessariamente ruim, é apenas algo que mudou, e que os professores não estão enxergando. Dizer que os professores devem ser respeitados é algo que parece um lugar-comum, saido de uma escola que envelheceu. E entenda, não estou falando mal da escola e nem me acomodando (coisa que sempre passou longe da minha atuação como profissional), mas apenas querendo um debate mais aprofundado, que NÃO está acontecendo na maioria das escolas.
    Peço desculpas antecipadas ao comentador Rogerio pelo que vou falar, mas elogios expressos apenas são inúteis. Eu te fiz um elogio ao ler o seu texto, ao voltar e comentar mais uma vez, ao me interessar pelo assunto, ao considerar você uma interlocutora interessante com quem vale a pena fazer uma discussão sobre este cenário.
    Educação é isto para mim: diálogo. Já tive discussões acaloradas sobre problemas de educação, e acho que eles produziram bons frutos sempre. Apenas espero que você entenda que sou uma pessoa que como você também está interessada em Educação, e espero que você continue escrevendo, pois gostaria de ler outros textos seus.
    Acho que elogio é para quando a gente está esticado no caixão, e não há nada mais a fazer. (desculpe a brincadeira, é que eu sou meio desbocada)

    Abraços,

  • http://www.overboestar.blogspot.com gerusa

    Alba,

    entendo que em nenhum momento você teve a intenção de ofender a minha pessoa. Pois eu participo de muitas discussões e compreendo que na maioria das vezes, por mais que tomemos o cuidado, acabamos por não nos fazer entender por completo (isso acontece comigo sempre). E é por isso que a conversa se faz importante, pois só através de comunicação e diálogo que se resolvem os maus entendidos.

    Realmente a expulsão não deve ser a primeira decisão a ser tomada (como eu falei para o Taiguara, só devemos adotar isso em casos extremos, quando um aluno parte para agressões físicas e põe em risco as outras pessoas que fazem parte da escola. E também não dá mais tanto resultado, como, por exemplo, casos de alunos que foram expulsos da escola, mas continuavam ameaçando os ex-professores e ex-colegas). E também não deve ser a ultima. Afinal, a agressão física parte de um contexto que deve ser melhor analisado, pois não é uma coisa que surge do nada, e os fatores de causa devem ser levados em conta na solução do problema, na reabilitação deste aluno. Como por exemplo, se utilizando da novela que foi eixo gerador do texto, percebemos que a causa da agressividade do aluno em questão se encontra na permissividade, e até do incentivo dos pais diante dos atos do filho.

    Bem, em uma escola privada nos dispomos de todo um aparato de psicólogos, orientadores… Pessoas capacitadas para ir a fundo às causas deste tipo de problema, interagindo com todos os envolvidos… Mas, e na escola pública?

    Ontem mesmo estava discutindo com uma amiga minha que, na rede pública municipal de São Luis, as escolas não possuem este tipo de profissional em seu corpo. Tendo como única alternativa uma equipe de profissionais itinerantes, que pelo seu caráter transitório não pode ir mais a fundo nas causas dos problemas de alunos agressivos. Sem contar que, com a realidade do aluno de escola pública, as causas além de psicológicas vêm a ser também sociais, o que engloba um macrocosmo que a escola, apesar de estar incumbida pela sociedade para propor soluções, não dá conta do recado.

    E aí cara Alba, vem na nossa cabeça de educador, e até de cidadão, aquelas velhas perguntas, de qual é o papel da escola? Se estamos sendo formados para trabalhar com esta realidade? Se formarmos pessoas capazes de lidar com a realidade?

    Eu, na minha cabeça de pedagoga que está prestes a se formar, acredito que o papel da escola hoje é, diferentemente de tudo o que esperamos, de um tapa buracos de uma sociedade que não consegue resolver suas crises e dicotomias, pois se por acaso caminhar para uma solução das dualidades, estaria desta forma decretando o seu fim. E a universidade, que deveria ser um centro de pensamento sobre a realidade da educação no Brasil, não se coloca neste papel. Pois, são poucas as oportunidades dadas aos estudantes das licenciaturas, além do estágio curricular, de confrontar teoria e prática. Então, quando a maioria das pessoas se forma não tem a mínima noção da realidade do campo educacional. E digo que, se não fosse pelo meu esforço de procurar trabalhos na área, de me envolver em projetos e afins, não saberia mais do que a parca teoria que nos é passada em quatro anos de curso. E, se a nossa formação é precária como podemos então preparar um jovem para enfrentar a dura realidade que o espera todos os dias?

    Contudo, eu ainda acredito que as dificuldades devem nos fazer ter mais compromisso com a nossa prática, e fazer de nós pessoas mais engajadas na tentativa de reverter à situação de descaso, não só com a figura do professor, mas também com o ensino em geral. O reconhecimento de que algo não vai nada bem com a escola de hoje já é na minha visão um grande passo, e devemos trabalhar em cima deste consenso coletivo de que deve haver uma grande reforma no sistema escolar.
    Só que o problema é como esta reforma vai ser feita. E de cima pra baixo, atendendo apenas os interesses daqueles que não tem o compromisso com a emancipação da cidadania, é que não pode ser, e nem devemos deixar que aconteça desta forma.

    Passo a bola pra você, e pra quem mais quiser contribuir.

    PS: quando falou da escola ideal de Portugal, estaria por acaso se referindo a escola da ponte?

    Abraço.

  • http://www.overboestar.blogspot.com gerusa

    Stela,

    a meu ver este é um problema da teledramaturgia em geral. Nada de novo acontece nas novelas. Só que há também a questão de qual público estas produções pretendem alcançar, e com certeza a formula utilizada pela autora, e por todos os outros, é a que vem dando certo. Se garantir a audiência já deu um bom resultado, só que quem sai perdendo é o telespectador.

    Sempre achei necessário um orgão especifico que primasse pela qualidade do que é transmitido pela televisão. Não com o intuito de censurar, longe disto, mas com o compromisso de assegurar que a grade de programação da tevê aberta ofereça um espaço maior para programas informativos, de entretenimento não apelativo ( como os que mostram mulheres rebolando com roupas minusculas em pedestais, como se estivessem am casas de streape- tease). Acho um absurdo, por exemplo, o bombardeio de propagandas de brinquedos entre a programação infantil das emissoras, condicionando as crianças ao consumo.

    Só que além do problema da programação ruim, também há o problema do telspectador mal educado. A ignorância deste (sem ser perjorativa, por favor) é que sustenta este tipo de entretenimento apelativo.

  • http://claudeko-claudeko.blogspot.com Claudeko

    EDUCAÇÃO LIBERTADORA

    Claudeci Ferreira de Andrade

    Ao entrar no magistério, li que a educação faz a liberdade, quando terminei minha licenciatura ainda estava crendo nisso e fui para o trabalho no sistema educacional público como o libertador de milhares de escravos da ignorância. Hoje com vinte anos de educação, descobri que as maiorias que passam pelos bancos da escola só têm uma saída: tornar-se mão de obra barata no mercado de trabalho.

    Os políticos prometem muito, todos os candidatos a algum cargo usam o discurso de melhorar a educação pública. É um laço e um logro. A prometida liberdade prova-se ser escravidão, pois os que dela usufrui, ainda são intitulados analfabetos funcionais.

    Assim é com os professores ou funcionários da educação, desleixados quanto a busca do conhecimento e da consciência analítica, embora com formação acadêmica e diplomas em mãos. Os mesmos se preocupam tanto em ensinar que se esquecem de aprender e, no pouco tempo que lhes resta, dos três turnos de trabalho, procuram o caminho do escapismo e jogam culpa em tudo, gostam de dizer que não ganham o suficiente para se esforçar tanto. Também, os alunos são academicamente despreparados para cobrar!

    Tive um colega educador muito diferente, ele descobriu que o caminho da saída mais fácil é o caminho do não comprometimento, do lazer. Ele cedeu à ideia de que seria professor apenas na sala de aula, fora seria apenas uma pessoa comum, “um amigo”, podendo até levar os alunos para tomar uma “cervejota”.

    A arriscar sua amizade com os alunos, preferiu entregar seu rótulo, de vez. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. O comportamento desses aluninhos preferidos piorou em sala, eles não souberam divisar as coisas: tiraram-lhe as honras, apearam-no de sua boa reputação e, aguilhoado pelo remorso e o orgulho ferido, pôs termo à sua didática eficaz.

    Às vezes, dizemos por nossa vida, quando não expressamente em palavras, que “isto não tem importância”, “posso fazer o que me aprouver”, “vou aonde quero com quem quero”, “essas pequenas coisa não é preocupação de ninguém” etc.

    Será realmente assim no mundo educacional? Se “os lentes” escolherem qualquer caminho que não o do compromisso e das virtudes sociais, acharão a escravidão e produzirão escravos.

    Os promovedores de novos modelos educacionais prometem muito, mas em tudo, suas promessas são laços de sujeição. Assim, da próxima vez que eu for tentado a seguir o prometido caminho da transgressão, lembrarei da triste experiência de meu colega educador, em todo caso, certo de que o incompetente “bagunça” para disfarçar sua fraqueza.

  • SEBASTIÃO FELIPE SANTIAGO

    Fiquei muito surpreso com o comentário de Alba Tengnom,quando disse que ficou surpresa com a ingenuidade do texto pois, na minha opinião, Gerusa Silva expressou muito do que eu gostaria de expressar a respeito de um tema que vem colaborando para uma mudança de extensão ilimitada nos costumes da sociedade. A senhora Alba Tengnom, talvez não tenha percebido que o que está acontecendo é exatamente o contrário do que ela opinou, pois, as pessoas estão, desesperadamente, buscando exemplos de ícones para poderem se expressarem de uma forma mais ¨”conveniente”. Nossa sociedade era bastante conservadora antes dessa liberdade de expressão, que na verdade virou libertinagem.
    A sociedade está completamente mudada, faz tudo que é sugerido pela mídia, principalmente pela televisão. Coisas que eram consideradas absurdas outrora, hoje, são tidas como normais. Por exemplo, hoje em dia, é comum vermos garotas de 9 e 10 anos engravidando. Isso é a ficção sendo trazida da TV para se tornar realidade e não o contrário, pois, vemos constantemente sugestões relacionadas a relacionamentos entre crianças, o que, com certeza, incentiva a sexualidade da criança. Poderia citar inúmeros outros exemplos, porém, o tempo hoje me é curto e não poderei fazê-lo. Encerro dizendo que o comentário da senhora Alba Tengnom foi no mínimo infeliz.

    Sebastião Felipe Santiago

  • Alba

    Prezado Sebastião, Creio que a sua leitura do meu comentário também não foi muito precisa, e talvez se percam nas entrelinhas importantes significados. Assim como o seu comentário foi um pouco rápido, segundo você mesmo mencionou, espero que você compreenda que não dá para a gente descrever detalhadamente o que se pensa num espaço tão pequeno. Mas, apenas para responder ao seu comentário de maneira breve, o texto de Gerusa coloca sim questões importantes a serem pensadas, e eu não nego isso em meu comentário. Apenas o que critiquei foi: a abordagem da autora em relação à novela como ficção (que contém em si mesma a contradição, não é absolutamente verossímil, e não dá conta da realidade), em que a autora ora comenta um universo ficcional esperando que ele dê conta da realidade, ora aceita a chamada “licença poética” da autora da novela. Quando a autora do texto comenta, por exemplo, que em escolas reais, um determinado fato não ocorreria, deve-se notar também que não ocorreriam diversas outras coisas no mundo real, por exemplo, indianos falando português, com sotaque meio carioca e traduzindo para o público suas próprias palavras em idioma estrangeiro (!). Percebe o estranhamento que isso causa? Daí a esperar que a novela seja fiel ao universo escolar não me parece razoável. Mesmo porque há muitos universos escolares diferentes no país, e talvez a intenção tenha sido a de chocar, de exagerar ou de distorcer. Impossível saber. Mas, isso não é elogio à novela, mas apenas a constatação de que a educação realmente não era o foco.
    Caso não esteja realmente claro, apenas citarei que a própria novela faz parte do cotidiano brasileiro há décadas, e muita gente nasceu na cultura da novela, não necessariamente sendo telespectador assíduo, mas vivendo entre pessoas que certamente assistem a novelas, o que não se pode ignorar, porque essa cultura de novelas em nosso país é muito forte.
    Certa vez, o antropólogo Roberto DaMatta disse que quem não assiste a novela no Brasil não tem o que conversar (isso evidentemente é um certo exagero, mas tem um fundamento, claro, que é a cultura televisiva no Brasil com um forte apelo nas novelas). Talvez, essa imersão nas novelas nos confunda em alguns pontos: primeiro, que a intenção da narrativa da novela nunca é totalmente consistente; a criação ficcional tem muitas intenções, e não se deve ora esperar que a novela seja fiel à realidade e ora esperar que ela nos deleite com a mais inacreditável fantasia (percebe que se metade dos belos personagens fosse fiel à realidade indiana, o público não poderia ter pessoas que consideram mais populares e desejadas nacionalmente atuando na novela, não é mesmo? – teriam que ser indianos de verdade!). As contradições se impõem tanto que até nos indignamos quando a novela não expõe fielmente nosso cotidiano. Mas, esta, a meu ver é uma resposta totalmente emocional a um item cultural pelo qual temos apreço, e não uma reflexão madura sobre essa manifestação cultural. Quando disse que as pessoas não formam seus juízos pelas novelas, é apenas minha opinião, porque realmente não acho que ela influencie nossa conduta, mas apenas exponha condutas que já estão acontecendo. Penso também que a influência das novelas no comportamento social (que creio foi um dos pontos abordados no texto da autora do artigo), e o papel de “chancelar” condutas e parâmetros já não é tão forte como antes. Basta perguntar quem se lembra, a essa altura, da novela em questão. O papel das novelas está seriamente reduzido, em grande parte pelo amadurecimento do público em geral, ainda que com muitas exceções, mas as pessoas já não esperam que a novela as ensine a viver, porque você tem milhares de outras fontes que fazem isso. Há alguns anos, a gente diria que a novela causa alguma comoção, mas hoje, a realidade se impõe a pessoas cada vez mais cedo na vida. Como você mesmo citou, há problemas que atingem jovens e crianças cada vez mais cedo hoje, mas isso nada tem a ver com a novela. Tem talvez a ver com uma ingenuidade nossa em achar que as pessoas precisam de mais e melhores informações. Isso está acontecendo por vários outros motivos, que não vou te cansar explicando aqui.
    Desculpe-me pelo longo comentário, e peço que pense um pouco sobre como assistimos a novelas e, depois, se desejar, retorne um comentário.
    Abraço,

  • Alba

    Peço desculpas pelas contradições em meu próprio texto, e pelo texto tão longo. Simplesmente, é muito pouco tempo para falar sobre um assunto tão interessante, o que nos leva a falar demais…Abraço,

Widgetized Section

Go to Admin » appearance » Widgets » and move a widget into Advertise Widget Zone