2014 promete ser o ano em que o eleitor será mais influenciado por informações falsas
As táticas de desinformação há muito fazem parte da estratégia eleitoral dos partidos, mesmo antes das redes sociais. Pagar para taxistas dizerem que levaram este ou aquele candidato “para visitar a fazenda no Mato Grosso”, espalhar rumores sobre comportamento moral de um ou de outro, tudo isso já está no portfólio do jogo político das grandes campanhas. Mas em 2014 a tecnologia promete elevar o nível da desinformação a patamares inéditos.
Alguns casos são bem conhecidos. Um campus da USP no interior de São Paulo tornou-se a fazenda do filho do Lula. A ex-mulher de Aécio Neves teria ameaçado tirar-lhe a guarda da filha por não concordar com seu envolvimento em contrabando de diamantes. O marco civil da internet seria uma estratégia para instalar o comunismo no Brasil. Até a seleção da Alemanha foi alvo de uma desinformação, que lhe atribuiu a transformação do CT em Santa Cruz Cabrália em escola pública, desmentida por uma reportagem da ESPN.
O processo não é novo. Durante a invasão ao Instituto Royal, foram divulgadas imagens de um beagle com o olho costurado como sendo uma vítima de maus tratos do instituto. Uma das ONGs que apoiava a invasão teve que desmentir a informação. Também são conhecidas as teorias da conspiração a respeito do Foro de São Paulo, um fórum de partidos de esquerda latino-americanos a que são atribuídas as maquinações mais maquiavélicas – nenhuma delas chega aos pés da crise dos mísseis envolvendo EUA, Cuba e URSS, para ficar em apenas um exemplo. Se quisermos voltar no tempo, podemos nos referir ao bebê diabo, uma criação do Notícias Populares que rendeu 28 dias de repercussão no jornal.
O ponto é que o público parece não ter criado os filtros necessários para desconfiar das informações que circulam as redes sociais. O deputado Roberto Freire, do PPS, chegou a cair em uma pegadinha de um site de humor, que informava uma suposta decisão de Dilma Rousseff de incluir a frase “Lula seja louvado” nas notas de Real. Com as estratégias de guerrilha na internet e os diversos scripts e ferramentas que permitem disseminar informações via redes sociais, a desinformação pode atingir níveis estratosféricos.
Sem os filtros para desconfiar do que chega pela rede, os eleitores que começam a se acostumar com o universo digital estão formando suas opiniões com base em fatos, dados e informações inverídicas sobre todos os candidatos. Dada à tendência das redes sociais à polarização irracional, qualquer informação contra o PT é aceita como verdade pelo eleitor do PSDB, e vice-versa. E aí vão todos os vídeos de programas da Globo que levam a tag “Isso a Globo não mostra”, os absurdos da TV Revolta, etc, etc, etc.
Talvez nosso maior desafio neste momento, para o avanço da cidadania eleitoral no Brasil, seja ajudar na educação do eleitor sobre como lidar com o lixo informacional que circula na rede. Lá atrás, quando começaram as primeiras bobagens da internet, que ainda circulavam por e-mail, serviços como o e-farsas surgiram para desmontá-las. Eles ainda estão aí, cuidando agora dos boatos das redes sociais. Vai ser difícil convencer um estúpido celerado que está convicto de que o outro lado é inimigo, quer instituir a ditadura comunista/neoliberal, que tudo o que ele diz é bobagem. Mas precisamos começar a fazê-lo.
Paulo Roberto Silva
Jornalista e empreendedor. Mestre em Integração da América Latina pela USP.
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