Autor teve acesso a vasto material sobre o disco da Legião Urbana, mas escreveu livro preguiçoso.
O disco As Quatro Estações, da Legião Urbana, marcou minha geração. Lançado em 1989, o álbum trazia canções difíceis e complexas como não estávamos acostumados a ouvir, com uma poesia intrincada, enigmática até, que levava a debates intermináveis entre os amigos. Eu tinha dezoito anos e era da turma que não gostava muito. Talvez por não entender. Ainda entendo pouco, mas gosto mais. Quando soube do lançamento do Livro do Disco: As Quatro Estações, de Mariano Marovatto, corri comprar – era a oportunidade de entender um pouco mais sobre o emblemático álbum. Depois de ler, fiquei frustrado.
Marovatto, que é poeta e músico, teve acesso a 86 (!) fitas das gravações da Legião Urbana (14 delas, das gravações de As Quatro Estações), entrevistou Dado Villa-Lobos e contou, claro, com a extensa bibliografia disponível da mais famosa banda de Brasília. Muito material para as parcas 88 páginas produzidas para o livro.
O livro ser curto não é tanto o problema: as informações realmente interessantes e relevantes levantadas por Marovatto caberiam em um artigo de jornal. O restante, são impressões desconexas, citações eruditas que nada acrescentam ao entendimento do disco ou de sua poética, causos pessoais envolvendo o conhecimento do disco e sua divulgação, um pouco de egocentrismo e impressões ininteligíveis – num momento, por exemplo, o autor diz que as capas dos LPs do Sigue Sigue Sputnik o deixavam “tão intrigado quanto as capas dos discos do Iron Maiden” (sic).
Existe também no livro de Marovatto aquela estranha forçação de barra de historiadores de buscar conexões em situações e momentos que nada tem a ver com o objeto em questão – como é o caso do ininteligível capítulo 3, onde o autor cita, em duas páginas, Castelnau, Morton Feldman, John Cage, Sex Pistols, The Clash e o movimento punk, num texto que em nada contribui com o entendimento do disco da Legião, na minha modesta visão.
Há, é claro, coisas interessantes, como trecho que fala sobre a frase hermética e deslocada, último verso de “Há Tempos” (“Ela disse: Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa”), que mostra o método meio “dadaístico” de Renato Russo em suas composições, cortando frases de anotações e enxertando em canções possivelmente buscando o puro estranhamento.
No final, ficou, a mim, a impressão que o disco merecia mais – afinal, são 11 faixas, todas muito ricas e marcantes. E o livro de Marovatto, apenas preguiçoso.
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Bruno Wenson