É entre prostitutas e velhos revirando lixeiras que se começa a entender por que muitos cubanos gostariam de algumas filiais do McDonald's em seu país.
James Bloodworth, na The Spectator
Desde dezembro passado, quando autoridades de Cuba e dos Estados Unidos anunciaram que os dois países, presos por 54 anos em um impasse da Guerra Fria, buscariam “normalizar” relações, a indústria do turismo tem nos aconselhado a viajar para Cuba “antes que ela mude”.
Apesar da indiferente juventude cubana ser bem versada em cultura americana—seja os últimos trajes da moda, músicas pop ou filmes –, na superfície Cuba permanece presa numa outra dimensão temporal. Para turistas, o aspecto de museu de Cuba é grande parte do atrativo. Assim, visitantes em Havana podem passear em um Cadillac, observar a arquitetura neoclássica e bebericar um mojito no antigo bar preferido de Hemingway.
Mas se apresse, gritam as brochuras de turismo, os ianques em breve chegarão para bagunçar tudo!
Como uma estratégia para alavancar a indústria do turismo de Cuba, parece estar funcionando. O país viu um salto de 14 por cento no número de turistas visitando a ilha de janeiro a maio deste ano, salto sem dúvida em parte atribuível aos chamados das revistas de viagem para que as pessoas visitem a ilha antes dos Starbucks e McDonald’s pipocarem em todo lugar.
Eu odeio grandes cadeias de lojas tanto quanto qualquer membro da classe média consciente, mas não posso deixar de perguntar o que é que ocidentais afluentes tanto querem preservar da Cuba comunista. Ao longo dos últimos cinco anos, eu passei cerca de um ano da minha vida em Cuba, de modo que vi um bocado de seu lado “autêntico”. Fora a repressão policial e a terra arrasada intelectual (só existe um jornal, e a televisão estatal não transmite dissidências), a Cuba que eu experienciei é uma de sujeita, escassez e prostituição desenfreada.
Este último ponto é o mais irritante. A economia de controle de Cuba é incapaz de prover um padrão de vida básico para seu povo, então, para sobreviver, a maioria dos cubanos deve encontrar uma fonte de renda para somar ao salário pago pelo estado. Para aqueles sortudos o bastante para ter parentes nos Estados Unidos ou Europa, a ajuda vem na forma de envio de dólares. Para os menos sortudos, a única forma de conseguir uma renda extra ou comer uma refeição decente pode ser vender o corpo para um (geralmente muito mais velho) turista europeu ou canadense.
Essa realidade te atinge tão logo você entra em um restaurante ou hotel em Havana. Em toda direção se avistam garotas que não parecem ter mais que 16 anos, acompanhadas por turistas flácidos e pálidos, próximos da idade de aposentadoria. Ao menos para alguns desses turistas ocidentais que peregrinam todo ano para Cuba, o fracasso da economia comunista foi o maior boom em suas vidas sexuais desde que Simon Campbell acidentalmente descobriu a fórmula do Viagra. Esses lotários decrépitos geralmente têm a aparência de algo que foi vomitado pelo Mar do Caribe; o que faz pouca diferença, porque, se você é um cubano pobre, tudo o que enxerga é a próxima refeição (e, se realmente tiver muita sorte, casamento e uma passagem para fora da ilha).
Arthur Koestler certa vez se referiu aos comunistas pró-soviéticos no primeiro mundo como voyeurs espiando a História por um buraquinho no muro, ao mesmo tempo que não precisam experimentá-la na própria pele. A Sociedade Stalin é muito menor hoje, mas a mentalidade persiste: os cubanos são participantes forçados em um experimento comunista, que existe principalmente para ocidentais afluentes ficarem pasmados e, quando a “química” é correta (isto é, quando você pagou por tudo), levar a diversão para o quarto do hotel.
Claro, os resorts em Varadero que a maioria dos turistas visita são tão “autenticamente” cubanos quanto os restaurantes no Soho são “autenticamente” chineses. Saia da rota oficial de turismo e você verá a verdadeira Cuba. É aqui, entre prostitutas e velhos revirando lixeiras no centro de Havana, que se começa a entender por que muitos cubanos poderiam gostar de algumas filiais do McDonald’s em seu país. Comida de plástico barata é, afinal de contas, muito melhor do que nenhuma comida.
Então, sim, é verdade que o turismo e empresas americanas podem “arruinar” Cuba; mas apenas a Cuba que existe para o prazer estético de certos setores da classe média ocidental. Se isso soa como você, talvez seja hora de parar de fetichizar a pobreza e o desespero alheio.
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Tutameia